A CIDADE PARA ALÉM DA ESPECULAÇÃO: ENTRE O CAPITAL E A HABITAÇÃO SOCIAL Nelba Azevedo Penna Universidade de Brasília (DF) nelba@unb.br INTRODUÇÃO No contexto do urbanismo neoliberal (transnacional), o planejamento e a cidade surgem como oportunidades para negócios e possuem como objetivo a acumulação do capital, pois são assumidos como um projeto empreendedor. A cidade, nesse contexto, assume a forma de fábrica para a produção de produtos urbanísticos sofisticados para o consumo, inclusive da habitação, pois sua expansão permite a liberação de terras, aumentando o mercado imobiliário. Este processo empreendedor possui como objetivo requalificar a cidade para buscar investimentos competitivos e lucrativos, fortalecendo seus centros empresariais para negócios que envolvam parcerias entre os setores públicos e privados para promover a valorização econômica, financeira e imobiliária (Penna, 2013). A problemática que se explicita, neste contexto, é a contradição e tensão entre as ações promovidas pela política pública e os interesses do setor privado (financeiro, imobiliário e fundiário), em relação às políticas sociais para habitação. A dinâmica sócioespacial que transforma a sociedade urbana, em seu movimento próprio e contínuo, produz um território político, hierárquico e fragmentado que, contraditoriamente, vem sendo transformado pela formação de novos eixos de expansão da cidade pelo capital, devido ao aumento da densidade e do crescimento populacional mais acelerado. Em Brasília, as antigas cidades satélites, inicialmente eram meros assentamentos (ditos dormitórios ) para as classes de menor poder aquisitivo. Atualmente, elas constituem as cidades das Regiões Administrativas e possuem características e dinâmicas muito diferenciadas e heterogêneas social e economicamente, embora estejam sendo objeto de uma mesma estratégia de valorização urbanística que não considera essas diferenciações. Que consequências essas estratégias trazem para a cidade e para a sociedade? 914
AS CIDADES JARDINS E OS JARDINS DA HABITAÇÃO O modelo Brasília de cidade legitima-se na Carta de Atenas e é dirigido pelo Governo do Distrito Federal (GDF), por meio de seus organismos, aliado ao capitalismo financeiro e imobiliário - local, nacional e internacional -. Deste modo, projeta-se uma cidade cada vez mais relacionada aos objetivos e interesses de transformação da cidade para o consumo de serviços, de lazer e de turismo de moderna tecnologia, edificando projetos e realizando eventos como vitrines para atrair investimentos e capitais (Copa das Confederações (2013), Copa Fifa 2014, Universíade de 2019 1, entre outros). Brasília surge como um espaço para negócios e turismo, cenário de investimentos produtivos, porém sem deixar de enfrentar conflitos e lutas sociais (Penna, 2012). Atualmente debate-se muito a respeito das transgressões que são feitas na cidade em relação ao projeto original do Plano Piloto de Brasília tombado como Patrimônio da Humanidade (Unesco, 2008), tanto para o comércio, o turismo e lazer quanto para habitação. Embora se trate de uma ameaça ao título, alterações continuam sendo feitas, pois a dinâmica que está na origem deste processo, na maioria das vezes, servem aos interesses da reprodução do capital. Observa-se que o projeto fechado e impeditivo de realizar alterações em seu desenho, ao mesmo tempo em que evitou conurbações entre ele e as cidades, proporcionou o alargamento muito maior do tecido urbano para fora do Plano Piloto e para além do Distrito Federal. Os problemas das transgressões, alterações de todas as ordens no desenho do Plano Piloto, são discutidos sem considerar a articulação indissociável e indissolúvel entre espaço e sociedade através da dinâmica da vida social, que segundo Santos (1996), somente a vida humana é capaz de todo o movimento, de tudo transformar amplamente. Portanto, as mudanças são sempre articuladas, embora contraditórias, com as necessidades sociais e econômicas que expressam as demandas do modo de reprodução das relações sociais de produção materializadas no espaço. Portanto, para compreender a realidade urbana O espaço não pode ser estudado como se os objetos materiais que formam a paisagem tivessem uma vida própria, podendo assim explicar-se por si mesmos (idem, ibidem). O modelo de planejamento político, hierárquico e fragmentado (Penna, 2000) foi implementado por força de um planejamento urbano territorial burocrático, cujo pensamento ideológico e político dificultam a ampliação do debate sobre as questões que 1 Secretaria de Comunicação da UnB (Vivian Palmeira). Disponível em: <http://unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=8126>. Acesso em: 19 out. 2013. 915
