EVIDÊNCIA EMPÍRICA DO CONSERVADORISMO A PARTIR DO RELATO DE ENTIDADES COTADAS NA UNIÃO EUROPEIA

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1 EVIDÊNCIA EMPÍRICA DO CONSERVADORISMO A PARTIR DO RELATO DE ENTIDADES COTADAS NA UNIÃO EUROPEIA Nuno Miguel Barroso Rodrigues Fábio de Albuquerque (apresentação) Fortaleza / Brasil,

2 Índice da apresentação I. Introdução II. Fundamentação teórica III. Hipóteses e metodologia IV. Resultados V. Conclusões, limitações e perspetivas futuras 2

3 Introdução A necessidade de relato financeiro comparável A harmonização contabilística internacional A globalização dos mercados financeiros Questões de investigação: Harmonização de jure vs. de facto Valores culturais Normalização Julgamento profissional 1. Terá a cultura, especificamente o conservadorismo, um papel relevante no processo de elaboração do relato financeiro? 2. Será o relato financeiro influenciado por distintos fatores e passível de distinção em função de agrupamentos regionais? 3

5 Fundamentação teórica 1. Os valores culturais e os agrupamentos regionais Neste campo, destaca-se o trabalho desenvolvido por Gray (1988) que relaciona os valores sociais de Hofstede (1980) com as práticas contabilísticas, classificando os países quanto ao maior ou menor índice relativamente aos respetivos valores. Valores culturais de Hofstede (1980) Individualismo versus coletivismo Grande versus pequena distância do poder Forte versus fraca aversão ao risco Masculinidade versus feminilidade Os valores da sociedade influenciam os sistemas legais, económicos e financeiros e estão na base dos valores contabilísticos. Valores contabilísticos de Gray (1988) Profissionalismo versus controlo estatutário Uniformidade versus flexibilidade Conservadorismo versus otimismo Secretismo versus transparência Os valores contabilísticos influenciam as práticas de mensuração e divulgação das empresas. 5

6 Fundamentação teórica 1. Os valores culturais e os agrupamentos regionais Gray (1988) 6

7 Fundamentação teórica 2. Os valores culturais e as características qualitativas da informação financeira FASB (SFACs) IASB (EC 1989) Projeto conjunto: EC FASB-IASB Utiliza o paradigma da utilidade da informação Utiliza o paradigma da utilidade da informação Define utilizadores prioritários Utiliza uma estrutura hierárquica Não define utilizadores prioritários Não utiliza uma estrutura hierárquica Define utilizadores prioritários Utiliza uma estrutura hierárquica 7

8 Fundamentação teórica 2. Os valores culturais e as características qualitativas da informação financeira Uniformidade Dimensões contabilísticas (Aspetos técnicos) Características qualitativas relativas à divulgação Uniformidade do conteúdo e apresentação: Consistência Comparabilidade Exemplos de questões relacionadas (Forma e conteúdo do relato financeiro) Harmonização das contas Políticas contabilísticas Qualidade da informação: Tempestividade Cumprimento da data de publicação Conservadorismo Materialidade Custo vs valores de mercado Secretismo Objetividade Contabilização de fluxos de caixa Verificabilidade Mais baixo entre o custo e o mercado Fiabilidade Neutralidade Substância sobre a forma Quantidade da informação: Accountability Utilidade da decisão Extensão dos dados desagregados: Número de itens divulgados Desagregação dos itens Demonstrações suplementares Baydoun e Willett (1995) 8

9 Fundamentação teórica 3. Os valores culturais e os fatores económico-financeiros Dimensão De acordo com Basu (1997), o conservadorismo reflete-se nas práticas contabilísticas há pelo menos quinhentos anos, ainda que não necessariamente sob o ponto de vista da cultura. A Teoria Positiva da Contabilidade de Watts e Zimmerman (1990) aponta em sentido contrário da mais recente teoria (Khan e Watts 2009; Callen; Segal; Hope, 2010). Endividamento A literatura converge no sentido de uma associação negativa entre o nível de conservadorismo e o custo da dívida (Ahmed et al., 2002; Wittenberg-Moerman, 2008; Zhang, 2008). Para Watts e Zimmerman (1990), as entidades que evidenciam níveis de endividamento superiores tendem a adotar políticas contabilísticas conservadoras de modo a incrementar os resultados e melhorar a sua performance. Rendibilidade No mesmo sentido e por razões similares às referidas para o endividamento, a associação entre o nível de rendibilidade e o de conservadorismo afere-se negativa (Watts; Zimmerman, 1990; Ahmed; Duellman, 2011). Apesar da evidência científica identificar o sinal desta relação como negativo, alguns autores aferiram-no positivo (e.g. Francis; Martin, 2010). 9

