Incidência de acidentes domésticos e de lazer no Continente, em 2002



Documentos relacionados
Análise Social, vol. XX (84), º,

Introdução. Procura, oferta e intervenção. Cuidados continuados - uma visão económica

Programa Nacional de Diagnóstico Pré-Natal Contratualização Processo de Monitorização e Acompanhamento

Injury Surveillance in Portugal. Progress, problems, perspectives

Risco de Morrer em 2012

BOLETIM ESCLARECIMENTOS II A partir de 01 Agosto 2010

PNAD - Segurança Alimentar Insegurança alimentar diminui, mas ainda atinge 30,2% dos domicílios brasileiros

ipea A EFETIVIDADE DO SALÁRIO MÍNIMO COMO UM INSTRUMENTO PARA REDUZIR A POBREZA NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO 2 METODOLOGIA 2.1 Natureza das simulações

Índice. Como aceder ao serviço de Certificação PME? Como efectuar uma operação de renovação da certificação?

Em 2013 perderam-se anos potenciais de vida devido à diabetes mellitus

QUEDAS EM CRIANÇAS E JOVENS: UM ESTUDO RETROSPETIVO ( ) Reedição, revista e adaptada Novembro 2014

CARACTERIZAÇÃO SOCIAL DOS AGREGADOS FAMILIARES PORTUGUESES COM MENORES EM IDADE ESCOLAR Alguns resultados

Desigualdade Económica em Portugal

Notas sobre a população a propósito da evolução recente do número de nascimentos

ESTRUTURA EMPRESARIAL NACIONAL 1995/98

Portugal Prevenção e Controlo do Tabagismo em números 2013

BOLETIM ESCLARECIMENTOS Anuidade de 01.Abril.2013 a

CENSOS 2001 Análise de População com Deficiência Resultados Provisórios

Tensão Arterial e Obesidade na comunidade assídua do mercado municipal de Portalegre

Investimento Directo Estrangeiro e Salários em Portugal Pedro Silva Martins*

Causas de morte 2013

Procura Turística dos Residentes 4º Trimestre de 2014

Barómetro Regional da Qualidade Avaliação da Satisfação dos Utentes dos Serviços de Saúde

Pesquisa Mensal de Emprego - PME

BOLETIM ESCLARECIMENTOS Anuidade de a

AS DESIGUALDADES DE REMUNERAÇÕES ENTRE HOMENS E MULHERES AUMENTAM COM O AUMENTO DO NIVEL DE ESCOLARIDADE E DE QUALIFICAÇÃO DAS MULHERES

O ALOJAMENTO NO TERRITÓRIO DOURO ALLIANCE - EIXO URBANO DO DOURO

Mobilidade na FEUP Deslocamento Vertical

Projeto de Resolução n.º 238/XIII/1.ª. Recomenda ao Governo que implemente medidas de prevenção e combate à Diabetes e à Hiperglicemia Intermédia.

UERGS Administração de Sistemas e Serviços de Saúde Introdução ao Método Epidemiológico

PROJECTO DE NORMA REGULAMENTAR

Utilização da Internet cresce quase 20 por cento nos últimos dois anos nas famílias portuguesas

Em 2007, por cada indivíduo nascido em Portugal, foram criadas 1,6 empresas

Índice. Como aceder ao serviço de Certificação PME? Como efectuar uma operação de renovação da certificação?

CAUSAS DE MORTE NO ESTADO DE SÃO PAULO

Autora: Maria dos Anjos Leitão de Campos. Instituto Nacional de Estatística / Departamento de Estatísticas Sociais

Programa de Parcerias e Submissão de Propostas 2014/15

Sistema de Informação/Vigilância epidemiológica

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE EMPRESAS PETROLÍFERAS

Especificidades das mortes violentas no Brasil e suas lições. Maria Cecília de Souza Minayo

A taxa de desemprego foi de 11,1% no 4º trimestre de 2010

A INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA E A SUA EVOLUÇÃO

ESTATÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DISTRITO DE VIANA DO CASTELO E SEUS CONCELHOS. F e v e r e i r o d e

Manual de Apoio ao Preenchimento do formulário único SIRAPA Dados PRTR. Agrupamento 9. Emissões Solo

Notas sobre o formulário de pedido de inspecção de processo 1

Incentivos à contratação

FEDERAÇÃO NACIONAL DAS COOPERATIVAS DE CONSUMIDORES, FCRL

Certificação da Qualidade dos Serviços Sociais. Procedimentos

Capítulo III Aspectos metodológicos da investigação

AFOGAMENTOS EM CRIANÇAS E JOVENS ATÉ AOS 18 ANOS, EM PORTUGAL

ECONOMIA C E ÁREA DE PROJECTO

Coisas que deve saber sobre a pré-eclâmpsia

Classes sociais. Ainda são importantes no comportamento do consumidor? Joana Miguel Ferreira Ramos dos Reis; nº

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA. site do programa, comunicou a suspensão, a partir de 11 de Fevereiro de 2011, de

