SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO/BENEFÍCIOS E ASSISTÊNCIA SOCIAL Unidade III 9 ACIDENTE DE TRABALHO Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, com o segurado empregado, trabalhador avulso, médico residente, bem como com o segurado especial, no exercício de suas atividades, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou a redução, temporária ou permanente, da capacidade para o trabalho. Ministério da Previdência Social 9.1 Definição Acidente de trabalho é considerado como tal, quando acontece durante o exercício das atividades laborais. O acidentado, no caso o empregado ou segurado, deverá estar em pleno exercício do trabalho e o fato poderá acarretar, para ele, lesões corporais ou algum tipo de disfunção funcional que possam resultar na morte, perda ou limitação, seja permanente ou temporária, de sua capacidade para a realização do trabalho. Antes de nos aprofundarmos acerca do que vem a ser acidentes de trabalho, precisamos conhecer dois termos indispensáveis: insalubridade e periculosidade: insalubridade: palavra originada do latim, que diz respeito a tudo que possa causar doença. Seu conceito 27
Unidade III legal é dado pelo artigo 189 da Consolidação das Leis do Trabalho, nos seguintes termos: serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos ; periculosidade: refere-se a tudo aquilo que possa de alguma forma oferecer perigo. São duas as principais entidades mórbidas consideradas como acidente de trabalho: 1 2 doenças profissionais: consideradas como sendo aquelas que foram produzidas, ou ainda, desencadeadas por algum tipo específico de atividade. Para ser considerada doença profissional esta deverá constar na relação oficial do Ministério do Trabalho e da Previdência Social. As doenças ocasionadas por um movimento repetitivo constante podem ser classificadas como doenças profissionais (Decreto nº 2.172/97); doenças do trabalho: representadas pelas doenças adquiridas, ou ainda, desencadeadas por conta das condições oferecidas pelo trabalho. Elas também necessitam fazer parte da relação do Ministério do Trabalho e da Previdência Social para serem consideradas como tal (Decreto nº 2.172/97). 30 Vale ressaltar que nos casos excepcionais em que a doença não faça parte dessa relação oficial do Ministério do Trabalho e da Previdência Social, mas ficou constatado que foi adquirida ou desencadeada pelas condições de trabalho, a Previdência Social (INSS) a considera como doença de trabalho. 28
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO/BENEFÍCIOS E ASSISTÊNCIA SOCIAL As doenças degenerativas próprias da faixa etária do empregado também não serão consideradas como doenças de trabalho. Já as doenças endêmicas, como as epidemias, não serão consideradas como acidente de trabalho para aquelas pessoas que já são habitantes no local. É necessária uma comprovação de que o empregado, cujo local de origem é diferente daquele onde adquiriu a doença, foi infectado ao se deslocar para realizar suas atividades laborais em condições ambientais distintas daquelas a que estava habituado. 9.2 Atos inseguros 1 Representam todos os atos praticados pelo colaborador por conta de sua atividade no trabalho. É também definido como o comportamento consciente ou inconsciente do trabalhador, que pode levá-lo a sofrer algum tipo de acidente em virtude de sua exposição a um determinado risco exigido por seu trabalho. 9.3 Condições inseguras Representam toda e qualquer condição que de alguma forma compromete a segurança do trabalhador. Um risco ambiental sem controle, como um vazamento de gás, pode ser considerado uma condição insegura. Também podemos citar como exemplo os equipamentos com defeitos, lâmpadas queimadas, dificuldade de visibilidade dentre outras. 9.4 São também considerados acidentes de trabalho: 2 o acidente que contribuiu para a morte, perda ou redução da capacidade do segurado para o exercício laboral, ainda que este acidente não tenha sido a causa exclusiva; 29
