UM PROJETO DE EXTENSÃO COMO FORMA DE PARCERIA ENTRE EMPRESA E UNIVERSIDADE
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- Rodrigo Bentes Sousa
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1 UM PROJETO DE EXTENSÃO COMO FORMA DE PARCERIA ENTRE EMPRESA E UNIVERSIDADE Vânia Rossetto Marcelino (UNICENTRO) vania@irati.unicentro.br Eneida Martins Miskalo (UNICENTRO) eneida@irati.unicentro.br Área Temática da Extensão Universitária: Meio Ambiente Linha Temática da Extensão Universitária: Questões Ambientais Palavras-chaves: fauna; flora; levantamento fitossociológico; aves; mamíferos. 1. Introdução O presente relato refere-se ao Projeto de Extensão Inventário de aves, mamíferos de médio e grande porte e árvores nativas das fazendas da Emilio B. Gomes em Guamirim, Irati, PR, na modalidade Prestação de Serviço, na categoria Projeto de Extensão por Tempo Determinado, não vinculado a Programa de Extensão Permanente, com financiamento externo. Há uma demanda de proprietários rurais para os levantamentos de fauna e flora de suas Reservas Legais para que possam submeter um plano de manejo ao órgão ambiental responsável ou para que obtenham a certificação ambiental/florestal de seus produtos, agregando assim, maior valor de mercado na venda dos mesmos. Este pretendeu assim fornecer análises para identificar áreas de alta prioridade de conservação e fornecer subsídios para cumprir as exigências da empresa certificadora. A humanidade vem, cada vez mais, exigindo o cumprimento da legislação ambiental de modo a conservar nossos recursos naturais renováveis. Os especialistas há muito vêm alertando para a necessidade de se promover o uso racional dos recursos naturais e a proteção de nossa fauna, flora e ecossistemas, principalmente os florestais. A obtenção de documentos técnicos que apresentam diagnósticos da fauna, flora e ecossistemas das Reservas Legais (RLs) e Áreas de Proteção Permanente (APPs) é geralmente custoso para os proprietários, além de ser difícil para os mesmos avaliarem a qualidade dos dados apresentados por profissionais que não são ligados a instituições de reconhecido mérito de conhecimento. Assim, a confecção desses documentos por universidades que contenham em seu quadro de docentes e discentes profissionais ligados às especialidades exigidas, proporciona vantagens à comunidade em termos de acesso facilitado aos conhecimentos acadêmicos e a garantia de um trabalho reconhecidamente de qualidade. Para a universidade, a grande vantagem é a possibilidade de oferecer aos acadêmicos a chance de aplicarem conhecimentos adquiridos durante o curso,
2 além de uma experiência com o mercado de trabalho, empresas e comunidades envolvidas no assunto, exercendo o aprendizado (aplicar conhecimentos teóricos), a pesquisa (levantamentos de fauna e flora) e a extensão em forma de prestação de serviço (geração de um documento técnico). A universidade ganha também em parcerias com empresas, equipamentos e materiais doados pelas mesmas ou proprietários rurais e possibilidade de se inteirar melhor das necessidades da população envolvida. O objetivo geral do projeto foi realizar um inventário faunístico e florístico de Reservas Legais (RL) e Áreas de Preservação Permanente (APP) de quatro fazendas de uma empresa florestadora (madeireira). Os objetivos específicos foram: a) realizar levantamento quali-quantitativo de aves; b) realizar levantamento qualitativo de mamíferos de médio e grande porte; c) realizar levantamento quali-quantitativo de vegetação de porte arbóreo; d) diagnosticar o estado de conservação dos fragmentos florestais amostrados tomando como bioindicadores os táxons levantados; e) sugerir medidas de conservação ambiental, de modo a preservar ou enriquecer a biodiversidade. 2. Metodologia O local da amostragem de campo foram quatro fazendas pertencentes à empresa madeireira Emílio B. Gomes & Filhos S/A, localizadas no distrito de Guamirim, município de Irati, Paraná, cuja área total de mata nativa é de cerca de 680 ha; as áreas a serem amostradas foram divididas em oito fragmentos para facilitar o entendimento sobre o estado de conservação de cada mancha de floresta; o restante das fazendas está ocupado por benfeitorias e plantios homogêneos, com destaque para espécies do gênero Pinus. A iniciativa da parceria partiu da empresa. A parceria foi realizada com as professoras (autoras do trabalho) responsáveis pelo Laboratório de Dendrologia e pelo Herbário (HUCO) do Depto. de Engenharia Florestal da UNICENTRO, Campus de Irati. Vários estagiários passaram pelo projeto até o término do mesmo, além de um técnico florestal e alguns funcionários da empresa que nos acompanharam em campo. Para o levantamento quali-quantitativo de aves, foi utilizado o método de observação ao acaso em toda a área das fazendas e observação em trajetoirregular nos fragmentos amostrados (16 trajetos no total, dois para cada fragmento). Durante as observações, foram utilizados equipamentos auxiliares na identificação das aves, como binóculos, guias de campo (Develey e Endrigo, 2004; Souza, 1998) e literatura especializada (Grantsau, 1988 e Sick, 1997). Para o levantamento de mamíferos de médio e grande porte foi utilizado o método de observação de rastros ao acaso. Para o levantamento da vegetação de porte arbóreo foi utilizada a observação ao acaso para florística e 20 parcelas permanentes (10 x 10m)
3 instaladas para amostragem fitossociológica (árvores com CAP igual ou superior a 5 cm). CAP = circunferência à altura do peito (por convenção a 1,3 m do solo). 3. Resultados obtidos Como principais resultados obtidos até o momento, destacam-se: a) um documento diagnóstico (relatório técnico entregue à empresa) das áreas amostradas com sugestões de conservação ambiental; b) experiência adquirida na área profissional pelos alunos bolsistas e voluntários com os trabalhos realizados; c) fortalecimento das relações entre a empresa e o meio acadêmico. Destacam-se aqui os resultados mais relevantes dos levantamentos faunísticos e florísticos: a) Levantamento faunístico: foram registradas até agora 88 espécies de aves durante os trajetos amostrais nas florestas nativas das quatro fazendas, dentre as quais quatro encontram-se na lista de espécies ameaçadas de extinção no estado do Paraná (Chondrohierax uncinatus, Accipiter poliogaster, Leptasthenura striolata, Passerina (Cyanoloxia) glaucocaerulea); também foram registradas 11 espécies de mamíferos de médio e grande porte nas fazendas visitadas; as espécies registradas nos fragmentos florestais são apenas uma amostra da comunidade faunística que possa existir na mata nativa, além daquelas que frequentam preferencialmente as áreas antropizadas, necessitando de mais estudos para um levantamento exaustivo nas fazendas. b) Levantamento florístico: os fragmentos analisados apresentam indicativos de estágio sucessional secundário; as análises realizadas mostram que os fragmentos apresentam em sua composição florística a associação de famílias relacionada à floresta Ombrófila Mista Montana e Floresta Ombrófila Mista Aluvial, com Araucaria angustifolia associada a Lauraceae, Sapindaceae e Aquifoliaceae no dossel e Myrtaceae, Salicaceae e Euphorbiaceae no subbosque; a presença de três espécies registradas na Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção (Araucaria angustifolia, Dicksonia sellowiana e Ocotea porosa) reforçam a importância da conservação desses fragmentos; a presença de espécies zoófilas e zoocóricas devem ser consideradas como estratégicas para a manutenção da fauna local. Sugere-se como primeira prática de manejo enriquecer os demais fragmentos com o plantio de espécies típicas da FOM, especialmente as frutíferas, de modo a atrair e manter a fauna silvestre. A vigilância dessas áreas e a educação ambiental aos moradores vizinhos também são ações a serem consideradas para garantir a perpetuação desses fragmentos e a regeneração de sua vegetação. Sugere-se também que todos os funcionários (diretos e indiretos/terceirizados) sejam conscientizados sobre a importância da manutenção da araucária em áreas naturais protegidas, a saber: a) para a manutenção da própria espécie e seu ecossistema, a Floresta de Araucária; b) para a manutenção
