EFEITO DA PERDA DE HABITAT SOBRE A REPRODUÇÃO DE AVES BARRANQUEIRAS
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- Nathalie Angelim Weber
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1 EFEITO DA PERDA DE HABITAT SOBRE A REPRODUÇÃO DE AVES BARRANQUEIRAS Sandro Batista da Silva 1 (PG) *, Alexandre F. do Nascimento (IC) 2, Yanara M. da Silva (IC) 2, Marcos Antônio Pesquero 3 (PQ) 1 Aluno do Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Meio Ambiente e Sociedade, Universidade Estadual de Goiás/Câmpus Morrinhos, biosandroceja@gmail.com, 2 Graduação em Ciências Biológicas, PBIC/UEG. Universidade Estadual de Goiás, Morrinhos, 3 Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Meio Ambiente e Sociedade, Universidade Estadual de Goiás/Câmpus Morrinhos RESUMO A redução e a fragmentação dos biomas têm conduzido o planeta a uma extinção em massa. Os habitats ribeirinhos, importantes em biodiversidade e na manutenção do ciclo da água não são exceções e as recentes alterações do Código Florestal tendem a tornar esses ambientes ainda mais susceptíveis às ações antropogênicas no Brasil. Várias espécies de aves utilizam os barrancos que acompanham as nascentes e os cursos de água para se reproduzir. Dessa forma, este estudo vem testar a influência da perda de habitat no sucesso reprodutivo de aves barranqueiras. Nove locais foram avaliados quanto à diversidade, ao número de ninhos, ovos, ninhegos e sucesso reprodutivo dessas aves. Doze espécies que nidificam em barrancos foram identificadas, todas com estado de conservação Pouco Preocupante. Os dados reprodutivos das comunidades de aves não demonstraram relação com a variação dos tamanhos dos fragmentos de vegetação nativa, indicando que os níveis de habitat avaliados (15 a 67 ha) não interferem na reprodução desse grupo de aves. Palavras-chave: Fragmentação. Vegetação ripária. Sucesso reprodutivo. Introdução Zonas ripárias são ecótonos entre ambientes terrestres e aquáticos e representam algumas das porções mais dinâmicas da paisagem (SWANSON et al., 1988), geralmente comportam um número maior de espécies de plantas (GREGORY et al., 1991) e de vertebrados (THOMAS et al., 1979). A largura dos corredores de mata ripária é o fator mais importante beneficiando a biodiversidade e maximizar a largura desses corredores melhora a qualidade do habitat ao reduzir o efeito de borda (METZGER, 2010). A vegetação que se localiza nas margens de rios e lagos exerce função de proteção, filtragem e amortecimento dos impactos provenientes dos ambientes que circundam o ecossistema aquático (JØRGENSEN, LÖFFLER,
2 1995), e também é importante no controle do fluxo de água da chuva e na atenuação dos picos de inundação (BARBOSA, 1997). A fragmentação da vegetação pode ser definida como a redução da área original na qual uma paisagem natural é dividida em pequenas parcelas de ecossistemas naturais, isolados uns dos outros por atividades humanas (HUNTER- JR, GIBBS, 2007). De acordo com Metzger (2001), esses fragmentos são muito importantes como pontos de ligação, pois permitem o fluxo de indivíduos incapazes de atravessar extensas áreas abertas através de paisagens fragmentadas. Alterações na vegetação, tais como fragmentação e redução implicam que o ambiente natural pode tornar-se impróprio para abrigar determinadas espécies de aves que exigem condições específicas para sobreviver e se reproduzir (BORGES; MARINI, 2010). Dessa forma, o objetivo principal desse estudo é testar o efeito da perda da vegetação ripária sobre o sucesso reprodutivo de aves que dependem desse habitat para reprodução. Material e Métodos Áreas de Estudo O presente estudo foi realizado em habitats ribeirinhos no Parque Natural de Morrinhos e em propriedades particulares rurais na cidade de Morrinhos, localizada na região sul do estado de Goiás. De acordo com Martins et al. (2009), o município encontra-se em acelerado processo de