Desporto, Saúde e Segurança

PLANO DE PROMOÇÃO DA EFICIÊNCIA NO CONSUMO (PPEC) REVISÃO DAS REGRAS

Estratégia Europeia para o Emprego Promover a melhoria do emprego na Europa

GUIA PARA O PREENCHIMENTO DOS FORMULÁRIOS ENTIDADE GESTORA ERP PORTUGAL

Sociedade da Informação e do Conhecimento Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação pelas Famílias 2013

Epidemiologia. Profa. Heloisa Nascimento

Qualificação dos Profissionais da Administração Pública Local MÓDULO 3. Fundamentos Gerais de Higiene e Segurança no Trabalho. Formadora - Magda Sousa

GRIPE DAS AVES. Preocupações e conhecimentos da população. Abril Novembro de Uma nota preliminar

Pesquisa Mensal de Emprego

Hospitais e Centros de Saúde

O consumo de conteúdos noticiosos dos estudantes de Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

PUBLICAÇÕES:TECNOMETAL n.º 139 (Março/Abril de 2002) KÉRAMICA n.º 249 (Julho/Agosto de 2002)

Comunicação documentos de transporte AT via Webservice Singest Sistema Integrado de Gestão Cambragest Serviços de Gestão e Software

Pesquisa Mensal de Emprego PME. Algumas das principais características dos Trabalhadores Domésticos vis a vis a População Ocupada

2010 Unidade: % Total 98,7 94,9 88,1

DESENVOLVIMENTO DE UM SOFTWARE NA LINGUAGEM R PARA CÁLCULO DE TAMANHOS DE AMOSTRAS NA ÁREA DE SAÚDE

ACERTOS DE FACTURAÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA

A taxa de desemprego do 3º trimestre de 2007 foi de 7,9%

10 anos do Estatuto do Desarmamento

Plano Nacional de Saúde

A Evolução da Morbidade e Mortalidade por Câncer de Mama entre a População Feminina de Minas Gerais 1995 a 2001 *

Auditoria nos termos do Regulamento da Qualidade de Serviço Relatório resumo EDP Serviço Universal, S.A.

Experiência: VIGILÂNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

EVOLUÇÃO DO SEGURO DE SAÚDE EM PORTUGAL

MANUAL DE APOIO SISTEMA INTEGRADO DE DOCUMENTOS E ATENDIMENTO MUNICIPAL

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação pelas Famílias 2003

EGEA ESAPL - IPVC. Orçamentos Anuais Parciais de Actividade

NOÇÃO DE ACIDENTE E INCIDENTE

Evolução da FBCF Empresarial Taxa de Variação Anual

GUIA PRÁTICO APOIOS SOCIAIS CRIANÇAS E JOVENS COM DEFICIÊNCIA

Envelhecimento: Mitos e realidades das despesas de saúde e segurança social. Pedro Pita Barros Faculdade de Economia Universidade Nova de Lisboa

Relatório de Estágio

Cresce o numero de desempregados sem direito ao subsidio de desemprego Pág. 1

A MATEMÁTICA NO ENSINO SUPERIOR POLICIAL 1

Deslocações turísticas de residentes aumentaram

Construção continua em queda

Pisa 2012: O que os dados dizem sobre o Brasil

FEUP RELATÓRIO DE CONTAS BALANÇO

Manual do Revisor Oficial de Contas. Directriz de Revisão/Auditoria 835

PARLAMENTO EUROPEU. Comissão do Meio Ambiente, da Saúde Pública e da Política do Consumidor

25/03/2009. Violência Dirigida aos Enfermeiros no Local de Trabalho

GERIR ENERGIA: A VERDADE SOBRE A GESTÃO DO TEMPO

Prova Escrita de Economia A

ESTUDO TEMÁTICO SOBRE O PERFIL DOS BENEFICIÁRIOS DO PROGRAMA CAPACITAÇÃO OCUPACIONAL NO MUNICÍPIO DE OSASCO

Redes Sociais em Portugal

Certificado energético e medidas de melhoria das habitações Estudo de opinião. Junho 2011

Transcrição:

Incidência de acidentes domésticos e de lazer no Continente, em 2002 BALTAZAR NUNES MARIA JOÃO BRANCO Um aspecto chave para melhorar a compreensão acerca dos «acidentes domésticos e de lazer (ADL)» e definir intervenções mais direccionadas a populações-alvo é melhorar a informação e determinar a magnitude deste problema de saúde pública. O objectivo do presente estudo foi propor um método para estimar a incidência anual dos acidentes domésticos e de lazer que requereram atendimento em serviço de urgência do SNS, assim como calcular o número total de ADL que necessitaram de internamento, em Portugal continental, no ano de 2002, por sexo e grupo etário. Uma vez que estes dados não se encontram discriminados por sexo e grupo etário nas estatísticas oficiais, utilizou-se uma metodologia que tem como informação base a amostra de unidades de saúde do sistema ADELIA: Acidentes Domésticos e de Lazer Informação Adequada. A estimativa da taxa de incidência de acidentes domésticos e de lazer com atendimento nas urgências (hospitais e centros de saúde) do SNS para ambos os sexos, em Portugal continental, em 2002, foi de 58,5 acidentes por 1000 habitantes. O grupo de indivíduos do sexo masculino apresentou a taxa mais elevada, 66,7 acidentes por 1000 habitantes. O grupo etário de 1-4 anos foi o mais atingido, tanto no sexo masculino, como no feminino, respectivamente, 141,3 e 108,1. Ocorreram 18 719 internamentos por ADL o que correspondeu a 3,5% dos acidentes atendidos na urgência. O número de internamentos estimado foi maior no sexo masculino (10 235). O grupo etário dos 75 ou mais anos apresentou a mais elevada percentagem de internamentos (8,6%). No sexo masculino foi o grupo dos 5 aos 14 anos o que apresentou a estimativa mais elevada de internamentos por ADL (2248). Os grupos dos rapazes com idades entre 1 e 14 anos e das mulheres com mais de 65 anos foram os que mais contribuíram para o total de internamentos. Estes grupos representam um total de 7236 internamentos ano, isto é, cerca de 41% do total de internamentos anuais por ADL. Palavras-chave: acidentes domésticos e de lazer; acidentes domésticos; incidência; Portugal. Baltazar Nunes é licenciado em Estatística e Investigação Operacional, mestre em Probabilidades e Estatística no Observatório Nacional de Saúde Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Maria João Branco é médica de Saúde Pública, mestre em Saúde Comunitária no Observatório Nacional de Saúde Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Submetido à apreciação: 12 de Abril de 2005. Aceite para publicação: 18 de Outubro de 2006. Introdução Os acidentes constituem um problema de saúde com implicações sociais de relevância cada vez maior para a saúde pública. A Organização Mundial de Saúde define um «acidente como qualquer acontecimento, independente da vontade do homem, caracterizado pela libertação súbita de uma força externa, que pode manifestar-se VOL. 24, N. o 2 JULHO/DEZEMBRO 2006 15

por lesões corporais» (WHO, 2005; Baker, O Neill e Karpf, 1984). Até há relativamente pouco tempo os acidentes foram encarados como uma fatalidade do acaso, o que resultou em alguma negligência nesta área da saúde pública (Krug, Sharma e Lozano, 2000). Nos últimos anos, tem havido um esforço da comunidade internacional para colocar o problema na agenda dos decisores. Por outro lado, a evolução do pensamento acerca desta problemática e alguma ambiguidade associada à palavra «acidente» têm levado à adopção de conceitos mais abrangentes como o de «lesões», (injury, na literatura anglo-saxónica), sendo estas classificadas em «intencionais» e «não intencionais». Contudo, resultarão sempre de uma exposição aguda a energia térmica, mecânica, eléctrica ou química, ou da ausência de elementos essenciais como o oxigénio ou o calor. O que define a lesão poderá variar, mas, nas estatísticas vitais, traduzir-se-á quer em morte, utilização de cuidados médicos ou incapacidade de curta ou longa duração (Sleet et. al., 1991). Ao falarmos de lesões, englobamos num vasto leque, situações que vão desde os vários tipos de acidentes (domésticos e de lazer, ocupacionais e rodoviários), a todo o tipo de violências, incluindo as auto-inflingidas (Robertson, 1998; Krug, 2004). Neste estudo vão ser considerados os acidentes domésticos e de lazer (ADL), para os quais existe, em Portugal, um sistema de vigilância, sistema ADELIA Acidente Domésticos e de Lazer Informação Adequada, coordenado pelo Observatório Nacional de Saúde. Os acidentes domésticos e de lazer definem-se por exclusão. São todos aqueles que não se classificam como acidentes de trabalho, acidentes rodoviários e violências ocorridas com indivíduos de 10 ou mais anos de idade. Nos ADL incluem-se os acidentes escolares e violências decorrentes de confrontos entre crianças com menos de 10 anos. Um aspecto chave, para promover a compreensão acerca dos acidentes e para definir intervenções mais direccionadas a populações-alvo, é o de melhorar a informação e determinar a magnitude do problema (Dessypris et. al., 2003). A mortalidade por lesões não intencionais é um indicador que se obtém facilmente, mas a mortalidade específica por ADL é difícil de obter por não ser possível distinguir os acidentes de trabalho, dos acidentes domésticos e de lazer, na base de dados da mortalidade do Instituto Nacional de estatística (INE). De qualquer modo, este indicador não chega para se ter uma real dimensão do fenómeno, já que é apenas a ponta do iceberg ilustrado pelo diagrama adiante inserido (WHO, 2005; Áustria. Institute «Sicher Leben», 2001) (Figura 1). Figura 1 Pirâmide de ADL nos 15 países da União Europeia em 1998-2000 Morte 56 000 Internamento hospitalar 2 402 000 Atendidos em serviço de saúde 31 042 000 Sem recurso a serviço de saúde? Fonte: Institute «Sicher Leben», 2001. 16 REVISTA PORTUGUESA DE SAÚDE PÚBLICA

