OS SABERES DOS PROFESSORES



Documentos relacionados
FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS PESSOAIS, PROFISSIONAIS E INSTITUCIONAIS

FORMAÇÃO PLENA PARA OS PROFESSORES

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

difusão de idéias AS ESCOLAS TÉCNICAS SE SALVARAM

SOCIEDADE E TEORIA DA AÇÃO SOCIAL

Rousseau e educação: fundamentos educacionais infantil.

1.3. Planejamento: concepções

TIPOS DE BRINCADEIRAS E COMO AJUDAR A CRIANÇA BRINCAR

Elaboração de Projetos

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

OS SABERES NECESSÁRIOS À PRÁTICA DO PROFESSOR 1. Entendemos que o professor é um profissional que detém saberes de variadas

FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NO ENSINO SUPERIOR

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

Entrevista com Heloísa Lück

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

GRITO PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO

CURSOS PRECISAM PREPARAR PARA A DOCÊNCIA

COMPETÊNCIAS E SABERES EM ENFERMAGEM

A INFLUÊNCIA DO SALÁRIO NA ESCOLHA DA PROFISSÃO Professor Romulo Bolivar.

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

A FUNÇÃO DO DOGMA NA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA (1963) THOMAS KUHN ( )

Jogos. Redes Sociais e Econômicas. Prof. André Vignatti

A LIBERDADE COMO POSSÍVEL CAMINHO PARA A FELICIDADE

Lev Semenovich Vygotsky, nasce em 17 de novembro de 1896, na cidade de Orsha, em Bielarus. Morre em 11 de junho de 1934.

AVALIAÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO-CURRICULAR, ORGANIZAÇÃO ESCOLAR E DOS PLANOS DE ENSINO 1

Comunidades de prática

Faculdade de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Educação RESUMO EXPANDIDO DO PROJETO DE PESQUISA

SABERES E PRÁTICAS DOCENTES: REPENSANDO A FORMAÇÃO CONTINUADA

PESSOAS ORGANIZACIONAL

Projeto Pedagógico: trajetórias coletivas que dão sentido e identidade à escola.

difusão de idéias EDUCAÇÃO INFANTIL SEGMENTO QUE DEVE SER VALORIZADO

Pesquisa. Há 40 anos atrás nos encontrávamos discutindo mecanismos e. A mulher no setor privado de ensino em Caxias do Sul.

Projetos como alternativa de ensino e aprendizagem 1

Como motivar Millennials. Gerencie seus benefícios! Faça um teste em convenia.com.br/free

Katia Luciana Sales Ribeiro Keila de Souza Almeida José Nailton Silveira de Pinho. Resenha: Marx (Um Toque de Clássicos)

O Indivíduo em Sociedade

OS SABERES PROFISSIONAIS DOS PROFESSORES NA PERSPECTIVA DE TARDIF E GAUHIER: CONRIBUIÇÕES PARA O CAMPO DE PESQUISA SOBRE OS SABERES DOCENTES NO BRASIL

John Locke ( ) Colégio Anglo de Sete Lagoas - Professor: Ronaldo - (31)

O que é Administração

Dra. Margareth Diniz Coordenadora PPGE/UFOP

PROGRAMA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA. Responsabilidade Social não é apenas adotar um sorriso.

DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA, O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA ATUAÇÃO EM EAD NOS CURSOS DE PEDAGOGIA DE SANTA CATARINA

Consumidor e produtor devem estar

PROJETO DE PESQUISA: INDICAÇÕES PARA SUA ELABORAÇÃO

Amanda Oliveira. E-book prático AJUSTE SEU FOCO. Viabilize seus projetos de vida.

ABCEducatio entrevista Sílvio Bock


PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Por uma pedagogia da juventude

Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos. "Uma arma verdadeiramente competitiva"

História da Educação. Fernando Santiago dos Santos (13)

Estratégias adotadas pelas empresas para motivar seus funcionários e suas conseqüências no ambiente produtivo

Você conhece a Medicina de Família e Comunidade?

Direito do Trabalho no Tempo

AS LEIS DE NEWTON PROFESSOR ANDERSON VIEIRA


AS REPRESENTAÇÕES DE PROFESSORES SOBRE A DOCENCIA COMO PROFISSÃO: UMA QUESTÃO A SE PENSAR NOS PROJETOS FORMATIVOS.

