CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA

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1 CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA E CONTEXTUALIZADA EM 3 ESCOLAS DO ENSINO FUNDAMENTAL EM GUARAPUAVA/PR. I- REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MEIO AMBIENTE. Tatieli Plavak¹, Adriana Massaê Kataoka², Antonio Alexandre Pereira Junior³, Raquel Costa da Silva 4 ¹tatieli_plavak@hotmail.com. Departamento de Ciências Biológica. Mestradoem Biologia Evolutiva- Universidade Estadual do Centro Oeste UNICENTRO.Guarapuava-PR ² Universidade Estadual do Centro-Oeste, Departamento Ciências Biológicas, Guarapuava, PR. ³ Faculdade Guairacá, Departamento Psicologia, Guarapuava, PR 4 Universidade Estadual do Centro-Oeste, Departamento Ciências Biológicas, Guarapuava, PR. Palavras Chave: Educação ambiental, percepção, professores. RESUMO: O presente estudo teve por objetivo investigar as representações sociais de meio ambiente e educação ambiental de professores de duas escolas do município de Guarapuava-PR, sendo uma pública e outra particular. Esse tipo de investigação fornece importantes contribuições para implantação de projetos de educação ambiental. Com base nos resultados, observou-se que as representações dos professores sobre estes temas, envolvendo suas concepções de meio ambiente e educação ambiental, apresentaram-se descontextualizadas e pontuais. Consideramos esses resultados muito importantes no sentido de subsidiar um projeto de educação ambiental nas referidas escolas. INTRODUÇÃO: A temática ambiental tem se configurado num dos problemas contemporâneos mais amplamente divulgado e debatido por diversos setores da sociedade. E, juntamente com essa preocupação com o meio ambiente, buscam-se estratégias para solucionar a crise ambiental, entre elas, a educação ambiental tem sido apontada como uma das formas de abordagem da temática. Dias (2002), define educação ambiental como um processo contínuo no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência de seu ambiente, adquirindo valores e experiências que os tornem aptos a agir e resolver os problemas ambientais presentes e futuros. Considerando a importância da educação ambiental, sobressaem-se as escolas como espaços privilegiados de informação, construção e produção de conhecimento, desenvolvimento da criatividade e possibilidades de aprendizagens diversas (REIGOTA, 1998). Na escola ela contribui para construção de representações de meio ambiente, possibilitando o acesso a informações que, mais tarde, podem auxiliar no desenvolvimento de uma consciência global das questões relativas ao meio. A partir do momento que levamos em consideração a concepção dos leigos sobre o tema, estamos tratando de representação social, que é o senso comum que se tem sobre um determinado assunto (MOSCOVICI, 1978). Assim, através da abordagem das representações sociais, o presente trabalho buscou investigar as representações sociais de meio ambiente e educação ambiental de professores de duas escolas de ensino fundamental, uma pública e outra particular, além de subsidiar um trabalho de extensão de caráter intervencionista nas referidas escolas.

2 MATERIAIS E MÉTODOS A escola particular situa-se no bairro Boqueirão, município de Guarapuava-PR. Atende a 120 alunos de faixa etária de 4 meses a 10 anos. Constitui-se de amplo espaço verde com atividades que envolvem o meio ambiente, sendo a equipe de trabalho formada por 25 funcionários. A escola municipal, localiza-se no centro do município. Atualmente atende a 670 alunos, do 1º ano a 4ª série do ensino fundamental e conta com uma equipe de trabalho composta por 46 funcionários. Foi utilizada a entrevista como instrumento para a coleta de dados, tendo como base um roteiro de questões. Foram realizadas entrevistas com oito professores da escola particular e seis professores da escola municipal. O tamanho dessa amostra foi estabelecido em função da saturação dos dados obtidos, ou seja, quando relatos começaram a se repetir. (BAPTISTA, 2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO Das 14 professoras entrevistadas, 12 são da área de Pedagogia e 2 de Letras. É sabido que os profissionais dessa área não possuem em sua formação inicial conhecimentos da área ambiental, e isso pode fazer com que o professor encontre dificuldades em trabalhar a temática ambiental, não por desinteresse, mas muitas vezes por falta de conhecimentos na área. Diante disso, é possível perceber que se faz necessário a capacitação dos professores. Segundo Santos (1997), é preciso investir em processos de capacitação que permitam ao professor embasar o seu trabalho com conceitos sólidos para que as ações não fiquem isoladas e/ou distantes dos princípios da educação ambiental. Reigota (1998), considera o ambiente como o lugar onde os elementos naturais estão em relação dinâmicas e em interação. No entanto, conforme mostra o quadro 1, as representações de meio ambiente pelos professores apresentaram-se de uma forma simplista e reduzida. Quadro 1: Concepção de Meio Ambiente dos docentes Categorias Frequência absoluta Frequência relativa Espaço onde estamos, o que nos cerca Aspectos físicos/ biológicos do ambiente (planta, seres interligados, animais, ar) 9 52,94% 5 29,41% Nossa vida 3 17,65% TOTAL % É possível notar no quadro acima que a maioria das citações (52,94%) reduz o ambiente ao espaço onde estamos, o que nos cerca. Ao generalizar o ambiente ao espaço que nos cerca, no mínimo consideramos uma extrema simplificação que pode estar negando implicitamente aspectos importantes do ambiente que deveriam ser analisados. Já a segunda categoria envolve