Unidade III o acidente sofrido pelo empregado no horário e local de trabalho em consequência de atos de terrorismo, sabotagem, agressão, desabamento, inundação, imprudência, negligência ou imperícia de companheiro de trabalho, ou ainda, ofensa física intencional ocasionada por disputa de trabalho; as doenças oriundas da contaminação, por acidente, do empregado em plena atividade laboral; o acidente sofrido fora do horário e local de trabalho, em viagem do empregado a serviço da empresa. Atenção: os atos de agressões relacionados a motivos de ordem pessoal não serão, de forma alguma, considerados como acidentes de trabalho. 9. O acidente de trabalho e seu reconhecimento técnico 1 A perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é a responsável por caracterizar tecnicamente os acidentes de trabalho. Esta realizará o reconhecimento do chamado nexo causal entre: 1. o acidente e a lesão; 2. a doença e o trabalho; 3. a causa mortis e o acidente. 2 Será o mesmo INSS, por meio de seu setor de benefícios, que reconhecerá o direito do segurado de receber o benefício acidentário. De acordo com o SINDCONT-SP, será considerado agravamento do acidente aquele sofrido pelo acidentado quando estiver sob a responsabilidade da reabilitação profissional. 30
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO/BENEFÍCIOS E ASSISTÊNCIA SOCIAL 9.6 Os campos de aplicação da legislação referente aos acidentes de trabalho A quem se aplica empregado; trabalhador avulso; médico residente (Lei nº 8.138, de 28/12/90); segurado especial. A quem não se aplica empregado doméstico; empresários que não exerçam a função de empregado; autônomo e equiparados; facultativo. PREVENINDO O ACIDENTE DE TRABALHO 1 A prevenção do acidente de trabalho está diretamente ligada à conscientização dos trabalhadores acerca de suas tarefas, bem como de tudo que as envolve. Está ligada também à formação destes trabalhadores para o desempenho de suas atividades laborais. Essas são as duas principais medidas subjetivas de prevenção de acidentes que, somadas às medidas físicas de segurança individual e coletiva, auxiliam na diminuição dos números de acidente de trabalho que, atualmente, no Brasil, são alarmantes. Altos, também, são os custos gerados pelo acidente de trabalho, tanto para empresários como para os próprios trabalhadores, pois ainda que este último receba o benefício que lhe é de direito, será ele quem deverá arcar com outros gastos como medicamentos, alimentação especial, transporte para se deslocar às consultas etc. Portanto, não deixar que os acidentes ocorram, ou seja, preveni-los, é a melhor solução tanto para empregadores como para empregados. Hoje, todas as ações que visam a evitar acidentes de trabalho estão diretamente ligadas ao tipo de atividade exercida pelo trabalhador, pois cada atividade possui seus equipamentos e normas de segurança. Porém, elas também dependem diretamente do ambiente de trabalho e das tecnologias que o homem tem a seu dispor. 31
Unidade III.1 Quais são as principais causas dos acidentes de trabalho? Vejamos, a seguir, as causas mais frequentes dos acidentes de trabalho. 1 2 30 Cansaço ou fadiga: acomete principalmente os que trabalham com mudança de turnos. Por não dormirem o suficiente ou por estarem com o relógio biológico desajustado, acabam perdendo o controle do corpo. Nos casos em que o colaborador trabalha no manejo de máquinas perigosas, a fadiga poderá ser fatal, podendo levá-lo ao óbito. Álcool: muitos acidentes estão associados à ingestão de bebidas alcoólicas. Algumas estatísticas mostram que a segunda-feira é o dia em que mais trabalhadores sofrem acidentes de trabalho, pelo fato de, no final de semana, terem feito a ingestão de bebidas alcoólicas. Alimentação: por mais que pareça absurdo, ainda hoje trabalhadores sofrem acidentes de trabalho por falta de alimentação. Tonturas e desmaios são os sintomas mais frequentes da hipoglicemia (a ausência de açúcar no organismo). Seleção de pessoal inadequado: alguns cargos exigem que sejam ocupados por pessoas com formação adequada para os mesmos, porém, muitas vezes, encontrar colaboradores com o perfil desejado passa a ser uma tarefa muito difícil. Para evitar uma paralisação nas suas atividades, as empresas passam a contratar pessoas aquém do que o cargo exige e assim, passam a correr sérios riscos de acidentes de trabalho, já que estão optando por trabalhar com pessoal não especializado para a atividade. Outras empresas, por desconhecerem as peculiaridades de alguns cargos, passam a contratar pessoas inaptas para ocupá-los e da mesma forma caem no risco do acidente de trabalho, embora, neste caso, o risco seja inconsciente. 32