WALDILÉIA DO SOCORRO CARDOSO PEREIRA

O Determinismo na Educação hoje Lino de Macedo

#10 PRODUZIR CONTEÚDO SUPER DICAS ATRATIVO DE PARA COMEÇAR A

OS PROCESSOS DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL EM UM DESENHO CONTEMPORÂNEO

I FÓRUM DE AVALIAÇÃO DOS CURSOS DO COMFOR 14 a 16 de abril de 2015 Cuiabá-MT

ASPECTOS HISTÓRICOS: QUANTO A FORMAÇÃOO, FUNÇÃO E DIFULCULDADES DO ADMINISTRADOR.

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

18/06/2009. Quando cuidar do meio-ambiente é um bom negócio. Blog:

AÇÃO PEDAGÓGICA DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA, NOS PROJETOS ESPORTIVOS E NOS JOGOS ESCOLARES

BRITO, Jéssika Pereira Universidade Estadual da Paraíba

MARINHA DO BRASIL CAPITANIA DOS PORTOS DO RN O NOSSO LIXO, O QUE FAZER?

Processos Gestão do Projeto Político-Pedagógico

8. O OBJETO DE ESTUDO DA DIDÁTICA: O PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM

O QUE OS ALUNOS DIZEM SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: VOZES E VISÕES

Formação e Gestão em Processos Educativos. Josiane da Silveira dos Santos 1 Ricardo Luiz de Bittencourt 2

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

ESPELHO DE EMENDAS DE INCLUSÃO DE META

SOCIEDADE, EDUCAÇÃO E VIDA MORAL. Monise F. Gomes; Pâmela de Almeida; Patrícia de Abreu.

A LEITURA NA VOZ DO PROFESSOR: O MOVIMENTO DOS SENTIDOS

O trabalho voluntário é uma atitude, e esta, numa visão transdisciplinar é:

Relatório da IES ENADE 2012 EXAME NACIONAL DE DESEMEPNHO DOS ESTUDANTES GOIÁS UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

Tipos de Resumo. Resumo Indicativo ou Descritivo. Resumo Informativo ou Analítico

1. Quem somos nós? A AGI Soluções nasceu em Belo Horizonte (BH), com a simples missão de entregar serviços de TI de forma rápida e com alta qualidade.

EXPLORANDO ALGUMAS IDEIAS CENTRAIS DO PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS ENSINO FUNDAMENTAL. Giovani Cammarota

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA) ROSALENA BARBOSA MOTA

Pós graduação em Ciências Sociais Aplicadas: como chegar lá e como concluí-la com êxito? Prof. Virgílio Oliveira FACC UFJF

Shusterman insere cultura pop na academia

Luciano Silva Rosa Contabilidade 03

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS DE ANÁPOLIS

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: ALUNO COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA NO ENSINO REGULAR

FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO VIÇOSA/ALAGOAS PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGCIO

Avanços na transparência

(Prof. José de Anchieta de Oliveira Bentes) 3.

LIDERANÇA, ÉTICA, RESPEITO, CONFIANÇA

Disciplina: Alfabetização

A IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO NAS EMPRESAS

ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE A ESCOLARIZAÇÃO DE FILHOS DE PROFESSORES DE ESCOLA PÚBLICA Rosimeire Reis Silva (FEUSP)

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E EDUCAÇÃO ESPECIAL: uma experiência de inclusão

A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NA ESCOLHA DA PROFISSÃO Professor Romulo Bolivar.

CONFLITO DE SER MÃE EMPREENDEDORA

Organizando Voluntariado na Escola. Aula 1 Ser Voluntário

Transcrição:

OS SABERES DOS PROFESSORES Marcos históricos e sociais: Antes mesmo de serem um objeto científico, os saberes dos professores representam um fenômeno social. Em que contexto social nos interessamos por esses saberes? Por que essa questão, que é ao mesmo tempo científica, política e profissional, emergiu e se impôs à atenção dos pesquisadores, dos políticos responsáveis pelos programas de formação dos professores e, mais amplamente, da profissão docente? Na realidade, e paradoxalmente, podemos dizer que os saberes dos professores se tornaram uma questão socialmente e cientificamente importante a partir do momento em que as sociedades e os sistemas escolares perderam suas certezas tradicionais sobre o ensino. Ora, essa perda das certezas é muito recente: a democratização escolar e a edificação dos grandes sistemas escolares de massa começa, grosso modo, por volta dos anos 1940-1960; e é só a partir desse momento que o ensino escolar, como atividade social, perde pouco a pouco sua transparência e suas certezas. Em todos os países, a nova escola de massa confronta os professores com novos públicos heterogêneos, sobre os quais as pedagogias tradicionais têm pouca ou nenhuma influência. Essas pedagogias foram elaboradas nos séculos XVII e XVIII por comunidades religiosas docentes: os jesuítas, em particular, no que se refere ao ensino médio; e os frades das escolas cristãs, no que se refere ao ensino fundamental. Por outro lado, dos anos 1960 em diante, a missão que a escola de massa confia aos professores vai se tornando mais importante e mais longa. A partir desse momento, os professores não podem mais se limitar ao ensino dos saberes rudimentares (ler, escrever e contar) e das virtudes cívicas ou religiosas. Eles devem preparar seus alunos para estudos cada vez mais longos e, em seguida, para a vida numa sociedade complexa e altamente qualificada. Em suma, a partir da metade do século XX, ensinar não é mais uma coisa simples ou evidente: as antigas crenças, rotinas e certezas, nas quais se fundava o trabalho pedagógico tradicional, vão progressivamente sendo reduzidas a pouco ou nada, por influência das novas realidades escolares. Tudo: a autoridade pedagógica, as virtudes cívicas e morais, as matérias escolares incontestáveis - que é preciso ensinar obrigatoriamente, os exercícios pedagógicos tradicionais (memorização, recitação, etc.),

tudo está doravante confrontado com novas tensões, com novas questões sociais. A atividade pedagógica torna-se obscura. Por outro lado, as antigas ideologias religiosas, morais e vocacionais (dedicação, obediência, etc.), que legitimavam o ensino, enfraquecem. O mesmo ocorre com os saberes disciplinares que serviam de base tradicional para o ensino médio. Enfim, é nesse contexto de ruptura com as tradições pedagógicas que a questão dos saberes dos professores apareceu na história recente. Com efeito, nas décadas e nos séculos precedentes, ninguém se interessava realmente por essa questão: ela simplesmente não existia, pois as pessoas julgavam saber como instruir as crianças. Em última análise, é o fato de não sabermos mais muito bem, hoje em dia, o que e como ensinar que nos leva a esse questionamento sobre a natureza do saber-ensinar. Sob esse ponto de vista, a interrogação é tão científica quanto social e política. Os saberes dos professores e a profissionalização: Os primeiros trabalhos científicos sérios sobre os saberes dos professores remontam aos anos 1940, justamente, quando a escola americana se democratiza com o impulso do ensino médio; é nesse momento também que os pesquisadores começam a se questionar sobre o professor eficiente ou o bom professor, isto é, aquele que sabe ensinar bem. Todavia, é somente com o movimento de profissionalização do ensino, que começa pelo meio dos anos 1980, que a pesquisa sobre os saberes dos professores ganha destaque e adquire rapidamente renome internacional. Ora, a profissionalização é, antes de qualquer coisa, um processo sociopolítico: trata-se de uma reação das autoridades políticas e acadêmicas diante do declínio da escola de massa americana nos anos 1970 e 1980. Essa reação, amplamente apoiada pelos universitários do campo da educação, considera que os professores americanos, assim como seus alunos, têm um baixo nível intelectual; que eles ensinam relativamente mal; e que seu engajamento ético e profissional para com o aprendizado e os alunos é pouco consistente. Eis a razão pela qual, na opinião dos reformistas, torna-se necessário renovar as bases do trabalho docente e produzir novos saberes para fundamentar o ato de ensinar. Em resumo, é preciso justamente profissionalizar o ensino porque os professores não sabem ensinar corretamente. A profissionalização visa, portanto, edificar uma nova Knowledge base para os professores. O modelo de profissionalização proposto na época é aquele usado na profissão médica. Isso

