PARECER Nº 13.727 Bolsista de Enfermagem. Benefícios previdenciários regidos pelo Regime Geral da Previdência Social. Licença Maternidade. TÂMARA MELISSA DANELON MUCHULSKI é bolsista do segundo ano de Enfermagem, do Programa de Aperfeiçoamento Especializado e da Residência Integrada em Saúde instituído pela Portaria nº 16/99 (DOE de 16.10.99) e posteriormente regulado pela Lei Estadual nº 11.789, de 17 de maio de 2002. Entrou em gozo de licença-gestante a contar de novembro de 2002. Consulta a Secretaria da Saúde se durante a licença-maternidade a bolsista deve continuar recebendo a bolsa. Informa que a bolsista pretende receber a bolsa pelo período de quatro meses e apenas compensar o período faltante para completar o curso (45 dias). Pergunta, ainda, se a licença-maternidade interrompe ou não o curso e se é necessária a compensação horária posteriormente. É o relatório. A Portaria nº 16/99 instituiu um programa de aperfeiçoamento multiprofissional na área da saúde pública, nos mesmos moldes da residência médica. A Lei nº 11.789, de 17 de maio de 2002 criou o Programa de Bolsas de Estudos para a Residência Integrada em Saúde, com base nas Leis Federais nº 9.394/96 e nº 8.080/90, regulando a especialização nas diversas disciplinas e profissões da área de saúde, bem como as proporções entre o estudo
e o trabalho supervisionado, o valor das bolsas de estudo e o sistema previdenciário a que estão sujeitos os bolsistas, tudo em moldes semelhantes à residência médica. E o art. 6º desta Lei filia os bolsistas da Residência Integrada em Saúde ao Regime Geral da Previdência Social. A licença-maternidade, ou também chamada licença-gestante, é direito tipicamente previdenciário, ou seja, tem por objetivo amparar a pessoa justamente no momento em que ela está impossibilitada de prestar o serviço, conforme DANIEL MACHADO DA ROCHA e JOSÉ PAULO BALTAZAR JUNIOR, in Comentários à Lei de Benefícios da Previdência Social, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2000, p. 33, verbis: No que tange à previdência social, ela é um seguro social compulsório, eminentemente contributivo este é o seu principal traço distintivo mantido por recursos dos trabalhadores e de toda a sociedade que busca propiciar meios indispensáveis à subsistência dos segurados e seus dependentes quando não podem obtê-los ou não é socialmente desejável que eles sejam auferidos através do trabalho por motivo de maternidade, velhice, invalidez, morte, etc. (grifei em negrito) Portanto, durante a licença a bolsista recebe as prestações previdenciárias pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS. E nem poderia ser diferente. A partir da Emenda Constitucional nº 20/98, que deu nova redação ao 13, do art. 40, da Constituição Federal, qualquer trabalho temporário será submetido ao Regime Geral da Previdência Social, ficando o Regime Especial de Previdência exclusivo aos servidores efetivos. E não se pode esquecer que a bolsa-residência, embora auxilie o estudo e a especialização do bolsista, é remuneração pelo trabalho prestado, que também é temporário. Assim, uma vez em gozo de licença-maternidade, a bolsista recebe como remuneração o benefício previdenciário. 2
Ademais, não seria razoável que o direito à licença se tornasse um prêmio em que a licenciada recebesse, ao mesmo tempo, as prestações referentes ao benefício e à bolsa de estudos, até porque não haveria necessidade de vínculo previdenciário, se a bolsista, sem estar em atividade, pudesse permanecer recebendo a bolsa. A Portaria nº 71/2002, com a mesma redação do Regulamento da Residência Integrada de Saúde (fl. 11) prevê que a licença maternidade tem como finalidade garantir à bolsista a complementação da especialização, pelo tempo em que foi interrompida em razão da licença, verbis: licença-gestante: é assegurada à Residente gestante licença remunerada por 120 (cento e vinte) dias. As atividades não desenvolvidas nesse período deverão ser recuperadas em igual período adicional de acordo com o cronograma de atividades desenvolvido para a próxima turma da Residência Integrada em Saúde, também com percepção de bolsa-residência; A Portaria deve ser interpretada de forma que não extrapole o disposto no art. 6º, da Lei nº 11.789, de 17 de maio de 2002. Assim, a garantia de remuneração decorre da vinculação ao RGPS, e, portanto, tal remuneração é o próprio benefício previdenciário. Acresça-se a isso que a previsão da licença-gestante no Regulamento garante à bolsista o retorno, com a próxima turma de Residência Integrada de Saúde, pelo tempo que falta para complementar a especialização, daí sim, com o pagamento da bolsa-residência por este período faltante. A licença-gestante não tem o condão de ampliar o período da especialização por outro período igual ao da licença. Destarte, a bolsista, quando entra em gozo de licençamaternidade, passa a receber como remuneração as prestações correspondentes ao benefício previdenciário junto ao INSS, sendo que, após o término da licença, tem o direito a retornar no semestre seguinte, com a próxima turma de Residência Integrada de Saúde, pelo período que faltava para completar aquele período da especialização, recebendo, então, a bolsa pelo período complementar. 3
No caso, a bolsista entrou em gozo da licença-maternidade em novembro de 2002, faltando 45 (quarenta e cinco) dias para concluir a especialização, e deve ter recebido apenas o benefício previdenciário durante a licença a contar de novembro de 2002. Deve integrar-se à turma atual (1º semestre de 2003) da Residência Integrada de Saúde, pelos mesmos 45 (quarenta e cinco) dias, para complementar a especialização. E por esse período faltante 45 (quarenta e cinco) dias, tem direito a receber a bolsa de estudos. Se a Administração agiu equivocadamente em outras oportunidades, pagando a bolsa durante o afastamento em razão da licença, não se justitifica permanecer cometendo o mesmo erro, nem o erro, se existiu, pode gerar direito a outros bolsistas. Este o parecer. Porto Alegre, 15 de maio de 2003. ANASTAZIA NICOLINI CORDELLA, PROCURADORA DO ESTADO. Processo nº 014152-20.00/03.0 Processo nº 081000-20.00/02.2 4
Processos nº 014152-20.00/03-0 081000-20.00/02-2 Acolho as conclusões do PARECER nº 13.727, da Procuradoria de Pessoal, de autoria da Procuradora do Estado Doutora ANASTAZIA NICOLLINI CORDELLA. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Saúde. Em 30.07.03 Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.