4 da fauna que depende dos pinhões para sua alimentação. Também devem ser conscientizados sobre a proibição da coleta de pinhões em áreas naturais antes da data estipulada pelo órgão ambiental competente (alimentação da fauna silvestre em época de escassez de alimento na natureza). Devido à importância desses Fragmentos como reserva da biodiversidade da Floresta Ombrófila Mista, sugere-se a continuidade dos estudos nessas áreas, com relação aos aspectos da dinâmica desses ecossistemas florestais e dos fatores que a afetam, visando a elaboração de estratégias de conservação desses Fragmentos através da implantação de um plano adequado de manejo. Atualmente, as empresas madeireiras mantêm o compromisso de conservar a vegetação nativa do estado, através da manutenção de fragmentos florestais destinados a áreas de Reserva Legal junto a áreas de plantio de espécies exóticas produtoras de madeira, como as de Pinus. Entretanto, a estrutura dos fragmentos deve ser tal que permita a expressão da dinâmica natural do ecossistema florestal original, especialmente no que se refere aos modos de dispersão das espécies, permitindo assim que o processo de regeneração natural se estabeleça. A avaliação da estrutura dos fragmentos requer o estudo básico das espécies da flora nativa, partindo da identificação e caracterização de seus principais representantes arbóreos, por meio de um sistema de amostragem em parcelas permanentes e observação direta. Dessa forma é possível não apenas identificar os elementos da diversidade biológica local como também monitorar suas mudanças através do tempo. Os dados obtidos forneceram subsídios para outros estudos que possibilitarão determinar tamanhos mínimos críticos de populações e ecossistemas, necessários para se conservar a biota a longo prazo, facilitando assim o planejamento do uso da terra e a manutenção das áreas de conservação existentes e planejadas. Talvez a grande beneficiada com esse tipo de trabalho de extensão seja a própria natureza, já que com conhecimentos e sugestões de manejo oferecidas pelos acadêmicos envolvidos, pode-se colaborar em muito tanto para a sua conservação e preservação quanto para a conscientização da comunidade em geral para os temas ambientais. 4. Considerações finais As parcelas permanentes, já demarcadas, possibilitarão um monitoramento a longo prazo da recuperação e conservação das áreas estudadas. Esse monitoramento poderá ser realizado em futuros projetos de extensão, com parceria
5 semelhante, gerando mais conhecimento e integração entre os diversos atores envolvidos nos trabalhos. Espera-se ainda gerar publicações científicas, de modo a completar a integração ensino-pesquisa-extensão. É importante salientar aqui todo o apoio oferecido pela empresa, tanto logístico quanto financeiro, mas principalmente o incentivo à parceria, demonstrado pelo pronto atendimento às nossas solicitações e à paciência demonstrada frente às dificuldades acadêmicas. Acreditamos que todos os funcionários da empresa que nos ajudaram em campo aprenderam algo sobre conservação ambiental, assim como nós aprendemos com eles. O entendimento entre nós, funcionários e moradores locais foi um exemplo de como a comunidade acadêmica (portadora dos conhecimentos científicos, mas muitas vezes insuficiente) pode aprender com a comunidade local, detentora de conhecimentos tradicionais sobre a Floresta de Araucária e vice-versa. Muitos estagiários, acadêmicos do curso de Engenharia Florestal da UNICIENTRO, participaram dos trabalhos de campo, aprendendo na prática como realizar inventários florísticos e faunísticos e a enfrentar as dificuldades com as quais sempre podem defrontar em suas vidas profissionais, além, é claro, de terem contato com trabalhadores locais e funcionários. Também salientamos a participação do técnico florestal Gerson Luiz Lopes, que realizou a identificação em campo das espécies arbóreas quando possível, treinando acadêmicos na área de dendrologia. 5. Referências bibliográficas DEVELEY, P. F.; ENDRIGO, E. Guia de Campo: Aves da Grande São Paulo. São Paulo: Aves e Fotos Editora, 298p GRANTSAU, R. Os beija-flores do Brasil: uma chave de identificação para todas as formas de beija-flores do Brasil. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 233p SICK, H. Ornitologia brasileira. Ed. Revista e ampliada por José Fernando Pacheco. 2. impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 862p SOUZA, D. Todas as aves do Brasil: guia de campo para identificação. Feira de Santana: Dall, 258p
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