DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA



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Transcrição:

DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA Jonabio Barbosa dos Santos Anna Tereza de Mendonça Gonçalves SUMÁRIO: 1 Noções Preliminares acerca da Sociedade Empresária; 1.1 Conceito; 1.2 Os Tipos Societários; 1.3 Classificação das Sociedades Empresárias; 1.3.1 Quanto à Responsabilidade dos Sócios; 1.3.2 Quanto ao Regime de Constituição e Dissolução; 1.3.3 Quanto às Condições de Alienação da Participação Societária. 2 Dissolução da Sociedade Empresária; 2.1 Noções; 2.2 Dissolução Total e Parcial; 2.3 Fases; 2.3.1 Dissolução; 2.3.2 Liquidação; 2.3.2.1 Tutela dos Interesses de Terceiros na Fase de Liquidação; 2.3.2.2 A Figura do Liquidante; 2.3.3 Extinção. 3 Procedimento de Dissolução das Sociedades Contratuais; 3.1 Causas de Dissolução Extrajudicial; 3.2 Causas de Dissolução Judicial. 4 Procedimento de Dissolução das Sociedades Institucionais; 4.1 Causas de Dissolução Extrajudicial; 4.2 Causas de Dissolução Judicial. 5. Considerações Finais. Referências. 1 Noções Preliminares acerca da Sociedade Empresária As sociedades constituem-se em um conjunto de esforços realizados por dois ou mais indivíduos no sentido da obtenção de um resultado comum; no caso das sociedades empresariais, o lucro. 1.1 Conceito O direito societário brasileiro é composto por duas categorias de sociedade: a sociedade simples, que não explora atividade empresarial, mas civil, e a sociedade empresária, que interessa diretamente ao Direito Empresarial, já que objetiva o 1

exercício profissional da atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, conforme dispõe o art. 966 do Código Civil. Dessa forma, a sociedade empresária é a entidade jurídica constituída por duas ou mais pessoas, que destinam esforços em comum, a fim de investir o capital necessário para o exercício de uma atividade econômica, visando ao rateio de lucros e vantagens futuramente advindas. Com o registro do ato constitutivo da sociedade empresária, nasce uma pessoa jurídica de direito privado, com personalidade jurídica distinta das de seus sócios, sendo, consequentemente, titular de direitos, obrigações, patrimônio e responsabilidade jurídica própria. 1.2 Os Tipos Societários Os tipos societários previstos no Código Civil são: sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044), sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051), sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087), sociedade anônima (arts. 1.088 a 1.089 c/c a Lei nº 6.404/76) e sociedade em comandita por ações (arts. 1.090 a 1.092). Ditas sociedades empresárias se subdividem, de acordo com o regime de constituição e dissolução, em sociedades contratuais, que são constituídas por um contrato social e têm dissolução disciplinada no Código Civil, e em sociedades institucionais, que são formadas por um ato institucional ou estatutário, e dissolvidas de acordo com as normas trazidas na Lei nº 6.404/76. Como exemplo de sociedades contratuais, temos a sociedade limitada, e, por sua vez, de sociedades institucionais, temos as sociedades anônimas. 1.3 Classificação das Sociedades Empresárias 1.3.1 Quanto à Responsabilidade dos Sócios No que atine à responsabilidade dos sócios, as sociedades podem ser de responsabilidade ilimitada, limitada ou mista. Em verdade, a responsabilidade da 2

sociedade em si será sempre ilimitada; essa classificação, em verdade, diz respeito à possibilidade de responsabilização pessoal ou não dos sócios pelas dívidas da sociedade. A sociedade de responsabilidade limitada é aquela em que, nos moldes do art. 1.052 do Código Civil, "a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social". Desta feita, integralizado o capital social de cada um dos componentes da sociedade, esta regerá autonomamente o seu capital sem que os sócios se responsabilizem de forma pessoal sobre as dívidas societárias. Regem-se supletivamente pelas normas jurídicas que regulam as sociedades simples. Entre seus exemplos, citam-se a sociedade limitada e a sociedade anônima. A sociedade ilimitada é aquela em que, como os sócios respondem ilimitadamente, se esgotado o patrimônio da sociedade, os credores podem executar diretamente os sócios, já que os patrimônios respectivos respondem ilimitada e subsidiariamente pelos débitos. O exemplo clássico é a sociedade em nome coletivo, em que, conforme o art. 1.039 do Código Civil, apenas as pessoas físicas podem, sob responsabilidade solidária e ilimitada, constituí-la. O diploma civil ainda aduz que, embora seja esse o teor da responsabilidade perante terceiros, os sócios podem muito bem "no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um". Já a mista é a sociedade em que tão somente uma parte dos sócios responderá ilimitadamente pelo passivo social. São os casos das sociedades em comandita simples e das sociedades em comandita por ações. No primeiro caso, "tomam parte sócios de duas categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota" (art. 1.045 do Código Civil). No segundo caso, a responsabilidade ilimitada à subsidiária cinge-se ao acionista diretor da sociedade em comandita por ações. 3

