O IMPACTO AMBIENTAL DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS: QUESTÃO DO LICENCIAMENTO E DO EUCALIPTO
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- Luiz Henrique da Rocha Franca
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1 O IMPACTO AMBIENTAL DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS: QUESTÃO DO LICENCIAMENTO E DO EUCALIPTO Autor(es): Apresentador: Orientador: Revisor 1: Revisor 2: Instituição: AUDEH, Samira Jaber Suliman; SEVERO, Carlos Roberto Soares; PINTO, Luiz Fernando Spinelli Samira Jaber Suliman Audeh Luiz Fernando Spinelli Pinto Marcio Ramos Botelho Fioravante Jaekel dos Santos UFPEL O IMPACTO AMBIENTAL DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS: QUESTÃO DO LICENCIAMENTO E DO EUCALIPTO AUDEH, Samira Jaber Suliman 1 ; SEVERO, Carlos Roberto Soares 2 ; PINTO, Luiz Fernando Spinelli 3 1 Eng a. Agrônoma; 2 Doutorando PPGA Solos, FAEM, UFPEL; 3 Professor do Dep. Solos da FAEM-UFPEL, Caixa Postal 354, CEP , Pelotas-RS. Campus Universitário Caixa Postal CEP samira_audeh@yahoo.com.br 1. INTRODUÇÃO Neste trabalho serão discutidos os impactos causados pelas diferentes atividades agrícolas e a questão do licenciamento e da legislação ambiental, com ênfase na silvicultura, cuja implantação foi alvo de polêmica na região sul do Estado do Rio Grande do Sul. O trabalho de regularização e fiscalização é realizado por órgãos estaduais; no Rio Grande do Sul o órgão responsável é a Fepam - Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler. A exigência de estudo prévio do impacto de qualquer obra ou atividade potencialmente causadora de degradação do meio ambiente, consta, no capitulo VI da Constituição Brasileira e já era prevista na Lei 6938/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente. Esta estabeleceu, entre outros instrumentos, o zoneamento ambiental, a avaliação de impactos ambientais, o licenciamento e a criação de áreas de proteção ambiental. Atividades de grande impacto como mineração, hidrelétricas e indústrias químicas foram enquadradas na legislação desde o início. Por outro lado, as atividades agropecuárias, apesar de potencialmente degradadoras do meio ambiente, são apenas parcialmente sujeitas a licenciamento. Por exemplo, no Rio Grande do Sul eram sujeitas a licenciamento apenas atividades consideradas impactantes, tais como armazenamento e destino de embalagens vazias de agrotóxicos, suinocultura, avicultura, bovinocultura (de confinamento) e irrigação; recentemente foram acrescidas a carcinocultura, ranicultura, piscicultura, reflorestamento, áreas para pesquisas agrícolas e serviços de aplicação de
2 agrotóxicos. Para o licenciamento são considerados o porte e potencial poluidor dos empreendimentos. 2. MATERIAL E MÉTODOS Para a elaboração do presente trabalho, inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica da legislação ambiental a nível estadual e federal, onde foram analisados os decretos, as leis e deliberações que regem a regulamentação das atividades agropecuárias, visando a racionalização do uso e a proteção dos ecossistemas. Após, realizou-se uma revisão bibliográfica acerca do impacto potencial dos principais tipos de atividades agrícolas sobre o consumo de água e de nutrientes e sobre a erosão do solo, buscando-se comparar a atividade de silvicultura, já enquadrada no licenciamento, com os outros tipos de atividade. Para os dois primeiros foram utilizados artigos de periódicos científicos nacionais; para analisar o impacto sobre a erosão do solo utilizou-se o sistema de classificação técnico Capacidade de Uso das Terras e Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. 