envolvam o território e a região, o social e o político, bem como as questões do âmbito econômico, num contexto de produção do espaço urbano com objetivos nitidamente neocapitalista. Assim, os projetos que envolvem os interesses privados, realizados por parceria entre os setores público e privado, são beneficiados pelas isenções e favores fiscais estabelecidos nos contratos das parceiras e são realizados em detrimento do interesse coletivo, legitimados em nome de um suposto desenvolvimento econômico e social, no qual os benefícios seriam distribuídos de forma justa e equitativa. Nas proximidades da cidade de São Sebastião está previsto, ainda, a instalação do Centro Financeiro Internacional do Distrito Federal contrato entre o Governo do Distrito Federal (GDF) e a empresa Jurong, de Cingapura (Jurong Consultants Pte., 2012) para a elaboração deste projeto que, segundo a empresa, pretende moldar o crescimento da capital brasileira pelas próximas cinco décadas. Neste contexto, o planejamento urbano deve ser alterado pelo poder público com condição para receber empreendimentos de porte internacional. Atualmente, essa região de baixo adensamento populacional passará a ter uma ocupação muito mais densificada para se transformar em um setor para atender uma demanda internacional. Setor de negócios voltados ao setor financeiro, reunindo instituições financeiras de várias nacionalidades destinadas a investimento de capital de risco 2. Este tipo de projeto têm origem em cidades de países ricos, entre os quais tem se destacado, atualmente, Dubai, no Oriente Médio, Cingapura e Xangai, as três no continente asiático. Em Brasília, este processo amplia o poder do capital e da especulação sobre o espaço da cidade, pois sua localização ocorre estrategicamente entre o Lago Sul (de alto valor imobiliário), a cidade de São Sebastião (local de moradias para baixa renda), proximo ao local onde será implantado o Centro Financeiro Internacional. Daí dirigindo-se às áreas de condomínios de alta renda, pela rodovia DF 140 (Condomínio Residencial Santa Mônica Km 6,5). Embora os condomínios Residencial Alphaville (entrada no Km 13,5 da DF 140), e o Residencial Dahma (localizado na rodovia GO 521 Km 436) divulguem seus endereços localizados em Brasília, na realidade estão próximos às áreas de baixa renda dos municípios do Estado de Goiás 3. Entre eles há condomínios menores e chácaras em processo de 2 http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1552246. Acesso em 12/mai/2014. 3 Ver http://damhabrasilia.jimdo.com/localiza%c3%a7%c3%a3o e http://www.alphaville.com.br/portal/alphavilleresidencial/localizacao. Acesso 23/06/2014. 916
regularização fundiária. Estratégia muito conhecida no urbanismo, pois na periferia os terrenos são mais baixos em relação ao centro, o que permite as empresas adquirirem grandes áreas, as quais são, geralmente, beneficiadas por vias e rodovias rápidas, com boa acessibilidade, e construídas pelo governo (no caso a DF 140). Desta forma, os empreendimentos, os condomínios e as novas moradias continuam a consolidar a monofuncionalidade e a desigualdade como estratégia ao produzirem uma cidade fragmentada e segregada, sem outros serviços e empregos. Mesmo os empregos oferecidos pelo setor da construção civil, domésticos e outros de baixa qualifição, sabe-se que, historicamente, são precários e distribuem poucos benefícios. Tanto as estrategias de marketing das empresas imobiliárias internacionais e internacionais, possuem como foco, não a construção de edifícios para moradia, comércio ou indústria. Porém, objetivam criar cidades e estabelecer eixos de empreendimentos rentáveis, tanto do ponto de vista empresarial quanto financeiro e imobiliario capazes de conduzir o crescimento das cidades, até mesmo em detrimento das políticas públicas locais de planejamento. De