Gerenciamento da propriedade intelectual: maximizando o seu valor



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Transcrição:

Gerenciamento da propriedade intelectual: maximizando o seu valor Paulo Schmidt (UFRGS) pschmidt@ufrgs.br José Luiz dos Santos (UFRGS) joseluiz@grupointegral.com.br José Mário Matsumura Gomes (UNIFIN) josemario@unifin.com.br Paulo Roberto Pinheiro (ESPM-RS) pinheiro_paulo@grupointegral.com.br Luciane Alves Fernandes (UNIFIN) lucianef@grupointegral.com.br Resumo: As recentes mudanças introduzidas, nas normas norte-americanas, em relação ao tratamento contábil dos ativos intangíveis, especialmente pela emissão do pronunciamento SFAS 142, em função basicamente da relevância assumida pelos ativos intangíveis na composição do patrimônio das entidades, geraram a necessidade da alocação do valor justo a todos os ativos intangíveis que encontram os critérios legais ou contratuais e de separabilidade. Além disso, em função da materialidade dos ativos da propriedade intelectual, existe uma necessidade cada vez maior, por parte das entidades, de gerenciar adequadamente esses ativos, a fim de obter uma vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes. Nesse sentido, este artigo inicialmente apresenta os principais conceitos, natureza e importância dos ativos da propriedade intelectual, que são ativos que encontram os critérios leis ou contratuais ou de separabilidade, em um segundo momento apresenta maneiras, pelas quais os especialistas em avaliação de ativos podem auxiliar as empresas a gerenciar a sua propriedade intelectual. Palavras-chave: Propriedade intelectual; Ativos intangíveis; Valor justo; Vida útil. 1 Introdução Como as entidades, a cada dia que passa, procuram aumentar seus ganhos e suas fontes de recursos em investimentos de capital, tornou-se crítico para elas gerenciar os seus recursos mais produtivamente. Para solucionar tal problema na atual economia mundializada, segundo Hardgrove e Voloshko (2003:43) muitas empresas confiam no desenvolvimento e na exploração efetiva de suas propriedades intelectuais. Essa preocupação em relação aos ativos intangíveis tem aumentado significativamente de importância em decorrência do crescimento assustador da sua fatia na composição do patrimônio das entidades, em função, basicamente das mudanças proporcionadas pela tecnologia da informação e telecomunicações. Além disso, com o advento dos pronunciamentos do Financial Accounting Standards Board (FASB) 141 e 142, as companhias norte-americanas não podem mais agrupar em suas demonstrações financeiras os ativos da propriedade intelectual e os demais ativos intangíveis com o goodwill. Em vez disso, elas deverão classificar o goodwill, e os demais ativos intangíveis, separadamente, ou seja, dividindo-os por classes de intangíveis, tais como: marcas, nome de produtos, patentes, banco de dados, nomes de domínio na internet, tecnologia patenteada etc, devendo evidenciar ainda, as estimativas de suas vidas úteis em notas explicativas. Para companhias com clientes, fornecedores ou atividades e negócios em vários países gerenciar os ativos da propriedade intelectual pode ser extremamente complicado. Dessa forma, as empresas necessitam buscar profissionais qualificados, para auxiliar seus colaboradores a desenvolver uma estratégia, capaz de solucionar a variedade de problemas ENEGEP 2004 ABEPRO 4978

complexos que surgem nos negócios internacionais, incluindo gerenciamento de caixa, alocação de recursos, simplificação administrativa e redução de custos. O propósito deste artigo consiste, em discutir de que forma podem especialistas em intangíveis auxiliar as empresas a gerenciar a sua propriedade intelectual como a pedra fundamental econômica de uma estratégia de negócio bem sucedida e que simultaneamente evite alguns imprevistos perigosos costumeiros ao longo do seu caminho. 2 Alocação do valor da propriedade intelectual 2.1 Aspectos introdutórios Para que se possa atribuir valor a ativos da propriedade intelectual envolvidos em uma combinação de negócios será necessário identificar o valor das patentes, marcas, segredos comerciais, direitos autorais, contratos de licenciamento e outras propriedades intelectuais de forma separada do valor do goodwill. Inicialmente, cabe destacar que o termo intangível vem do latim tangere ou tocar. Logo, os bens intangíveis são aqueles que não podem ser tocados, porque não possuem corpo físico. Contudo, a tentativa de relacionar a etimologia da palavra intangível à definição contábil dessa categoria não será exitosa, haja vista que muitos outros ativos não possuem tangibilidade e são classificados como se tangíveis fossem, tais como despesas antecipadas, duplicatas a receber, aplicações financeiras etc. Isto porque os contadores têm procurado limitar a definição de intangíveis restringindo-a a ativos não circulantes conforme afirmam Hendriksen, Breda (1999:388). Existem grandes discordâncias entre autores da Teoria da Contabilidade sobre a definição de intangível, a exemplo de Most (1977:165) e Hendriksen (1999:310). A complexidade dessa definição é tão abrangente a ponto de Martins (1972:53), ao abordar o assunto em sua tese de doutoramento, iniciar com definição (ou falta de), indicando a inexistência de uma definição clara para intangíveis. Uma das definições mais adequada, segundo teóricos da Contabilidade é a de Kohler (apud Iudícibus, 1997:203) que define intangível como ativos de capital que não têm existência física, cujo valor é limitado pelos direitos e benefícios que, antecipadamente, sua posse confere ao proprietário. Diante disto, pode-se definir ativos intangíveis como sendo recursos incorpóreos controlados pela empresa capazes de produzir benefícios futuros. Já uma Combinação de Negócios (Business Combinations), consiste em uma operação, amigável ou não, que engloba a incorporação, a fusão ou a aquisição do controle acionário de uma entidade. O goodwill adquirido em uma combinação de negócios, por sua vez, é definido, nas normas norte-americanas, como sendo o excesso de valor pago pela entidade adquirente sobre o valor justo dos ativos líquidos adquiridos. Contudo, no conceito de ativos líquidos estão incluídos, além dos tangíveis, todos os ativos intangíveis identificáveis, no qual estão inseridos os ativos da Propriedade Intelectual. O FASB tem ressaltado a importância da avaliação separada dos ativos da Propriedade Intelectual nas combinações de negócios. Contadores e executivos de finanças devem estar conscientes da significante distinção introduzida pelo SFAS 142, no tratamento contábil das combinações de negócios, enquanto o goodwill não pode mais ser amortizado, outros intangíveis que possuem vida útil finita devem ser amortizados. ENEGEP 2004 ABEPRO 4979

Disso resulta que, em função das companhias norte-americanas serem normalmente relutantes em reportar informações que poderão causar impactos negativos nos ganhos futuros, a exemplo da amortização de intangíveis, elas tendem a alocar um valor maior para o goodwill em detrimento dos demais ativos intangíveis, considerando que o mesmo não sofrerá amortização, gerando, desta forma, uma expectativa de fluxo de caixa futuro maior. Contudo, a falta de alocação de valor para os ativos da propriedade intelectual poderá suscitar questionamentos por parte da Security Exchange Commission SEC. Segundo Turner (2002: 79), a menos que as companhias possam dar suportes consistentes as suas avaliações, órgãos reguladores questionarão a alocação de todo o preço de compra para o goodwill, ao invés de dividi-lo entre os ativos da Propriedade Intelectual e outros ativos intangíveis. Esta afirmação pode ser constatada, segundo Donohue (2002: 75), no caso de uma companhia de softwares norte-americana que adquiriu um concorrente menor, cujos ativos líquidos foram avaliados em $ 500 milhões e seu valor justo em $ 900 milhões, devido a superior tecnologia, crescimento de vendas e posição de liderança no mercado. O conselho de administração da companhia estava, particularmente, convencido dos méritos do negócio, devido as recentes mudanças no tratamento contábil do goodwill que não mais era amortizado. Contudo, seis meses após o negócio, a SEC solicitou que a companhia informasse o método de alocação dos valores utilizados na transação. A companhia havia alocado somente uma pequena porção do preço de compra para intangíveis e tratou a maior parte dos $ 400 milhões como goodwill. A SEC modificou a alocação do preço de compra entre o goodwill e os outros ativos intangíveis e determinou que $ 80 milhões deveriam ser tratados como portfolio de patentes e não como goodwill. Esta mudança forçou a companhia a reduzir