O CURSO DE PEDAGOGIA NAS MODALIDADES PRESENCIAL E A DISTANCIA NO BRASIL - UM ESTUDO COMPARATIVO



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Transcrição:

1 O CURSO DE PEDAGOGIA NAS MODALIDADES PRESENCIAL E A DISTANCIA NO BRASIL - UM ESTUDO COMPARATIVO Curitiba-PR-Maio-2015 Carmen Julia Lannes Bianchi-Universidad Católica de Santa Fe cjbianchi@gmail.com Classe- Investigação Científica ( IC) : Pesquisa Setor Educacional-Ensino Superior Sistemas e Instituições de EAD Relatório de Estudo Concluído Resumo Este artigo é resultante de investigação procedida em tese de doutoramento com estudo comparativo entre as modalidades de oferta presencial e a distância do curso de Pedagogia, de uma Instituição de Ensino Superior de grande porte, situada na cidade de Curitiba, no ano de 2010. Considerou ponto de vista dos alunos concluintes, da professora tutora e das coordenadoras do curso das duas modalidades citadas.foram utilizados dois instrumentos de investigação: questionário estruturado semiaberto e questionário de Inquérito, além deinformes bibliográficos e documentais que retratam a trajetória do cursode Pedagogia no Brasil. O estudo permitiu observar pontos convergentes e divergentes entre as duas modalidades de oferta presencial e EaD, revelando a realidade decorrente de aproximações e/ou divergências nessa oferta, com o objetivo de analisar como decorrem os aspectos relacionados ao atendimento aos alunos e circunstâncias que possamcontribuir coma formação desses profissionais que atuarão na educação brasileira. Palavras-Chave: Pedagogia. Modalidades. Comparativo. Brasil

2 Introdução Diante de uma sociedade cada vez mais complexa e multicultural em que se exigem constantes superações de tempo e espaço que promovam melhores condições de existência, nos deparamos com um grande desafio, que consiste na superação do modelo científico próprio do século XX, representado por paradigma conservador dominante, fragmentado e hierarquizado, tendo em vista uma nova perspectiva, em que se busca a interdisciplinaridade, a totalidade, constituída de uma infinidade de informações que a todo o momento acrescentam novas maneiras de pensar e existir. Necessita-se neste momento de uma educação que conviva dialeticamente com essas múltiplas contradições existentes, apontando caminhos e soluções. Esta investigação foca a educação institucionalizada no Brasil, especificamente no tocante ao curso de graduação em Pedagogia que se ocupa da formação de pedagogos e professores que atuam no Ensino Básico, responsáveis pelo ensino e aprendizagem de milhões de crianças e adolescentes em todo o país. Visa à comparação entre as duas modalidades, presencial e a distância tomando como referência o ponto de vista de alunos concluintes, coordenadores das duas modalidades e professor tutor-presencial de modalidade a distância, analisando aspectos convergentes e divergentes entre as mesmas, percebendo de que modo podem contribuir com uma formação adequada e de qualidade. Pedagogia no Brasil O curso de Pedagogia no Brasil criado pelo Decreto-lei Nº. 1.190, de 04 de abril de 1939 do Brasil, considerado, no momento de seu surgimento, conforme Saviani (2009), referência para as demais escolas de nível superior do país, regulamentava os Cursos de Licenciatura e Pedagogia com um esquema conhecido como 3+1, em que três anos eram dedicados a conteúdos cognoscitivos e um ano à formação. Desde sua criação, entretanto, já apresentava controvérsias. Com o advento da Lei nº 4.024/1961 fixou-se um currículo mínimo para o bacharelado em Pedagogia, composto por sete matérias indicadas pelo