acordo com o marketing estabelecido pelas empresas, como por exemplo, o Alphaville Brasília, esses empreendimentos não pretendem ser apenas mais um bairro, ou uma simples expansão do tecido urbanizado. A cidade Alphaville, como é denominada pela empresa, pretende estabelecer um novo polo de desenvolvimento, o maior vetor de crescimento na cidade (Alphaville Urbanismo S/A). Pelo lado do capital público e privado os eixos de desenvolvimento coincidem o planejamento estratégico criará uma espinha dorsal que integrará quatro grandes eixos: a cidade-aeroportuária, inicialmente programada para ser instalada nas proximidades de Planaltina; o polo logístico, entre Samambaia e o Recanto das Emas; o centro financeiro internacional, próximo a São Sebastião; e a ampliação do Polo JK, em Santa Maria 4. O que pensar sobre a articulação desses projetos com a Região Metropolitana do Distrito Federal. Por outro lado, o GDF, por meio de suas empresas públicas, também procura oferecer lotes para moradias no tecido urbano consolidado, como na cidade de Águas Claras o recém lançado Setor Noreste, localizado na Asa Norte do Plano Piloto. Todos são projetos para as classes média alta e alta. Assim, as empresas reconhecem o seu importante papel para direcionar os eixos 4 http://www.correiobraziliense.com.br...-50-anos.shtml. Acesso em 24/mai/2014. 917
de crescimento das cidades, de acordo com seus interesses de maior retorno e liquidez possível do capital empregado. Com o objetivo de gerar tais polos de desenvolvimento urbano, seus empreendimentos estão presentes em 21 estados brasileiros, para criar novas oportunidades de negócios, gerar empregos e desenvolvimento urbano. Países, suas cidades e empresas procuram por mercados para replicarem seus modelos de cidades consideradas exemplos de sucessos urbanístico e financeiro. Singapura e sua empresa, exemplo escolhido pelo Governo para o desenvolvimento da cidade, fornecem os projetos para construir modelos de cidades, em outros países. Brasília preocupada com o desenvolvimento e sua inserção nos fluxos de investimentos imobiliários transnacionais e pela criação de novas identidades citadinas aptas a competir em um cenário de espelhamento e rivalidade entre cidades em nível global (Teixeira, 2014, s/p), deixa-se investir pelo capital internacional. Existem muitos modelos de cidades sendo desenvolvidos no mundo criando oportunidades de negócios para as grandes empresas e escritórios de urbanismo internacional, mas que muitas vezes se esquece de que a fama obtida pelos projetos teve como fundamento o planejamento local. A transformação dos espaços urbanos em espaços de negócios tornou-se a chave para o desenvolvimento urbano e econômico, daí a corrida para a valorização das cidades para atrair negócios. Isso não deve ser confundido com investir em ideias que, ao contrário, venham beneficiar e causar a valorização no lado errado ou seja, a acumulação do capital em curto prazo das empresas transnacionais. Afinal, o que é a cidade? A cidade é um empreendimento? Um Show de Morar? O SHOW DE MORAR E AS CIDADES MODERNAS Em relação à moradia, os denominados Show de Morar, constituem-se em moradias construídas com melhor padrão urbanístico, no interior de áreas empobrecidas (despossessão), e são exemplos do processo de transformação do valor imobiliário das áreas periféricas, por meio de investimentos do capital imobiliário. Show de Morar representa um conceito diferente de morar: um monumento sem precedentes, 60 m2, área de lazer completa (piscina, churrasqueira, playground infantil e etc), e, principalmente, perto do metrô. Assim se referem os diversos anúncios de marketing imobiliário em jornais e sites. A palavra show de morar antes do anuncio indica esse novo padrão de morar e de viver. São apartamentos em edifícios em condomínios fechados oferecidos para a venda em prédios de com a mesma qualidade de outros 918
