PRODUTOS SÓLIDOS DE MADEIRA. Resumo



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PRODUTOS SÓLIDOS DE MADEIRA Angela Regina Pires Macedo Carlos Alberto Lourenço Roque Elizabete Tojal Leite* Resumo Este trabalho analisa o desempenho e as principais tendências das exportações brasileiras de produtos sólidos de madeira, com ênfase nos mercados geográficos e na competitividade. Os produtos em destaque neste estudo são madeira serrada, painéis de compensado e chapas de fibra comprimida. Apesar das elevadas taxas de crescimento alcançadas nos últimos anos, nota-se que as exportações brasileiras de produtos sólidos de madeira, hoje da ordem de US$ 1,1 bilhão, têm estado mal posicionadas devido ao seu padrão de especialização em commodities manufaturadas e à sua destinação a mercados geográficos de menor crescimento. Sugerem-se, assim, algumas diretrizes para modificar este quadro, destacando-se a realização de investimentos destinados à fabricação de produtos com maior conteúdo tecnológico associados à implantação de florestas de rápido crescimento. *Respectivamente, gerente, economista e contadora da Gerência Setorial de Produtos Florestais do BNDES. Os autores agradecem a colaboração da estagiária de economia Adriana dos Santos Lima.

Introdução O comércio mundial de madeiras provenientes dos vários tipos de florestas movimenta, anualmente, cerca de US$ 50 bilhões, sendo que, deste total, aproximadamente US$ 12 bilhões são originados das florestas tropicais. A participação do Brasil nesse mercado, entretanto, tem sido bastante modesta, visto que comercializa apenas 2% da madeira proveniente de todas as florestas e 4,5% quando se trata da comercialização de madeiras originadas de florestas tropicais. Inexiste, portanto, uma participação expressiva do Brasil no mercado mundial de madeiras, vis-à-vis o tamanho do seu território. Dados publicados pela FAO mostram que, na próxima década, haverá um descompasso crescente entre oferta e demanda de madeira no mercado internacional, em função, basicamente, da queda de produção da Malásia e Indonésia e pela virtual estagnação esperada para os principais produtores do hemisfério norte, ante as pressões ambientais e sociais. É consenso, entre os especialistas do setor, que tal descompasso propiciará a valorização do preço da madeira nos próximos anos e induzirá o mercado, especialmente nos países do hemisfério norte, no sentido de aproveitar de forma mais intensa os resíduos de madeira, provocando um crescimento acelerado da demanda de produtos engenheirados de madeira (OSB, MDF etc.). O Brasil, a par da sua tradição de exportador de produtos sólidos de madeira, tem potencial para aumentar sua inserção nos mercados de grande competição e volumes em 1996, as exportações foram de cerca de US$ 1,1 bilhão, além de US$ 266 milhões em móveis de madeira (Tabela 1). Certamente novas barreiras comerciais serão exercitadas para proteger os mercados de maior porte, normalmente dominados por grandes corporações. Tabela 1 Exportações Brasileiras de Produtos Sólidos de Madeira 1990/96 (Em US$ Mil) ANO PAINEL DE CHAPA DE MADEIRA DEMAIS TOTAL COMPENSADO FIBRA SERRADA PRODUTOS 1990 100.010 79.928 141.478 104.717 426.133 1991 109.946 76.244 139.144 116.800 442.134 1992 150.412 87.817 161.512 167.614 567.355 1993 274.122 97.870 227.876 240.775 840.643 1994 293.149 98.953 326.324 347.185 1.065.611 1995 259.993 97.801 379.816 397.577 1.135.187 1996 247.670 83.639 344.746 433.632 1.109.687 Fonte: Secex. A mudança, a médio prazo, do eixo de produção de madeira do hemisfério norte para o sul representa uma oportunidade única para as indústrias de base florestal localizadas nas regiões tropicais. Florestas de rápido crescimento e boa qualidade reposicionarão as empresas que atuam de forma globalizada nesse mercado. Para efeito de facilitar a análise de dados e informações do mercado exportador de produtos sólidos de madeira, no presente texto foram considerados somente os segmentos que têm apresentado maior participação na pauta de exportações do Brasil. Nesse sentido, é apresentado o desempenho recente e as principais tendências do comércio internacional de madeira serrada, painéis de compensado e chapas de fibra comprimida (CFC). Madeira Serrada Mercado Mundial

3 As transações internacionais relativas à madeira serrada, que é o maior segmento do mercado de produtos sólidos de madeira, envolvem cerca de US$ 24 bilhões, correspondentes a, aproximadamente, 107 milhões de m 3, sendo que a participação do comércio mundial sobre a produção de madeira serrada evoluiu de 17,5% em 1980 para 26% em 1994 (Tabela 2). Tabela 2 Comércio Internacional de Madeira Serrada 1980/94 (Em Mil m 3 ) MADEIRA SERRADA 1980 1985 1990 1994 VARIAÇÃO 1994/80 (% a.a.) De Coníferas 65.938 73.807 73.810 91.162 2,34 De Não-Coníferas 12.576 12.232 15.224 16.386 1,91 Total 78.514 86.039 89.034 107.548 2,27 A comercialização de madeira serrada de coníferas é mais intensa, representando cerca de 85% do volume transacionado no mundo e movimentando cerca de US$ 18 bilhões em 1994. Entretanto, conforme mostra a Tabela 3, os produtos serrados de não-coníferas vêm apresentando maior valorização.

