SABERES E PRÁTICAS EDUCATIVAS HUMANESCENTES DE EDUCADORES EM SAÚDE. Palavras-chave: Condição Humana, Corporeidade, Ludopoiese, Humanescência



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Transcrição:

SABERES E PRÁTICAS EDUCATIVAS HUMANESCENTES DE EDUCADORES EM SAÚDE Áurea Emília da Silva Pinto BACOR/PPGEd/UFRN Resumo Este estudo está inserido numa pesquisa que tem por objetivo descrever e analisar os saberes e as práticas dos educadores em saúde da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde, ANEPS/RN. O grupo é composto pela diversidade de pessoas compromissadas com a articulação, reconhecimento e fortalecimento de experiências e saberes relacionados aos modos de pensar, sentir, fazer e cuidar da saúde da população. O referencial teórico vem sendo construído à luz das idéias defendidas por Paulo Freire, Edgar Morin, Humberto Maturana, Cândida Morais, entre outros, e pela formação humanescente que se alicerça no fenômeno ludopoiético, norteada pela pedagogia vivencial humanescente em desenvolvimento na Base de Pesquisa Corporeidade e Educação (PPGED/UFRN). A abordagem utilizada é de natureza etnofenomenológica que possibilita ampla compreensão do processo formativo transdisciplinar. Busca-se articular os Sete Saberes conjugando com estratégias do saber fazer, ser e conviver. Palavras-chave: Condição Humana, Corporeidade, Ludopoiese, Humanescência

SABERES E PRÁTICAS EDUCATIVAS HUMANESCENTES DE EDUCADORES EM SAÚDE Áurea Emília da Silva Pinto BACOR/PPGEd/UFRN Educar para a condição humana é, antes de tudo, compreender que o ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico, revela Edgar Morin (2005). Uma unidade complexa da natureza humana que há anos tem sido desintegrada, fragmentada, desconsiderada nos espaços educativos, tornando-se impossível compreender o que realmente significa Ser humano. Diante do cenário de sombras e luzes do panorama da educação na contemporaneidade faz-se urgente compreender a complexidade humana, reconhecendo que todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana (MORIN, 2005, p. 55). A história da educação em saúde no Brasil tem mostrado diferentes concepções e práticas educativas, tanto no plano individual, como no plano coletivo de afirmação e de cuidado pela vida. Há outras dimensões subjetivas e existenciais do processo de adoecimento que não estão sendo consideradas. Por isso, é fundamental reconhecermos nosso enraizamento no cosmo, ao mesmo tempo, nosso desenraizamento propriamente humano, entendendo que estamos simultaneamente dentro e fora da natureza. Neste mesmo sentido a corporeidade vem se constituindo um tema bastante interessante na reflexividade sobre a prática educativa. O ser humano, como construtor de si mesmo, elemento fundamental de toda educação, através do corpo assume um papel significativo na história das idéias pedagógicas. A corporeidade, como concretude de nossa subjetividade em relação com a objetividade do mundo, é que se manifesta no ser relacional que se projeta e se insere no mundo em que vive afirma Cândida Moraes (2008, p. 17). O pensamento de Morin (2005, p. 139) realça que a sabedoria da vida implica a incorporação do seu saber e da sua experiência. A corporeidade torna-se, portanto, fundamental para as mudanças na forma de cuidar, tratar e acompanhar a saúde da população, possibilitando inovações nas práticas educativas. Para Cândida Moraes (2008, p. 18), a qualidade de nossa vida depende da

