PARECER. Calendário e Programa de Trabalhos para a Elaboração dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica
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- Baltazar Cruz Esteves
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1 PARECER Calendário e Programa de Trabalhos para a Elaboração dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica A LPN tem acompanhado atentamente todo o processo de elaboração da Directiva-Quadro da Água (DQA), a sua transposição para o direito português e todas discussões públicas relacionadas com processo de implementação da mesma, tendo apresentado pareceres a todos os documentos disponibilizados para o efeito. Apesar de reconhecermos o inegável esforço que tem sido desenvolvido pela autoridade nacional da água no processo de transposição da DQA, em que se salienta, em geral, a grande qualidade dos aspectos estritos de transposição da DQA e dos relatórios enviados à Comissão Europeia, não podemos deixar de salientar o aspecto menos conseguido em todo processo. Tem sido recorrentemente focada nos nossos pareceres e no âmbito da nossa participação enquanto conselheiros do Conselho Nacional da Água a forma deficiente como se tem desenrolado o processo de participação pública. Apesar disso, verificamos que nada foi modificado e que, quase 7 anos após a aprovação da DQA e de serem continuamente anunciados os trabalhos nesse sentido através da contratação de universidades para desenvolverem uma estratégia/plano para a participação pública, a mesma continua a não existir, pondo em causa a aplicação do artigo 14º no que diz respeito ao envolvimento activo dos interessados. Este facto faz perder a oportunidade de beneficiar este processo de todas 1
2 as mais valias reconhecidas à participação activa dos cidadãos, em especial a aceitação e adopção dos regulamentos aprovados. Os documentos apresentados para consulta pública no site de Internet do Instituto da Água ( são uma mera formalidade decorrente das exigências da DQA em relação à calendarização e programação dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica (PGRH), uma vez que se limitam a transpor as exigências da DQA em relação a estes instrumentos. Por sua vez, no que diz respeito à regulamentação decorrente da Lei da Água, apenas o Projecto de Diploma sobre a elaboração, aprovação, aplicação e avaliação do Plano Nacional da Água, dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica e dos Planos Específicos de Gestão das Águas foi disponibilizado a um público alargado para envio de comentários. De todos os diplomas e normas técnicas que têm vindo a ser elaborados, este é o que inclui menos resoluções vinculativas para o público em geral, visto ser uma descrição dos conteúdos dos planos de águas a serem elaborados. Pelo contrário, questões tão importantes como a definição das normas de qualidade da água, a definição do regime económico e financeiro ou as normas para os empreendimentos de fins múltiplos têm sido mantidas num secretismo quase absoluto até à sua publicação, sem que o envolvimento activo dos interessados seja promovido, tal como é explicitado pela DQA. No que diz respeito ao diploma para a definição do regime económico e financeiro, teve lugar um consulta restrita a alguns actores interessados, sem que o resultado da ponderação seja do conhecimento público. Numa matéria tão importante para o cidadão, uma vez que afecta directamente todos os sectores de utilização, é grave que nem os Conselhos de Bacia Hidrográfica tenham sido consultados. A LPN já manifestou publicamente e repetidamente a sua preocupação em relação à inércia completa a que estão votados os Conselhos de Bacia Hidrográfica e ao facto de ainda não se encontrarem a funcionar os Conselhos de Região Hidrográfica previstos na Lei da Água, e que deveriam estar a acompanhar assiduamente todo o processo de regulamentação da mesma. Fica por isso lançado o repto a que os mesmos sejam activados e instados a pronunciar-se sobre as matérias que ainda se encontram em processo de decisão, dado ao carácter de indefinição a que se encontra votado o funcionamento efectivo das Administrações de Região Hidrográfica. Tendo em conta estas considerações, que esperamos vir a ser tidas em conta, resta-nos transcrever parte dos aspectos mencionados em pareceres anteriores desta associação, cujo efeito prático foi aparentemente nulo, visto que os factos relatados continuam a repetir- 2