as suas estimativas de ganhos e republicar as demonstrações contábeis. Esta notificação da SEC obrigando a reclassificação de contas e republicação dos balanços desta companhia, foi um dos primeiros casos identificados publicamente em que uma companhia utilizou as novas determinações para o tratamento de ativos intangíveis, introduzidas pelos pronunciamentos nº 141 e 142 do FASB. 2.2 Identificando ativos da propriedade intelectual Quando uma companhia prepara suas demonstrações contábeis, normalmente atribuir, de forma equivocada, a maior parte da diferença entre o preço pago pelos ativos líquidos e seu valor justo para o goodwill. Algumas questões devem ser observadas profissionais da área contábil, quando conduzem ou revisam alocações do preço de compra e avaliações para seus clientes: a) A entidade alvo possui ativos da Propriedade Intelectual? Os avaliadores devem identificar se a companhia alvo possui patentes, marcas, direitos autorais e outros ativos da Propriedade Intelectual. Além disso, devem determinar se a entidade possui um plano de negócios da Propriedade Intelectual. Um plano de negócios para a Propriedade Intelectual busca o levantamento de todos ativos intelectuais e documenta as melhores oportunidades estratégicas de geração de valor. Alguns planos podem auxiliam a entidade a mensurar a contribuição econômica de suas atividades. ENEGEP 2004 ABEPRO 4980

Contudo, se a entidade avaliada possui um grande valor de Propriedade Intelectual, porém não desenvolveu um plano para esta Propriedade Intelectual, ou o mesmo não é apropriado, podem ocorrer problemas relacionados a avaliação destes intangíveis quando da combinação de negócios. Assim, se uma entidade está buscando alocar um valor significativo para ativos da Propriedade Intelectual e a entidade alvo não possuir um plano de negócios, haverá dificuldades para fundamentar a avaliação. Em função disso, ao avaliar empresas que possuem um valor significativo de ativos da Propriedade Intelectual, especialmente as companhias de alta tecnologia, os avaliadores necessitam saber que ativos da Propriedade Intelectual as mesmas possuem. b) A Propriedade Intelectual está licenciada? Os avaliadores devem identificar se os ativos da Propriedade Intelectual estão licenciados para terceiros. Quando um detentor de ativos da Propriedade Intelectual permitir a alguém usar seus ativos, a entidade recebe, normalmente, pagamento de royalties. Os avaliadores devem determinar qual o nível de recebimento de royalties da entidade avaliada. Caso a informação de recebimento de royalties esteja disponível e seja confiável, os avaliadores poderão utilizar a abordagem do fluxo de caixa descontado para determinar o valor justo do ativo licenciado na data da aquisição. Por exemplo, supondo-se que um acordo de licenciamento de um portfólio de patentes demande três pagamentos anuais de $ 20 milhões cada em virtude de seu uso. Utilizando-se uma taxa de desconto de 10% a.a, sobre o total de $ 60 milhões de pagamentos futuros chegase em $ 49,73 milhões de valor justo. A taxa de desconto utilizada deve refletir o valor do dinheiro no tempo e o risco de que a projeção de resultados de royalties não ocorra. Se o risco da entidade não receber o valor dos royalties é alta, então uma taxa de desconto maior será necessária. Contudo, outros métodos de avaliação do valor justo podem ser utilizados que não o fluxo de caixa descontado. Todavia, se o portfólio de patentes gerar $ 20 milhões por ano de royalties, não será possível deixar de atribuir valor para as patentes, quando da alocação do preço de compra. Além disso, contratos de royalties e licenças estão especificamente incluídas no FAS n.º 141, como exemplos de ativos intangíveis que encontram o critério de reconhecimento separadamente do goodwill. c) A entidade alvo comprou Propriedade Intelectual de outras entidades? Um outro sinal de que a Propriedade Intelectual deve ser avaliada é a existência de uma compra ou venda recente destes intangíveis. Se a entidade alvo adquiriu recentemente um grupo de patentes de outra entidade, deverá ser realizada uma avaliação separada do ativo intangível. Caso a transação tenha ocorrido recentemente e as circunstâncias em torno da transação ainda podem ser identificadas, o preço da transação poderá auxiliar a dar um suporte para a avaliação. Por exemplo, supondo-se que a entidade alvo comprou recentemente um portfólio de patentes por $ 10 milhões. Neste caso, a entidade que está adquirindo poderá utilizar, potencialmente, os $ 10 milhões do preço de compra como justificativa de atribuição de valor para os mesmos ativos durante o processo de alocação do preço de compra. ENEGEP 2004 ABEPRO 4981