3.RESULTADOS E DISCUSSÃO O plantio de eucalipto, e o (re)florestamento com plantas exóticas, é combatido por alguns setores da sociedade com base no pressuposto de que prejudica o solo, ressecando-o e esgotando seus nutrientes, os recursos hídricos, rebaixando o lençol freático e diminuindo ou cessando o deflúvio das bacias hidrográficas, e a fauna e a flora. Por essas razões foi cunhado o termo deserto verde, o que induz a pensar em um desastre ecológico resultante de tal atividade agrícola. Esse potencial degradador justificaria plenamente a necessidade de avaliação de impactos ambientais e de licenciamento, mais do que outras atividades. Dados de pesquisa produzidos por pesquisadores ligados à área de silvicultura, notadamente da Universidade Federal de Viçosa e da ESALQ, com destaque para o Prof. Walter de Paula Lima, (Lima, 1996), publicados em dissertações, teses e revistas científicas, vêm mostrando que essas colocações têm pouco respaldo científico. Muitos desses dados vêm sendo usados por associações ligadas as empresas reflorestadoras (Nelson Barboza Leite, Eucalipto com ciência, plantio consciente) na defesa de suas atividades. Entre esses podemos citar dados ligados a consumo e aproveitamento de água pelas culturas. Esses dados mostram que o consumo de água pelo eucalipto não difere muito de outras espécies florestais (Tabela 1) e também que, comparado a outras culturas, ele é altamente eficiente no aproveitamento da água (Tabela 2). Quanto à remoção de nutrientes (N, P, K, Ca e Mg), as pesquisas mostram que a remoção realizada por várias outras culturas é seguidamente maior do que a realizada pelo eucalipto, com grandes variações em função do estágio de desenvolvimento (Tabela 3). Tabela 1. Quantidade de água necessária para um ano da cultura Cultura Consumo de água (mm/ano) Cana-de-açúcar Café Citrus Milho
3 Feijão Eucalipto Fontes: Calder, et. al. (1992) e Lima (1993) Tabela 2. Consumo de água e produção de biomassa por algumas culturas Cultura Eficiência no uso da água Batata batata 1 kg de / L Milho 1 kg de milho / L Cana-de-açúcar 1 kg de açúcar / 500 L Cerrado 1 kg de madeira / L Eucalipto 1 kg de madeira / 350 L... Fonte: Novais, et. al. (1996) Quanto ao impacto sobre os recursos hídricos, esse é constatado na comparação com as matas nativas, com diminuição no deflúvio das bacias. No entanto, depende do estágio de desenvolvimento da cultura, tornando-se proporcional àquelas quando da maturidade do eucalipto (Câmara e Lima, 1999). Tabela 3: Extração de Nutrientes por diversas culturas (kg/ha/ano). Cultura Idade (anos) N P K Ca Mg Eucalyptus grandis 2,5 11,2 94,9 50,0 13,1 8,1 Eucalyptus grandis 10 42,0 1,6 15,6 76,7 5,1 Eucalyptus grandis 27 16,1 0,9 11,7 36,0 6,0 Café - 93,0 4,4 127,0 10,0 9,0 Trigo - 80,0 8,0 12,0 1,0 4,0 Milho - 127,0 26,0 17,5 1,0 11,0 Batata - 81,0 18,0 159,0 10,0 4,0 Cana-de-açúcar - 208,0 22,0 200,0 153,0 67,0 Fonte: Silva (2007) O impacto sobre a flora e a fauna também é enquadrado pelos pesquisadores como resultado de uma visão parcial do problema, argumentando-se que a monocultura do eucalipto tenderia a se comportar como qualquer monocultura nesse sentido. (Lima, 2004), em um artigo para o Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, alerta para a necessidade de que a sociedade adquira a consciência de que todas as atividades humanas, agrícolas e não agrícolas, impactam o ambiente. Nessa ótica, não somente na cultura do eucalipto se deveria levar em conta as particularidades ecológicas e hidrológicas de uma região, mas também a mesma responsabilidade se deveria ter em relação à cultura da soja, da cana, da laranja e do boi, bem como no planejamento da ocupação urbana das bacias hidrográficas. Se compararmos o que classicamente se conhece com relação ao planejamento de uso das terras e a conservação do solo, que leva em conta os riscos de erosão e degradação do solo, a atividade de silvicultura é considerada a de menor impacto (Figura 1). Essa questão contrasta com a preocupação da degradação do solo pelo cultivo do eucalipto e da prioridade que se dá a essa atividade com relação ao controle ambiental em relação às outras atividades agrícolas.