Com efeito, por cada ADL fatal, ocorrem muitos mais ADL que resultam em hospitalizações, tratamentos em serviços de urgência, tratamentos em ambulatórios ou que nem sequer necessitam de qualquer tratamento. O objectivo do presente estudo foi propor um método para estimar a incidência anual dos acidentes domésticos e de lazer que requereram atendimento em serviço de urgência do SNS, assim como calcular o número total de ADL que necessitaram de internamento, em Portugal continental, no ano de 2002, por sexo e grupo etário. Metodologia O enfoque deste estudo foram os acidentes domésticos e de lazer que implicaram atendimento num serviço de urgência. Para medir a sua ocorrência utilizaram-se as estimativas de taxas de incidência para Portugal continental, em 2002, assim como a proporção destes acidentes que requereram internamento. Apresentam-se as estimativas para a população do continente, desagregadas por sexo e grupo etário. Para esse efeito foram utilizadas várias fontes de informação: Estatísticas da saúde Instituto Nacional de Estatística, INE 2002: relatório anual onde são apresentados os resultados do inquérito anual aos hospitais e centros de saúde (Departamento de Estatísticas Sociais, Serviço de Estatísticas das Condições de Vida) que incide nas áreas de equipamentos e instalações, recursos humanos e actividades desenvolvidas (ambulatório, internamentos, etc.); Estimativas da população. INE 2002; Base de dados das urgências registadas pelos sistemas SONHO e SINUS nas unidades de saúde (US) participantes no sistema ADELIA em 2002. Instituto de Gestão Informática e Financeira da Saúde Porto: esta base de dados concentra todos os registos de atendimentos em serviços de urgência dos hospitais e centros de saúde (CATUS, SAP e outros), pertencentes ao sistema ADELIA, pela aplicação informática SONHO e SINUS respectivamente, no ano de 2002; Base de dados do sistema ADELIA, ano 2002: registos de todos os atendimentos nos serviços de urgência das unidades de saúde do sistema ADELIA, cuja causa de entrada não foi doença, acidente ocupacional ou rodoviário, ou violência, tendo assim sido resgistados os atendimentos por ADL e para os quais é recolhida informação sobre o acidentado, o acidente, a lesão causada e o seguimento do doente; Estatísticas dos atendimentos registados em serviços de urgência hospitalares, em Portugal continental, por tipo de estabelecimento hospitalar, em 2002. Direcção-Geral da Saúde. Com base nas estatísticas de saúde do INE é possível saber o total de registos de atendimentos em serviços de urgência hospitalar por ADL e quantos destes implicaram internamento. Esta fonte de informação é exaustiva pelo que os valores apresentados são considerados como o número total de indivíduos que sofreram um ADL e que recorreram a um serviço de urgência hospitalar em 2002, permitindo assim o cálculo da taxa de incidência por ADL assistidos em serviços de urgência hospitalares, em Portugal continental naquele ano, assim como a proporção de ADL com internamento. Uma vez que estes dados não se encontram discriminados por sexo e grupo etário, não é possível, com base neles, apresentar aquelas taxas e proporção desagregadas por estas variáveis. É assim, neste contexto, que se propõe um método para obter uma estimativa destes valores com base na amostra de unidades de saúde participantes no programa ADELIA para a qual existe informação sobre atendimentos em urgência por ADL, discriminada por sexo e grupo etário. Por outro lado, conhecendo, a taxa de incidência de ADL assistidos nos serviços de urgência hospitalares e a proporção de ADL com internamento a nível global (Portugal continental INE), podemos detectar possíveis viés das estimativas destes indicadores obtidas com base na amostra de unidades de saúde do programa ADELIA, e assim definir factores que as corrijam. O método proposto é o que se segue. 1. Calcular o factor de correcção do estimador da percentagem de urgências por ADL obtido com base na amostra de unidades de saúde (US) hospitalares do programa ADELIA Considere-se p a proporção de urgências por ADL em relação ao total de urgências registadas nos estabelecimentos hospitalares do Serviço Nacional de Saúde, em Portugal continental, num determinado ano. O factor de correcção do estimador p será dado por: ν p = p/p VOL. 24, N. o 2 JULHO/DEZEMBRO 2006 17