d) A entidade alvo está envolvida em algum litígio em relação aos ativos da Propriedade Intelectual? Algumas vezes negócios relacionados a Propriedade Intelectual são questionados judicialmente em função de que a utilização de um método de avaliação ser muito subjetivo. Se a entidade alvo estiver envolvida em tal litígio, os avaliadores devem identificar o ativo da Propriedade Intelectual específico, objeto do litígio, para determinar se o mesmo está subavaliado. Além disso, se a entidade alvo utilizou-se de um litígio relacionado a Propriedade Intelectual para, com êxito, remover um competidor de uma linha de negócio ou efetuou um grande acordo com a outra parte, isto pode indicar a subavaliação da Propriedade Intelectual e a necessidade de avaliação separada destes ativos intangíveis para fins de alocação. e) Sugerir uma nova avaliação para a Propriedade Intelectual que não é formalmente protegida? Talvez a maior dificuldade encontrada pelos avaliadores, em uma combinação de negócios ocorra quando os ativos da Propriedade Intelectual da entidade alvo não tenham sido utilizados, não estejam licenciados ou não tenham sido patenteados ou formalmente protegido na data da compra. O processo de avaliação é dificultado quando os avaliadores não possuem uma estimativa de resultados para valorar ou não possuem conhecimento de que os gastos efetuados pela entidade irão se converter futuramente em uma patente. Esta situação ocorre, normalmente, quando a entidade alvo desenvolve produtos de última geração. Durante o período de alocação do preço de compra, os avaliadores devem rever o valor despendido pela entidade alvo em tecnologia, bem como verificar se a mesma possui projeções de fluxo de caixa ou análises de custo benefício que valorem esta tecnologia para fins gerenciais. f) A entidade tem alocado a Propriedade Intelectual a unidade de negócios correta? O FASB determinou que as entidades aloquem e testem, no mínimo anualmente, o goodwill para impairment em nível de unidade de negócios. O teste de impairment consiste de uma comparação do valor justo do ativo intangível com o valor registrado na contabilidade. Valor justo pode ser definido como sendo a quantia pela qual o ativo ou passivo pode ser comprado ou vendido em uma transação atual entre partes dispostas a negociar, isto é, exceto em uma venda forçada ou liquidação. Uma unidade de negócios pode ser considerada como o nível na qual os gerentes avaliam a performance do segmento operacional. Os gestores das entidades devem ter interesse em verificar se os ativos da Propriedade Intelectual estão sendo alocados para a unidade de negócios apropriada, já que os mesmos devem ser avaliados em função dos resultados obtidos por cada unidade. As entidades devem entender o por quê que certas unidades ou divisões possuem ou mantêm ativos da Propriedade Intelectual. Situações em que na entidade alvo não são claramente identificadas em quais unidades de negócios ou divisão estão alocados os ativos da Propriedade Intelectual, certamente trarão dificuldades para os avaliadores e compradores durante o processo de avaliação. ENEGEP 2004 ABEPRO 4982

2.3 Vida útil dos ativos da propriedade intelectual Estimar a vida útil de ativos intangíveis pode ser um processo difícil. Enquanto patentes possuem vida útil finita, marcas podem ser mantidas indefinidamente. O SFAS 142, determina que um ativo intangível com vida útil finita deve ser amortizado e um ativo intangível com vida útil indefinida não deve amortizado. A vida útil de um ativo intangível, para uma entidade, é o período sobre o qual se estima que o ativo contribua, direta ou indiretamente, na produção de fluxos de caixa futuros para a entidade. Neste sentido, Eggleston (2002: 79) cita que quando os avaliadores determinam a vida útil de um intangível, eles deveriam considerar tanto os fatores contratuais quanto os econômicos, incluindo expectativa de demanda pela tecnologia, risco de obsolescência, ciclo operacional e o