localizados em áreas nobres das cidades, porém localizados em áreas de menor valor imobiliário. Samambaia e Ceilândia são as cidades onde se encontram um número bastante expressivo deste tipo de empreendimento. São cidades onde a renda percapita mensal, em 2013, era de 1,19 e 1,06 salários mínimos, respectivamente e possuía baixa escolarização (CODEPLAN, 2013). Este contexto permite observar que estas moradias não são oferecidas para esta população, que aí reside há mais tempo, e que, parte importante desta população ainda não consegue morar com a qualidade e a segurança prometidas tanto pelo poder público quanto pela iniciativa privada. Em Samambaia, 27,54% dos entrevistados declararam ainda não ter imóvel próprio e 23,10% declararam morar em imóvel alugado (CODEPLAN, 2013). A situação em Ceilândia é mais significativa, pois 16,92% dos entrevistados declararam morar em domicílios próprios, porém, em terreno não regularizado. Este contexto trás uma insegurança muito grande para as famílias, pois elas podem perder sua moradia, de acordo com a solução apresentada para o terreno em situação irregular. Somando-se este dado aos 26,02% entrevistados que declararam morar em imóvel alugado, obtém-se que cerca da metade da população (49,82%) não tem moradia própria. Entretanto, a pesquisa ainda revela que 33% dos entrevistados declararam não possuir imóvel. O urbanismo que declara e afirma um novo padrão de morar e de viver não discute a realidade possível de uma comunidade morar e trabalhar, estudar e se divertir tudo em só condomínio, segundo características econômicas e culturais, urbanísticas e arquitetônicas homogêneas. Poderia ser dado a cada sociedade construir seu próprio espaço? Para produzir uma cidade e um direito a diferentes modos de viver o urbano humano, e não apenas projeto. Neste caso seria imprescindível considerar estas diferenças para propor um show de morar que não desse lugar a segregação. Criar uma centralidade urbana, como definida por Lefebvre (2008, 32): Não existe realidade urbana sem um centro, ou seja, sem encontro atual ou possível de todos os objetos e sujeitos. Para ele Excluir do urbano grupos, classes, indivíduos, implica também excluí-los da civilização, até mesmo da sociedade (idem, ibidem). A CIDADE, O PÚBLICO E O PRIVADO Assim, a urbanização no Distrito Federal perpassa e é regulada pela ação do governo que interfere sobre a dinâmica urbana, pela organização e distribuição da 919
população, por meio de suas estratégias políticas definidas pelas dimensões sociais e econômicas. Entretanto o capital imobiliário e financeiro influencia o modo de vida, de uso e de apropriação da moradia e da cidade pelos seus habitantes. Por meio das políticas habitacionais implantadas com ações desarticuladas e segmentadas por faixas de renda, sem a preocupação com um projeto mais amplo de cidade social e ambientalmente sustentável, proporciona a dissociação dos processos sociais e espaciais. Para Santos (1996, p. 252), este processo produz uma cidade de campos de forças multicomplexas distanciando a cidade de seus territórios contíguos e de sua Região Metropolitana. Como resultado evidenciamos que a consolidação e a evolução espacial da cidade produzida ampliaram a ordem dos problemas sociais e espaciais apresentados, principalmente, em relação à apropriação e uso dos espaços habitacionais tanto no Plano Piloto quanto nas Regiões Administrativas. Portanto, o atual crescimento da metrópole brasiliense, por meio da expansão e adensamento das áreas periféricas atendendo aos interesses neocapitalistas, é a expressão da relação conflituosa entre a valorização financeira da terra urbana e as necessidades de habitação da população. Esse processo consolida a desigualdade como estratégia. Países, suas cidades e empresas procuram por mercados para replicarem seus modelos de cidades consideradas exemplos de sucessos urbanístico e financeiro. Singapura e sua empresa, exemplo escolhido pelo Governo para o desenvolvimento da cidade, fornecem os projetos para construir modelos de cidades, em outros países. Brasília preocupada com o desenvolvimento e sua inserção nos fluxos de investimentos imobiliários transnacionais e pela criação de novas identidades citadinas aptas a competir em um cenário de espelhamento e rivalidade entre cidades em nível global (Teixeira, 2014, s/p), deixa-se investir pelo capital internacional. As cidades não podem ser produzidas como se fosse uma relação direta entre os interesses públicos e privados. Deve-se enfatizar o papel importante do poder público, e de suas políticas e planos urbanos, com a participação da população, por intermédio dos movimentos sociais, para garantir a existência de cidades mais democráticas, igualitárias e sustentáveis. Parece, mas não é o lugar comum do planejamento e das políticas urbanas e habitacionais. REFERÊNCIAS Alphaville Urbanismo S/A. www.alphaville.com.br. Acesso em 16/mai/2014. 920
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. CODEPLAN Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - PDAD 2013. LEFEBVRE, Henri (2008). Espaço e Política. Editora UFMG. Belo Horizonte. PENNA, Nelba de A. (2000). Brasília: do espaço concebido ao espaço produzido. A dinâmica de uma metrópole planejada. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. -------------------. (2012). Planejamento urbano e estratégias empreendedoras em Brasília. In: Revista Portuguesa de Geografia Finisterra, XLVII, 93. http://www.ceg.ul.pt/finisterra/numeros/2012-93/93_06.pdf Acesso em 05 mai.2014 -------------------. (2013). Cidades: mercados e empresas para os negócios urbanos. Simpósio Nacional de Geografia Urbana (Simpurb). Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Rio de Janeiro. No prelo. SANTOS, Milton. (1996). A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. Editora Hucitec. São Paulo. TEIXEIRA, Marcelo. (2014) Seminário Urbanismo Transnacional: Ásia, África e Brasília. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de Brasília. 09/05/2014. 921
A CIDADE PARA ALÉM DA ESPECULAÇÃO: ENTRE O CAPITAL E A HABITAÇÃO SOCIAL EIXO 3 Desigualdades urbano-regionais: agentes, políticas e perspectivas RESUMO No contexto da temática deste evento, para debater as mudanças históricas capazes de criar problemáticas novas ou renovar as já existentes, torna-se importante abordar o denominado urbanismo transnacional, pois este forma um mercado global de cidades competitivas por investimentos internacionais. Neste mercado, é fundamental considerar a crise da cidade e do planejamento urbano, abordados como produtos de mercado, em consequência do processo das transformações do espaço urbano sob o neoliberalismo. A crise da cidade financeira produz a necessidade de reestruturação dos espaços urbanos por meio de projetos urbanísticos de padrão internacional e de novos arranjos habitacionais. Estes novos modelos empresariais e habitacionais são construídos em áreas periféricas mais consolidadas, entre as áreas mais pobres, por meio de empreendimentos público-privados. A partir da construção de novos empreendimentos, este estudo analisa a apropriação empresarial dos lugares periféricos destinados à habitação das classes de menor poder aquisitivo, e com menor qualidade arquitetônica, como expressão da relação conflituosa e contraditória entre a valorização da terra urbana, como estratégia para o capital, e as necessidades de moradia da população mais pobre. Processo que amplia o poder do capital e da especulação sobre o espaço urbano. Em consequência das parcerias público-privadas e da financeirização do imobiliário, formam-se em Brasília, novos eixos de valorização e especulação imobiliária, para além do Plano Piloto, porém mantendo proximidade com ele e com as áreas de alto padrão. Por exemplo, o eixo que se estende do Lago Sul para além da cidade de São Sebastião, com a implantação do Centro Financeiro Internacional, em direção a áreas tanto de condomínios de alta renda quanto de menores rendas. Em relação à moradia, os denominados Show de Morar, moradias construídas com melhor padrão urbanístico, no interior de áreas empobrecidas (despossessão), são exemplos desse processo de transformação do valor imobiliário das áreas periféricas. Que consequências esses processos trazem para a cidade e para a sociedade? Como as políticas públicas habitacionais poderiam assegurar resultados sociais e econômicos de cunho mais igualitário, e melhor qualidade de vida para as classes mais desfavorecidas? Este artigo faz parte de um projeto mais amplo que objetiva investigar como se produzem esses eixos especulativos nas cidades e as novas dinâmicas de exclusão social e espacial que surgem nos lugares de baixa produtividade, ao significarem revalorização imobiliária, introduzidos com maior valor de troca no mercado de terras. Palavras-chave: cidade negócio; especulação imobiliária; habitação social. 922