significa que a nova Knowledge base deve estar fundamentada, como na medicina, na pesquisa científica e ser, ao mesmo tempo, eficaz na prática docente. A pesquisa sobre os saberes docentes: Trinta anos mais tarde, o que sobra da profissionalização e dessa vontade política de edificar uma Knowledge base? Milhares de pesquisas foram feitas sobre a questão... Mas será que sabemos melhor, hoje em dia, o que vem a ser os saberes dos professores? Responder a essas perguntas não é muito fácil. De um lado, parece bem evidente que o campo internacional da pesquisa sobre os saberes dos professores sofre hoje uma certa estagnação científica por três razões importantes. Em primeiro lugar, trata-se de um campo muito dividido em disciplinas e teorias múltiplas, que nunca puderam ser unificadas em torno de uma visão comum do saber profissional. Essa é a razão pela qual, segundo as diversas correntes de pesquisa, os saberes dos professores podem corresponder a representações mentais, a crenças pessoais, a regras tácitas de ação, a argumentos práticos, a competências, a saberes de ação, etc. Em suma, as concepções e definições dos saberes dos professores são tão numerosas quanto as pesquisas sobre o assunto. Em segundo lugar, é muito difícil isolar a questão dos saberes dos professores das outras dimensões do trabalho docente: formação, desenvolvimento profissional, identidade, carreira, condições de trabalho, tensões e questões socioeducativas que marcam a profissão, características das instituições escolares onde trabalham os professores, conteúdos dos programas escolares, etc. Desse ponto de vista, é difícil estudar e apreender os saberes dos professores em si: eles pedem constantemente que a pesquisa se amplie rumo às outras dimensões da profissão. Enfim, é penoso, e talvez mesmo impossível, separar completamente as questões normativas das questões epistemológicas: com efeito, dizer que um professor sabe ensinar é antes de qualquer coisa um julgamento normativo baseado em certos valores sociais e educativos. Nesse sentido, os saberes dos professores não são uma soma de conhecimentos ou de competências que poderíamos descrever e aprisionar num livro ou num catálogo de competências. São saberes integrados às práticas docentes cotidianas,

as quais são amplamente sobredeterminadas por questões normativas e até mesmo éticas e políticas. Por outro lado, e apesar dessas restrições, pode-se afirmar que a pesquisa internacional sobre os saberes dos professores vem nos ensinando, há 30 anos, algumas coisas importantes. Podemos destacar aqui quatro delas: 1. Os saberes dos professores não são conhecimentos teóricos; trata-se de saberes enraizados no trabalho e na experiência de vida dos professores; eles estão, por conseguinte, ligados a uma epistemologia da prática, mais do que ao conhecimento teórico. 2. Os professores consideram que seus saberes estão fortemente baseados em sua experiência de vida no trabalho. Isso não quer dizer que os professores não utilizem conhecimentos externos, provenientes, por exemplo, de sua formação, da pesquisa, dos programas ou de outras fontes especializadas. Mas isso significa que esses conhecimentos externos são reinterpretados em função das exigências específicas de seu trabalho. 3. Os saberes dos professores parecem também largamente caracterizados pelo contexto das interações com os alunos. Sob esse ponto de vista, pode-se dizer que são saberes que não dizem respeito a objetos ou procedimentos técnicos (como os saberes dos engenheiros ou dos operários, por exemplo), mas que eles se dirigem preferencialmente a outros sujeitos. Em resumo, são saberes articulados com interações humanas e que levam, necessariamente, as marcas dessas interações. Por exemplo, um professor não deve tão somente saber ensinar, ele deve também saber fazer reconhecer e aceitar sua própria competência pelos seus alunos. O reconhecimento social parece, portanto, estar no centro da problemática dos saberes dos professores. 4. Finalmente, os saberes dos professores parecem também profundamente marcados pelo contexto socioeducativo e institucional no qual está inserida hoje sua profissão. Ora, esse contexto se caracteriza, há 50 anos, por profundas mutações das bases tradicionais do ensino escolar. Aquilo que a escola deve fazer os alunos aprenderem e o como deve fazê-lo não é apenas uma questão pedagógica: trata-se de uma real questão cultural e política.

Nesse sentido, os saberes dos professores são saberes em debate, como demonstram as numerosas controvérsias sociais e políticas sobre a escola e o aprendizado escolar. Considerando todos esses aspectos, podemos concluir que os saberes dos professores são, ainda hoje, uma questão central, não somente para a pesquisa, mas também, e talvez sobretudo, para a própria profissão docente. Se até o dia de hoje essa profissão não conseguiu fazer reconhecer seus saberes, é porque ela ainda não os conhece verdadeiramente. MAURICE TARDIF BORGES, C. O professor da educação básica e seus saberes profissionais. Araraquara: J.M. Editora, 2004. FENSTERMACHER, G. (1994). The knower and the known: the nature of knowledge in research on teaching. In: DARLING-HAMMOND, L. (Ed.) Review of Research in Education, Washington, v. 20, p. 3-56. GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da pedagogia. Rio Grande do Sul: Ed. UNIJUI, 1998. RICHARDSON, V. (Dir.). Handbook of research on teaching. Washington: AERA, 2001. SHULMAN, L. S. Paradigms and research programs in the study of teaching: a contemporary perspective. In: WITTROCK, M. C. (Dir.). Handbook of research on teaching. 3. ed. New York: Macmillan, 1986. p. 3-36. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. São Paulo: Vozes, 2001.