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO/BENEFÍCIOS E ASSISTÊNCIA SOCIAL Falta de treinamento adequado: a falta de treinamento adequado para algumas funções tem contribuído bastante para o aumento do número de acidentes de trabalho no Brasil. Por mais tempo que o trabalhador tenha desempenhado uma mesma função, deverá participar de treinamentos periódicos para complementação e atualização de suas funções. Sempre que necessário o treinamento deve acontecer de forma individualizada, mesmo que os gastos sejam relevantes. Melhor é gastar um pouco mais para prevenir do que para remediar..2 Como prevenir os acidentes de trabalho? 1 2 30 Como foi dito anteriormente, a imposição não auxilia as empresas na hora de prevenir acidentes. Conscientização e formação são a base para se evitar os acidentes de trabalho, porém alguns pontos devem ser observados: o trabalhador precisa sentir-se parte integrante de seu local de trabalho. Somente quando se sentir à vontade, interagindo com o ambiente, sentirá a necessidade de cuidar dele, tornando-o apto para o desenvolvimento excelente de suas tarefas; é preciso que o trabalhador perceba que ele somente tem a ganhar quando segue as regras de segurança que suas atividades necessitam, sobretudo, quando se tratar de atividades que envolvam ricos de acidentes. É bom, também, deixar claro que, em caso de acidentes, ele será o maior prejudicado, juntamente com sua família; um local de trabalho organizado, limpo e sem objetos obsoletos, ou seja, que já estão sem utilidade, ajudam a reduzir os riscos de acidente de trabalho. Se todos os objetos de trabalho e equipamentos de segurança estão em seus devidos lugares será fácil encontrá-los em caso de alguma urgência; 33
Unidade III é importante também que os colaboradores estejam cientes dos riscos que envolvem sua atividade laboral, mesmo aqueles mais moderados; 1 não deixar que falte nenhum equipamento de proteção, seja ele individual ou coletivo. É básico ter à disposição capacetes, vestuário adequado, protetores auriculares, lentes de proteção, dispositivos antiqueda, manuais de instrução dentre outros. Estes equipamentos são básicos quando o objetivo é prevenir acidentes; ofereça os mais diferentes meios didáticos de transmissão de informações de prevenção de acidentes. As palestras, filmes e aulas expositivas contribuem bastante para a absorção das informações, principalmente quando se tratar de material ilustrado; não imponha aos seus colaboradores a utilização de equipamentos ou o seguimento de determinadas normas de segurança. Eles precisam estar dispostos a fazê-lo, ou seja, deve ser uma ação consciente e espontânea. Assim, evitar acidente deixa de ser uma constante pressão e passa a ser uma atividade cotidiana. 11 INVESTIGANDO OS ACIDENTES DE TRABALHO Atos inseguros Representam todos os atos praticados pelo colaborador por conta de sua atividade no trabalho. É também definido como sendo o comportamento consciente ou inconsciente do trabalhador que pode levá-lo a sofrer algum tipo de acidente em virtude de sua exposição a um determinado risco exigido por seu trabalho. Condições inseguras Representam toda e qualquer condição que, de alguma forma, compromete a segurança do trabalhador. Um risco ambiental sem controle, como um vazamento de gás, pode ser considerado uma condição insegura. Também podemos citar como exemplo os equipamentos com defeitos, lâmpadas queimadas, dificuldade de visibilidade dentre outras. 34
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO/BENEFÍCIOS E ASSISTÊNCIA SOCIAL Antes de conhecermos como se dá o processo de investigação de um acidente de trabalho, é necessário que se esclareça que todo e qualquer acidente de trabalho deverá ser caracterizado de duas maneiras: administrativamente: cabendo ao INSS, por meio do setor de benefícios, estabelecer o nexo entre o acidente e o trabalho exercido pelo colaborador; tecnicamente: responsabilidade do setor de perícia médica do Instituto Nacional da Seguridade Social. Este deverá estabelecer o nexo de causa e efeito entre o acidente de trabalho e a lesão sofrida pelo segurado. 11.1 O Método Árvore de Causas (ADC) 1 Atualmente, os acidentes de trabalho têm sido investigados por meio do método árvore de causas, que objetiva encontrar os elementos físicos, ambientais e subjetivos que contribuíram para o acidente. A realização de uma investigação dita causal é um evento muito importante para evitar que os acidentes aconteçam, pois é capaz de identificar quais são os fatores de risco e trabalhar na sua eliminação, auxiliando, assim, na diminuição da ocorrência de novos acidentes. 2 Hoje, já não se realiza uma investigação baseada apenas em atos ou condições inseguras, prática comum até bem pouco tempo, porém sua pouca representatividade na diminuição dos acidentes de trabalho fez com que ela fosse descartada. Árvore de causas é um método de investigação multicausal, desenvolvido na França, e em 1977 foi descrito por Monteau. Ele representa um meio de investigação certificado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que se baseia 3
Unidade III na Teoria dos Sistemas, sendo o acidente não considerado um evento pontual e isolado, e sim a consequência de uma disfunção do sistema do qual faz parte. 1 Segundo dados da Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes (ABPA): esse método se fundamenta em relato objetivo e detalhado dos fatos envolvidos na ocorrência do acidente de trabalho a partir da lesão produzida, identificando retroativamente tais fatos, denominados fatores antecedentes. Com estas informações constrói-se a rede de antecedentes do acidente, representada sob forma de diagrama denominado árvore de causas. É consenso que, para que um acidente venha a ocorrer, algum comportamento foi alterado ou alguma variação aconteceu se comparada ao cotidiano ao qual o trabalhador estava habituado. Por isso, o método árvore de causas trabalha em cima da reconstituição do acidente, analisando de forma minuciosa todos os fatos, sejam eles comuns ou estranhos, que antecederam ao ocorrido. Com isso ele poderá identificar qual alteração ocasionou o acidente. 11.2 O método De acordo com o método árvore de causas todo trabalhador desenvolve uma atividade que pode ser decomposta em quatro elementos descritos a seguir: 2 1. o indivíduo: representado pela pessoa física que desenvolve suas atividades em seu ambiente de trabalho, de acordo com as orientações que recebeu ao entrar na organização. Vale lembrar que este indivíduo carrega consigo toda sua bagagem pessoal como crenças, valores e sentimentos; 36
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO/BENEFÍCIOS E ASSISTÊNCIA SOCIAL 2. a tarefa: são as ações do indivíduo na produção dos bens ou serviços de responsabilidade da empresa da qual faz parte. É bom esclarecer que a tarefa não representa apenas as ações desenvolvidas no local de trabalho, mas também o deslocamento do indivíduo até a empresa; 3. material: é representado pelo conjunto de meios técnicos e materiais colocados à disposição do trabalhador para o desenvolvimento de suas tarefas. Os produtos ou matérias-primas também são classificados como material; 4. meio de trabalho: representa o ambiente físico no qual o indivíduo executa suas tarefas. 1 Uma vez identificado cada um dos quatro elementos descritos acima, a investigação deverá ocorrer na busca das alterações ocorridas nos mesmos. 11.3 Como montar uma árvore de causas? 1º passo: deve ser realizada uma investigação do acidente tão logo o mesmo aconteça e de preferência no local do evento. Essa primeira investigação deve, se possível, envolver o próprio acidentado e seus companheiros de trabalho, bem como algum técnico que tenha conhecimento tanto da situação como da atividade desenvolvida pelo acidentado. 2 2º passo: procurar identificar na descrição do acidente apenas o que forem fatos objetivos. Nesse momento as interpretações ou as opiniões próprias de envolvidos ou curiosos não acrescentam subsídios para o esclarecimento do evento. Para isso é preciso que o investigar seja o mais imparcial possível e não possua vínculo emocional com os envolvidos. 37
Unidade III Segundo Camarotto o método parte do princípio que, se ocorreu um acidente, alguma coisa variou ou mudou em relação ao habitual. 3º passo: investigar o modo habitual de trabalho (as tarefas rotineiras e o sistema de trabalho cotidiano). O ideal é que os investigadores possam estar pelo menos um dia inteiro no local de trabalho para que todas as ações sejam observadas. Esse terceiro passo visa a encontrar em que ponto o modo habitual de trabalho sofreu variação. 4º passo: proceder com a investigação dos fatos, tanto os que permaneceram inalterados como os que, no momento do acidente, sofreram alteração. Neste passo os quatro componentes (trabalhador, tarefa, material e meio de trabalho) são observados. 1 º passo: montagem da árvore, procurando identificar uma relação entre os fatos ocorridos. Importante nesse momento é respeitar tudo o que tiver coerência e procedência. 38