desmatamento, restando apenas 17% (49.462ha) de vegetação nativa, predominantemente em propriedades particulares. A região é tomada pela monocultura e pecuária, e suas principais culturas, em larga escala, são a soja, o milho e a cana de açúcar (OLIVEIRA; SOUSA, 2012). No total, nove áreas ripárias foram analisadas, diferenciando-se quanto à área (ha) de vegetação nativa preservada. Registro dos dados O monitoramento dos ninhos foi de setembro a novembro de 2015, período que ocorre a reprodução do grupo estudado. Os buracos encontrados nos barrancos foram inspecionados com o auxílio de uma lanterna e de uma sonda óptica de cinco metros de comprimento ligada a um notebook e inserida dentro dos ninhos. Os ninhos ativos ao longo das trilhas foram demarcados com GPS (Garmin Etrex 20)
3 para monitoramento do sucesso reprodutivo através da contagem do número de ovos e ninhegos ao longo do período reprodutivo. O sucesso reprodutivo foi estimado através da proporção de ninhegos que deixaram o ninho em relação ao número de ovos depositados. As áreas de vegetação nativa foram obtidas através da demarcação por imagem de satélite (Google Earth Pro ), estabelecendo-se uma distância máxima de 500m a partir de ambos os lados das trilhas percorridas. Análise dos dados O efeito da área (ha) de vegetação nativa sobre a diversidade (H de Shannon-Weaver) de espécies de aves barranqueiras, a densidade de ninhos, o número de ovos por ninho, o número de ninhegos por ninho e o sucesso reprodutivo foi testado através de uma análise de correlação de Spearman, além da análise exploratória de agrupamento (UPGMA) com distância Euclidiana através do programa BioEstat 5.3. Resultados e Discussão As características das trilhas percorridas e da vegetação nativa dos nove locais ribeirinhos visitados na zona rural do município de Morrinhos são descritas na Tabela 1. Tabela 1: Descrição das áreas ripárias visitadas em Morrinhos, GO. Local Trecho (m) Área total (ha) Área natural (ha) Área não natural (ha) Coordenadas RS ,33 20,27 131, S O RS S O ERO ,53 18,90 115, S O DAI ,50 27,37 127, S O PNM ,08 67,14 75, S O OL ,93 35,66 95, S O OL ,10 15,40 127, S O TAM ,82 31, S O DAO ,77 35,98 126, S O
4 Foram localizados 101 ninhos, dos quais 86 estavam ativos, sendo 21 ninhos de Tersina viridis, 20 ninhos de Galbula ruficauda, 17 de Momotus momota, 10 de Clibanornis rectirostris, nove de Cantorchilus leucotis, oito de Leptopogon amaurocephalus, sete de Stelgidopterix ruficollis, três de Turdus leucomelas e apenas um ninho registrado de Sclerurus scansor, Myiozetetes cayanensis, Nystalus chacuru e Tolmomyias sulphurescens. Os dados reprodutivos das comunidades de aves são resumidos na Tabela 2. Tabela 2. Dados reprodutivos das comunidades de aves barranqueiras segundo as localidades estudadas na zona rural do município de Morrinhos, GO. Número de ninhos/100 m Número de ovos/ninho Número de ninhegos/ninho Sucesso reprodutivo (%) Diversidade (H ) RS RS ERO DAI PNM OL OL TAM DAO Nenhum dos dados reprodutivos levantados para as comunidades locais de aves foram relacionados significativamente às áreas (ha) de vegetação nativa circundantes. Dessa forma, os níveis de redução de habitat avaliados (15,4 a 67,14 ha) não influenciaram negativamente na reprodução do grupo de aves estudado. A análise de agrupamento corroborou a ausência desse padrão esperado (Fig. 1). Apesar da rejeição da hipótese da relação negativa entre o sucesso reprodutivo e a perda de habitat (BORGES; MARINI, 2010), o PNM, maior fragmento de vegetação nativa avaliado aqui, apresentou a maior densidade de ninhos (Tab. 2), indicando que a perda de habitat pode reduzir a disponibilidade de locais para nidificação e/ou de alimento para os pais e filhotes ocasionando um maior espaçamento dos ninhos. De fato, o desmoronamento de barrancos foi observado em trechos sem vegetação nos locais estudados, principalmente em TAM e RS1 (Fig. 2).