qualidade de nosso corpo, depende de nossa saúde física, mental e espiritual e do cuidado que a ele dedicamos. O presente estudo delimita-se aos educadores em saúde da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Populares e Saúde (ANEPS/RN). Um grupo de pessoas associadas de alguma maneira, seja formada por poucos ou muitos educador-colaboradores. E aqui vale ressaltar que não estamos nos referindo a um grupo de pessoas reunidas eventualmente para apontar ou resolver problemas, mas a produção de um grupo que questiona a realidade, debate sobre ela, propõe alternativas, constrói coletivamente, partilhando saberes e responsabilidades, e que supõem mudanças nas realidades, compreendendo que tudo está ligado, não só na realidade humana, como também na realidade planetária, transformando o grupo e a si próprio, num mesmo processo, como preconiza Edgar Morin (2005) em seus estudos sobre os Sete Saberes necessários à educação. Trata-se de ações permanentes e nossa pretensão é analisá-las no espaço de tempo de 2010-2011, que é o período abrangido pelo estudo, em andamento. Na área da educação em saúde são vários espaços e movimentos em discussão, debates e formas de trabalho por uma sociedade mais justa e igualitária. Para tanto, os momentos humanescentes na ciranda de diálogos da ANEPS/RN apresentam-se como um campo de ação-reflexão-ação, no qual, os mais diversos educadores possam contribuir para que os espaços educativos não sejam apenas espaços de reprodução de formas de discriminação social e sim de motivação de pensamentos críticos, reflexivos, organizativos, de elaboração de projetos políticos capazes de intervir nas sociedades, favorecendo o pleno exercício da cidadania, de superação dos limites da ordem vigente, principalmente no nosso sistema educacional inadequado, que não consegue conceber a complexidade, aquilo que é tecido, ou seja, as inúmeras ligações entre os diferentes aspectos dos conhecimentos. Para Edgar Morin (2005, p. 51), somos originários do cosmos, da natureza, da vida, mas devido à própria humanidade, à nossa cultura, à nossa mente, à nossa consciência, tornamo-nos estranhos a este cosmos. Como cidadãos do novo milênio é preciso compreender a era planetária, que iniciou no século XVI, e hoje é mais presente, forte, intensa. Suas manifestações através de uma extrema interação entre os diversos fatores sociais, econômicos, políticos, étnicos, religiosos, culturais, ambientais, entre

outros, motiva a conhecê-la, para saber Quem somos? Onde estamos? De onde viemos? Para onde vamos? Afinal, qual o destino da humanidade? O pensamento ecossistêmico apresentado por Cândida Moraes (2008) ajudanos a tomar consciência de que as nossas relações fundamentais com a vida, a natureza, com o outro e com o cosmo dependem também de nossa maneira de ser, de viver, conviver. Entendendo que o Ser humano é um ser a um só tempo plenamente biológico e plenamente cultural, que traz em si a unidualidade originária (MORIN, 2005, p. 52). Hoje, apesar das fragilidades, o foco de atuação da ANEPS caminha para o fortalecimento do controle social sobre a saúde, além de promover a articulação dos movimentos. Para tanto, se faz necessário uma aproximação maior dos movimentos com as universidades, no meio acadêmico, nas instâncias que influenciam na elaboração de políticas públicas de saúde, tendo a educação permanente como um instrumento estratégico de formação. A pesquisa orienta-se principalmente em estudos de autores dos campos da psicologia, educação em saúde, educação popular e da corporeidade, embora possamos percorrer transdisciplinarmente por outras áreas do conhecimento. Do ponto de vista de minha experiência com práticas educativas, reforçaria a relevância do que a Cavalcanti (2006) denomina de Educação Humanescente. Uma educação voltada para a formação integral do Ser, para o desenvolvimento de suas inteligências, pensamentos, consciência e de seu espírito. Possibilita o fluir de novos saberes, os quais emergem do interior do Ser, através da própria essência humana. Apoiada na Teoria Autopoética de Maturana e Varela, que vem sendo estudada na Base de Pesquisa Corporeidade e Educação há alguns anos, corporalizamos o fenômeno ludopoiético capaz de fazer emergir a alegria de viver a vida com sentido humanescente. Um processo permanente, contínuo, autônomo, produtor de si. Para Cândida Moraes (2008 p. 94) a autopoiese indica que os sistemas vivos se autoproduzem, ou seja, conseguem transformar energia e matéria neles mesmos, indicando que o produto de seu metabolismo é a sua própria organização. Compreendemos que sistemas vivos são sistemas biologicamente autônomos. Para Edgar Morin (2005), todo organismo vivo se auto-organiza e se autoproduz ao mesmo tempo. Isso indica que, para sermos autônomo, necessitamos interagir com o

