ILMO. SR. JOÃO MARCOS COSTA DE PAIVA - PROMOTOR DA 10º PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
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- Aparecida Carvalhal Philippi
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1 ILMO. SR. JOÃO MARCOS COSTA DE PAIVA - PROMOTOR DA 10º PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Ref.: Manifestação no Inquérito Civil Público nº 261/2010 O FÓRUM ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE SÃO PAULO e as entidades que o compõem, neste ato representados pela Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação, já qualificada no inquérito supramencionado, promovido em face do Estado de São Paulo e do Município de São José dos Campos, vêm, por seus representantes, apresentar a seguinte MANIFESTAÇÃO, o que faz nos termos que se seguem: Em audiência realizada por esta Promotoria com a participação de representantes do Fórum EJA São Paulo / Ação Educativa, do Governo do Estado de São Paulo e do Governo Municipal de São José dos Campos, em 10 de junho do corrente ano, foram reiteradas as preocupações manifestas no requerimento inicial, sobretudo no que concerne à queda vertiginosa de matrículas no período correspondente a e a não realização do recenseamento da demanda prescrito em Lei (LDB, art.5, 1º, inciso I). Na ocasião, porém, a Secretaria de Estado da Educação, por meio de sua representante e da dirigente regional de ensino, reafirmaram que o governo estadual garante vagas para todos,
2 2 mencionando inclusive que nos casos em que há pouca demanda para a abertura de classes, o poder público assegura o transporte escolar gratuito. Os representantes dos governos Estadual e Municipal não apresentam justificativa adequada, no entanto, no que diz respeito à diminuição das matrículas apontada pelo Censo Escolar 2010 (dados do INEP/MEC- já apresentados no presente inquérito). É preciso ressaltar que segundo dados do próprio Governo do Estado de São Paulo apresentados na audiência, só na cidade de São José dos Campos houve uma diminuição do número de escolas que ofertam EJA: hoje das 77 escolas estaduais na região, apenas 18 ofertam a modalidade. O mesmo ocorre com a Municipalidade, que em 2005 ofertava EJA em 22 escolas, sendo que hoje esse número caiu para 16 escolas. O argumento de que não há demanda é frágil, sobretudo diante de dois aspectos: (i) O Poder Público tem confundido o Censo específico previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional com a chamada pública, que hoje se realiza ordinariamente a cada ano, dando publicidade ao período de abertura de inscrições para a inscrição de alunos novatos nas diversas etapas e modalidades de ensino, e (ii) os índices de escolaridade do Estado de São Paulo, apesar de em regra se apresentarem melhores que a média nacional, permanecem no geral alarmantes e não apontam uma melhoria sustentável na em termos de inclusão e escolarização. Ou seja, o ritmo lento de melhora de tais índices não é capaz de justificar as abruptas quedas nas matrículas na modalidade EJA em ambas as redes, o que revela que o argumento de que a atual política para EJA é adequada e encontra sucesso não pode e não deve ser acolhido. A Diretoria de Ensino, em sua manifestação, confunde a chamada escolar pública, com o recenseamento da população jovem e adulta não escolarizada; distinção esta realizada nos incisos I e II do 1º, art.5, pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96): Art.4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; (...). VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e
3 3 disponibilidades, garantindo-se aos que foram trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; (...). Art.5º O acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo. 1º Compete aos Estados e aos Municípios, em regime de colaboração, e com a assistência da União: I- recensear a população em idade escolar para o ensino fundamental, e os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso; II - fazer-lhes a chamada pública; (...). Art. 37: A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. Ademais, é preciso frisar que pesquisas realizadas pela Fundação SEADE desmistificam a ideia de que o nível de escolaridade da população paulista alcançou patamar satisfatório, que justifiquem uma mudança na demanda potencial de jovens e adultos em termos de escolarização. Nem mesmo o Município de São José dos Campos pode sustentar essa ideia. É o que aponta também o Ranking de Escolaridade da população paulista, elaborado pelo Índice Paulista de Responsabilidade Social da Fundação SEADE 1 : embora a região administrativa de São José dos Campos ocupe a 9ª posição no Estado, o Município de São José dos Campos ocupa a posição 210ª, sendo que em 2000 esta posição era a de 76ª cidade do Estado de São Paulo. Segundo estimativa da mesma Fundação SEADE, com números apresentados no banco de dados do Índice Paulista de Responsabilidade Social 2, é possível aferir que 17,1% dos jovens com idade de 15 a 17 anos não concluíram o ensino fundamental e 40,7% das pessoas na faixa etária 1 Os dados são de 2008 e estão disponíveis em: - Região Administrativa de São José dos Campos. Acesso em 28 de junho de Fundação SEADE, com dados do Índice Paulista de Responsabilidade Social em 2008, disponíveis em:
4 4 de 18 a 19 anos não concluíram o Ensino Médio na idade adequada na Cidade de São José dos Campos. Em termos de comparação, os dados do Censo Demográfico do IBGE no ano 2000, apontavam que na cidade de São José dos Campos havia uma demanda potencial por EJA Ensino Fundamental (isto é, pessoas com 15 anos de idade ou mais, com menos de oito anos de estudos) em torno de 40,05%, o que corresponderia a pessoas. Destas, estavam na faixa etária de 15 a 19 anos, na faixa de 20 a 24 anos, na faixa de 25 a 39 anos, entre 40 a 59 anos, e com 60 anos ou mais. Analisando brevemente os números das matrículas na modalidade durante a última década (com base no Censo Escolar - INEP) é possível apurar que o número de matrículas realizadas foi insuficiente para solucionar a questão e diminuir substancialmente a demanda por EJA na cidade, haja vista que o período ( ) registrou uma média de matrículas iniciais presenciais realizadas pelo Município na modalidade EJA Ensino Fundamental. Nesse mesmo sentido a média do Estado foi mais baixa, sendo de matrículas. Do mesmo modo, os mesmos dados apontam a demanda potencial de EJA no Ensino Médio, visto que em 2000 a população joseense com 18 anos ou mais, com oito a dez anos de estudos era de 19,80%, ou o equivalente a pessoas. Convém ressaltar que no período foi registrada uma média de matrículas da Rede Estadual na modalidade EJA Ensino Médio presencial. Sem deixar de observar que como grande parcela da população não concluiu o ensino fundamental, a demanda potencial de EJA no ensino médio é limitada, isto significa que se um município possui uma demanda potencial de EJA no ensino médio reduzida, isso não quer dizer que seus indicadores educacionais sejam positivos. A análise das taxas revela que as supostas baixas demandas significam que poucas pessoas maiores de 18 anos de idade já finalizaram o ensino fundamental, e, portanto não podem também concluir o ensino médio. Diante disso convém ressaltar que o direito à Educação de Jovens e Adultos não diz respeito unicamente à redução do analfabetismo, mas igualmente à garantia de oportunidades de acesso à educação básica (compreendidos os ensinos fundamental e médio) para toda a população, sobretudo no que diz respeito às camadas mais pobres, historicamente excluídas. Dados da
5 5 Síntese de Indicadores Sociais da População Brasileira 3 divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2010 demonstram que a média de anos de estudo das pessoas de 25 anos de idade ou mais, ainda é baixa no Estado de São Paulo, girando em torno de 8,2 anos sendo que a situação se agrava entre as pessoas com baixo rendimento familiar per capita, chegando a 6,0. Não menos importante é o fato de que embora a Cidade de São José dos Campos ocupe a 33ª posição no Ranking de riqueza do Índice de Responsabilidade Social do Estado de São Paulo, sua posição no Ranking de Escolaridade é a 210ª em 2000 a cidade ocupava a 76ª posição no mesmo indicador. Há flagrante incoerência na argumentação dos representantes do Poder Público Estadual e do Poder Público Municipal ao sustentar a inexistência de demanda, o que reforça a necessidade premente de realização do recenseamento previsto em lei e chamadas públicas efetivas, capazes de mobilizar a sociedade e reverter a atual tendência de fechamento de escolas. Nesse sentido, também é necessário que o Ministério Público adote providências capazes de impedir que mais escolas que hoje oferecem a modalidade EJA sejam fechadas, o que inviabilizaria o exercício do direito à educação dos jovens e adultos do Município. Após mais de duas décadas de promulgação da Constituição Cidadã, que ordena a oferta da Educação Básica a todos/as, inclusive para aqueles que não tiveram a oportunidade de escolarização na idade apropriada (art.208, I); é inadmissível qualquer conduta omissiva do Estado diante do dever de promoção da Educação, conditio sine qua non para o cumprimento dos objetivos da República tão claramente delineados; obrigação esta que se realiza sob responsabilidade concorrente de Estados e Municípios. Não cabe qualquer dúvida quanto à exigibilidade do direito à educação de jovens e adultos, e também não se pode contestar que sua oferta, na etapa fundamental, foi expressamente atribuída a Estados e Municípios, em regime de colaboração, com o apoio técnico e financeiro da União (CF/88, art.211, 1 ). É o que consta na Constituição Federal: 3 O dado está exposto na página 67 da publicação, e a pesquisa completa está disponível no sítio oficial do IBGE: S_2010.pdf
