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Transcrição

1 fls. 1 SENTENÇA Processo Físico nº: Classe - Assunto Falência de Empresários, Sociedades Empresáriais, Microempresas e Empresas de Pequeno Porte - Recuperação judicial e Falência Requerente: Hester Química do Brasil Ltda. Requerido: Anchieta Industria e Comercio de Produtos de Limpeza Ltda Juiz(a) de Direito: Dr(a). Marcia Yoshie Ishikawa Vistos. Trata-se de pedido de falência formulado por HESTER QUÍMICA DO BRASIL LTDA. em face de ANCHIETA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PRODUTOS DE LIMPEZA LTDA. A autora relata que é credora da requerida da quantia de R$ ,34, consubstanciada nas notas fiscais, comprovantes de entrega de mercadorias e duplicatas descritas na inicial, as quais foram devidamente protestadas; e que a requerida deixou injustificadamente de adimplir suas obrigações. Pleiteia a decretação da falência da requerida, com fulcro no art. 94, I, da Lei /05. Juntou documentos a fls. 06/47. Citada, a requerida não efetuou o depósito elisivo, mas apresentou contestação (fls. 83/87). Sustentou, preliminarmente, que a autora não observou os requisitos necessários para a decretação da falência por impontualidade injustificada, uma vez que não houve protesto especial, bem como não há a identificação dos recebedores nos mencionados instrumentos, o que causa a nulidade da ação. No mérito, apontou que não há nos autos comprovantes dos recibos das mercadorias entregues com a identificação do recebedor, e que os títulos juntados não são originais ou cópias autenticadas, em desrespeito ao que dispõe a lei. No mais, requereu a improcedência da ação. Réplica (fls. 95/98). Intimadas a indicarem as questões de fato e de direito pertinentes ao julgamento da causa e a especificarem as provas que pretendem produzir, a autora se manifestou a fl. 102/103; a ré, a fl. 107/109. O Ministério Público apresentou manifestação, declarando a ausência de interesse público a ensejar a intervenção ministerial no presente feito (fls. 112/113). É o relatório. Fundamento e decido lauda 1

2 fls. 2 Impõe-se o julgamento antecipado da lide, nos termos do artigo 355, I, do Código de Processo Civil, pois desnecessária a produção de outras provas. Incialmente, no tocante ao vício de protesto suscitado pela ré, há que se consignar que razão não lhe assiste. Em que pese o disposto no artigo 94, 3º, da Lei /2005, o protesto comum dispensa o especial para o requerimento de falência, conforme dispõe a súmula 41 do TJ/SP. Esse é o posicionamento consolidado pela doutrina. Fábio Ulhoa Coelho ensina que "em vista dessa dificuldade e também levando em conta a completa inutilidade da distinção prevista em lei entre protesto em geral e para fim falimentar -, qualquer protesto deve ser admitido na instrução do pedido de falência fundado em impontualidade injustificada". (Comentários à Lei de Falências e de Recuperação de Empresas; Saraiva; 8ª edição, 2011, pág. 354). Ademais, frise-se que os instrumentos de protestos juntados aos autos demonstram que houve a intimação pessoal quanto aos débitos, com a expressa declaração de nome do recebedor, afastando, portanto, qualquer irregularidade no tocante à intimação. Neste sentido, confira-se: Apelação. Falência baseada na impontualidade. Validade dos protestos. Intimação dos protestos realizada com identificação das pessoas intimadas para o ato notarial, que não precisa ser o representante legal da empresa. Protesto cambial implica desnecessidade de protesto especial para fins falimentares. Prova documental da prestação e recebimento das mercadorias. Atendimento das Súmulas 361 do STJ, 41 e 52 do TJSP. Requisitos do art. 94, I, 3º da Lei nº /2005, atendidos e com impontualidade comprovada. Apelo provido, para decretar a falência da empresa, com determinação. (Apelação Cível nº Rel. Des. Pereira Calças - j ). MANOEL JUSTINO BEZERRA FILHO ensina que: Depois de alguma discussão, o STJ acabou fixando o entendimento de que o protesto especial de que fala a lei, é aquele no qual se exige a identificação do recebedor do aviso de protesto, mesmo que por simples anotação do nome e número do RG da pessoa. O STJ sumulou este entendimento sob o n. 361, em (...) (Lei de Recuperação de Empresas e Falências, Lei /2005, 8ª ed, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2013, p. 238). Assim, foram atendidas as exigências da Súmula nº 55 do TJ/SP, segundo a qual para a validade do protesto basta a entrega da notificação no estabelecimento do devedor e sua recepção por pessoa identificada ; bem como da súmula nº 361 do STJ, que lauda 2

3 fls. 3 aponta que A notificação do protesto, para requerimento de falência da empresa devedora, exige a identificação da pessoa que a recebeu. No mérito, o pedido é procedente. O art. 94, I, e 3, da Lei /05 estabelece que: Art Será decretada a falência do devedor que: I sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários mínimos na data do pedido de falência; (...) 3 - Na hipótese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com os títulos executivos na forma do parágrafo único do art. 9 desta Lei, acompanhados, em qualquer caso, dos respectivos instrumentos de protesto para fim falimentar nos termos da legislação específica. Nota-se que para a decretação da falência por impontualidade injustificada, são necessários os seguintes requisitos: (i) uma obrigação líquida e certa, no caso, o título executivo; (ii) seu protesto; e (III) que a soma dos débitos ultrapassem 40 salários mínimos. Com relação ao título executivo, deve ele observar os mesmos requisitos impostos para fundamentar uma execução, do que se infere que, fundado o pedido falimentar em duplicatas vencidas e não pagas, e sendo esta espécie de título de crédito causal, o que significa que só pode ser emitido em situações específicas, exige-se a demonstração da efetiva prestação do serviço ou entrega das mercadorias, sendo que, em se tratando de aceite presumido, só valerá a duplicata como título de crédito nas hipóteses em que acompanhada de documento hábil de entrega e recebimento de mercadorias, acompanhado do protesto do título (cf. art. 15, II, da Lei 5474/68). No caso dos autos, verifica-se que a requerente cumpriu as exigências prescritas na lei, uma vez que juntou aos autos as notas fiscais que originaram as duplicatas que embasam o pleito inicial; e estas trazem, expressamente, a identificação e assinatura do recebedor das mercadorias (fls ). Em relação ao protesto, como já exposto acima em linhas gerais, foram devidamente observados os requisitos legais e o entendimento jurisprudencial para sua realização. Outrossim, as duplicatas mercantis, devidamente protestadas, ultrapassavam, na data do pedido de falência, o equivalente a 40 salários mínimos; o que lauda 3

4 fls. 4 comprova o inadimplemento da requerida. Ainda a requerida não apresentou qualquer justificativa para sua insolvência, nos termos do art. 96 da Lei /05. Assim, restando configurada a hipótese do art. 94, I, da Lei n /2005, presume-se a insolvência injustificada da requerida, que permite a decretação da sua quebra. Ante o exposto, DECRETO a falência de ANCHIETA INDUSTRIA E COMERCIO DE PRODUTOS DE LIMPEZA LTDA., inscrita no CNPJ n / , com sede na Rua Moisés Forti, 855, Distrito Industrial, Capivari/SP, declarando o seu termo legal no nonagésimo dia anterior à data do primeiro protesto noticiado nestes autos ( ). Intime-se a ré para apresentar, em 05 (cinco) dias, a relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos. Determino a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, salvo nas hipóteses dos 1º e 2º do art. 6º da Lei /05. Fica expressamente proibida a realização de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido, submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, caso venha a ser instalado. Oficie-se ao Registro Público de Empresas a fim de proceder à anotação da falência no registro do devedor, para que conste a expressão falência, a data da decretação da falência e a inabilitação do representante legal do falido para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência até a sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto no 1.º do art. 181 da Lei /05. Nomeio Mauricio Dellova de Campos como administrador judicial, assinando-lhe o prazo de 24 horas para prestar compromisso, devendo desempenhar as atividades constantes no inc. III do caput do art. 22 da Lei /05. Oficie-se aos Cartórios de Registro de Imóveis locais e à Ciretran para que informem a existência de bens e direitos do falido. Proíbo a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens da falida (empresa), sem autorização judicial, ressalvados os bens cuja venda faça parte das atividades normais do devedor se autorizada a continuação provisória das atividades (art. 99, VI). Intime-se o Ministério Público para manifestar-se no feito. Oficiem-se às Fazendas Públicas Federal, do Estado de São Paulo e do lauda 4

5 fls. 5 Município de Capivari, a fim de tomarem conhecimento da falência. Publique-se por edital a íntegra da decisão declaratória da falência e posteriormente, da mesma forma, publique-se a relação dos credores do falido. P.R.I.C. Capivari, 9 de agosto de Marcia Yoshie Ishikawa Juíza de Direito DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI /2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA lauda 5