impacto na competitividade. Alem disso, é importante considerar que a vida útil tecnológica de uma patente pode ser mais curta que a sua vida útil legal. Em função disso, as entidades necessitarão de suporte, não somente para a alocação do valor, mas também para a associação com a sua vida útil. Por exemplo, utilizando a vida útil legal de 20 anos de uma patente, considerando apenas o aspecto contratual da patente, pode não ser suficiente caso a tecnologia seja reciclada em 5 anos. Quando os avaliadores determinam a vida útil de um ativo intangível, devem considerar tanto os fatores contratuais quanto os econômicos, incluindo expectativa de demanda tecnológica, risco de obsolescência, ciclo operacional e o impacto na competição. 3 Gerenciando a propriedade intelectual 3.1 Controlando imprevistos perigosos Especialistas em ativos intangíveis podem identificar atividades da propriedade intelectual capazes de gerar valor financeiro, bem como desenvolver estratégias para usa-los, avalia-los e apresenta-los nas demonstrações contábeis. As companhias que não possuem tais estratégias correm o risco de gerenciarem inadequadamente seus investimentos em propriedade intelectual ou de não capitalizarem totalmente o seu valor. Essa situação pode ocorrer quando, por exemplo, uma companhia pode ser legalmente ou contratualmente proibida de transferir uma importante tecnologia para uma unidade de negócios situada no estrangeiro, que poderia ser beneficiada com o seu uso. Além disso, se o gerenciamento não identificar o desenvolvimento interno ou o aumento da propriedade intelectual, tais como: processos, know-how não patenteado ou ativos intangíveis relacionados a marketing, eles podem por em perigo a proteção legal desses ativos. Isso pode ser especialmente verdadeiro em países onde as leis locais não protegem direitos não registrados como ocorre, por exemplo, no Brasil. Conseqüentemente, despesas operacionais, impostos, fluxos de caixa e lucros de uma unidade de negócios de uma companhia global podem ser adversamente afetados. Para elucidar tal afirmativa, Hardgrove e Voloshko (2003) utilizam-se do exemplo de uma companhia hipotética que desenvolve e distribui soluções de tecnologia para clientes ao redor do mundo. O modelo de negócio dessa companhia combina serviços, hardware e softwares incluídos em um pacote. No estágio inicial o negócio possui uma estrutura relativamente simples. Sua base operacional nos Estados Unidos executa toda a distribuição, pesquisa e desenvolvimento de produtos e marketing. ENEGEP 2004 ABEPRO 4983

A estrutura dessa companhia vai se tornando mais complexa a medida que ela expande suas operações para outros países, por exemplo, Lea cria uma controlada na França para desenvolvimento de tecnologia e marketing. Essa operação não somente gera incrementos para a tecnologia, mas também cria uma substancia base de clientes na Europa. Considerando uma rápida expansão do mercado nos Estados Unidos, a gerencia da companhia tem pouco tempo para desenvolver o planejamento estratégico para as operações na Europa, muito menos para a potencialidade do crescimento do valor da propriedade intelectual. Em conseqüência disso, a companhia trata contabilmente os gastos com pesquisa e desenvolvimento nos Estados Unidos somente como uma fonte de propriedade intelectual da companhia e não consideram que os contratos e atividades da controlada francesa também contribuem para o portfólio de propriedade intelectual da corporação. Esse equívoco causa vários problemas, tais como: não registro dos aumentos de tecnologia que tenham sido desenvolvidos na França; não toma medidas para proteger os direitos de marketing e relação de clientes da controlada; os gerentes de operações na matriz, não internalizam qualquer processo da unidade francesa (por exemplo, melhorias nos sistemas e no conhecimento de marketing) que possam beneficiar a companhia inteira. Conseqüentemente, esses ativos correm o risco de serem furtados por concorrentes ou pelos próprios empregados da empresa. Além disso, como os gerentes da matriz desconhecem ou não utilizam esses ativos intangíveis, a companhia não poderá utiliza-los nas demonstrações contábeis e em decorrência disso, não poderá alavancar o valor da propriedade intelectual para apresentar a seus usuários externos, como bancos, acionistas e clientes. A companhia que não sabe administrar adequadamente seus ativos da propriedade intelectual cria problemas que poderiam ser evitados, tais como: perda de eficiência resultante de um custo de entrega de produtos mais elevado para clientes e a replicação de certas atividades de pesquisa e desenvolvimento pela matriz, bem como expor a controlada na França a imposto de renda sobre os lucros atribuíveis a propriedade intelectual desenvolvidas pela sua controlada. 