mundo exterior. Autonomia que faz parte da própria natureza educativa. Sem ela não há ensino, nem aprendizagem, diria Paulo Freire. Para a nossa pesquisa-ação, definimos os seguintes objetivos: descrever e analisar os saberes e as práticas dos educadores em saúde da ANEPS/RN; identificar nas práticas de educadores em saúde princípios de uma educação humanescente; investigar como os educadores em saúde constroem os saberes das práticas educativas. Busca-se articular os Sete Saberes conjugando com estratégias do saber fazer, ser e conviver, embasados numa perspectiva de educação integral em que se valoriza o Ser humano e seu potencial. Para tanto, proporcionamos vários momentos de estudos, debates e reflexividade para que os educadores em saúde construam seu próprio conhecimento, focalizando as dimensões epistemológica, medotodógica, ontológica que fundamentam a proposta de formação ludopoiética. Afinal, cada um de nós é uma pequena parte da sociedade, assim como a sociedade como um todo se encontra em cada Ser humano através da linguagem, da cultura, da família, dos grupos sociais, daí a importância de aprofundar o conhecimento sobre a condição humana (MORIN, 2005). A abordagem utilizada é de natureza etnofenomenológica que possibilita ampla compreensão do processo formativo transdisciplinar, isto é, uma abordagem de pesquisa a partir de uma concepção e compreensão do ser humano, que em termos fenomenológicos descobre a intersubjetividade que nos ajudará a revelar o significado cotidiano, no qual os educadores em saúde da ANEPS/RN agem para encontrar o significado das suas ações, para incorporar a reflexividade na análise da ação. É uma perspectiva de análise que concilia a valorização da subjetividade, tão presente nas diversas tradições culturais das práticas populares de saúde. É preciso nos situar no tempo e espaço sócio-histórico e cultural enquanto cidadãos, tendo como parâmetro os preceitos da ética. Para tanto, precisamos sentir nossa condição específica de Ser humano. Isso faz parte da condição humana, uma espécie de trindade humana formada por individuo, espécie e sociedade, três corpos absolutamente inseparáveis. Desta forma Edgar Morin (2005, p. 51) apresenta a complexidade do que é Ser humano, primordial à educação voltada para a condição humana, mostrando como a animalidade e a humanidade constituem, juntas, nossa condição humana (MORIN, 2005). Assim, em sua inteireza, o Ser humano desenvolverá melhor a sua própria

humanidade, como tão bem ressalta Maria Cândida Moraes (2008) em seus escritos, a partir dos ambientes educacionais, aprendendo a ser solidário, amoroso, ter compaixão, realizando, desta forma, a finalidade maior de sua existência. Como seres humanos, conscientes de nossa incompletude, de nossa inconclusão, um saber fundante de nossa prática educativa e de nossa formação docente, como sublinha Paulo Freire (2000), faz com que nos reconheçamos como seres eternamente educáveis. Como educadores em saúde da ANESP/RN devemos ter a visão de um mundo cada vez melhor, que proporcione mudanças sociais e comportamentais, especialmente no cuidado com a saúde, no qual o indivíduo se torne capaz de enfrentar os obstáculos existentes nas várias situações que a própria vida lhe apresenta. Lições de vida que crescem a cada dia, despertando o desejo de um futuro promissor para todos os seres, acreditando nas nossas escolhas em prol de uma vida saudável e trabalhando para aprimorá-las. Para tanto, alicerçamos a nossa esperança no desenvolvimento da pedagogia vivencial humanescente. Como ser vivo deste planeta, dependendo vitalmente da biosfera terrestre, percebe-se que há possibilidades ainda inexploradas, por isso, no seio da aventura cósmica nos lancemos entre bilhões de estrelas rumo à galáxia autoecopoiética dos sete saberes da educação de um universo em expansão. REFERÊNCIAS BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. Trad. Antonio de Pádua Danesi. 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. CAVALCANTI, Katia Brandão. Comunicação pessoal. Seminário de Pesquisa BACOR-PPGED/UFRN, 2008. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. 16 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. MATURANA, Humberto; DÁVILA, Ximena Paz. Educação a partir da matriz biológica da existência humana. Tradução: Leda Beck. UNESCO. Chile: Revista PRELAC, 2006.

MOARES, Maria Cândida. Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem e cidadania no século XXI. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 10 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2005.. O método 5: a humanidade da humanidade. Trad. Juremir Machado da Silva. 4 ed. Porto Alegre: Sulina, 2007.