4 Tabela 3 Valorização das Exportações Mundiais de Madeira Serrada 1980/94 (Em US$/m 3 ) MADEIRA SERRADA 1980 1985 1990 1994 VARIAÇÃO 1994/80 (% a.a.) De Coníferas 138 105 172 193 2,42 De Não-Coníferas 245 193 303 389 3,36 Dos seis principais países exportadores mostrados na Tabela 4, somente a Malásia destaca-se como exportadora de madeira serrada de não-coníferas. O Canadá lidera o comércio mundial com 42,5%, sendo mais expressivo ainda (50%) se consideradas apenas as madeiras de coníferas. Destaque-se, ainda, as altas taxas de crescimento obtidas pela Suécia no período de 1980/94, apesar dos elevados volumes de madeira serrada já transacionados por aquele país. O Brasil, em termos de comércio internacional, posicionou-se, em 1994, como o terceiro principal país exportador de não-coníferas (1.045 mil m 3 ), vindo logo depois da Malásia (4.560 mil m 3 ) e dos Estados Unidos (2.368 mil m 3 ). É importante notar que a participação brasileira no comércio exterior de madeira serrada tem sido modesta, devendo ser observado que as exportações anuais no período 1980/94 nunca ultrapassaram 10% da produção nacional. Tabela 4 Maiores Exportadores Mundiais de Madeira Serrada 1980/94 (Em Mil m 3 ) PAÍSES 1980 1985 1990 1994 VARIAÇÃO 1994/80 (% a.a.) Canadá 29.271 39.004 37.937 45.685 3,23 Suécia 5.905 7.898 6.252 10.659 4,31 Estados Unidos 5.532 4.534 9.081 7.271 1,97 Finlândia 6.930 4.898 4.176 7.209 0,28 Rússia n.d. n.d. n.d. 6.200 n.d. Malásia 3.178 2.830 5.332 4.642 2,74 Brasil 809 493 509 1.424 4,12 Outros 26.889 26.382 25.747 24.458 Total 78.514 86.039 89.034 107.548 2,27 n.d. = não-disponível. A Tabela 5 revela que a importação de madeira serrada está altamente concentrada nos Estados Unidos e no Japão, cujos mercados demandam basicamente coníferas. Por outro lado, 41% da importação de madeira serrada de não-coníferas são absorvidos por cinco países: Tailândia, Itália, Japão, Estados Unidos e China. Tabela 5 Maiores Importadores Mundiais de Madeira Serrada (Em Mil m 3 ) PAÍSES 1980 1985 1990 1994 VARIAÇÃO 1994/80 (% a.a.) Estados Unidos 22.844 34.610 29.272 39.021 3,90 Japão 5.447 5.244 9.038 10.717 4,95 Reino Unido 7.958 7.002 10.661 8.687 0,63 Itália 5.735 4.909 5.999 6.566 0,97

5 Alemanha 6.732 5.729 6.059 5.769 (1,10) Outros 27.861 28.155 30.505 34.047 1,44 Total 76.577 85.649 91.534 104.807 2,27 Perfil das Exportações Brasileiras O valor das exportações brasileiras de madeira serrada, no período 1990/96, evoluiu 16% a.a., passando de US$ 141.478 mil em 1990 para US$ 344.746 mil em 1996. No entanto, convém assinalar que, nos próximos anos, as exportações de madeira serrada não deverão apresentar o mesmo desempenho, tendo em vista, principalmente, a crescente pressão ambiental presente em diversos países do mundo. Efetivamente, 54% das exportações brasileiras de madeira serrada, em 1996, tiveram como origem a região amazônica, utilizando, em larga escala, madeiras nativas (o Estado do Pará, sozinho, respondeu por 51% do valor da madeira serrada exportada pelo Brasil em 1996). Os custos ambientais incorridos têm sido elevados, sendo necessária a incorporação de novas tecnologias que permitam a exploração da floresta amazônica de forma mais sustentada. Com relação aos principais países importadores da madeira serrada brasileira, a Tabela 6 indica a elevada concentração das vendas nos Estados Unidos, na França e no Reino Unido, que têm adquirido quase metade dos produtos nacionais. Observe-se, ainda, que França e Reino Unido provavelmente reexportam parte da madeira serrada adquirida do Brasil para outros países europeus.