11 Hipóteses e metodologia Hipóteses da investigação H1 O conservadorismo encontra-se relacionado com os agrupamentos regionais, as características qualitativas e os fatores económico-financeiros da informação financeira. Agrupamentos regionais H1.1 Os países incluídos na classificação de países latinos menos desenvolvidos, latinos mais desenvolvidos, germânicos, nórdicos e anglo-saxónicos apresentam, em linha com a classificação atribuída por Gray (1988), de forma decrescente e nessa ordem, distintos níveis de conservadorismo. Características qualitativas H1.2 O conservadorismo encontra-se negativamente relacionado com a relevância, positivamente com a comparabilidade e de forma indeterminada com a representação fidedigna, verificabilidade e tempestividade. Fatores económico-financeiros H1.3 Identifica-se uma associação negativa entre a dimensão das entidades, a rendibilidade ou o nível de endividamento e o conservadorismo. 11

12 Hipóteses e metodologia Método aplicado: Análise de conteúdo. Objeto: Relatórios e contas consolidados de 2013 e 2014, referentes a entidades não financeiras pertencentes a índices bolsistas europeus: PSI-20, IBEX-35, FTSE-100, DAX-30, OMX-S30. População em estudo PSI Índice FTSE População inicial Número de entidades excluídas i) Setor de atividade (financeiro, segurador) Critérios de exclusão ii) Divergência da data do relato financeiro iii) Divergência do normativo contabilístico iv) Áreas culturais dos países originários v) Ausência de comparabilidade do relato financeiro Número de entidades incluídas no estudo (população final) IBEX DAX OMX-S 12

13 Hipóteses e metodologia Técnicas estatísticas utilizadas: Regressão logística (logit) Definição das variáveis Variáveis independentes (VI): Agrupamentos regionais (localização índices da bolsa como referência) Características qualitativas da informação financeira Fatores económico-financeiros: Dimensão (total do ativo) Endividamento (taxa de endividamento) Rendibilidade (rendibilidade líquida do ativo) Variáveis dependentes (VD): Conservadorismo como valor cultural 13

14 Hipóteses e metodologia Definição das variáveis (características qualitativas) No processo de recolha de informação foi construída uma matriz da qual constam: -Em linha: rubricas do Anexo; e -Em coluna: características qualitativas, conforme EC FASB-IASB: Fundamentais Reforço 2 4 Relevância (Relev) Representação fidedigna (RepF) Comparabilidade (Compa) Compreensibilidade (Compr) Verificabilidade (Ver) Tempestividade (Temp) Tratamento da informação recolhida Com base na informação recolhida, foi possível proceder à construção de um índice: IDCQi: Corresponde ao índice de divulgação de características qualitativas 14

16 Resultados Regressão logística: Iterações (modelos simples) A: Agrupamentos regionais B: Características qualitativas C: Fatores económico-financeiros Variáveis Coef. z-stat Variáveis Coef. z-stat Variáveis Coef. z-stat IBEX-35-1,450 7,505*** Rel -0, *** TA -1,771 40,477*** FTSE-100-1,609 11,333*** Rep_F 0,052 2,263 REND 0,810 8,441*** DAX-30-0,747 1,993 Compa -0,113 11,419*** END 0,061 0,047 OMX-S30-1,686 9,667*** Ver 0,022 0,048 Constante 0,195 0,491 Constante 1,099 6,336** Temp 0,193 1,456 Compr 0,061 0,729 Constante 0,952 5,453** Modelo χ2 Iteração A Modelo χ2 Iteração B Modelo χ2 Iteração C Teste de Omnibus 18,203*** Teste de Omnibus 25,894*** Teste de Omnibus 62,302*** Teste de H. & L. 0,000 Teste de H. & L. 10,918 Teste de H. & L. 10,197 Pseudo R 2 0,086 Pseudo R 2 0,121 Pseudo R 2 0,272 ***, ** e * indicam o nível de significância estatística (bilateral) a 1%, 5% e 10%, respetivamente. Refere-se ao quiquadrado do teste de Omnibus aos coeficientes do modelo. Refere-se ao qui-quadrado do teste de Hosmer e Lemeshow. Refere-se ao Nagelkerke R 2. 16