3.2 Estratégia pró-ativa da propriedade intelectual As companhias, especialmente as multinacionais, necessitam elaborar um plano de negócios para a sua propriedade intelectual para identificar, utiliza-lar, apresentar nas demonstrações contábeis e avaliar seus ativos da propriedade intelectual a fim de evitar investimentos internos mal direcionados ou privar sua unidade de negócios internacional de utilizar tal ativo intangível. A elaboração de uma estratégia pró-ativa da propriedade intelectual pode ser obtida através da utilização de um processo de quatro etapas: Identificar os ativos da propriedade intelectual e demonstrar como gerenciala efetivamente pode contribuir para a companhia atingir seus objetivos estratégicos de negócios; desenvolver alternativas para estruturar funções de negócios e riscos; desenvolver uma estratégia para alinhar riscos e funções com o domínio da propriedade intelectual, dentro da companhia; ENEGEP 2004 ABEPRO 4984

implementar e monitorar uma estratégia de negócios da propriedade intelectual global. 3.2.1 Identificar os ativos da propriedade intelectual e demonstrar a sua contribuição para a companhia O processo de planejamento pode ser iniciado pela determinação dos direcionadores de valores dos intangíveis, ou recursos operacionais que registram o sucesso de um produto ou serviço em particular. Essa informação pode ser obtida através de uma análise funcional, ou seja, através de entrevistas com empregados da companhia (gerentes de P&D, gerentes da cadeia de fornecimento e pessoal do marketing e distribuição), na qual será analisada cada função de negócio a fim de entender como cada uma contribui para a geração de ativos intangíveis. 4 Conclusão Este artigo buscou apresentar as principais alterações introduzidas em relação ao tratamento contábil dos ativos da Propriedade Intelectual fundamentadas nas alterações das normas norte-americanas, a partir do advento dos pronunciamentos SFAS 141 e 142, onde as companhias não podem mais classificar de forma agrupada o goodwill com outros ativos intangíveis. Assim, quando da realização de uma combinação de negócios, as entidades deverão alocar individualmente a diferença entre o valor justo e o valor pago por todos ativos intangíveis, a exemplo dos ativos da Propriedade Intelectual, minimizando, neste contexto, o valor do goodwill. Diante dessa nova realidade contábil, é possível contextualizar que SEC deverá questionar qualquer aquisição que não tenha alocação de valor para vários ativos intangíveis, bem como deverá verificar se existe evidenciação nas demonstrações contábeis dos principais critérios adotados na avaliação destes ativos e na determinação de suas vidas úteis. Constatou-se, com este estudo, que a alocação do preço de compra entre os ativos intangíveis amortizáveis e não amortizáveis, deverá ser um assunto cuja importância irá crescer nos próximos anos, sendo necessário que novas pesquisas e experimentações sejam realizadas objetivando soluções para estes novos problemas que estão surgindo com as atuais estruturas patrimoniais. 5 Referências bibliográficas DONOHUE, James. A New Scorecard for Intellectual Property. Journal of Accountancy, American Institute of CPAs, April. 2002. EGGLESTON, Carmen. A New Scorecard for Intellectual Property, Journal of Accountancy, American Institute of CPAs, Nova York, Abr.2002. FASB Financial Accounting Standards Board. FAS 141 Business Combination. Emitido em junho de 2001.. FAS 142 Goodwill and Other Intangible Assets. Emitido em junho de 2001. HARDGROVE, Michael W; VOLOSHKO, Alex. Maximize your global IP. Journal of Accountancy, American Institute of CPAs, April. 2003. HENDRIKSEN, Eldon S; BREDA, Michael F.V. Teoria da Contabilidade. 5.ed. Tradução de Antônio Zoratto Sanvicente. São Paulo : Atlas, 1999. ENEGEP 2004 ABEPRO 4985

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