4 SENTIDO DAS APTIDÕES E DAS LIMITAÇÕES CLASSE DE CAPACIDADE DE USO VIDA SILVESTRE E RECREAÇÃO SENTIDO DE AUMENTO DA INTENSIDADE DE USO SILVICULTURA PASTOREIO LIMITADO MODERADO INTENSIVO CULTIVO OCASIONAL OU LIMITADO CULTIVO INTENSIVO PROBLEMA DE CONSERVAÇÃO COMPLEXO SIMPLES NÃO APARENTE I AUMENTO DAS LIMITAÇÕES E DOS RISCOS DE EROSÃO OU DEGRADAÇÃO AUMENTO DA ADAPTABILIDADE E DA LIBERDADE DE ESCOLHA DE USO II III IV V VI VII VII SUB-UTILIZAÇÃO DA TERRA MÁXIMA UTILIZAÇÃO RACIONAL DA TERRA SOBRE-UTILIZAÇÃO DA TERRA Figura 1. Resumo da variação do tipo e da intensidade máxima de utilização da terra sem risco de erosão acelerada em função das classes de capacidade de uso (extraído de Lepsch, 1983). 4.CONCLUSÕES O controle ambiental das atividades agrícolas em geral, não somente do eucalipto, depende do correto manejo da atividade levando em conta as particularidades ecológicas e hidrológicas de cada bacia hidrográfica (Lima 2004). Na medida em que mais base científica for utilizada na avaliação de impacto e na concessão de licenciamento ambiental, outras atividades agrícolas, além da silvicultura, e também as pastoris, passarão a ser mais cobradas na sua interrelação com o meio ambiente, demandando uma nova forma de atuação dos profissionais da área agrária. 5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. LEI Nº , DE 24 DE MARÇO DE disponível em (acessado em 9 de set. 2007) BRASIL. LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981 disponível (acessado em 9 de set. 2007) CÂMARA, C. D. e LIMA, W. de P. Corte raso de uma plantação de Eucalyptus saligna de 50 anos: impactos sobre o balanço hídrico e a qualidade da água em uma microbacia experimental. SCIENTIA FLORESTALIS N.56, P , DEZ FEPAM - Fundação Estadual de Proteção Ambiental. EIA - Estudo de Impacto Ambieltal e RIMA - Relatório de Impacto Ambiental. Disponível em Instituto Brasileiro de Produção Sustentável e Proteção Ambiental acessado em 09 set LEITE, NELSON BARBOZA. Eucalipto com ciência, plantio consciente. Ciência & Tecnologia, Disponível em < acessado em 10 set
5 LEPSCH, I.F.; BELINAZZI, E.; BERTOLINI, D. & ESPÍNDOLA, C.R. Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. 4 a aproximação. Campinas: SBCS, p. LIMA, W. de P. Impacto ambiental do eucalipto. Ed. da Universidade de São Paulo LIMA, W. P. O Eucalipto seca o Solo? Sociedade Brasileira de Ciências do Solo - Volume 29 Número 1 janeiro/abril Minas Gerais. Deliberação Normativa COPAM nº 74, de 9 de setembro de disponível (acessado em 9 de set. 2007) NOVAIS, R. F. Aspectos nutricionais e ambientais do eucalipto. Revista Silvicultura, nº SILVA, JOSÉ DE CASTRO. Eucalipto: Desfazendo mitos e preconceitos. Fazendas Florestas. Professor DEF/CEDAF/UFVUniversidade Federal de Viçosa disponível. < (acessado em 09 set. 2007). RAMALHO FILHO, A. & BEEK, K.J. Sistema de Avaliação de Aptidão Agrícola das Terras. 3 a ed., Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, p. Brasil. Constituição Federal. disponível.em (acessado em 9 de set. 2007)
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