5 Figura 1. Análise de agrupamento (UPGMA) com distância Euclidiana (%) das comunidades de aves segundo características reprodutivas e área (ha) de vegetação nativa local Dissemelhança (%) RS2 (35) TAM (32) DAO (36) PNM (67) ERO (19) OL1 (15) DAI (27) OL2 (36) RS1 (20) Vegetação nativa (ha) 0 Figura 2. Processos erosivos em barrancos de córregos e ribeirões devido ao desmatamento na zona rural de Morrinhos, GO. A TAM, B RS1. Em relação à situação de conservação, a maioria das espécies está classificada na situação LC (least concern ou pouco preocupante) da IUCN (2015) com populações estáveis, embora existam algumas espécies cujas populações estão em declínio como Momotus momota, Galbula ruficauda, Sclerurus scansor e Cantorchilus leucotis.
6 Considerações Finais Os dados coletados são ainda preliminares e mais cinco locais com área (ha) de vegetação nativa semelhante ao do PNM serão avaliados no período reprodutivo de As análises não conseguiram relacionar a perda de habitat com a redução do sucesso reprodutivo das aves barranqueiras. Entretanto, a maior densidade de ninhos registrada no PNM (67 ha) é indicativo de que maiores áreas ribeirinhas contribuam com maior número de descendentes. Agradecimentos À diretora do Parque Natural de Morrinhos Loane Cristina e aos proprietários das fazendas pela autorização das coletas de dados. Referências BARBOSA, A.A.A. Biologia reprodutiva de uma comunidade de campo sujo em Uberlândia, MG. Tese de Doutorado em Ecologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas - SP, BORGES, F.J.A.; MARINI, M.A. Birds nesting survival in disturbed and protected Neotropical savannas. Biodivers Conserv, v. 19, n. 1, p , GREGORY, S.V., SWANSON, F.J., MCKEE, W.A., CUMMINS, K.W. An ecosystem perspective of riparian zones. BioScience 41: , HUNTER JR, M.L.; GIBBS, J.P. Fundamentals of Conservation Biology. third edition, Blackwell publishing, Malden, MA, USA, IUCN Red List of Threatened Species. Version < Downloaded on 09 February JØRGENSEN, S.E.; LÖFFLER, H. Gerenciamento de litorais lacustres. Shiga, Japão, Ilec, UNEP. (Diretrizes para o gerenciamento de lagos, vol. 3), MARTINS, R.A.; SANTOS, E.V.; FERREIRA, I.M. Atualização do mapa de remanescente florestal do município de Morrinhos - GO: Utilizando imagem LANDSAT -TM. In: Anais do XI Simpósio Regional de Geografia. UFG- Campus Jataí - GO, 2009.
7 METZGER, J.P. O que é ecologia de paisagens? Biota Neotropica, Campinas, 1: 1-9, 2001 Disponível em: < (último acesso em 31/10/2014). METZGER, J.P. O Código Florestal Tem Base Científica?; Conservação, ed. Cubo, São Paulo, SP; 8 (1): 1 5, Natureza & OLIVEIRA, A.G.; SOUSA, A.T. Especificidades das precipitações pluviométricas na microrregião Meia Ponte no sul de Goiás e sua relação com a ocorrência de processos erosivos, p In SILVA, M.V. & PESQUERO, M.A. (eds.). Caminhos interdisciplinares pelo ambiente, história e ensino: o sul goiano no contexto. Uberlândia: Editora Assis, SWANSON, F.J., KRATZ, T.K.; CAINE, N.; WOODMANSEE, R.G. Landform effects on ecosystem patterns and processes. BioScience 38:92 98, THOMAS, J.W., MASER, C.; RODIEK. J. E. Riparian zones. Pages In THOMAS, J.W. (ed) Wildlife habitats in managed forest: the Blue Mountains of Oregon and Washington. U.S. Forest Service Handbook Number 553, Washington, D.C., USA, 1979.
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