3 apenas o ambiente natural. No entanto, reduzir o ambiente a dimensão natural (física e biológica), exclui o ser humano desse conceito e conjuntamente as dimensões sociais políticas e econômicas. Dimensões estas onde podemos encontrar tanto as causas como as possíveis soluções para a crise ambiental. Quanto à concepção de educação ambiental pelos professores, os resultados são apresentados no quadro abaixo: Quadro 2: Concepção de Educação Ambiental pelos docentes Categorias Frequência absoluta Frequencia relativa Respeitar/cuidar do meio ambiente 6 33,33% Conscientização 4 22,22% Preservação 4 22,22% Mudar valores 2 11,11% Necessário para viver bem (bem-estar) 2 11,11% TOTAL % Como demonstra o quadro 2, respeitar e cuidar do meio ambiente foi a resposta mais citada (33,33%). Essa categoria de resposta denota certa ingenuidade por parte dos professores. Carvalho (2004) lembra que tem ocorrido o uso corrente e generalizado da denominação Educação Ambiental, a autora salienta ainda que passou a ser usada como um termo genérico para algo que se aproximaria de tudo que pudesse ser acolhido. As categorias conscientização e preservação possuem o mesmo peso (22,22%) e podemos perceber que se encontram intimamente ligadas à educação ambiental. Verifica-se que a ênfase nessa temática é relativamente recente e emergente, embora não tenha sido acompanhada pelas grades curriculares da maioria dos cursos de nível superior. Apesar de a Política Nacional de Educação Ambiental (1999) recomendar que essa temática seja trabalhada em todos os níveis de ensino, essa recomendação, ainda não se concretizou, e parece já trazer prejuízos muito grandes para a formação desses profissionais. Esses prejuízos consequentemente se refletem no ensino fundamental e médio, e por conseqüência, na sociedade como um todo. Quadro 3: Respostas dos professores quanto ao abordar ou não a temática ambiental em sua prática Resposta Frequência absoluta Frequência relativa Sim, com freqüência 13 92,86% Raramente 1 7,14% TOTAL O quadro 3 mostra que a maioria dos professores (92,86%) aborda a temática ambiental em sala de aula com freqüência. Segundo os professores, essa abordagem se dá através de diferentes maneiras, conforme apresenta o quadro 4. Quadro 4: Abordagens de temática ambiental em sala de aula pelos professors

4 Exemplos de abordagens Frequência absoluta Frequência relativa da temática ambiental Reciclagem do lixo 4 17,39% Conservação 1 4,35% Uso correto de recursos 1 4,35% Através de textos de 2 8,70% reflexão, conscientização Diálogos em sala de aula 1 4,35% Limpeza da sala de aula 2 8,70% Trabalha a questão da água 1 4,35% Higiene pessoal 1 4,35% Projeto de Biodiversidade 4 17,39% Higiene do ambiente 2 8,70% Passeios pela trilha da 4 17,39% escola TOTAL % Os temas mais trabalhados, segundo o quadro 4 são: reciclagem do lixo, projeto biodiversidade e passeios pela trilha. O projeto biodiversidade e passeio pela trilha acontecem na escola particular que se localiza numa chácara e já possui uma ideologia ambiental. Percebe-se que quando a escola assume a causa, alguns reflexos começam a se fazer sentir. O tema reciclagem de lixo parece ser um tema recorrente na maioria das escolas, que possui, é claro, sua importância, mas que configura um tema muito restrito se trabalhado isoladamente. Outras abordagens são compatíveis coma as correntes recursista, conservacionista e naturalística da educação ambiental. Estas reconhecem o ambiente como um recurso a ser conservado ou, como no caso da trilha, a ênfase está no contato direto com a natureza. Por outro lado as abordagens citadas não revelam evidências da corrente sistêmica ou crítica que trazem uma concepção de educação ambiental mais avançada. Quadro 5: Respostas dos professores com relação se a temática ambiental se restringe à sua disciplina/turma ou envolve outras disciplinas/turmas Respostas Frequência absoluta Frequencia relativa Envolve outras 12 85,71% disciplinas/turmas Envolve somente a minha 2 14,29% disciplina/turma TOTAL % O quadro 5 mostra que a maioria dos professores trabalha a temática ambiental envolvendo outras turmas e disciplinas. Com relação à escola particular, os professores relataram