6 Países Tabela 6 Destino das Exportações Brasileiras de Madeira Serrada Não-Conífera 1980/94 (Em %) PAÍSES 1980 1985 1990 1994 França 1 2 9 30 Estados Unidos 33 43 19 14 Filipinas - - - 14 Espanha 6 6 13 7 Reino Unido 10 21 16 4 Outros 50 28 43 31 Total 100 100 100 100 O desempenho do Brasil, quando se considera o market-share, revela uma posição vulnerável nos mercados mais relevantes em que atua, visto que, excetuando-se as vendas efetuadas para a França em 1994, a participação dos produtos brasileiros não tem sido expressiva nos principais mercados importadores. Deve ser ressaltado que os produtos brasileiros praticamente não lideram em nenhum desses mercados, o que constitui também um indicador da fragilidade das vendas externas de madeira serrada (Tabela 7). Tabela 7 Market-Share nos Principais Importadores Brasileiros de Madeira Serrada Não- Conífera 1980/94 (Em %) PAÍSES 1980 1985 1990 1994 França 1 (9) 2 (6) 7 (4) 46 (1) Estados Unidos 31 (1) 23 (2) 8 (2) 15 (2) Filipinas - - - 36 (2) Espanha 7 (4) 5 (4) 7 (5) 13 (4) Reino Unido 10 (3) 12 (3) 9 (3) 5 (4) Obs.: Os números entre parênteses referem-se à colocação do Brasil entre os principais países fornecedores do mercado importador. A Tabela 8 permite verificar o posicionamento dos produtos brasileiros em relação aos mercados mais dinâmicos, comparativamente ao país líder (Malásia) no mercado de madeiras não-coníferas. Considerando-se a participação do Brasil e da Malásia em cada um dos principais países importadores, constata-se que aquele país é um fornecedor com elevado market-share nos mercados com maiores taxas de crescimento (Tailândia, Japão, Coréia), enquanto o Brasil desfruta de uma posição secundária no mercado norte-americano (o Canadá é o principal fornecedor de não-coníferas para os Estados Unidos), cujo desempenho das importações não tem sido dos mais expressivos. Cumpre notar, com relação à distância geográfica do Brasil em relação aos mercados mais dinâmicos, que a Malásia tem sido sistematicamente um fornecedor mais importante do que o Brasil no mercado europeu, o que caracteriza que o custo de transporte não é uma barreira à entrada em mercados localizados a grande distância. Tabela 8 Principais Mercados Mundiais Importadores de Madeira Serrada Não Conífera Importação Total a 1985 1990 1994 Importação Importação Total a Brasil b Malásia b Total a Brasil b Malásia Brasil b Malásia b Tailândia 245-51 1.491-80 1.866-77 Itália 1.388 1 2 1.573 1 5 1.735 2 2 Japão 1.072-22 1.669-32 1.369 1 42 Estados Unidos 800 23 5 1.087 8 1 1.003 15 12 Reino Unido 743 12 15 835 9 11 885 5 11 Coréia - - - 624-72 865-77

7 Canadá 632 3-563 - - 839 1 - Alemanha 719 1 14 805-8 791 1 14 China 528-12 788-30 694 1 35 Bélgica 453-28 937-21 559 7 16 a Quantidade importada em mil m 3. b Participação do país no mercado importador. A Tabela 9 revela as maiores empresas exportadoras de madeira serrada no Brasil, no período 1994/96. Convém assinalar que a exportação é bastante pulverizada, posto que é realizada basicamente por pequenas e médias empresas (excetuando-se as filiais de empresas estrangeiras, que dispõem de rede de comercialização com maiores recursos). Esse quadro indica, de certa forma, a situação de vulnerabilidade das exportações desse segmento, uma vez que o porte médio das empresas não permite que sejam realizados investimentos vultosos em desenvolvimento tecnológico, comercialização e marketing internacional, que são indispensáveis para aumentar a competitividade das vendas externas de madeira serrada. Tabela 9 Principais Empresas Exportadoras Brasileiras de Madeira Serrada 1994/96 (Em US$ Mil) Empresa 1994 % 1995 % 1996 % Nordisk Timber Ltda. 10.986 3 15.469 4 16.188 5 Eldorado Exp. e Serv. Ltda. 15.370 5 18.867 5 11.579 3 Maginco Mad. Araguaia S.A. 7.877 2 14.238 4 10.180 3 Exportadora Peracchi Ltda. 22.727 7 21.119 5 9.124 3 Serraria Marajoara 15.094 5 10.976 3 8.830 3 Outros 254.270 78 299.147 79 288.845 83 Total 326.324 100 379.816 100 344.746 100 Fonte: Secex. Perspectivas É consensual que, nas últimas décadas, a matriz produtiva dos produtos sólidos de madeira apresentou uma substancial transformação, visto que a madeira proveniente das florestas nativas está sendo gradativamente substituída por produtos reconstituídos e/ou oriundos de florestas plantadas de rápido crescimento. As previsões apontam para um crescimento de 2% a.a. para o consumo mundial de madeira serrada nos próximos anos, sendo que as madeiras de coníferas ainda terão uma participação majoritária neste mercado. Em que pesem os organismos internacionais considerarem que o mercado de não-coníferas ainda será abastecido preponderantemente por florestas nativas, o quadro atual oferece uma oportunidade única para as empresas e regiões que venham a dominar o cultivo de florestas nativas homogêneas e/ou espécies de rápido crescimento. No caso das florestas nativas plantadas, destaque-se o trabalho de pesquisa que vem sendo desenvolvido pela Cia. Vale do Rio Doce no Espírito Santo, Maranhão e Pará, com o intuito de obter espécies nativas das florestas atlântica e amazônica que sejam viáveis economicamente. As maiores oportunidades, entretanto, referem-se à utilização da madeira de eucalipto em usos não tradicionais, tais como para confecção de pallets, embalagens, móveis e na construção civil (pisos e assoalhos, decks, esquadrias, madeiras estrutural e decorativa). Com efeito, a tecnologia de utilização do eucalipto como matéria-prima para a obtenção de pasta de celulose já é amplamente dominada no Brasil, sendo reconhecida mundialmente a capacidade que o país desenvolveu neste segmento. Assim, a produção de madeira serrada

