Autora: Banco Rural S/A Ré: Credihaus Factoring Fomento Mercantil Ltda.

Transcrição

1 Processo nº: Autora: Banco Rural S/A Ré: Credihaus Factoring Fomento Mercantil Ltda. Vistos etc. Banco Rural S/A, qualificado à fl. 02, ajuizou o presente pedido de declaração de falência em face de Credihaus Factoring Fomento Mercantil Ltda., também qualificada nos autos, argumentando ser credor da ré da importância atualizada de R$ ,20 em decorrência de inadimplemento da Cédula de Crédito Bancário nº 204/024/02. Requereu a citação para o pagamento do valor devido, sob pena de ser decretada a falência da demandada. Citada por edital e não tendo se manifestado, à ré foi nomeado curador especial que apresentou contestação às fls. 82 a 89 alegando, de início, a inépcia da inicial ante a ausência da duplicata vinculada à cédula de crédito, documento indispensável ao ajuizamento da ação. Também disse haver carência de ação pela falta de demonstração da liberação da verba. No mérito, apontou a nulidade da cláusula autorizando a prática de anatocismo e a inaplicabilidade da multa contratual de 10%, já que não podia superar 2% segundo o CDC. Requereu o acolhimento das preliminares ou a improcedência do pedido. Houve réplica. É o relatório. PASSO A DECIDIR. Trata-se de pedido de falência com fundamento no art. 1º do Decreto-lei nº 7.661/45, formulado por credor da ré, nos termos do art. 9º, III, da Lei de Falência. Consoante o art. 1º do Decreto-lei nº 7.661/45, "considera-se falido o comerciante que, sem relevante razão de direito, não paga no vencimento obrigação líquida, constante de título que legitime a ação executiva". Nesse passo, o pedido veio instruído com os documentos indispensáveis ao decreto da medida, tratando-se da cédula de crédito bancário não 1

2 saldada no prazo, além do instrumento de protesto para fins falimentares, no qual se visualiza que houve a intimação pessoal da representante legal da ré (fls. 09 a 14 e 26). Aliás, em sua defesa a demandada não negou a dívida, apenas apontou questões formais ligadas à falta de documento de prova da liberação do crédito, além de alegar a nulidade de dois encargos previstos no pacto. Com efeito, tais alegações não podem ser acolhidas. É que a ré assumiu a obrigação encartada no pacto de fls. 09 a 14, sendo sua juntada suficiente para documentar o pedido de quebra, já que se trata de título de crédito passível de execução, não havendo necessidade de juntada de outros títulos de crédito eventualmente vinculados à cédula, cabendo à ré alegar a garantia acaso seja demandada por tal razão. Também a cédula de crédito dispensa a prova de ser sido o valor creditado em conta corrente da ré, servindo por si só para comprovar a obrigação contraída. Assim, tratando-se a cédula de crédito bancário de título executivo, sendo inadimplida, serve ao pedido de decretação da falência, a exemplo do documento juntado com a inicial. Então, sendo o autor credor, nada obsta o requerimento feito, já que a ré não comprovou nenhuma das hipóteses do art. 4º do Decreto-lei nº 7.661/45, dentre elas não se enquadrando eventuais nulidades de cláusulas de alguns encargos, e nem depositou o valor da dívida: "Desde que devidamente caracterizada por impontualidade, conforme o art. 1º da Lei de Falências e Concordatas (...), a falência pode ser requerida pelo credor, de acordo com os dispositivos do art. 9º, III, daquela lei. Esse direito legal pode ser exercido por qualquer credor, seja civil ou comerciante, bastando, como prova, a exibição do seu título de crédito, estando ou não vencido (...)." (op cit p. 74) Não bastasse isso, a propósito das impugnações da ré acerca do valor do débito, tem-se que não se incluiu na dívida protestada multa contratual à taxa de 10%, mas esta ncidiu à taxa de 2% (fl. 33), e, segundo se sabe, a estipulação contratual de capitalização de juros remuneratórios em periodicidade inferior à anual é admitida em cédulas de crédito bancário, ante o teor da Medida Provisória nº , de , reeditada sob n.º /200 Nesse passo, a insolvência da ré é presumida em razão da impontualidade no pagamento de obrigações líquidas, sem qualquer fundamento de relevância. Tal situação indica que a ré se encontra em estado de insolvência presumida, mantendo suas atividades respaldada no inadimplemento de obrigações que assume com seus credores. Neste ensejo, incumbe ao devedor ilidir referida presunção de insolvência, demonstrando a existência de razão plausível para a falta de pagamento. 2