onde p é o estimador da proporção de urgências por ADL calculada através da razão p = a/n, em que a é o número de urgências por ADL registadas nas US hospitalares do sistema ADELIA, e n é o total de urgências registadas nessas mesmas US. Note-se que, como através das estatísticas oficiais não é possível obter os dados sobre as urgências atendidas nos centros de saúde, mas apenas os das urgências hospitalares e no programa ADELIA só participam unidades do SNS, no cálculo deste factor de correcção apenas se usarão as unidades hospitalares do SNS. 2. Calcular a estimativa da taxa de incidência anual de ADL por sexo e grupo etário 2.1. Proporção de ADL, por sexo e grupo etário na amostra de US do programa ADELIA Considere-se p ijk a proporção de registos de urgências devidas a ADL, de indivíduos pertencentes ao sexo i (i = masculino, feminino) e grupo etário j (j = < 1, 1-4, 5-14, 15-24, 25-34, 35-44, 45-54, 55-64, 65-74, e 75), no total de urgências registadas no conjunto de unidades de saúde do tipo k (k = hospitais gerais, centros de saúde, hospitais pediátricos), dado por: a ijk pijk = nk onde a ijk é o número de urgências por ADL de indivíduos do sexo i, grupo etário j e das unidades de saúde do tipo k e n k é o número de urgências registadas nas unidades de saúde do tipo k. 2.2. Número de ADL, por sexo e grupo etário em Portugal continental O estimador do número de acidentes domésticos e de lazer (ADL ij ) do sexo i e o grupo etário j, em Portugal continental é dado por: ADL ij = U hosp. (ν p *p ijhosp. )+U hosp. pediát. (ν p *p ijhosp. pediát. )+ +U centros de saúde p ijcentros de saúde onde U, é o número de urgências registadas em Portugal continental, em cada conjunto de unidades de saúde dos diferentes tipos. O factor de correcção será apenas aplicado às proporções de acidentes registados nos hospitais, atendendo a ter sido calculado apenas para aquele tipo de unidades de saúde. 2.3. Taxa de incidência anual de ADL, por sexo e por grupo etário, em Portugal continental Por fim, a taxa de incidência anual de ADL (T ij ) no sexo i e grupo etário j é dada por: ADL ij Tijk = Nij onde N ij é o numero de indivíduos do sexo i e grupo etário j na população de Portugal continental. 3. Calcular o factor de correcção para o estimador da proporção de ADL com internamento com base na amostra de US hospitalares do programa ADELIA Com base nos resultados do programa ADELIA é possível estimar a proporção de ADL que, chegados à urgência hospitalar, tiveram como seguimento o internamento. Considere-se h a proporção de ADL com internamento nos hospitais de Portugal continental. O factor de correcção será dado por: ν h = h/a onde a é o estimador da proporção de ADL com internamento, calculada através da razão a = d/n, em que d é o número de ADL com internamento, registados nas US hospitalares do programa ADELIA, e n é o número total de ADL registados nessas mesmas US hospitalares. 4. Calcular o estimador da proporção de ADL internados, por sexo e por grupo etário, em Portugal continental O estimador do número de ADL do sexo i e do grupo etário j, registados em estabelecimentos hospitalares, em Portugal continental é dado por: ADLH ij = U hosp. (ν p *p ijhosp. )+U hosp. pediát. (ν p *p ijhosp. pediát. ) onde U é o número de urgências registadas em Portugal continental, nos estabelecimentos hospitalares. O estimador final corrigido da proporção de ADL internados (b ij ), no sexo i e grupo etário j é dada por: b ij = ν h * a ij 18 REVISTA PORTUGUESA DE SAÚDE PÚBLICA

onde a ij =d ij /n ij e d ij é o número de ADL do sexo i e do grupo etário j que foram internados, e n ij é o número de ADL do sexo i e do grupo etário j, ambos registados nas US hospitalares do programa ADELIA. Desta forma a estimador do total de internamentos por ADL (H ij ) de indivíduos do sexo i e grupo etário j é dado por: H ij = ADLH ij * b ij Resultados Acidentes domésticos e de lazer com atendimento em serviço de urgência, por sexo e por grupo etário Segundo os dados apresentados pelo INE em 2002, 8,0% das urgências hospitalares em Portugal continental tiveram como causa um ADL, correspondendo a uma taxa de incidência de 55,0/1000 hab. (Tabela I). Tabela I Percentagem e taxa de incidência de acidentes domésticos e de lazer, registados nas urgências hospitalares de Portugal continental, em 2002 Total de Urgências por Percentagem Taxa de incidência urgências ADL de urgências por ADL (por 1000 habitantes) Hospitais Todos* 6 782 822 545 966 8,0 (p) 55,0 SNS 6 320 628 529 170 8,4 (p) 53,3 * SNS e hospitais militares e privados. Fonte: INE. Tabela II Distribuição do total de urgências registadas nas unidades de saúde do sistema ADELIA em 2002, segundo a causa Hospitais gerais Hospitais pediátricos Total dos hospitais Centros de saúde n Percentagem n Percentagem n Percentagem n Percentagem Acidentes de viação 114 380 11,6 11 311 <10,51 114 691 11,6 111 970 10,4 de trabalho 119 793 12,2 12,1 111 653 10,7 domésticos e de lazer 107 809 12,2 15 730 < 10,11 113 539 12,1 111 792 10,7 Agressão 116 802 10,8 111 26 1< 0,01 116 828 10,7 111 358 10,1 Doença 672 418 76,3 50 866 < 89,31 723 284 77,1 228 422 91,5 Outros 160 350 16,8 111 28 1< 0,01 160 378 16,4 116 319 16,5 Total 881 552 100 56 961 100 938 513 100 249 514 100 VOL. 24, N. o 2 JULHO/DEZEMBRO 2006 19