proveniente de eucalipto, por parte de empresas fabricantes de celulose, representa uma oportunidade natural no sentido de diversificar negócios, a partir de uma base florestal já existente. É indicativo, nesse aspecto, o projeto em negociação com o BNDES para implantação pela Aracruz Celulose de uma serraria de grande porte, tendo como objetivo, inclusive, a exportação de madeira serrada de eucalipto. 8

9 Painel de Compensado Mercado Mundial As transações internacionais referentes ao painel de compensado envolvem cerca de US$ 8 bilhões, correspondentes a, aproximadamente, 18 milhões de m3, o que eqüivale a 36% da produção mundial. Note-se que, apesar do mercado mundial de painéis de compensado apresentar índices de crescimento bastante inferiores aos dos demais tipos de painéis (aglomerados, fibras comprimidas etc.), o valor relativo à comercialização de compensados ainda representa o dobro daquele observado para os demais tipos de painéis. A Indonésia é o principal país exportador (US$ 3,7 bilhões), respondendo por cerca de 46% do volume do comércio internacional, secundada pela Malásia (17%), os Estados Unidos (8%) e o Brasil (4%). Conseqüentemente, os preços praticados no comércio internacional são fortemente influenciados pela Indonésia. Gráfico 1 9 COMPENSADO - EXPORTAÇÕES MUNDIAIS - 1988/94 6 3 0 Indonésia Malásia Europa EUA Brasil Outros Fonte: ABIMCI e FAO - Yearbook - Forest Products - 1993 e 1994 milhões de m 3 1988 1994 Ressalte-se, contudo, que os níveis de exportações atingidos pela Indonésia não deverão manter-se, uma vez que é esperada menor disponibilidade de matéria-prima naquele país para os próximos anos. Como principais mercados importadores de painéis de compensado destacam-se o Japão (23% das importações globais) e a China (17%), seguidos dos Estados Unidos e da Coréia com 9% e 6% das importações, respectivamente. Perfil das Exportações Brasileiras A Tabela 10 descreve os principais mercados importadores de painéis de compensado do Brasil, ao longo dos últimos anos. Conforme indicado, as exportações brasileiras são destinadas fundamentalmente aos Estados Unidos e Reino Unido, que adquirem cerca de metade do volume exportado. Tabela 10 Destino das Exportações Brasileiras de Painel de Compensado 1985/94 (Em %) Países 1985 1990 1994 Estados Unidos 10 19 33 Reino Unido 28 22 23 Bélgica 3 11 8 Alemanha 3 5 5 Arábia Saudita 6 4 1 Outros 50 39 30

10 Total 100 100 100 A análise do market-share mostra que, historicamente, as vendas externas brasileiras eram marginais em relação aos mercados norte-americano e britânico até 1994, quando então aumentaram sua participação. De acordo com a Tabela 11, o Brasil passou, em pouco tempo, a representar o segundo fornecedor desses mercados, melhorando seu posicionamento. Tabela 11 Market-Share nos Principais Importadores Brasileiros de Painel de Compensado 1985/94 (Em %) Países 1985 1990 1994 Estados Unidos 1 (4) 4 (3) 17 (2) Reino Unido 6 (6) 5 (6) 18 (2) Obs.: Os números entre parênteses referem-se à colocação do Brasil entre os principais países fornecedores do mercado importador. Apesar do melhor posicionamento das exportações obtidas em 1994, os dados da Tabela 12 demonstram claramente que a posição de exportador marginal para o Brasil ainda permanece, uma vez que o país está inteiramente alijado dos mercados mais dinâmicos. Da mesma forma do que ocorre no mercado de madeira serrada de não-coníferas, constata-se que o principal fornecedor mundial (Indonésia) domina amplamente os mercados com maiores taxas de crescimento (Japão, China, Coréia e Hong Kong), enquanto a maior parte das exportações brasileiras é dirigida aos países cujos mercados estão com as importações praticamente estagnadas. Tabela 12 Principais Mercados Mundiais Importadores de Painel de Compensado 1985/94 1985 1990 1994 Países Importação Importação Importação Total a Brasil b Indonésia b Total a Brasil b Indonésia b Total a Brasil b Indonésia b Japão 337-81 2.941-95 3.628-78 China 438-28 1.856-81 2.871-53 Estados Unidos 1.522 1 62 1.493 4 66 1.449 17 42 Coréia - - - 735-90 1.399-82 Hong Kong 220-86 781-62 1.106-54 Reino Unido 1.042 6 16 1.454 5 15 948 18 11 Alemanha 445 2-663 2 16 895 4 8 a Quantidade importada em mil m 3. b Participação do Brasil e da Indonésia no mercado importador. As exportações de painel de compensado têm representado cerca de 45% do volume da produção nacional, sendo que o valor anual médio exportado no período 1993/96 foi de aproximadamente US$ 270 milhões. Destaque-se, ainda, que o compensado tem sido o segundo item na pauta de exportação de madeira (a madeira serrada é o principal produto comercializado externamente), cujo montante total foi de US$ 1,1 bilhão em 1996. A Tabela 13 revela que as cinco principais empresas exportadoras representam somente cerca de 23% das vendas externas de painéis de compensado. De modo semelhante à estrutura da oferta de madeira serrada, o segmento de painéis de compensado não apresenta empresas de grande porte. A exceção no presente caso refere-se à Eidai do Brasil, que pertence ao grupo Mitsubishi. Tabela 13

11 Principais Empresas Brasileiras Exportadoras de Painel de Compensado 1994/96 (Em US$ Mil) Empresas Unidade da Federação 1994 1995 1996 Eidai do Brasil Pará 19.064 7 24.555 9 28.330 11 Berneck Pará/Mato Grosso/Paraná 12.427 4 13.668 5 10.358 4 Madenorte Mato Grosso/Pará 5.624 2 9.348 4 9.459 4 Grupo Maginco Pará 9.434 3 9.670 4 8.213 4 Subtotal 46.549 16 57.241 22 56.360 23 Outras 246.600 84 202.752 78 191.310 77 Total 293.149 100 259.993 100 247.670 100 Fonte: Secex. Perspectivas O segmento produtor de painel de compensado no Brasil é constituído, predominantemente, por pequenas e médias empresas, que possuem cerca de 400 fábricas, concentradas na sua maioria na região Sul e em especial no Estado do Paraná. Sob o ponto de vista regional, o parque produtor de compensados divide-se em duas vertentes: de um lado a região Norte projeta-se como o mais expressivo centro industrial de painel de compensado de madeiras tropicais, geralmente duras, enquanto a região Sul mantém-se especializada no processamento de madeiras moles, provenientes de florestas plantadas, destacando-se o pinus elliottii. Os investimentos necessários à implantação, no Brasil, de uma unidade industrial com capacidade de produção de 12 mil m3/ano são estimados em, aproximadamente, US$ 2 milhões. Cumpre observar que uma fábrica com tal capacidade é considerada como de pequeno porte, vis-à-vis o porte médio das unidades industriais de compensado instaladas nos principais países produtores. O segmento produtor de painel de compensado no país tem como uma das suas principais características a virtual inexistência de barreiras à entrada sob o ponto de vista do volume de investimentos requerido. Como resultado, a oferta é bastante heterogênea, competindo unidades com diferentes níveis tecnológicos. O mercado mundial de compensado vem gradativamente perdendo espaço para outros tipos de painéis, em virtude de aqueles apresentarem melhor relação preço/desempenho. O compensado é considerado um produto maduro, com restrições de natureza ambiental, tendo em vista a crescente conscientização de que não é mais viável, dentro da sociedade moderna, conviver com processos que utilizam reservas florestais com níveis elevados de perdas. Esse cenário vem implicando o desenvolvimento de novas tecnologias direcionadas para a utilização mais intensa de resíduos como matéria-prima na produção de painéis reconstituídos de madeira. Por outro lado, a baixa disponibilidade de toras de qualidade para laminação e seus custos elevados tendem a reduzir a oferta de madeira compensada em todo o mundo. Especialistas do setor prevêem como principais tendências, em nível mundial, a estabilidade ou mesmo redução do tamanho do mercado e a redução progressiva das margens de lucro. Em uma competição com essas características, é fundamental que as empresas procurem direcionar-se para um determinado mercado geográfico e/ou segmento de linha de produtos, de forma a recuperar as margens de lucro potencialmente declinantes. Apesar do atual posicionamento ruim das exportações brasileiras, conforme apresentado nos quadros anteriores, o Brasil poderá vir a ganhar parcelas do mercado mundial, nos próximos anos, em face da provável queda nas exportações de compensados provenientes da Indonésia. No entanto, o reposicionamento do país no mercado internacional, atuando em nichos de maior crescimento, exigirá a atualização tecnológica das indústrias hoje com baixos índices de produtividade, com notórias exceções.

12 A concorrência crescente dos painéis de madeira reconstituída assim como as progressivas exigências de natureza ambiental deverão ser os principais desafios que a indústria brasileira de painel de compensado enfrentará nos próximos anos. É fundamental, portanto, a realização de investimentos destinados à maior racionalização e modernização das atividades ao longo de toda a cadeia produtiva da indústria de compensado. Tais investimentos deveriam ser notadamente direcionados para produção de insumos (reflorestamento) e para capacitação mercadológica das empresas. Chapa de Fibra Comprimida (CFC) Mercado Mundial No período 1980/94, o fluxo do comércio internacional de chapas de fibra comprimida (CFC) cresceu significativamente, o que pode ser avaliado mediante a participação das exportações em relação à produção mundial, que passou de 15% para 32%. Nesse mesmo período, as transações internacionais referentes à CFC evoluíram de US$ 389 milhões em 1980 para US$ 1,5 bilhão em 1994. Ressalte-se, no entanto, que tal crescimento verificou-se particularmente no nicho de mercado de medium density fiberboard (MDF), um dos produtos genericamente classificados como chapa de fibra comprimida (Tabela 14). Com efeito, a leitura dos quadros apresentados deve levar em consideração o fato de que as estatísticas da FAO, principal fonte de dados aqui utilizada, englobam diversos tipos de chapa, cujos mercados apresentam comportamentos totalmente distintos. Tabela 14 Comércio Internacional de Chapa de Fibra Comprimida 1980/94 (Em Mil m 3 ) Especificação 1980 1985 1990 1994 Exportação 1.475 1.402 2.494 4.564 Produção 9.557 10.885 12.810 14.244 % Exportado 15 13 19 32 Os cinco países discriminados na Tabela 15 foram responsáveis, em 1994, por cerca de 40% das quantidades mundiais exportadas. Entretanto, observe-se que os dados discriminados indicam o desempenho de produtos diferentes, conforme já comentado anteriormente. Assim, enquanto os países exportadores de MDF (Estados Unidos, Nova Zelândia e Itália) apresentam taxas de crescimento superiores a 20% a.a., as vendas externas do Brasil evoluem cerca de 3,5% a.a. (basicamente hardboard, dado que o país ainda não produz MDF). Efetivamente, é consenso entre os estudiosos do setor que o consumo mundial de hardboard tende a estagnar ou mesmo a decrescer, em face das pressões ambientais e da forte concorrência do MDF, que vem invadindo diversos nichos de mercado daquele produto. Assim, é ilustrativo que, enquanto a produção doméstica norte-americana de MDF aumentou 83% entre 1984 e 1993, durante o mesmo período a produção de hardboard decresceu 23%. Tabela 15 Maiores Exportadores Mundiais de Chapa de Fibra Comprimida 1980/94 (Em Mil m 3 ) Variação Países 1980 1985 1990 1994 1994/80 (% a.a. ) Estados Unidos 28 57 163 573 24,1

13 Nova Zelândia 18 18 250 356 23,8 Itália 12 56 176 345 27,1 Brasil 183 171 252 296 3,5 Alemanha n.d n.d n.d 291 Outros 2.703 Total 1.475 1.402 2.494 4.564 8,4 Perfil das Exportações Brasileiras As exportações brasileiras de hardboard estão concentradas em duas empresas, que são responsáveis pela quase totalidade das vendas externas. Conforme se observa na Tabela 16, as exportações estão virtualmente estagnadas nos últimos anos, o que evidencia as dificuldades crescentes dessas empresas no sentido de obterem melhores preços para os seus produtos. Tabela 16 Principais Empresas Brasileiras Exportadoras de Chapa de Fibra Comprimida 1994/96 (Em US$ Mil) Empresa 1994 % 1995 % 1996 % Duratex 55.771 56 61.670 63 51.822 62 Eucatex 43.052 44 35.610 36 31.404 38 Outros 130-521 1 413 - Total 98.953 100 97.801 100 83.639 100 Fonte: Secex. Cabe destacar que a Duratex encontra-se construindo em Agudos, São Paulo, uma unidade produtora com capacidade de 150 mil m3/ano de MDF, com partida prevista para o último trimestre de 1997. Outro projeto de MDF a ser implantado é o da Tafisa, joint venture entre o grupo Brascan e o grupo Sonae (português), localizado em Piên, Paraná, com capacidade instalada de 145 mil m3/ano e com início da produção previsto para o primeiro semestre de 1998. Essas duas empresas, em conjunto, projetam a comercialização externa de 60 mil m3/ano. Perspectivas A Tabela 17 revela a fragilidade das exportações brasileiras no que diz respeito ao hardboard. O maior mercado atendido pelo Brasil (Estados Unidos) vem reduzindo sistematicamente suas importações, o que mostra que as empresas brasileiras terão crescentes dificuldades para a colocação de seus produtos no exterior. Ao que tudo indica, as atuais exportações do Brasil para os Estados Unidos devem estar sendo direcionadas para aqueles nichos de mercado abandonados por empresas norte-americanas, em face das pressões ambientais relativas à fabricação do hardboard e/ou em decorrência de incorrerem em custos não competitivos com o MDF. Merece ser destacado o posicionamento dos Estados Unidos, do Chile e da Itália nos mercados com maior dinamismo, vale dizer, que vêm importando o MDF em volumes expressivos (Japão, Coréia e China). Tabela 17 Principais Mercados Mundiais Importadores de Chapa de Fibra Comprimida 1985/94 Importação Total a 1985 1990 1994 Estados Importação Estados Importação Estados Brasil b Unidos b Total a Brasil b Unidos b Total a Brasil b Unidos b Países Chile b Itália b Japão 21-19 90-39 416-10 11 12 Alemanha 372 3-354 8-482 4-1 9 Reino Unido 316 2 12 329 3 3 377 1 17 2 1

14 Holanda 140 11 10 243 6 1 316 5 - - 1 Estados Unidos 510 18... 464 15... 291 44... 3 - Canadá 126 10 88 136-100 291 3 95 - - Coréia - - - - - - 207-39 14 2 Itália 81 4-212 12-189 11 - -... China - - - - - - 371-20 8 9 a Quantidade importada em mil m 3. b Participação do país no mercado importador.

15 Considerações Finais De acordo com o exame dos dados apresentados anteriormente, a participação das exportações brasileiras de produtos sólidos de madeira no mercado mundial é ainda relativamente pequena, existindo amplo potencial a ser explorado em segmentos e mercados com taxas de crescimento elevadas. Nesse sentido, a análise do desempenho das exportações brasileiras de produtos sólidos de madeira serve como referencial para que se façam algumas generalizações a respeito da natureza das vantagens competitivas do país, as principais dificuldades existentes e as oportunidades a serem aproveitadas nos mercados em expansão. A constatação mais imediata é de que as exportações de produtos sólidos de madeira apresentam grande vulnerabilidade, especialmente o segmento mais representativo (madeira serrada), visto estarem apoiadas em larga escala na disponibilidade de recursos florestais nativos e, assim, sujeitas à política de comércio exterior de países com renda per capita semelhante ou inferior à do Brasil, mas com boa dotação de recursos florestais. Com efeito, as exportações brasileiras têm estados mal posicionadas em função de seu padrão de especialização em commodities manufaturadas, além de focar mercados geográficos de menor crescimento. Deve ser ressaltado, ainda, que a reestruturação da oferta nos países desenvolvidos também tende a elevar a competição desses produtos semi-elaborados, intensivos em recursos florestais nativos, com produtos substitutos baseados em tecnologias que utilizam resíduos de madeira e/ou produtos de madeira reciclados como matérias-primas (MDF, OSB etc.). Esse quadro tem importantes implicações estratégicas, já que, caso não ocorram mudanças na escala e na composição dos investimentos a serem realizados no setor produtor de sólidos de madeira, as exportações brasileiras nos próximos anos não deverão repetir as taxas de crescimento observadas ultimamente. As diretrizes básicas para reduzir a vulnerabilidade e aumentar de forma consistente as exportações devem se concentrar em duas vertentes principais, mas que são em certa medida complementares. A primeira, onde a intervenção teria caráter mais genérico, visaria influenciar o perfil dos investimentos direcionados para o setor moveleiro que utiliza madeira como matéria-prima, de maneira que este segmento tenha condições de aumentar a oferta (interna e externa) de produtos com qualidade e preços competitivos, ampliando a base do mercado interno e agregando valor aos produtos sólidos de madeira. Como exemplo, é ilustrativo o processo de modernização em curso no segmento moveleiro que utiliza madeira como insumo: as exportações evoluíram de cerca de US$ 24 milhões em 1990 para US$ 266 milhões em 1996. Nesse sentido, é fundamental que se reduzam os custos das matérias-primas básicas da indústria moveleira, mediante expansão, modernização e melhoria da competitividade da indústria de madeira aglomerada. É necessário, ainda, que seja incentivada a instalação de mais fábricas de painéis de MDF no país. A segunda vertente envolveria medidas destinadas, basicamente, a intensificar o (fraco) relacionamento existente entre as cadeias produtivas de papel/celulose e madeira/móveis. De acordo com o que já ocorre em outros países, é preciso que a capacitação gerencial, tecnológica e financeira do segmento de papel/celulose seja incorporada ao segmento produtor de sólidos de madeira. No caso brasileiro, isso se viabilizaria principalmente pela entrada das empresas produtoras de celulose no mercado de madeira serrada, mediante investimentos em serrarias intensivas em capital e em florestas de rápido crescimento, com o desenvolvimento de plantios especificamente direcionados para a indústria de móveis e para a construção civil. A necessária expansão da área plantada deveria se dar através de novas

16 formas de fomento florestal, evitando-se, assim, o aumento da já elevada imobilização de capital dessas empresas em florestas. A madeira serrada de eucalipto, que ainda é pouco utilizada no Brasil pelo setor moveleiro e de componentes para a construção civil, teria condições bastante competitivas no mercado externo, além de se constituir em forte elemento alavancador das exportações de móveis que utilizem madeira maciça. Do mesmo modo, deveriam ser desenvolvidas ações no sentido de agregar valor aos produtos sólidos que utilizem madeira serrada de espécies nativas e estimular a modernização do segmento produtor de madeira compensada. Complementarmente, poderiam ser criados incentivos específicos à pesquisa de reflorestamento com espécies nativas (florestas enriquecidas), o que, além de impactar fortemente a produtividade das empresas que utilizam tais matérias-primas, seria extremamente vantajoso sob o ponto de vista ambiental, minimizando eventuais retaliações internacionais às exportações brasileiras de produtos sólidos de madeira. Cumpre enfatizar, portanto, que substanciais incrementos nos atuais níveis do valor das exportações brasileiras, bem como a redução de sua vulnerabilidade, somente poderão ser obtidos através de políticas que induzam a produção em larga escala de espécies nativas e/ou de rápido crescimento, um maior grau de elaboração industrial da madeira processada e a introdução de novos produtos. O aumento da participação das exportações no mercado mundial somente ocorrerá na medida em que o país conseguir obter produtos sólidos de madeira com maior conteúdo tecnológico, mais exigentes em recursos humanos qualificados e com maior diferenciação quanto às espécies florestais utilizadas. Vale dizer que expandir significativamente as exportações brasileiras de produtos sólidos de madeira a partir da base produtiva existente é inviável sob o ponto de vista ambiental, uma vez que aumentaria de modo substancial a exploração das florestas nativas. Com a tecnologia hoje disponível, a exploração da floresta nativa em larga escala na região amazônica não é viável econômica e ecologicamente, havendo a necessidade de desenvolvimento de conhecimentos básico e aplicado sobre a silvicultura tropical. Portanto, o apelo ecológico de florestas plantadas de rápido crescimento e/ou de florestas enriquecidas é um forte elemento de marketing dos produtos. Cumpre ressaltar, finalmente, que a conjugação de a) baixo retorno da atividade florestal, b) ciclo de comercialização da madeira serrada superior a 10 anos (no caso de florestas plantadas) e c) alternativas mais atraentes de investimentos, tem desestimulado que empresas efetivamente competitivas realizem inversões tanto na expansão da área plantada quanto na industrialização da madeira. Assim, a atratividade de novos projetos aumentará na medida em que o custo de capital no Brasil diminua, aproximando-se do praticado em outros países.

17 Glossário Aglomerado placa prensada constituída de partículas de madeira de pequenas dimensões, que passam por um processo de secagem e encolagem, submetidas posteriormente a um ciclo de pressão e temperatura. O painel de aglomerado pode ser pintado ou revestido com vários tipos de materiais, sendo utilizado na construção civil e na indústria moveleira. Compensado produto obtido pela colagem de lâminas de madeira sobrepostas, com as fibras cruzadas perpendicularmente, o que propicia grande resistência física e mecânica. O compensado tem múltiplas aplicações, destacando-se seu emprego na construção civil, na indústria moveleira e como embalagem. Coníferas todas as madeiras derivadas das árvores classificadas botanicamente como gymnopermae, de cor clara, macia (softwood), principalmente encontradas em regiões temperadas e que apresentam fibra longa e de densidade uniforme: pinus, araucária, spruce, entre outras. Não-Coníferas ou folhosas todas as madeiras derivadas das árvores classificadas botanicamente como angiospermae, de consistência dura (hardwood), originárias de regiões temperadas e tropical; a fibra é curta e a cor e densidade diversas: mogno, freijó, eucalipto, bétula (birch), faia (beech) etc. Hardboard ou chapa de fibra dura painel popularmente conhecido como chapa de eucatex, reconstituído a partir de madeira desfibrada, aglutinada com resina, uréia e formol, prensada termodinamicamente e com densidade maior que 0,80 g/cm3. O hardboard é um produto sucedâneo do compensado, usado na construção civil para o revestimento de portas e paredes, divisórias e forros; na indústria automobilística, no revestimento de portas laterais, estofamentos e consoles, além de ser empregado na indústria moveleira para fundos de gavetas e armários. Madeira serrada denominação genérica de vários produtos, destacando-se dormentes, madeira aplainada, beneficiada, semi-elaborada, perfis, vigas etc., com espessura normalmente superior a 5 mm. Medium density fibreboard (MDF) painel produzido a partir de fibras de madeira, aglutinadas com resinas sintéticas através de temperatura e pressão, destinado principalmente à indústria moveleira. O MDF permite acabamentos do tipo envernizamento, pinturas em geral ou revestimentos com papéis decorativos, lâminas de madeira ou PVC, com densidade em torno de 0,70 g/cm3, intermediária entre a do painel de aglomerado e do hardboard, e com consistência similar à da madeira maciça.