3 Todavia, além de não apresentar motivo relevante, a ré não efetuou o depósito da quantia, mesmo quando intimada para tanto. Desnecessário, então, qualquer outra providência probatória noa autos. A propósito, Carlo Ulhoa Coelho leciona que "o requerimento de falência fundado na impontualidade do devedor está relacionado a um rito processual cuja marca é a inexistência de dilação probatória para o requerente e a dilação limitada para o requerido." (in Manual de Direito Comercial. 14. ed. Saraiva, 2003, p. 319) Insubsistente, pois, a defesa apresentada e não tendo havido qualquer depósito com o fito de elidir o pedido, impõe-se a decretação da quebra. Necessário registrar que, consoante 4º do art. 192 da Lei nº , de 09 de fevereiro de 2005, o Decreto-lei nº 7.661/45 tem aplicação até a decretação da falência, observando-se os ditames da nova lei que trata da recuperação judicial, extrajudicial e da falência do empresário e da sociedade empresária. Em face do que foi dito: 1) com fundamento no art. 1º do Decreto-lei nº 7.661/45, às 17h30min do dia 16/12/2009, decreto a falência de Credihaus Factoring Fomento Mercantil Ltda., pessoa jurídica de direito privado com sede na Avenida MA\recha, Deodoro da Fonseca, nº 88, centro, em Jaraguá do Sul (SC), com CNPJ nº / ) Ainda: 02.a) Fixo como termo legal da falência, consoante art. 99, II, da LRE, o nonagésimo (90º) dia anterior ao ajuizamento do pedido de falência. 02.b) Nomeio como administrador judicial Sérgio Gonçalves Ferreira (Av. Juscelino Kubitscheck, 410, sala 305, 3º andar, bloco A, Centro Comercial Cidade de Joinville, Joinville SC, CEP , (47) / ), devendo, em até 24 (vinte e quatro) horas assinar o termo de compromisso, sob pena de substituição (arts. 33 e 34). 02.c) Determino ao administrador judicial que proceda a arrecadação dos bens e documentos e livros, bem como a avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem, para realização do ativo, sendo que ficarão eles sob sua guarda e responsabilidade ou de pessoa por ele escolhida, sob sua responsabilidade (art. 108, 1º), devendo providenciar a lacração, do estabelecimento. 02.d) Com relação aos livros, deverá o administrador judicial providenciar o seu encerramento e guarda em local que indicar. 02.e) Determino à falida que apresente, em até 05 (cinco) dias, a relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos, sob pena de desobediência. 3

4 02.f) Esclareço que a verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, nos termos do art. 7º, caput, tendo os credores o prazo de 15 (quinze) dias, contado da publicação do edital com a relação de credores, para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados (art. 7º, 1º). 02.g) Determino ao administrador judicial que, com base nas informações e documentos colhidos, publique edital contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do item 02.f, observando o art. 7º, 2º. 02.h) Para salvaguardar os interesses das partes envolvidas e verificado indício de crime previsto na Lei nº /2005, ressalto que poderá ser decretada a prisão preventiva (art. 99, VII). 02.i) Nos termos do art. 99, V, determino a suspensão da prescrição e de todas as ações e execuções contra a falida, ressalvadas as hipóteses previstas no 1º (ações com quantia ilíquida já em andamento) e no 2º do art. 6º da LRE. 02.j) Proíbo a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido, sem autorização judicial e do Comitê de Credores, se este for constituído. 3) À Chefe do Cartório determino: 3.a) A expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas (União, Estado e Município; Banco Central, DETRAN, Receita Federal, etc.) para que informem a existência de bens e direitos da falida (art. 99, X). 3.b) A expedição de ofício à JUCESC para que proceda à anotação da falência no registro da falida, para que conste a expressão "falida", a data da decretação da falência e a inabilitação da falida para o exercício de atividade empresarial (art. 99, VIII, e 102) ficando autorizado o envio por correio eletrônico, sucedido pelo encaminhamento da via original assinada, devendo encaminhar o contrato social a fim de que se tenha a informação de quem são seus sócios. 3.c) A comunicação da decretação da falência às Varas Cíveis desta Comarca, à Justiça do Trabalho e à Justiça Federal de Jaraguá do Sul e às Fazendas Públicas Municipal, Estadual e Federal. 3.f) A expedição de edital, nos termos do art. 99, parágrafo único, com a relação de credores a ser entregue pela falida. Publique-se. Registre-se. Intimem-se, a falida por mandando, devendo o Oficial de Justiça acompanhar o administrador judicial na arrecadação de bens, documentos e livros, estando autorizado a solicitar o reforço policial se necessário. Jaraguá do Sul (SC), 16 de dezembro de

5 ELIANE ALFREDO CARDOSO LUIZ Juiza de Direito RECEBIMENTO Recebi os presentes autos da Exma. Sra. Dra. Eliane Alfredo Cardoso Luiz, MM. Juíza de Direito. E fiz este termo. Jaraguá do Sul (SC), / /. Marisa Schroder Feliti Chefe de Cartório Matrícula nº