1.3.2 Quanto ao Regime de Constituição e Dissolução No que pertine ao regime de constituição e dissolução, diferem-se as sociedades contratuais e institucionais. Como bem expõe André Luiz Santa Cruz Ramos, nas contratuais, impera a autonomia da vontade, já que os sócios podem disciplinar as relações sociais com ampla discricionariedade, encontrando limites apenas nas leis, cuja interferência, ainda assim, é pequena, eis que assim se delineia a ordem econômica estabelecida pela Constituição. Por outro lado, as sociedades institucionais não são regidas pelos contratos sociais e pelo Código Civil, mas por estatutos, nos moldes descritos pela Lei nº 6.404/76. A intervenção do legislador é mais intensa, eis que se tratam de empreendimentos econômicos mais amplos, cuja repercussão social de suas atividades econômicas é bem maior 1. 1.3.3 Quanto às Condições de Alienação da Participação Societária Em referência às condições de alienação da participação societária, as sociedades podem ser de pessoas ou de capital. No primeiro caso, as sociedades são constituídas com base na figura pessoal dos sócios. Por ser fator muito importante, são também chamadas de sociedades intuitu personae, de sorte que a mudança de sócios deve ser consentida pelo outro componente societário. Nas sociedades de capital, a seu turno, a permuta de sócios não carece de prévio consentimento, pois o que realmente importa é o aporte de capital investido na sociedade. Assim, confundem-se com as sociedades intuitu pecuniae 2. 1 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Curso de Direito Empresarial: o novo regime jurídico-empresarial brasileiro. 4. ed. Salvador: Juspodivm, 2010. p. 312-313. 2 Op. Cit. p. 313. 4

2 Dissolução da Sociedade Empresária Os sócios de sociedade empresária que não mais possuem o interesse em permanecer exercendo a atividade econômica podem fazer uso deste procedimento para levantar haveres e receber o que fizerem jus e, caso seja do interesse dos sócios remanescentes, extinguir a sociedade. 2.1 Noções O conceito de dissolução possui mais de um significado no Direito Societário. Em sentido amplo, nas palavras de Fábio Ulhoa Coelho, "refere-se ao procedimento de terminação da personalidade jurídica da sociedade empresária, isto é, o conjunto de atos necessários à sua eliminação, como sujeito de direito" 3. De acordo com o mencionado entendimento, a sociedade empresária paralisa suas atividades econômicas, iniciando uma série de atos que terão como desfecho a sua extinção e, consequentemente, o exaurimento de sua personalidade jurídica, não possuindo mais direito, tampouco obrigações perante terceiros. O procedimento dissolutório das sociedades empresárias é formado por três fases distintas, quais sejam, o ato de dissolução, a liquidação e, finalmente, a extinção da sociedade empresária. Para alguns autores, dentre eles Fábio Ulhoa Coelho 4 e Waldirio Bulgarelli 5, o procedimento de dissolução tem como fases o ato de dissolução, a liquidação e a partilha. Por outro lado, em sentido estrito, o termo dissolução se refere ao ato de dissolução, enquanto primeira fase do procedimento dissolutório, que poderá ser judicial ou extrajudicial. 3 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. v. 2. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 452. 4 Op. Cit. p. 452. 5 BULGARELLI, Waldirio. Direito Comercial. São Paulo: Atlas, 2001. 5

