Aline Ferreira Ramos Henrique 2 RESUMO
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1 Como as professoras da rede municipal de Juiz de Fora compreendem as possibilidades do trabalho com a literatura afro-brasileira nos primeiros anos de escolaridade 1 Aline Ferreira Ramos Henrique 2 RESUMO O presente artigo tem por propósito analisar como a literatura infantil e as práticas escolares ajudam na formação da identidade da criança negra brasileira e como a rede municipal de ensino de Juiz de Fora, representada por seus diversos profissionais da área de educação, atua frente à Lei (11.645/ 2008). A análise foi realizada a partir da entrevista com professoras que atuam na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental na Rede Municipal de Ensino de Juiz de Fora. A partir do diálogo com as professoras, busquei compreender a concepção das professoras acerca da relação entre a Lei /2008 e a literatura infantil. Por meio dessa investigação chega-se à conclusão que, as professoras pesquisadas têm consciência da importância da Lei /08 e do trabalho sistemático com essa temática, mas admitem que ainda há muito o que progredir nesse sentido. Através desse trabalho busca-se refletir sobre a formação de nossa sociedade e como lidamos com a diversidade, utilizando de um recurso pedagógico e lúdico como referência no combate ao racismo e a autonegação. Palavras-chave: Lei /08, literatura infantil, identidade, racismo 1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Juiz de Fora, sob a orientação do Profº. Drº Paulo Roberto Oliveira Dias. 2 Discente do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Juiz de Fora.
2 ABSTRACT The purpose of this article is to analyze how children's literature and school practices help in the formation of the Brazilian black child's identity and how the Juiz de Fora municipal school network, represented by its various education professionals, acts in the face of the Law ( / 2008). The analysis was made from the interview with teachers who work in early childhood education and in the initial years of elementary education in the Juiz de Fora Teaching Municipal Network. From the dialogue with the teachers, I tried to understand the conception of the teachers about the relationship between Law /2008 and children's literature. Through this research, it is concluded that, the researched teachers are aware of the importance of Law / 08 and the systematic work with this subject, but admit that there is still much to progress in this regard. Through this work we seek to reflect on the formation of our society and how we deal with diversity, using a pedagogical and playful resource as a reference in the fight against racism and self-denial. Palavras-chave: Law / 08, children's literature, identity, racism INTRODUÇÃO O presente artigo busca investigar como professoras da Rede Municipal de Ensino de Juiz de Fora compreendem a Lei / e como lidam com as possibilidades de se trabalhar essa lei sob a perspectiva da Literatura Infantil. Para tanto fiz um questionamento central que seria Quais as possibilidades para trabalhar a literatura afro brasileira nos primeiros anos da Educação Básica da Rede Municipal de Ensino de Juiz de Fora?. A partir dessa pergunta, realizei um diálogo teórico com produções acadêmicas que tratam das mudanças que a presente lei trouxe para o currículo escolar. Dentre as produções, ressalto as pesquisas apresentadas por Lopes & 3 A Lei Nº /08 (BRASIL, 2008) torna obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados.