Conforme descrito na metodologia, as estimativas calculadas foram obtidas com base nas unidades de saúde que participam no programa ADELIA. Todas estas unidades integram o Serviço Nacional de Saúde. Assim, os resultados que se apresentam correspondem apenas à análise dos dados relativos às unidades de saúde do Serviço Nacional de Saúde (SNS) Nos hospitais do SNS a percentagem de urgências por ADL (p) foi de 8,4%, correspondendo a uma taxa de incidência de 53,3 (Tabela I). De acordo com a Tabela II a estimativa da percentagem de urgências por ADL (p) com base nos hospitais do sistema ADELIA foi de 12,1% (p), apresentando assim uma sobreestimação, correspondendo a um factor de correcção de ν p = p/p = 8,4/12,1 = 0,694. Aplicando os passos descritos na metodologia (2.1; 2.2 e 2.3) estimaram-se as taxas de incidência por sexo e grupo etário (Tabela III). Constatou-se, globalmente, uma taxa de incidência mais elevada no sexo masculino (66,7 ). Esta diferença foi observada em todos os grupos etários até aos 54 anos, limite a partir do qual os grupos etários dos indivíduos do sexo feminino apresentaram taxas mais elevadas. Relativamente à idade, a taxa mais elevada foi observada no grupo de indivíduos de 1-4 anos de idade, quer no sexo masculino (141,3 ), quer no feminino (108,1 ), seguindo-se o grupo etário de 5-14 anos, respectivamente, 131,9 e 87,5 Verificaram-se diferenças relativamente ao terceiro grupo etário mais afectado ( 75). Enquanto que no sexo masculino, foram os rapazes de 15-24 anos que ocuparam a terceira posição (86,7 ), no sexo feminino foram as do grupo etário de 75 anos (84,0 ). Acidentes domésticos e de lazer com internamento, por sexo e por grupo etário Segundo os dados apresentados pelo INE em 2002, 3,7% das urgências hospitalares por ADL, em Portu- Tabela III Número total estimado e taxa de incidência de acidentes domésticos e de lazer atendidos num serviço de urgência (a) do SNS, por sexo e grupo etário, em Portugal continental, em 2002 Sexo Masculino Feminino Total ADL(b) T(c) ADL(b) T(c) ADL(b) T(c) Total 317 679 166,7 258 768 150,8 545 950 158,5 Grupo etário < 1 113 841 169,7 113 187 162,0 116 653 166,0 1-4 131 198 141,3 122 531 108,1 150 989 125,2 5-14 168 425 131,9 143 512 187,5 106 476 110,2 15-24 159 852 186,7 130 146 145,1 185 136 166,2 25-34 146 474 161,4 123 629 131,3 166 221 146,4 35-44 134 315 149,5 122 118 130,6 153 342 139,9 45-54 123 103 136,9 122 729 134,1 143 338 135,5 55-64 118 347 136,3 126 110 145,7 142 053 141,3 65-74 117 646 141,5 129 278 155,1 144 411 149,1 75 114 476 154,1 135 529 184,0 147 331 172,5 (a) Serviços de atendimento urgente dos hospitais e centros de saúde. (b) ADL estimativa do número total de acidentes domésticos e de lazer. (c) T Taxa de incidência (por 1000 habitantes). 20 REVISTA PORTUGUESA DE SAÚDE PÚBLICA

gal continental, resultaram em internamento. Essa percentagem foi de 3,5% (h), nos hospitais do SNS (Tabela IV). De acordo com a Tabela V a estimativa da percentagem de internamentos por ADL (b) com base nos hospitais do sistema ADELIA foi de 5,2%. Também para este indicador se verificou uma sobre estimação, correspondendo a um factor de correcção de ν h = 3,5/5,2 = h/b = 0,673 Aplicando os procedimentos descritos no ponto 4 da metodologia estimaram-se as percentagens de ADL com internamento, assim como o número total de internamentos ocorridos, ambos, por sexo e por grupo etário (Tabela V). Da análise da tabela ressalta que os acidentes assumem particular gravidade, implicando uma maior percentagem de internamentos, nos grupos etários extremos. O grupo etário com maior percentagem de internamentos foi o dos 75 anos, tanto no sexo masculino, como no feminino, respectivamente, 8,3% e 8,8%. A segunda maior percentagem foi observada no sexo masculino, no grupo etário dos Tabela IV Percentagem de internamentos por acidentes domésticos e de lazer, registados nas urgências hospitalares de Portugal continental, em 2002 Urgências ADL Percentagem de ADL por ADL com internamento com internamento Hospitais Todos 545 966 20 438 3,7 SNS 529 170 18 719 3,5 Fonte: INE. Tabela V Percentagem de ADL que originam internamento e a estimativa do total de internamentos ocorridos por ADL em Portugal continental, em 2002, por sexo e por grupo etário Sexo Masculino Feminino Total b* H** b* T** b* H** Total 3,5 10235 3,6 8583 Grupo etário < 1 7,5 1283 3,1 1196 5,6 1386 1-4 5,0 1451 3,8 1811 4,5 2268 5-14 3,7 2248 2,9 1125 3,4 3373 15-24 1,4 1799 1,3 1366 1,4 1165 25-34 2,1 1935 1,2 1271 1,8 1207 35-44 2,7 1879 2,2 1451 2,5 1325 45-54 1,9 1421 2,6 1550 2,3 1971 55-64 2,9 1478 3,6 1900 3,3 1380 65-74 4,8 1760 4,0 1093 4,3 1851 75 8,3 1112 8,8 2875 8,6 3987 * b estimativa final corrigida da proporção de ADL internados. ** H estimativa do total de internamentos por ADL. VOL. 24, N. o 2 JULHO/DEZEMBRO 2006 21

< 1 ano (7,5%), no sexo feminino, no das mulheres de 65-74 anos (4,0%). Discussão e conclusões O método utilizado para a obtenção das estimativas apresentadas revelou-se adequado e de fácil aplicação, podendo ser reproduzido noutros anos desde que as fontes de informação utilizadas estejam disponíveis. Em relação às fontes de informação, é importante referir que o viés de sobreestimação encontrado na estimativa obtida com base na amostra das US do sistema ADELIA poderá ser diminuído com melhoria da representatividade desta amostra. Conforme foi referido, utilizaram-se dados registados nas urgências das unidades do SNS, valerá a pena afirmar que estas correspondem a 93,2% das urgências registadas no total de estabelecimentos hospitalares do país. Esta proporção sobe para 97,0% se nos reportarmos às urgências por ADL, ou seja, apenas 3% dos ADL ocorridos e que recorrem a uma urgência hospitalar foram atendidos fora do SNS. Outro aspecto a relevar relaciona-se com a mais-valia obtida com a utilização de várias fontes de informação. Por outro lado, poder-se-á ainda concluir da utilidade deste tipo de metodologia. Com efeito, preconiza-se a sua aplicação para preencher lacunas de informação que não pode ser obtida directamente por estudos específicos mais dispendiosos. Refira-se também que, neste trabalho, com base nos dados publicados pelo INE referentes às urgências hospitalares por ADL, pode concluir-se que o valor da estimativa para a taxa de incidência de ADL em Portugal continental (75/1000 habitantes) que vinha a ser apresentado num período de referência de 1991 a 1999 (Honório e Martins, 1992 a 2000) e depois em 2002 (INSA, 2002), revelou estar sobreestimado. Relembre-se que a estimativa da taxa de incidência vinha a ser obtida com base numa amostra de conveniência dos serviços de urgência que integram o sistema de vigilância (EHLASS, 1991-1999, período de referência considerado; ADELIA, em 2002, após uma transição de dois anos, em que não houve registos). Segundo o INE, em 2000 esta percentagem foi de 8,4%, em 2001, 8,4% e em 2002, 8,0% (INE, 2002 a 2004). Os últimos resultados do sistema EHLASS, referentes a 1999, revelaram uma percentagem de 11,4% de urgências por ADL. Em 2002 com o novo sistema ADELIA obteve-se uma estimativa de 12,1% para esta percentagem. Conforme atrás referido, o método para a obtenção da taxa de incidência por ADL consiste na aplicação daquela percentagem ao total de urgências registadas em Portugal continental e, naturalmente, a sobreestimação repercute-se na taxa de incidência. Relativamente aos resultados propriamente ditos, destaque-se: a estimativa da taxa de incidência de acidentes domésticos e de lazer com atendimento nas urgências (hospitais e centros de saúde) do SNS para ambos os sexos, em Portugal continental, em 2002, foi de 58,5 acidentes por 1000 habitantes. Este valor encontra-se um pouco acima da estimativa da taxa de incidência média anual nos 15 países da UE, 50/1000 habitantes (1998-2000). Neste grupo de países o valor mais elevado foi observado na Grécia com 120/1000 habitantes e o mais baixo na Alemanha com 20/1000 habitantes (Institute «Sicher Leben», 2001); a taxa de incidência estimada foi mais elevada no sexo masculino, correspondendo a 66,7 acidentes por 1000 habitantes; o grupo etário de 1-4 anos apresentou a taxa mais elevada, tanto no sexo masculino, como no feminino, respectivamente, 141,3 e 108,1 ; ocorreram 18 719 internamentos por ADL o que correspondeu a 3,5% dos acidentes atendidos na urgência; o número de internamentos estimado foi maior no sexo masculino, nomeadamente 10 235 internamentos por ADL, mais 1652 do que no sexo feminino. Contudo a proporção dos ADL com internamento, relativamente ao total de ADL registados nas urgências, foi praticamente igual em ambos os sexos, respectivamente, 3,5% no sexo masculino e 3,6% no sexo feminino; o grupo etário dos 75 e mais anos foi aquele em que os acidentes tiveram maior gravidade. Com efeito, apresentou, globalmente e em cada sexo, a maior percentagem de internamentos estimada relativamente aos ADL registados, da ordem dos 8% a 9%, correspondendo ao maior número de acidentes internados, quer globalmente (3987), quer no sexo feminino (2875). No sexo masculino foi o grupo dos 5-14 anos que apresentou a maior estimativa de ADL com internamento, com 2248 acidentes; a particular vulnerabilidade dos grupos etários extremos, quer relativamente à frequência da ocorrência, quer à gravidade dos mesmos medida pela percentagem de internamentos. Com efeito, os grupos que mais contribuíram para o total de internamentos foram os rapazes com idades entre 1 e os 14 anos e as mulheres com mais de 22 REVISTA PORTUGUESA DE SAÚDE PÚBLICA