3 Conselho Federal de Educação (CFE) e mais as escolhidas pela Instituição de Ensino. De acordo com o Parecer 251/62, de autoria do conselheiro Valmir Chagas aprovado pelo Conselho Federal de Educação em 1962 se continuou mantendo o sistema de bacharelado e licenciatura em quatro anos, sendo abolido o esquema 3 + 1, colaborando com uma concomitância entre conteúdo e método. A partir de 1964, com o golpe militar, ocorreram alterações na questão curricular exigindo que a administração pública e privada se submetesse ao projeto de desenvolvimento nacional, proposto pela ditadura militar, cujas determinações visavam à formação do técnico, do especialista em educação. A raiz da Reforma Universitária instituída pela Lei Nº 5540, de 1968, sob este princípio, possibilitava a graduação em Pedagogia com habilitações em: Supervisão, Orientação, Administração e Inspeção Educacional, entre outras especializações. Conforme Brzezinski (2006) a formação de professores e especialistas de acordo com o modelo tecnicista proposto no período, fragmentava a prática educativa efetivando o predomínio da técnica sobre o conteúdo, ou seja, o conteúdo deixou de ser prioritário em relação à técnica, desvirtuando o processo de aprendizagem. Resultante de tais circunstâncias, desde 1980, educadores brasileiros iniciaram o movimento de resistência às determinações do Conselho Federal de Educação (CFE), engajando-se cada vez mais em discussões, debates e pesquisas, em defesa de uma educação reflexiva e crítica. A Lei 9394/96 e as Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia/ DCNS (2006) Atualmente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96 regulamenta o ensino brasileiro em todos os níveis, sendo o curso de Pedagogia regido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs,2006) o qual exige do graduado em Pedagogia uma consistente formação teórica, com diversidade de conhecimentos e prática que devem se articular ao longo do curso, conforme se pode constatar no teor do Art. 2º.que segue:

4 Art. 2º. As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. Como se percebe o campo de atuação do licenciado em pedagogia atualmente é muito amplo, exigindo do pedagogo uma grande versatilidade de conhecimentos e habilidades. Ao mesmo tempo em que as DCNs (2006) apontam caminhos deixam o direcionamento dos currículos muito diversificados podendo comprometer a identidade do curso. Autores como Kuenzer (1999); Moran (2007), entre outros, comentam que a educação brasileira ainda apresenta muitas lacunas não se percebendo transformações significativas que demonstrem soluções quanto a problemas educacionais e à formação de professores. Em meio à grande complexidade e diversidade e, em consonância com os avanços nas tecnologias de informação e comunicação, surge com maior evidência à educação na modalidade a distância- EaD, que vem ao encontro das novas perspectivas de formação, visando também atingir um maior número de pessoas e possibilitar o acesso ao nível universitário. Educação a Distância no Brasil Iniciativas de educação a distância no Brasil existem desde o início do século XX, porém, somente no final da década de 1990, com a Lei de Diretrizese Bases daeducação Nacional- LDBEN 9394/96 inicia-se a implantação da modalidade EaD em larga escala, possibilitando sua oferta em todos os níveis educacionais. De acordo com Litto (2008) a educação a distância vem crescendo no Brasil de modo exponencial e complexo e, por um lado, as instituições públicas e privadas adquirem maior segurança de investimentos na modalidade, devido à legislação vigente; por outro, há preconceitos acerca dessa modalidade já que problemas referentes às metodologias e também à precariedade e falta de seriedade em sua oferta vem ocorrendo. Apesar do rigor em suas determinações legais e de avaliação, ainda há fornecimento de cursos e diplomas de baixa qualidade, sendo tais problemas existentes não só em nível nacional, mas também internacional.

5 Na modalidade EaD a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem se faz com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação inovadoras, envolvendoestudantese professores no desenvolvimento de atividades educativas em lugares e tempos diversos. Esta definição está presente no Decreto 5622 de 19.12.2005, que revisou o Decreto 2494/98 que regulamenta o Art.80 da LDBEN 9394/96, o qual trata da questão dessa oferta em nível nacional. Art. 80: O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, educação continuada. Esta investigação estabelece um estudo comparativo entre as modalidades de oferta do curso de Pedagogia presencial e a distância, visando compreender como os envolvidos perceberam seus cursos, os processos de ensino-aprendizagem e as decorrentes qualificações recebidas para atuar no mercado de trabalho. Metodologia Os instrumentos utilizados foram questionário estruturado semiaberto, envolvendo questões direcionadas a 64 (sessenta e quatro) alunos concluintes das duas modalidades de oferta, no ano de 2010, e a técnica de investigação Inquérito, dirigidas a poucos alunos egressos em 2012 e às coordenadoras dos respectivos cursosinvestigados. Tabela 1. demonstrativa de questionário semiaberto aplicado a 64 alunos concluintes do curso de Pedagogia nas modalidades presencial e a distância, de uma Instituição deensino Superior de grande porte situada em Curitiba/ 2010. Curso de Pedagogia/2010 Investigados Presencial (%) A Distância Grupo de Idade Entre 20 e 25 anos 32 5 Entre 26 e 35 anos 44 26 Entre 36 e 45 anos 10 42 Entre 46 e 55 anos 14 27 Ingressantes Curso Superior 10 29 Provenientes de Ensino Médio 90 71 Financiados por bolsa /Pro Uni C/Financiamento 13 29 S/Financiamento 87 71

6 Motivo da escolha Especificidade da 71 5 do Curso formação Oportunidade de 6 5 trabalho Já trabalhar na área 9 40 Facilidade de acesso 0 40 Matriz Curricular 9 0 Receio de cursar modalidade EaD 5 0 Fator tempo 0 10 Qualidade do curso Excelente 16 10 Muito Bom 53 50 Bom 19 15 Satisfatório 12 25 Ruim 0 5 Participação dos Estudantes Metodologia Utilizada Avaliação Estágio Supervisionado Conteúdos Trabalhados Participação em todas as aulas/ou atividades Participativos em algumas aulas/ou atividades Não participativo em algumas aulas ou atividades 37 10 42 52 19 28 Não participativo em 0 5 geral Não é possível avaliar 2 5 Métodos 5 0 tradicionais Diversificada e 46 57 inovadora Pouco diversificada 14 19 De acordo com 35 24 interesse dos alunos Desinteressante 0 0 Contínua e 37 55 diagnóstica Realizada 16 5 esporadicamente Satisfatória 21 35 Contínua e formativa 26 5 Contextualizado com a realidade 57 38 profissional Não contextualizado com a formação profissional 5 14 Horas de prática 24 38 suficientes Horas de prática insuficientes 14 10 Conforme 41 43 expectativas Não coincide com 8 14 expectativas Esclarecedor para a 46 43 formação profissional Não foi esclarecedor 5 0

7 Tabela.1.Fonte: Pesquisadora/2010 Através dos dados apresentados na Tabela. 1, pode-se constatar pontos divergentes e convergentes entre as duas modalidades. Pontos divergentes Idade dos estudantes - Na modalidade presencial, constatou-se predominância de concluintes mais jovens, entre 26 e 35 anos, representando 44% dos estudantes, enquanto na modalidade EaD, 42% concentrou-se entre 36 e 45 anos,havendo portanto concluintes mais velhos,na modalidade EaD. Provenientes de curso superior Dentre os ingressantes que já possuíam curso superior,10 % encontravam-se na modalidade presenciale 19 % na modalidade EaD. Financiamento da Bolsa Prouni - A maior porcentagem dos beneficiados pela Bolsa Prouni,encontrava-se na modalidade EaD, com 29%. Sendo 13% dos beneficiados pertencentes aos concluintes da modalidade presencial. Escolha do curso - Os estudantes escolheram a modalidade presencial motivados principalmente pela especificidade da profissão, com 71%.O que denotou um interesse maior pela profissão de pedagogo, enquanto na modalidade a distância a escolha foi ocasionada por outros fatores como o fato de estar trabalhando na área da educação 40% e pela facilidade de acesso 40%. Avaliação Enquanto 55% de concluintes da modalidade Ead, consideraram a avaliação contínua e diagnóstica,37% da modalidade presencial a consideraram do mesmo modo.foi percebida também como satisfatória por 21% da modalidade presencial e 35% da modalidade EaD. Prática de Estágio - As respostas de 24% dos concluintes da modalidade presencial consideraram as horas deprática de estágio suficientes, para 38% dos respondentes, modalidade Ead quefizeram a mesma opção. A opinião de57%dos respondentes da modalidade presencial considerou a prática de estágiocontextualizada com a realidade, para 38% da modalidade

8 EaD, que apresentaram a mesma opinião, denotando assim que uma quantidade maior de estudantes da modalidade presencial percebeu a prática de estágio contextualizada com a realidade. Pontos Convergentes Participação dos Estudantes- A participação em algumas aulas ou atividades tanto na modalidade presencial quanto a distância foram predominantes, em relação as outras opções, com 42% de respondentes na modalidade presencial e 52% na modalidade a distância. Conteúdos Trabalhados -Foram avaliados pelos concluintes de ambas as modalidades como sendo de acordo com as expectativas, para 41% dos concluintes da modalidade presencial e 43% da modalidade EaD.Foi percebido como esclarecedor para a vida profissional por 46% dos investigados da modalidade presencial e 43% da modalidade a distância Metodologia Utilizada Foi considerada por 46% dos respondentes da modalidade presencial e57% da modalidade Ead, como diversificada e inovadora. Qualidade do Curso de pedagogia O curso foi conceituado como Muito Bom por 53% dos respondentes da modalidade presencial e 50% da modalidade a distância. Através da utilização do instrumento de investigação, Inquérito, o qual envolveu respostas mais personalizadas foi possível compilar opiniões das coordenadoras de ambas as modalidades, bem como de alguns alunos egressos no ano de 2012, que são apresentadas de maneira sucinta, a seguir. De acordo com questionário de inquérito aplicado às coordenadoras de ambas as modalidades se pode constatar que ambas consideraram que os cursos foram contextualizados com seus projetos políticos pedagógicos e destacaram que alunos de ambas as modalidades apresentam dificuldades teóricas. A coordenadora da modalidade presencial mencionou a necessidade de cada vez mais virtualização do ensino presencial, em que se necessita

9 utilização de vídeos e múltiplas ferramentas de comunicações virtuais e àdistância. A professora tutora presencial da modalidade EaD considera a atuação do tutor presencial de grande importância, no auxílio de resolução de problemas dos alunos em ambientes virtuais e, mesmo nos momentos presenciais de atendimento em tutoria. Considerações Finais Com a realização deste estudo comparativo se pode concluir que as duas modalidades apresentam possibilidades e limites, aspectos convergentes e divergentes confirmando a premissa de Peters(2006) de que o aluno a distância faz parte de uma clientela especial cujas características, em sua maioria, apresentam mais idade do que oaluno da modalidade presencial, já possuem experiência anterior, não puderamcursar uma faculdade mais jovem e trabalham jornada integral, sendo a modalidade EaD a mais viável às suas condições. Com base em Ristof (2008) considera-se que a educação a distância caminha para um aperfeiçoamento cada vez maior, apresentando qualidade formativa próxima da presencial, conforme foi possível observar na realização desta pesquisa, envolvendo uma Instituição de Ensino Superior de grande porte, situada em Curitiba no ano de 2010. Conforme Moram (2007) as atividades que se concretizam na modalidade presencial podem também ser efetivadas na modalidade à distância. As tecnologias apontam para convergência, integração e multifuncionalidade, ondeatualmente a oferta no presencial se virtualiza e a distância se presencializa. Pode-se considerar que o caráter bimodal utilizado pela modalidade de oferta de EaD na IES objeto da investigação, vincula-se também a 33% de atividades presenciais.as opiniões dos alunos inqueridos, coordenadoras de ambas as modalidades e professora tutora presencial constituíram o foco de interesse desta pesquisa, revelando a importância do modelo a ser seguido no ensino a distância no Brasil.

10 Esta investigação apresenta limitações por ser um microcosmode uma totalidade ampla e complexa que é a educação brasileira. Ao mesmo tempo se insere como parte dessa totalidade, colocando-se entre as muitas investigações que relatam aspectos do curso de Pedagogia no Brasil, visando colaborar com outras pesquisas que tenham em vista a melhoria da qualidade do ensino no Brasil. Referências BRASIL-MEC - Diretrizes do currículo nacional para o curso de pedagogia oficial documento: Conselho Nacional de Educação - Conselho pleno - CNE/CP Nº1 de 15 de Maio de 2006. BRZEZINSKI, I. Pedagogia, Pedagogos e Formação do Professorado. Busca e Movimento. Campinas, SP: Papirus, 2006. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DECRETO 5622 19 de dezembro 2005 Disponível em; http://seed/arquivos/pdf/dez_5622.pdf LEI 9.394 DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- Disponível em:www.planalto.gov.br./ccivil_03/leis/1934.htm Acesso junho de 2009 LITTO, F. M. A Inspiração e os adversários. In Anuário Brasileiro Estatístico de Educação a Distância. Anuário Brasileiro Estatístico deeducação a Distância. Coordenação: Fabio Sanchez. São Paulo: Instituto Monitor, 2008. MORAN, J. M. A educação que desejamos. Novos desafios e como chegar lá. Campinas, SP: Papirus, 2007. KUENZER, A. Z. A Constituição da Identidade do Professor Sobrante. Dezembro 99/ Revista Educação. PETERS, O. Ensino de educação a distância. São Leopoldo, RS: Unisinos, 2006 RISTOFF in SALES, DENIA. Ead tem expectativa de crescimento para os próximos anos. Revista TIC Brasil. Data de publicação 25/01/2010 - ABRAED 2008. Disponível:http//: www2.abed.org.br/visualizadocumento.asp?documento_id = 555 Acesso outubro de 2011 SAVIANI, D. Professorado: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?pid=s1413-24782009000100012...-similares. Acesso em 02/07/09