3 Oliveira (2015), que tratam de sua importância como produção histórico-cultural do povo brasileiro; as produções de Silva, Ferreira & Faria (2011), que analisam a maneira como as professoras em Juiz de Fora vivenciam o trabalho com essa temática e, por último; uma pequena análise, feita por França (2008), sobre dois livros de Literatura Infantil que enaltecem o negro com belo e herói. Além disso, realizei uma pesquisa com professoras pedagogas da rede municipal de Juiz de Fora, que atuam na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. Selecionei professoras que possuem uma atuação com as temáticas afrodescendentes a partir da prática de contação de história e da inserção no Movimento Negro. Tal escolha tem a ver com o fato de ambas vivenciarem a luta pela igualdade racial e pelo fim do preconceito nas instituições públicas. A produção acadêmica sobre as possibilidades que a Lei /2008 trouxe para o âmbito da educação têm afirmado a importância da cultura afro-brasileira no currículo escolar, discutindo ações e estratégias pedagógicas possíveis de serem trabalhadas nos diferentes níveis da educação básica, com maior foco na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. Dentre as produções, destacamse a seguir as reflexões feitas por pesquisadores da área que atuam em diferentes níveis de ensino. Lopes & Oliveira (2015) afirmam que é evidente que houve um grande avanço após a promulgação da Lei nº /03, e, posteriormente após a Lei /2008, que alterou os artigos 26-A e 79-B da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96), tornando obrigatório o Ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira na educação básica e introduzindo o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra, com intuito de visibilizar a presença africana na constituição humana, histórica e geográfica do país. No entanto, os autores afirmam que é necessário reafirmar o negro como sujeito histórico cultural no processo de construção de sua identidade, sendo necessário considerar os saberes tradicionais locais, seja das comunidades remanescentes de quilombos, das comunidades indígenas e das comunidades rurais para que haja uma mudança paradigmática da educação no país. Nessa perspectiva apresenta-se a literatura infantil como possibilidade, pois a mesma se coloca como importante ferramenta para reafirmar o negro como sujeito histórico cultural no processo de construção de sua identidade como abordado a seguir. As pesquisadoras Silva, Ferreira & Faria (2011) apontam que os alunos se
4 identificam na literatura (imaginam e fantasiam a realidade) e a escola deve utilizar esse recurso para quebrar preconceitos e formar a personalidade da criança. Deste modo, a literatura tem o poder de valorizar a cultura e tradição do afrodescendente quando o negro assume papel central e positivo na história. As autoras afirmam, ainda, que as professoras sabem da importância de valorizar a cultura afro-brasileira como forma de autoconhecimento da população e que a criança negra ainda se sente muito ofendida nos espaços escolares e, por isso, é tão importante uma literatura que valorize outras culturas e não somente a européia. Como exemplos de afirmação da identidade negra, podemos citar as obras Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado (MACHADO, 2004), e O menino marrom, de Ziraldo (ZIRALDO, 2004), analisadas por FRANÇA (2008). Tendo como perspectiva a questão racial dos personagens e a discussão sobre o belo entre as crianças, considera que através dos personagens, os autores afirmam que a criança negra pode se identificar com eles, reconstruindo-se assim como belos e heróis, desmistificando-se os preconceitos que constantemente assolam o seu cotidiano, em padrões estabelecidos pela mídia e pelas pessoas que a cercam. Fica evidente a preocupação dos autores em buscar formas de inserção do negro a fim de resolver os problemas através dos personagens, tais como: frustação, rejeição, desejo de ser branco, duvidas e os anseios de crianças negras, que afetam a sua autoestima e identidade. Com o intuito de compreender a concepção das professoras da rede municipal de ensino de Juiz de Fora acerca da relação que a Lei /2008 faz com a literatura infantil, apresentarei na sessão seguinte uma pesquisa realizada com duas profissionais que trabalham no sistema de educação do referido município, nos anos iniciais da educação básica. A CONCEPÇÃO DAS PROFESSORAS DA REDE MUNICIPAL ACERCA DA LITERATURA INFANTIL NOS PRIMEIROS ANOS DE ESCOLARIDADE Para o desenvolvimento da pesquisa, realizei uma entrevista com duas professoras que atuam na educação infantil e dos anos iniciais da rede municipal de ensino de Juiz de Fora. Para preservar suas identidades, adotei nomes fictícios. A primeira professora, Paola, é pedagoga por formação e professora regente de
5 Educação Infantil na Rede Municipal de Ensino de Juiz de Fora, além de ser contadora de histórias. A segunda professora, Gabriela, é pedagoga por formação e professora regente dos anos iniciais do Ensino Fundamental além de atuar no movimento negro e realizar pesquisas nessa temática. Buscando conhecer suas concepções acerca da literatura infantil que tematiza o negro, elaborei uma pesquisa qualitativa, realizada a partir de entrevistas abertas com as professoras. Nas questões, busquei contemplar alguns aspectos, que seguem: como as professoras compreendem a Lei /08; se as professoras consideram que a rede municipal de ensino de Juiz de Fora garante suporte para que trabalhem com a literatura infantil; como elas compreendem a literatura infantil que tematiza o negro, ou seja, se elas consideram que este acervo retrata a importância e a igualdade ou reafirmam o preconceito; se elas consideram que o respeito à diversidade cultural tem se efetivado como prática nas escolas municipais de Juiz de Fora. Por fim, busquei analisar como as professoras compreendem a relação das crianças negras com sua identidade, no ambiente escolar. A partir da entrevista realizada com Paola e Gabriela, percebi que as duas entrevistadas possuem consciência e conhecimento sobre a Lei /08 e concordam sobre sua importância na inclusão e valorização do negro e de todo tipo de diversidade que possa haver nos ambientes escolares. Percebi também, em suas respostas, que as crianças chegam à escola sem um autoconhecimento formado e, portanto, também não possuem pertencimento racial, negritude e muito menos autoestima positiva em relação à sua ancestralidade. Por esse motivo acreditam que há muito que se trabalhar nesse sentido, pois nossa sociedade é racista e é justamente o trabalho com as questões raciais que possibilitará essa subjetividade positiva em relação a si e ao outro, promovendo de fato, a valorização da diversidade. A prefeitura de Juiz de Fora, segundo elas, disponibiliza formação continuada para o professor se capacitar nessa temática. Por fim, as professoras consideram que o Governo Federal, através do MEC, disponibiliza livros de literatura com conteúdos que valorizam a diversidade racial e que rompem com o estereótipo da princesa européia, permitindo o conhecimento de diversas culturas e a importância de cada uma para a formação de nossa sociedade. A partir da entrevista com as professoras, acredito que é possível fazer um trabalho sistemático de valorização da cultura afro-brasileira e da criança negra através do recurso que a literatura infantil proporciona, pois a mesma se mostra uma
6 ferramenta importante quando usada para valorização e afirmação do negro como sujeito histórico, aspecto de suma importância na construção de nossa sociedade. Por esse motivo, a literatura infantil é um recurso essencial de trabalho porque a criança fantasia as histórias literárias e busca constantemente se encaixar nas narrativas dos livros que lhe são apresentados. Quando há uma integração dos sistemas de poder de ensino em prol de proporcionar uma educação voltada para a formação de indivíduos e suas características trazidas por sua ancestralidade, por sua história e pela vivência na sociedade em que encontra inserido, pode-se criar oportunidades de melhorar a convivência entre os sujeitos, proporcionando ambientes de respeito mútuo e valorização da diferença para que no futuro, as próximas gerações já cheguem na escola com um autoconhecimento formado. CONCLUSÃO A partir da análise realizada, é possível concluir que, mesmo com a promulgação da Lei /08 e a preocupação com a literatura voltada à afirmação da identidade negra, ainda existe um longo percurso a ser caminhado para que haja total inserção do negro na cultura brasileira, levando em consideração sua ancestralidade, que foi de suma importância na história. Para tanto, é necessário uma série de enfrentamentos e, talvez, o mais desafiador seja a formação adequada dos profissionais da Educação, que já se mostra presente, mas que talvez deva ser mais aprofundado para se mostrar mais eficaz na relação do negro com sua representação. É possível compreender que é papel social da escola, combater todo e qualquer tipo de preconceito e, por isso, a Lei /08 se torna tão importante como meio de resistência e afirmação, trazendo novas possibilidades e grandes oportunidades no combate a desigualdade racial. Deste modo, compreende-se também, que escola é valida quando valoriza a riqueza das diferenças e promove condições que capacitem seus agentes para a formação de uma sociedade crítica e agente de seus direitos.
7 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei /2003, de 9 de janeiro de Altera a Lei nº , de 20 de dezembro de Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília. Disponível em: Capturado em: 25/10/ Lei /08 de 10 de Março de Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília. Disponível em: Capturado em: 25/11/2017 FRANÇA,L. F. Desconstrução dos estereótipos negativos do negro em Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado, e em O menino marrom, de Ziraldo. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília, v. 31, p , LOPES, J. J. M & OLIVEIRA, J. M. Infância e relações étnico-raciais. Percursos pelos trabalhos da ANPEd GT 21 e 07. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos, v. 9, p , SILVA, J. P; FERREIRA, R. V. J; FARIA, J. S. A construção da identidade da criança negra: a literatura afro como possibilidade reflexiva. CES revista, V.25, P , 2011.
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