SABERES E PRÁTICAS EDUCATIVAS HUMANESCENTES DE EDUCADORES EM SAÚDE Áurea Emília da Silva Pinto BACOR/PPGEd/UFRN INTRODUÇÃO Este estudo está inserido numa pesquisa que tem por objetivo descrever e analisar os saberes e as práticas dos educadores em saúde da ANEPS/RN. O grupo é composto pela diversidade de pessoas compromissadas com a articulação, reconhecimento e fortalecimento de experiências e saberes relacionados aos modos de pensar, sentir, fazer e cuidar da saúde da população. CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA Período: Trata-se de ações permanentes e nossa pretensão é analisá-las no espaço de tempo de 2010-2011, que é o período abrangido pelo estudo, em andamento. Local: Natal Rio Grande do Norte Público Alvo: Educadores em Saúde Figura Saber: Os sete saberes necessários à educação ESTRATÉGIAS UTILIZADAS A abordagem utilizada é de natureza etnofenomenológica que possibilita ampla compreensão do processo formativo transdisciplinar, isto é, uma abordagem de pesquisa a partir de uma concepção e compreensão do ser humano, que em termos fenomenológicos descobre a intersubjetividade que nos ajudará a revelar o significado cotidiano, no qual os educadores em saúde da ANEPS/RN agem para encontrar o significado das suas ações, para incorporar a reflexividade na análise da ação. É uma perspectiva de análise que concilia a valorização da subjetividade, tão presente nas diversas tradições culturais das práticas populares de saúde. Figura Objetivo geral: Descrever e analisar os saberes e as práticas dos educadores em saúde da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde, ANEPS/RN. Objetivos específicos: Identificar nas práticas de educadores em saúde princípios de uma educação humanescente; Investigar como os educadores em saúde constroem os saberes das práticas educativas. Figura CONTEÚDOS CURRICULARES A pesquisa orienta-se principalmente em estudos de autores dos campos da psicologia, educação em saúde, educação popular e da corporeidade, embora possamos percorrer transdisciplinarmente por outras áreas do conhecimento. Do ponto de vista de minha experiência com práticas educativas, reforçaria a relevância do que a Cavalcanti (2006) denomina de Educação Humanescente. Uma educação voltada para a formação integral do Ser, para o desenvolvimento de suas inteligências, pensamentos, consciência e de seu espírito. Possibilita o fluir de novos saberes, os quais emergem do interior do Ser, através da própria essência humana. Apoiada na Teoria Autopoética de Maturana e Varela, que vem sendo estudada na Base de Pesquisa Corporeidade e Educação há alguns anos, corporalizamos o fenômeno ludopoiético capaz de fazer emergir a alegria de viver a vida com sentido humanescente. Um processo permanente, contínuo, autônomo, produtor de si. Para Moraes (2008 p. 94) a autopoiese indica que os sistemas vivos se autoproduzem, ou seja, conseguem transformar energia e matéria neles mesmos, indicando que o produto de seu metabolismo é a sua própria organização. AVALIAÇÃO Como educadores em saúde da ANESP/RN devemos ter a visão de um mundo cada vez melhor, que proporcione mudanças sociais e comportamentais, especialmente no cuidado com a saúde, no qual o indivíduo se torne capaz de enfrentar os obstáculos existentes nas várias situações que a própria vida lhe apresenta. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS SETE SABERES Busca-se articular os Sete Saberes conjugando com estratégias do saber fazer, ser e conviver, embasados numa perspectiva de educação integral em que se valoriza o Ser humano e seu potencial. Para tanto, proporcionamos vários momentos de estudos, debates e reflexividade para que os educadores em saúde construam seu próprio conhecimento, focalizando as dimensões epistemológica, medotodógica, ontológica que fundamentam a proposta de formação ludopoiética. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. Trad. Antonio de Pádua Danesi. 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. CAVALCANTI, Katia Brandão. Comunicação pessoal. Seminário de Pesquisa BACOR-PPGED/UFRN, 2008. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. 16 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. MATURANA, Humberto; DÁVILA, Ximena Paz. Educação a partir da matriz biológica da existência humana. Tradução: Leda Beck. UNESCO. Chile: Revista PRELAC, 2006. MOARES, Maria Cândida. Pensamento eco-sistêmico: