SENTENÇA V I S T O S

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Gilberto Neto Garrido
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1 fls. 1 SENTENÇA Processo nº: Classe - Assunto Recuperação Judicial - Recuperação judicial e Falência Requerente: Rede de Supermercados Passarelli Ltda Requerido: O Juizo e outro V I S T O S REDE DE SUPERMERCADOS PASSARELLI LTDA, requereu sua recuperação judicial em setembro de O processamento do pedido foi deferido. Aprovado pela assembleia de credores, o plano foi homologado e concedida a recuperação judicial. Relatórios do Administrador Judicial indicavam a precariedade da situação da empresa, que depois do trespasse de unidades e redução de seus ativos a um único estabelecimento, encerrou de fato suas atividades, encontrando-se inativa (fl. 8580, 8764/8765). Foi mantido o cumprimento do plano de recuperação judicial pelas empresas que adquiriram o imóvel e as unidades alienadas no curso do processo, e que efetuam o pagamento das parcelas do preço aos credores. Há reclamação de credores quirografários quanto à falta de pagamento de parcelas devidas pela adquirente das unidades de Andradina, SP e Três Lagoas, MS. É o relatório. D E C I D O lauda 1

2 fls. 2 A autora não mais se encontra em condições de exercer sua atividade, já encerrada de fato. A autora fechou as portas do último estabelecimento que lhe restava, e há notícia de que o imóvel, pertencente a terceiro, já está locado a outra empresa. Nos termos da Lei /05, a recuperação judicial tem por finalidade viabilizar a superação da crise econômico-financeira da empresa, permitindo assim a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores, e dos interesses dos credores, preservando a empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica (art. 47). O encerramento irregular das atividades da autora frustrou por completo os objetivos da recuperação judicial a ela deferida. A empresa não está exercendo qualquer atividade, não mantém estabelecimento, e não tem faturamento. Portanto, jamais superará a crise econômico-financeira que a levou a requerer a recuperação. Perdeu-se a fonte produtora. Todos os empregados foram demitidos, não havendo emprego a ser preservado. Também não há mais empresa a ser preservada, e foi perdida sua função social. Já não há razão, portanto, para prosseguir nesta ação. Neste sentido os fundamentos contidos na r. sentença proferida pelo eminente Juiz de Direito da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Foro Central Cível da Comarca de São Paulo, no processo n : Deve-se destacar que o Estado não deve agir para tentar recuperar empresas evidentemente inviáveis e que não geram benefício social relevante. As estruturas do livre mercado condenariam empresas inviáveis à falência, para o bem do sistema econômico e para a sobrevivência saudável de outras empresas viáveis. Nesse sentido, não existe razão em se utilizar a intervenção estatal, através do processo de recuperação de empresas, para ressuscitar empresas inviáveis ou já condenadas à falência. Se não interessa ao sistema econômico a manutenção de empresas inviáveis, não existe razão para que o Estado, através do Poder Judiciário, trabalhe nesse sentido, deferindo o processamento de recuperações judiciais para empresas evidentemente inviáveis. E mais. O sistema de recuperação judicial brasileiro parte do princípio de que deverá haver necessariamente uma divisão de ônus lauda 2

3 fls. 3 entre devedor e credores, tendo como contrapartida o valor social do trabalho e todos os benefícios decorrentes da manutenção da atividade produtiva. É bom para o devedor, que continuará produzindo para pagamento de seus credores, ainda que em termos renegociados e compatíveis com sua situação econômica. Também é bom para os credores, que receberão os seus créditos, ainda que em novos termos. Mas tudo isso só faz sentido se for bom para o interesse social. O ônus suportado pelos credores em razão da recuperação judicial só se justifica se o desenvolvimento da empresa gerar os benefícios sociais reflexos que são decorrentes do efetivo exercício dessa atividade. Empresas que, em recuperação judicial, não gerariam empregos, rendas, tributos, nem fariam circular riquezas, serviços e produtos, não cumprem a sua função social e, portanto, não se justifica mantê-las em funcionamento nesses termos, carreando-se todo o ônus do procedimento aos credores, sem qualquer contrapartida social (grifei). Sem a manutenção das atividades empresariais, tal como no caso em tela, é inviável a recuperação da empresa. A conduta da devedora, encerrando de forma irregular suas atividades, configura o abandono de estabelecimento, causa legal de decretação da falência prevista no art. 94, III, f, da Lei /05. Por fim, há ainda a reclamação de credores quanto ao cumprimento do plano pela empresa Nova Estrela S/A, que adquiriu ativos da autora, e que intimada, não juntou comprovantes de efetivo pagamento de todas as prestações mensais por ela devidas aos credores quirografários, nos termos do terceiro aditivo ao plano de recuperação aprovado nestes autos. Trata-se, portanto, de hipótese de convolação desta recuperação judicial em falência, nos termos do art. 61, 1º, c.c. art. 94, III, f, ambos da Lei /05. Ante o exposto, JULGO ABERTA hoje, às 12:00 horas, a FALÊNCIA de REDE DE SUPERMERCADOS PASSARELLI LTDA. São representantes legais da falida Luiz Carlos Alves, Márcia Maria de Souza, e Joaquim Fernando de Souza, qualificados à fl lauda 3

4 fls. 4 I Fixo: a) o termo legal da falência no nonagésimo dia anterior ao primeiro protesto por falta de pagamento ou ao pedido de recuperação, prevalecendo a data mais antiga; b) o prazo de 15 dias para as habilitações de crédito ou divergências quanto aos créditos relacionados, contado do edital de publicação desta sentença (LRF, art. 7º, 1º). II Mantenho como administrador judicial o contador Paulo Luvisari Furtado, que deverá ser intimado para, no prazo de 48 horas, assinar o termo de compromisso, sob pena de substituição (LRF, arts. 33 e 34), e assumir as funções previstas no inciso III do art. 22 e no art. 108 e seguintes, todos da Lei /05. III Impugnações dos credores apresentadas na recuperação e eventualmente ainda não decididas, bem como eventuais novas divergências quanto aos créditos relacionados, deverão ser entregues em definitivo ao administrador judicial e processadas como divergências administrativas. IV Não ocorre hipótese de continuação provisória das atividades da falida, e também não há estabelecimento a ser lacrado. Considerando que a empresa, no curso do processo, transferiu sua sede para a Comarca de Andradina, determino que seja deprecada a nomeação de auxiliar do administrador judicial, que deverá promover: a) a arrecadação dos bens, documentos e livros que forem encontrados em poder dos representantes legais da autora, ou cujo local de depósito venha a ser indicado por estes; b) a avaliação dos eventuais bens da falida, que serão mantidos sob sua guarda e responsabilidade (LRF, art. 108, parágrafo único), para a realização do ativo lauda 4

5 fls. 5 V Depreque-se, também, a intimação pessoal dos sócios da falida para: a) em 05 dias, apresentar relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos, deduzindo eventuais pagamentos realizados no curso da recuperação judicial e incluindo os créditos não sujeitos a ela, sob pena de desobediência; b) em 05 dias, firmar termo de comparecimento e prestar esclarecimentos por escrito, cumprindo os deveres do art. 104 da Lei /05, sob pena de desobediência. VI Determino ainda: a) a suspensão de todas as ações e execuções contra a falida, exceto aquelas referidas no art. 6º, 1º e 2º, da Lei /05; b) a suspensão da prescrição; c) a proibição da prática de quaisquer atos de disposição ou oneração de bens da falida. VII Providencie o Cartório: a) a expedição de ofícios, intimações e comunicações previstas nos incisos X e XIII, do art. 99 da Lei /05, por meio físico ou on-line ; b) a expedição do edital contendo a íntegra desta sentença e da relação de credores, tão logo apresentada essa relação (LRF, art. 99, parágrafo único); c) a expedição de ofício à JUCESP, a quem determino seja anotada a falência no registro da devedora, fazendo constar a expressão Falido, a data da decretação da quebra, e a inabilitação de que trata o art. 102 da Lei /05. VIII Intimem-se pelo correio os representantes legais das empresas Companhia Sul-americana de Distribuição e Nova Estrela S/A, para que deixem de pagar diretamente aos credores e passem a depositar nestes autos, mensalmente e até o final da lauda 5

6 fls. 6 obrigação, as parcelas do preço do imóvel e das unidades da falida por elas adquiridos. P. R. I. Araçatuba, 28 de maio de ANTONIO CONEHERO JUNIOR JUIZ DE DIREITO ASSINATURA DIGITAL, NOS TERMOS DA LEI / lauda 6

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