65 anos. Estes grupos em conjunto representam um total de 7236 internamentos por ano, isto é, cerca de 41% do total de internamentos anuais por ADL. Para finalizar, valerá a pena referir que a diminuição do peso das lesões é um dos grandes desafios da saúde pública neste século. Lesões, neste caso provocadas por acidentes domésticos e de lazer, são susceptíveis de prevenção, mas o primeiro passo é melhorar o conhecimento da sua magnitude e distribuição das causas, para que se possam aperfeiçoar os programas preventivos em função dos seus destinatários (Krug, Sharma e Lozano, 2000). PORTUGAL. INE Estatísticas da saúde 2000. Lisboa : INE, 2002. PORTUGAL. INE Estatísticas da saúde 2001. Lisboa : INE, 2003. PORTUGAL. INE Estatísticas da saúde 2002. Lisboa : INE, 2004. http://www.ine.pt/prodserv/quadros/quadro.asp. PORTUGAL. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. ADELIA 2002 Acidentes domésticos e de lazer : informação adequada : relatório estatístico de 2002. Lisboa : Observatório Nacional de Saúde. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Abril de 2003. ROBERTSON, L. S. Injury epidemiology : research and control strategies. 2nd ed. New York: Oxford University Press, 1998. SLEET, D. A., et al. Injury in Western Australia. East Perth, WA : Health Department of Western Australia, 1991. WHO. Injury Pyramid 2005. http://www.who.int/ violence_injury_prevention/injury/pyramid/injpyr/en/. Referências BAKER, S. P.; O NEILL, B.; KARPF, R. S. The Injury Fact Book. Massachusetts/Toronto : Lexington Books, D. C. Health and Company/Lexington, 1984. DESSYPRIS, N., et al. Countrywide estimation of the burden of injuries in Greece : a limited resources approach. Journal of Cancer Epidemiology and Prevention. 7 : 3 (2002) 123-129. Portugal 1991. Lisboa : Instituto Nacional de Defesa do Consumidor, 1992. Portugal 1992. Lisboa: Instituto do Consumidor, 1993. Portugal 1993. Lisboa : Instituto do Consumidor, 1994. Portugal 1994. Lisboa : Instituto do Consumidor, 1995. Portugal 1995. Lisboa : Instituto do Consumidor, 1996. HONÓRIO, F.; MARTINS, J. Relatório Anual EHLASS Portugal 1996. Lisboa : Instituto do Consumidor, 1997. Portugal 1997. Lisboa : Instituto do Consumidor, 1998. Portugal 1998. Lisboa : Instituto do Consumidor, 1999. Portugal 1999. Lisboa : Instituto do Consumidor, 2000. INSTITUTE «SICHER LEBEN» (Áustria) Home and leisure accidents in Europe : comprehensive view on European (HLA) injury data : final report. Luxembourg: European Commission, [2001]. KRUG, E. G.; SHARMA, G. K.; LOZANO R. The global burden of injuries. American Journal of Public Health. 90 : 4 (2000) 523-526. KRUG, E. G. Injury surveillance is key to preventing injuries. The Lancet. 364 : 9445 (2004) 1563-1566. Abstract INCIDENCE OF HOME AND LEISURE ACCIDENTS IN PORTUGAL MAINLAND, 2002 A key aspect to enhance the comprehensiveness of the Home and Leisure Accidents (HLA) problematic and to define more specific interventions is to improve the information available and determine the magnitude of this public health problem. The aim of this study was to present a method to estimate the annual incidence rate of the Home and Leisure Accidents that need attendance in the emergency departments of the Portuguese national health service, and to calculate the total number of HLA that were hospitalized in Portugal mainland, during 2002, by sex and age group. Since this information was not discriminated by sex and age group in the national official statistics, we employed, with this propose, a methodology that uses the sample of health units from the Portuguese HLA surveillance system ADELIA: Acidentes Domésticos e de Lazer Informação Adequada (former EHLASS). The estimated incidence rate of HLA with attendance in the emergency departments (hospitals and health centers) of the Portuguese national health system for both sexes, in Portugal VOL. 24, N. o 2 JULHO/DEZEMBRO 2006 23

mainland, for the year of 2002, was 58.8 accidents by 1000 inhabitants. The males presented a higher value of the incidence rate, 66.7 accidents by 1000 inhabitants. The age group 1-4 years was the most affected, either in the male or in the female group, with an incidence rate of, respectively, 141.3 108.1. A total of 18719 hospitalizations, caused by a HLA, had occurred in 2002; this corresponds to 3.5% of the total number of HLA with attendance in the emergency departments. The estimated number of hospitalizations was in the male group (10,235). The groups that had the highest contributions to the total number of hospitalizations by HLA were the boys aged 1 to 14 years and women with more than 65 years of age. These two groups represented a total number of 7,235 hospitalizations year, that is, almost 41% of the total number of annual hospitalizations caused by a HLA. Keywords: home and leisure accidents; home accidents; incidence; Portugal. 24 REVISTA PORTUGUESA DE SAÚDE PÚBLICA