3 se, mostrando o completo desrespeito pelos processos de participação pública nas tomadas de decisão. Sendo um bem público, a gestão da água deve integrar mecanismos de informação e participação pública que garantam o envolvimento efectivo da sociedade civil desde o início dos processos. A LPN considera que esses mecanismos não estão devidamente salvaguardados no texto apresentado, tendo em conta que o mesmo não define as formas de participação na elaboração dos Decretos Regulamentares que complementarão a Directiva. Não foi assegurado de uma forma estruturada e faseada - o envolvimento activo do público no processo de transposição e nos grupos de trabalho nacionais, criados em função dos grupos de trabalho da Estratégia Comum de Implementação. A participação pública deve ser estimulada pelas autoridades e deve acompanhar todo o processo de implementação da DQA, começando pela própria transposição. O presente projecto de Decreto-Lei foi posto à disposição do público para comentários sem a devida divulgação, com um prazo para comentários demasiado curto e concentrado num período de fraca mobilização (Natal e Ano Novo). Também a forma de acesso ao documento não é a mas adequada, devendo ser disponibilizadas cópias em papel, para além da versão electrónica na página do Instituto da Água. Janeiro de 2003 A LPN vem por este meio manifestar a sua profunda insatisfação pela forma como tem sido conduzido este processo. Esta associação mostrou-se sempre disponível e interessada em participar em todos os processos de envolvimento da sociedade civil na gestão da água em Portugal, no entanto tem verificado a ausência de uma preocupação séria em mobilizar a discussão pública da primeira lei verdadeiramente integradora no domínio da política da água, que se manifesta quer pelo formato desta consulta, quer pela condução de todo o processo de implementação da DQA em Portugal. O projecto apresentado, a semelhança da grande maioria dos documentos legislativos, utiliza uma linguagem e estrutura extremamente complexas, dificultando a sua compreensão pelo cidadão em geral. A LPN considera que as consultas públicas a documentos com estas características deve incluir um anexo explicativo sobre as principais alterações introduzidas e os principais afectados. Devem ainda ser acompanhadas de sessões públicas de esclarecimento, que incluam uma explicação acessível dos conteúdos e um espaço alargado de discussão e esclarecimento de dúvidas por parte de todos os interessados. 3
4 Por último, é essencial que todos os processos de consulta pública sejam acompanhados de uma explicação prévia sobre os critérios e metodologias de inclusão das participações, para que os interessados saibam à partida como a sua opinião será tida em conta no resultado final. O processo de consulta pública em curso constitui mais um exemplo de uma interpretação enviesada da participação pública em Portugal, resumindo-se: à disponibilização de informação, normalmente apenas na fase final dos processos de decisão; a consultas públicas de curta duração e sem os esclarecimentos necessários à compreensão dos documentos em consulta. A LPN defende um processo participativo bastante mais abrangente, sendo a Administração responsável pelo envolvimento activo da sociedade civil, promovendo mecanismos que motivem o interesse. Estes processos exigem ainda um compromisso por parte dos cidadãos, que devem assumir activamente os seus direitos de acesso à informação, esclarecimento, produção de contributos e recepção de resposta aos mesmos, que indique como foram considerados. No decorrer do processo de implementação da DQA, desde a sua aprovação, foram identificados diversos problemas relacionados com o processo de participação pública, nomeadamente: Exclusão do processo de elaboração da Lei apesar de alguns dos projectos para a nova Lei Quadro da Água terem sido elaborados por grupos de trabalho constituídos por especialistas, não houve qualquer envolvimento de representantes efectivos da sociedade civil; Ausência de resposta aos pareceres - os pareceres elaborados no âmbito de consultas públicas não obtiveram quaisquer respostas e desconhece-se de que forma foram tidos em conta na elaboração das propostas subsequentes; Exclusão do processo de implementação da DQA apesar de estarem em curso diversas tarefas relacionadas com o cumprimento das exigências da DQA, não existe qualquer forma de envolvimento da sociedade civil, quer no que respeita à divulgação de informação, quer da consulta ou outras formas de envolvimento activo, como sejam reuniões, workshops, etc.; Recusa de informação não obstante a LPN ter conhecimento da existência de dados e relatórios produzidos pelas entidades responsáveis pela implementação da DQA, o acesso a essa informação tem sido sistematicamente negado, chegando mesmo a ser fornecida informação completamente de desactualizada. 4