17 Resultados Regressão logística: Iterações (modelos mais alargados) D: Agrupamentos regionais e Características qualitativas E: Agrupamentos regionais e Fatores económico-financeiros F: Características qualitativas e Fatores económico-financeiros Variáveis Coef. z-stat Variáveis Coef. z-stat Variáveis Coef. z-stat Rel -0,057 11,182*** TA -1,965 41,854*** Rel -0,026 2,218 Rep_F 0,054 2,196 REND 0,883 8,982*** Rep_F 0,074 3,606* Compa -0,079 4,938** END 0,094 0,101 Compa -0,089 5,776** Ver -0,191 2,333 IBEX-35-1,865 9,746*** Ver 0,108 0,898 Temp -0,001 0,000 FTSE-100-2,072 14,530*** Temp 0,225 1,532 Compr 0,118 2,393 DAX-30-0,938 2,510 Compr 0,030 0,134 IBEX-35-1,595 5,563** OMX-S30-2,192 12,596*** TA -1,588 28,605*** FTSE-100-2,209 11,696*** Constante 1,874 11,202*** REND 0,992 10,893*** DAX-30-1,347 4,496** END 0,031 0,012 OMX-S30-2,391 11,160*** Constante 0,376 0,574 Constante 2,984 15,743*** Modelo χ2 Iteração D Modelo χ2 Iteração E Modelo χ2 Iteração F Teste de Omnibus 43,404*** Teste de Omnibus 85,738*** Teste de Omnibus 76,538*** Teste de H. & L. 12,250 Teste de H. & L. 12,599 Teste de H. & L. 16,960** Pseudo R 2 0,196 Pseudo R 2 0,359 Pseudo R 2 0,325 ***, ** e * indicam o nível de significância estatística (bilateral) a 1%, 5% e 10%, respetivamente. Refere-se ao quiquadrado do teste de Omnibus aos coeficientes do modelo. Refere-se ao qui-quadrado do teste de Hosmer e Lemeshow. Refere-se ao Nagelkerke R 2. 17

18 Resultados Regressão logística: Iteração (modelo completo) Agrupamentos regionais, Características qualitativas e Fatores económico-financeiros Variáveis Coef. z-stat Variáveis Coef. z-stat TA -1,787 30,964*** Temp 0,022 0,010 REND 0,968 9,431*** Compr 0,101 1,296 END 0,110 0,128 IBEX-35-2,165 8,002*** Rel -0,039 4,130** FTSE-100-2,611 13,080*** Rep_F 0,077 3,412** DAX-30-1,407 4,163** Compa -0,041 1,044 OMX-S30-2,659 11,617*** Ver -0,167 1,422 Constante 2,652 10,030*** Modelo χ2 Iteração Teste de Omnibus 95,367*** Teste de H. & L. 10,547 Pseudo R 2 0,393 Este último modelo apresenta-se como o mais adequado para a previsão do conservadorismo, com o maior pseudo R 2 de entre todos os modelos analisados, e o modelo χ2 estatisticamente significativo tanto para o teste de Omnibus como para o teste de Hosmer e Lemeshow. ***, ** e * indicam o nível de significância estatística (bilateral) a 1%, 5% e 10%, respetivamente. Refere-se ao quiquadrado do teste de Omnibus aos coeficientes do modelo. Refere-se ao qui-quadrado do teste de Hosmer e Lemeshow. Refere-se ao Nagelkerke R 2. 18

20 Conclusões, limitações e perspetivas futuras Conclusões H1 A evidência empírica obtida revela que os resultados assumem maior expressividade estatística quando as variáveis independentes são incluídas em simultâneo. Agrupamentos regionais H1.1 Os agrupamentos regionais constituem uma variável explicativa do valor cultural do conservadorismo. Não obstante, a evidência científica obtida não permite confirmar na totalidade a classificação dos países por agrupamentos regionais proposta por Gray (1988). Características qualitativas H1.2 No que concerne à relação entre o conservadorismo e as características qualitativas, de referir-se que apenas as características qualitativas fundamentais revelaram-se significativas no modelo mais adequado à previsão do conservadorismo identificado neste estudo. Fatores económico-financeiros H1.3 No tocante aos fatores económico-financeiros, confirma-se a existência de uma associação negativa (positiva) entre a dimensão (rendibilidade) e o nível de conservadorismo. 20

21 Conclusões, limitações e perspetivas futuras Limitações Como limitações, é de referir-se que a identificação de um índice de características qualitativas para os diferentes agrupamentos em função da sua menção no relato financeiro poderá não expressar adequadamente a relevância que cada agrupamento confere a tais atributos da informação financeira. Perspetivas futuras Como perspetivas futuras, sugere-se ainda o alargamento da população a entidades não cotadas, designadamente, às PME relativamente ao valor cultural do secretismo (e.g. Zarzeski, 1996). 21

22 EVIDÊNCIA EMPÍRICA DO CONSERVADORISMO A PARTIR DO RELATO DE ENTIDADES COTADAS NA UNIÃO EUROPEIA As mais recentes mudanças no ambiente legal e económico da UE em que as empresas dos distintos países analisados neste estudo atuam poderão justificar, ainda, a necessidade de revisão do enquadramento proposto por Gray (1988), bem como a identificação de novos valores culturais. Aferir a relevância de fatores como a cultura, no contexto do julgamento profissional, assim como a importância relativa atribuída às características qualitativas pelas distintas entidades, no contexto dos contemporâneos esforços de harmonização desenvolvidos pelo FASB e pelo IASB, demonstra-se de interesse para os diversos utilizadores da Contabilidade. Assim, a avaliação desses fatores e dos seus impactos pode ser identificada como um dos contributos da investigação científica conduzida no presente estudo. Obrigado pela vossa atenção!! 22