6 6 Art A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. (...) 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. A verdade é que, mesmo nos diálogos que as organizações do Fórum tentam estabelecer com o Estado, há relutância do ente público em reconhecer seu papel na promoção do direito à educação para os jovens e adultos com baixa escolaridade. Frise-se, é o que a Constituição prevê: a promoção do direito à educação. Não obstante, convém relembrar que a queda de matrículas na rede estadual não se dá mediante mera opção dos demandantes pela rede municipal, numa simples inversão de papéis. A redução de matrículas é maior na rede estadual, mas a tendência também se apresenta no Município: isso fica claramente demonstrado ao analisarmos brevemente os dados do Censo Educacional 2010, visto que a queda de matrículas iniciais em EJA Ensino Fundamental na rede estadual nos últimos cinco anos atinge 91,35%, ao passo que as matrículas na rede municipal também caíram 45,04 % no mesmo período. Diante do exposto e das informações prestadas na Audiência de 10 de junho último, vimos reiterar os pedidos iniciais e REQUERER: 1 Que, no caso de não constar nas informações oficiais já juntadas aos autos do Inquérito, sejam requeridas informações detalhadas a respeito das matrículas na modalidade EJA no Município de São José dos Campos no ano letivo de 2011, redes estadual e municipal, especificando-se as escolas que oferecem a modalidade, o número de salas e os estudantes que frequentam cada turma e escola, por nível de ensino e etapa de desenvolvimento pedagógico; a fim de que se compare com os dados do ano letivo de 2010; e que, na mesma oportunidade, seja requisitada a lista de matrícula de estudantes novatos para a modalidade EJA em 2011, em ambas as redes de ensino, como forma de comprovar a efetividade da chamada escolar no formato atualmente realizado;
7 7 2 Que, seja requisitada ao Município de São José dos Campos e ao Estado de São Paulo a lista de unidades escolares que ofertaram EJA no período de 2005 a 2011, distribuídas geograficamente para fins de comparação; 3 Que sejam ouvidos, nos termos do presente Inquérito, diretores e demais gestores de unidades escolares sobre a política de EJA adotada pelo Estado de São Paulo e pelo Município de São José dos Campos, inclusive os diretores e gestores das escolas que deixaram de ofertar a modalidade no período 2005 a 2010; 4 Que a Secretaria Estadual de Educação comprove o fornecimento de transporte escolar gratuito para os casos em que alunos são remanejados para escolas de maior distância; 5 Que sejam requeridas informações ao Município de São José dos Campos e ao Estado de São Paulo sobre a possibilidade de abertura de matrículas, de forma permanente, em todas as unidades públicas de ensino e não apenas naquelas que atualmente ofertam a modalidade; 6 Que sejam requeridas informações ao Município de São José dos Campos e ao Estado de São Paulo sobre a possibilidade de realização de recenseamento de demanda em regime de colaboração, nos termos da legislação específica, abrangendo-se toda a rede de ensino e a demanda de jovens e adultos por ensinos fundamental e médio; 7 Que, nos termos da legislação própria, seja tomado Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com Município de São José dos Campos e o Estado de São Paulo, firmando-se o compromisso de realização, em prazo a ser estipulado, do recenseamento da demanda em todo o território do Município, contemplando-se as etapas de ensino fundamental e médio, bem como a chamada pública a ser realizada ao menos 2 (duas) vezes a cada ano, a abertura permanente às matrículas na rede pública, nos termo do item 5, além de outros pontos, comunicando-se ao MP a demanda cadastrada e medidas adotadas para assegurar sua inclusão na rede pública de ensino; 8 Que, tomando-se em conta a resposta aos pedidos anteriores, sejam adotadas medidas administrativas ou judiciais no sentido de compelir os representados a realizarem o
8 8 recenseamento da demanda por EJA e a chamada pública de novos estudantes, nos termos da legislação; vedando-se o fechamento de novas turmas e escolas até que tais deveres sejam cumpridos e os dados sejam publicados; Aguardamos pronto atendimento e reiteramos votos de estima e respeito. São Paulo, 01 de julho de Salomão Barros Ximenes Ester Gammardella Rizzi OAB/SP n OAB/SP n Ação Educativa Ação Educativa Paulo Ricardo Barbosa de Lima Estagiário de Direito
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