5 Estas práticas são incompatíveis com as exigências da própria DQA e requerem uma mudança profunda na forma como a Administração interpreta o conceito de envolvimento activo da sociedade civil, sob pena de vir a comprometer futuramente a implementação de medidas menos populares e de aceitação difícil por parte dos cidadãos. Março de 2005 A Lei-Quadro da Água é um documento fundamental em matéria de gestão dos recursos hídricos, uma vez que transpõe para o direito interno a Directiva-Quadro da Água (DQA), revogando um conjunto de decretos-lei neste domínio e introduzindo alterações bastante significativas ao domínio público hídrico. Seria por esse motivo necessário um esforço acrescido de mobilização da sociedade civil para a discussão pública da primeira lei verdadeiramente integradora no domínio da política da água, o que não aconteceu uma vez mais e apesar das recomendações anteriormente veiculadas pela LPN, por ocasião dos processos de consulta a propostas anteriores. A LPN considera que, dado o carácter basilar desta Lei, deveria a mesma ser objecto de uma auscultação alargada da sociedade civil e não de uma consulta pontual e discriminatória de alguns interessados. Este argumento aplica-se de igual modo à condução de todo o processo de implementação da DQA em Portugal. Esta consulta restritiva não poderá de modo algum ser justificada pela demora no processo de transposição da DQA, nem pela alegada integração de todos os pareceres aos projectos anteriores, inclusivé o do Conselho Nacional da Água, uma vez que esta proposta é substancialmente diferente das anteriores. Para além disso, a LPN considera que o parecer do Conselho Nacional da Água não reflecte todas as preocupações e discordâncias da associação, uma vez que foi elaborado por um Grupo de Trabalho onde a mesma não esteve representada (curiosamente a LPN não é nomeada para participar em grupos de trabalho deste Conselho há mais de seis anos consecutivos). Paralelamente à publicação da Lei-Quadro da Água, serão ainda publicados decretos regulamentares relativos a matéria de exterma importância para alcançar os objectivos da DQA, como é o caso da aplicação de taxas de utilização dos recursos hídricos. A 5 de Junho foi aprovado em Conselho de Ministros o Decreto Lei que estabelece o valor dessas taxas, sem que o mesmo tenha sido discutido na Assembleia da República ou sujeito a qualquer tipo de apreciação por parte da sociedade civil. Mais uma vez, este procedimento demonstra a falta de tranparência dos processos de decisão em matérias tão importantes como o regime económico. Para além do mais a LPN considera que aquele 5
6 Decreto Lei não incentiva a poupança de água, uma vez que o coeficiente de eficiência para o uso agrícola é extremamente baixo e o coeficiente de ecassez não considera devidamente as diferenças regionais. Por último, salientamos a necessidade de contemplar outras formas de disponibilização de informação sobre recursos hídricos para além da internet, uma vez que este meio tem ainda uma penetração bastante baixa na população portuguesa e não garante o acesso a uma larga maioria. Agosto de 2005 Lisboa, 31 de Julho de 2007 A Direcção Nacional LIGA PARA A PROTECÇÃO DA NATUREZA A Liga para a Protecção da Natureza (LPN), fundada em 1948, é uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) de âmbito nacional. É uma Associação sem fins lucrativos com estatuto de Utilidade Pública. É membro do EEB (European Environmental Bureau), IUCN-The World Conservation Union, CIDN (Conselho Ibérico para a Defesa da Natureza), MIO-ECSDE (Mediterranean Information Office for Environment, Culture and Sustainable Development), SAR (Seas at Risk), EUCC (European Union for Coastal Conservation) e é a Agência Nacional do Centro Naturopa do Conselho da Europa. 6
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