5 que este ano estão trabalhando com o tema Biodiversidade, onde cada turma ficou com um aspecto do tema. Desta forma, cada turma apresenta seu trabalho para outras, havendo uma interação entre todos os alunos. Os professores da escola municipal também declararam que trabalham a temática ambiental, sendo que os professores de determinada série/ano preparam juntos as aulas, com diversos temas, por exemplo, água, a questão do lixo, higiene da sala de aula etc. Para Gaudiano (2005), não é que considere a interdisciplinaridade como a pedra filosofal da educação ambiental, mas sim uma forma de reorganizar o conhecimento para responder melhor aos problemas da sociedade. Quadro 6: Respostas dos professores com relação à iniciativa em se abordar a temática ambiental Respostas Frequência absoluta Frequencia relativa Iniciativa própria 5 31,71% Iniciativa de outros 9 64,29% TOTAL % O quadro 6 demonstra que os professores, em sua maioria (64,29%), não têm iniciativa própria ao abordar a temática ambiental, e que esta advém de terceiros, como por exemplo, da direção, da coordenação pedagógica, da secretaria de educação etc. Esta falta de iniciativa própria pode ser atribuída ao fato de os docentes não possuírem muitos conhecimentos na área de Educação Ambiental, que pode ser estar diretamente relacionada à deficiência na formação. Verifica-se que a ênfase nessa temática é relativamente recente e emergente, embora não tenha sido acompanhada pelas grades curriculares da maioria dos cursos de nível superior. Apesar de a Política Nacional de Educação Ambiental (1999) recomendar que essa temática seja trabalhada em todos os níveis de ensino, essa recomendação ainda não se concretizou, e parece já trazer prejuízos muito grandes para a formação desses profissionais. Esses prejuízos consequentemente se refletem no ensino fundamental e médio, e por consequência na sociedade como um todo. CONCLUSÕES A presente pesquisa trouxe resultados muito importantes para subsidiar um projeto em Educação Ambiental. Algumas representações sociais demonstraram-se ainda descontextualizadas e pontuais. Por outro lado, a pesquisa também revelou que ambas as escolas já possuem uma caminhada de trabalhos dentro da temática. Portanto, a partir desses resultados, consideramos que um projeto de educação ambiental a se realizar nas referidas escolas deva aproveitar os pontos fortes e o trabalho já existentes, priorizar as deficiências apontadas e principalmente integrar todas as ações, para que os envolvidos tenham a clareza de entender em que ponto se encontram da caminhada e aonde querem chegar.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAPTISTA, M. N.; CAMPOS, D. C. Metodologias de Pesquisa em Ciências: análises quantitativa e qualitativa. Rio de Janeiro: LCT, BRASIL. Lei N 9.795, de 27 de abril de Política Nacional de Educação Ambiental (DF): Senado Federal; CARVALHO, I. C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, DIAS, G. F. Iniciação à Temática Ambiental. São Paulo: Gaia, GAUDIANO, E.G. Interdisciplinaridade e educação ambiental: explorando novos territórios epistêmicos. In: SATO, M.; CARVALHO, I. Educação Ambiental: pesquisa e desafios. São Paulo: Artmed, MOSCOVICI, S. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, SANTOS, E. C. Escola de Educação Ambiental A Universidade e a Incorporação da Educação Ambiental no Ensino de 1º Grau. In: PADUA, S. M.; TABANEZ, M. F. (ORGS). Educação Ambiental: caminhos trilhados no Brasil. Brasília, REIGOTA, M. Meio Ambiente e representação social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1998.