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Procedimento Administrativo n. º 1.26.000.002447/2008-17 DESPACHO O presente procedimento administrativo foi instaurado nesta Procuradoria da República com o objetivo de apurar notícia de suposta irregularidade no âmbito da Marinha do Brasil, consistente em exigir, através do edital de Aviso de Convocação nº 01/2008, que os candidatos ao cadastro de profissionais nas áreas industrial e de saúde para a prestação do Serviço Militar Voluntário (SMV) como Praças de 2ª classe da reserva da Marinha (RM2) 1, realizem o exame de teste anti-hiv, pelo método Elisa. Em 17 de outubro de 2008 foi expedido o Ofício nº 190/2008 4º OTC/PRPE/MPF, através do qual este Parquet solicitou ao 3º Distrito Naval em Natal (RN) cópia dos editais relacionados ao concurso, bem como informações sobre o estágio do processo de seleção (fl. 19). Em atendimento à solicitação ministerial, o Comando do 3º Distrito Naval encaminhou cópia do Aviso de Convocação nº 01/2008 (fls. 22/42) e informou que o processo seletivo encerrou-se em 13 de outubro de 2008, com a incorporação dos designados para o Serviço Ativo da Marinha, 1 Os integrantes da Reserva de 2ª Classe da Marinha são militares temporários, incorporados para prestar Serviço Militar, em caráter transitório e regional (Item 1.1 do Aviso de Convocação nº 01/2008).

na Escola de Formação de Reservistas Navais da Base Naval de Natal (fl. 21). Analisando o Aviso de Convocação nº01/2008, observa-se que foi atribuído caráter eliminatório à inspeção de saúde, realizada pela Junta Regional de Saúde do HNRe para os candidatos de Pernambuco e Alagoas, no período compreendido entre 08 a 26 de setembro de 2008 (item 7.1). Para que fossem considerados aptos à convocação para o exercício das atividades técnicos-militares necessárias à Marinha, os(as) voluntários(as) chamados deveriam atender aos requisitos de saúde exigidos no Anexo A do referido Aviso (item 7.2). Dentre os padrões psicofísicos admissionais, presentes no Anexo A, há a previsão do teste anti-hiv pelo método ELISA. Em face disso e considerando que o Comando do 3º Distrito Naval não fez qualquer menção sobre o arrazoamento da exigência do exame, nem os possíveis efeitos, in abstrato ou in concreto, foi expedido novo ofício 2, através do qual este órgão ministerial solicitou informações: (a) sobre a permanência da exigência no Edital de Aviso de Convocação e nos editais de outros processos seletivos realizados no âmbito do Comando do 3º Distrito Naval; (b) sobre os fundamentos técnicos da Marinha do Brasil para exigir dos candidatos a realização do teste anti-hiv; (c) se o resultado positivo no exame ensejará a automática exclusão do candidato e sobre a existência de possíveis candidatos que tenham sido eliminados com base neste critério nos 2 Of ício nº 0730/2009/PRPE/CGF, F L S. 47/48.

processos de seleção de qualquer espécie realizados Comando do 3º Distrito Naval nos anos de 2008 e 2009; (d) a natureza das atividades que serão desempenhadas pelos Praças da Marinha e se estas possibilitariam o contágio aos demais companheiros de farda ou se seria possível a permanência do militar no serviço ativo em outras atividades, sem prejuízo à sua saúde e a dos colegas. Em resposta, a autoridade militar, através do Ofício nº 10-137/Com3ºDN- MB, às fls. 50/54, informou que: [ ] As exigências do Aviso de Convocação nº 01/2008, quanto a saúde, são as mesmas em todos os Avisos de Convocação ou Editais de Concursos na Marinha do Brasil. No tocante a existência de candidatos eliminados nos processos de seleção compreendidos entre os anos de 2008 e 2009, realizados por este Comando, cumpre participar que três candidatos foram eliminados com base nos testes Anti-HIV e W estern-blot. Quanto aos demais questionamentos, passamos a argumentar. [ ] Para cumprir com eficácia e eficiência sua missão constitucional, é necessário que as Forças Armadas tenham recursos materiais e humanos altamente qualificados, treinados, motivados, bem equipados e, principalmente, de boa saúde, ou seja, militares hígidos em sua plenitude, desde o seu processo de admissibilidade, e apto ao cumprimento das funções que tiverem que desempenhar. Desnecessário dizer que, durante toda a sua carreira, o militar convive com riscos. Nos treinamentos, na vida diária da caserna ou em hipóteses

de conflito, a possibilidade iminente de um dano físico ou da morte é um fato permanente na profissão das armas. [ ] São horas e horas de treinamento físico etc. Muitas vezes em condições adversas e bastante extenuantes onde, diuturnamente, tem contato físico com seus pares. Ou seja, se o militar não dispuser de uma boa condição de saúde, além de não conseguir acompanhar adequadamente tais atividades próprias da vida militar, poderá ter a sua saúde e dos seus companheiros, comprometida de alguma forma, com graves e importantes repercussões para o seu organismo e qualidade de vida, presente e futura. [ ] Para se detectarem possíveis anormalidades na saúde, o militar é submetido, durante toda a sua vida militar, do momento em que ingressa até ser transferido para a reserva, a periódicos exames médicos e testes de aptidão física, que condicionam a sua permanência no Serviço Ativo. A condição militar, portanto, submete o profissional a exigências muito peculiares, que não são impostas, na sua totalidade, a nenhuma atividade civil. Dentre elas, vale lembrar: risco de vida permanente; sujeição a situações fáticas geradoras de estresse físico e emocional; disponibilidade permanente para o cumprimento das missões; vigor físico e vínculo com a profissão, mesmo na inatividade (reserva), em face da possibilidade de mobilização em situações específicas e legalmente previstas em nosso ordenamento jurídico. [ ] Cabe ressaltar, ainda, que todo militar é um doador universal de sangue em potencial, haja vista que nossos exercícios de adestramento são realizados o mais próximo possível das ações reais de uma operação de guerra naval. Nesses exercícios, ou mesmo nas situações reais, à vista de possíveis acidentes, pode ser necessário realizar doações de sangue, em caráter de urgência, ações essas que exigem o imprescindível e antecipado conhecimento das patologias que

afetam cada doador, em analogia aos procedimentos adotados pelos Bancos de Sangue. A realização do exame de sangue (sorologia específica para o HIV), como exame pré-admissional à incorporação na Marinha, ou como exame de rotina na avaliação periódica de saúde do militar não fere a qualquer princípio constitucional por ser uma exigência de evidente razoabilidade, bem como, por permitir um rastreamento (trata-se de uma doença de notificação compulsória às autoridades sanitárias) e, também, um acompanhamento adequado de eventuais portadores do vírus, contribuindo para se evitar a disseminação da doença. Como exposto acima, a vida militar tem suas peculiaridades que justificam a diferenciação de tratamento. Além de tais argumentações fáticas, o 3º Comando Naval, a fim de justificar a legalidade da exigência, explicou que: [ ] a vigente Constituição da República Federativa do Brasil, com muita propriedade, permitiu o estabelecimento de exigências diferenciadas para as Forças Armadas, considerando as peculiaridades de suas atividades. Refere-se ao contido no art. 142, inciso X, que assim dispõe: a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra. A par dessa diretriz constitucional, o legislador ordinário estabeleceu, através da Lei nº 6.880/80, notadamente no art. 10, a seguinte regra: O ingresso nas Forças Armadas é

facultado, mediante incorporação, matrícula ou nomeação, a todos os brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei e nos regulamentos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. No âmbito da Marinha do Brasil, os requisitos de saúde exigidos para ingresso, tanto para os Quadros Permanentes, como para os militares temporários, estão previstos em normas internas. Aos primeiros, restritos aos do sexo masculino, as Inspeções de Saúde são regidas pelas Instruções Gerais para Inspeção de Saúde de Conscritos nas Forças Armadas (IGISCFA). Tais instruções estão regulamentadas no Decreto nº 60.822, de 07 de junho de 1967, alterado pelos Decretos nº 63.078, de 05 de agosto de 1968, e Decreto nº 703, de 22 de dezembro de 1992. O Decreto nº 60.822/1967 estabelece, no subitem 13.4.16.4 das IGISCFA, que, na seleção complementar, sempre que houver possibilidade, seja à custa de recursos próprios ou em decorrência de convênios de interesse mútuo com serviços de hemoterapia, devem ser realizados exames hematológicos completos, tais como: hemograma, testes sorológicos para Lues, doenças de Chagas, hepatite a vírus, SIDA/AIDS etc. Não obstante as justificativas técnicas e legais apontadas, a realização compulsória de testes para detecção de patologias em relação aos candidatos ao ingresso na Marinha tem suporte na necessidade de proteção ao patrimônio público, posto que seria um contra-senso permitir o ingresso de candidatos portadores, por exemplo, de cardiopatia, diabetes mellitus, do vírus HIV e, depois, ter que os reformar, causando ônus patrimonial ao tesouro nacional. Acrescente-se, de passagem, que mesmo as patologias temporárias também são impeditivas do ingresso na Marinha já que, naquele momento, o candidato não apresenta as condições de saúde necessárias para a atividade militar. [ ]

O prejuízo maior teria a Administração no caso do militar temporário, o qual possui compromisso específico, qual seja, a de se preparar para todos os encargos relacionados com a Defesa Nacional, em caso de mobilização (art. 1º da Lei nº 4.375/64). Como atingir esse objetivo se o candidato é detentor do vírus HIV, que demanda restrições de atividades e cuidados de saúde. A propósito, conforme orienta as IGISCFA (Decreto nº 60.822/1967), item 1.1, o critério que deve nortear a inspeção de saúde em tela é, pois, o de que só deverá ser julgado incapaz definitivo o indivíduo que, pelas suas condições irrecuperáveis, não possa servir incorporado numa situação de Mobilização. [ ] De fato, não restam dúvidas de que as atividades desempenhadas por militares reclamam qualificação física e mental. Por outro lado, não há como se contrapor à gravidade da síndrome da imunodeficiência adquirida, que enseja cuidados contínuos e rigorosos para conter/adiar o avanço da infecção, implicando, assim, em limitações capazes de afetar o desempenho das atividades castrenses. Além disso, é de se ter presente que, por expressa previsão legal, a síndrome da imunodeficiência adquirida, dentre outras patologias, é causa que justifica a reforma militar (art. 1º, c, da lei nº 7.670/88). Nesse contexto, não vislumbro qualquer irregularidade na exigência de realização do exame anti-hiv, contida no Aviso de Convocação nº 01/2008, tendo em vista o cadastro de profissionais nas áreas industrial e de saúde para a prestação do Serviço Militar Voluntário (SMV) como Praças de 2ª classe da reserva da Marinha (RM2). Ao revés, julgo-a medida

razoável, que se presta a garantir o efetivo desempenho das atividades incumbidas à Marinha do Brasil. Ante o exposto, é de se concluir que a situação descrita nos autos não é apta a justificar a intervenção do Ministério Público Federal, razão pela qual decido pelo arquivamento do presente procedimento administrativo e determino à DTCC que: 1. informe ao noticiante sobre a presente decisão, participando-lhe que terá o prazo de 10 dias para, querendo, apresentar recurso dirigido ao 1º OTC, o qual, em caso de não retratação, será encaminhado à competente Câmara de Coordenação e Revisão para apreciação; 2. após o prazo para recurso, remetam os autos à 1ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal para fins de homologação. Recife (PE), 12 de agosto de 2009. ANASTÁCIO NÓBREGA TAHIM JÚNIOR Procurador da República SFR/despacho de arquivamento