O direito societário brasileiro contempla dois diferentes regimes dissolutórios, um subjacente à dissolução das sociedades institucionais, ou por ações, regulado pela Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404/76), e outro concernente à dissolução das sociedades contratuais, regulado pelo Código Civil, nos arts. 1.033 a 1.038. Conforme ressaltado pela doutrina 6, não há diferenças teóricas nem práticas realmente importantes entre os dois tipos de procedimento dissolutório, uma vez que ambos dispõem da mesma estrutura geral, qual seja: um ato formal, extrajudicial ou judicial, que dá início ao procedimento, que é seguido pela liquidação, sendo essa a realização do ativo e do passivo da sociedade, e, em seguida, divide-se o remanescente ativo, se houver, entre os sócios, havendo, finalmente, a extinção da personalidade jurídica empresarial. Assim, a diferença, de fato existente, diz respeito à natureza dos vínculos societários que serão desfeitos, ou seja, "as sociedades contratuais se dissolvem seguindo regras orientadas, em parte, pelo direito dos contratos, característica que não se encontra no regime dissolutório das institucionais" 7. 2.2 Dissolução Total e Parcial As sociedades podem ser dissolvidas plenamente, isto é, deixarem de existir, momento em que há, também, o término de sua personalidade jurídica e o rompimento de todos os vínculos contratuais que lhe originaram. Por outro lado, também poderá haver a dissolução parcial, que não põe termo à sociedade empresária, nem à sua personalidade jurídica, já que essa continua a existir com os sócios remanescentes. Assim, opera-se o rompimento do pacto originário em relação aos sócios que deixam a sociedade, porém, a empresa é preservada, continuando suas atividades com os demais sócios. Ademais, a etapa 6 Op. Cit. p. 452; Op. Cit. p. 318. 7 Op. Cit. p. 453. 6

final dessa modalidade de dissolução é a apuração do valor devido ao(s) sócio(s) dissidente(s), assistindo-lhe o direito de perceber tudo o que teria direito se a dissolução fosse total, já que, para ele, a sociedade terminou. Cumpre ressaltar, porém, que esse direito de crédito se refere ao valor patrimonial das quotas que titulava, referindo-se, aludido valor, ao patrimônio líquido atual da sociedade, do qual detinha parcelas, e não o valor nominal expresso no contrato social. Essa forma de dissolução é uma construção doutrinária, que foi adotada pela jurisprudência e, em seguida, pelo Código Civil de 2002. Assim, de acordo com Waldo Fazzio Júnior, essa forma de dissolução foi criada "precisamente para resguardar a estabilidade da empresa contra a eventual instabilidade dos interesses dos sócios, suprindo assim as deficiências do individualismo do Código Comercial, voltado preferencialmente para a proteção destes" 8. 2.3 Fases 2.3.1 Dissolução Conforme mencionado, o termo dissolução, em sentido estrito, refere-se ao ato de dissolução da sociedade, fase inicial do procedimento dissolutório. O ato de dissolução pode ser extrajudicial quando há a vontade dos sócios, devidamente registrada em ata, alteração contratual ou distrato, ou através da dissolução de pleno direito, quando há a ocorrência de alguma das causas previstas em lei ou no contrato/estatuto da empresa. Por outro lado, esse ato poderá ser judicial, que, como a própria denominação indica, requer a intervenção do Poder Judiciário, sendo, assim, a sociedade empresária dissolvida por meio de sentença. Dessa forma, verifica-se que a distinção entre as duas formas de ato de dissolução se fundamentam na natureza desse ato, ou seja, o instrumento da 8 FAZZIO Jr., Waldo. Fundamentos de Direito Comercial: empresário, sociedades comerciais, títulos de crédito. São Paulo: Atlas, 1999. p. 56. 7

operação, e não na causa que o operou. Assim, a extrajudicial é instrumentalizada por ato dos sócios, enquanto que a judicial, por decisão do Judiciário. Essa primeira fase significa, conforme ressaltado por José Maria Rocha Filho, "que a sociedade parou de funcionar, deixou de exercer sua atividade. Porém, não perdeu, ainda, sua personalidade jurídica" 9. Assim, a sociedade continua existindo enquanto pessoa jurídica de direito privado, consequentemente detentora de personalidade jurídica, porém, não exerce mais as atividades que lhe eram inerentes. Essa previsão está devidamente regulamentada pelo Código Civil, no art. 51. Conforme prelecionado por Maria Helena Diniz, "havendo dissolução da pessoa jurídica ou cassada sua autorização para funcionamento, ela subsistirá para fins de liquidação, mas aquela dissolução ou cassação deverá ser averbada no registro onde ela estiver inscrita, para que se dê publicidade ao fato, resguardandose interesse da entidade e de terceiros" 10. Sendo assim, observa-se que a dissolução por vontades dos sócios ou até mesmo por imposição legal ou da própria Administração Pública, no exercício de suas atividades, inclusive do poder de polícia, não podem em hipótese alguma prejudicar os interesses de terceiros, que tenham com a sociedade celebrado contratos, constituído obrigações de boa-fé, sendo esta a razão da imposição da averbação da decisão de dissolução no registro próprio. 2.3.2 Liquidação A liquidação é a fase subsequente ao ato de dissolução, em sentido estrito. Compreende o momento de findar os negócios da sociedade, realizando o ativo, isso é, recebendo os créditos que lhe competem, quitando o passivo, ou seja, 9 ROCHA FILHO, José Maria. Curso de Direito Comercial. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 317. 10 DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 105. 8

arcando com o pagamento de todo o débito social, cumprindo as obrigações perante seus credores e, por fim, partilhando o remanescente, se houver, entre os sócios. Seguindo esse norte, os objetivos precípuos da fase de liquidação são a realização do ativo, por um lado, e a satisfação do passivo, por outro. A realização do ativo, ao seu turno, compreende a alienação dos bens da sociedade liquidanda e a cobrança aos seus devedores, enquanto que a satisfação do passivo significa o pagamento das dívidas contraídas pela sociedade. Nada impede, porém, que outras medidas sejam adotadas, na fase de liquidação, desde que os direitos dos credores, bem como dos sócios, sejam atendidos 11. Conforme ressalto, a sociedade dissolvida, seja judicial ou extrajudicialmente, não perde, de forma instantânea, sua personalidade jurídica, mas, ao contrário, conserva-a, em parte, para que possa liquidar as obrigações existentes, consoante disposto no art. 207 da Lei nº 6.404/76, bem como no art. 51 do Código Civil. Assim, a sociedade, a partir do ato de dissolução, para de exercer as atividades que lhe eram inerentes, porém, conserva sua personalidade jurídica, para que possa, na fase de liquidação, resolver as pendências e obrigações perante seus credores, bem como para que possa perceber o que lhe é devido por seus devedores. Dessa forma, a personalidade jurídica, na fase de liquidação, é mantida somente para que possa haver o adimplemento das obrigações, ou seja, como garantia para os devedores, e não em sua forma plena, não podendo a sociedade ser sujeito de direito, tampouco de obrigações contraídas nesse lapso temporal. Aliás, o fato dos sócios se valerem desse momento por que passa a sociedade para contrair obrigações perante terceiros pode ser entendido como fraude, sendo, inclusive, imputado aos sócios, enquanto pessoas físicas, o adimplemento das obrigações contraídas, e não à sociedade, uma vez que essa não detém a personalidade jurídica de forma plena, impossibilitando-a de contrair dívidas em seu próprio nome. 11 Fábio Ulhoa Coelho dá o seguinte exemplo: "Se parte dos bens da sociedade, em vez de vendida, é atribuída a sócio, por conta do crédito a haver na partilha, e isso não prejudica a satisfação das obrigações da sociedade, nem os direitos dos seus demais membros, a alternativa é cabível". Op. Cit. p. 461. 9

Consoante Fábio Ulhoa Coelho, a sociedade em fase de liquidação "sofre uma considerável restrição na sua personalidade, na medida em que somente pode praticar os atos necessários ao atendimento das finalidades da liquidação. Qualquer negócio jurídico realizado em nome da sociedade empresária dissolvida que não vise dar seguimento à solução das pendências obrigacionais não pode ser imputado à pessoa jurídica. Esta não é mais um sujeito apto a titularizar direitos ou contrair obrigações, salvo os indispensáveis ao regular processamento da liquidação. Imputam-se, desse modo, as consequências do ato exclusivamente à pessoa física que o praticou em nome da sociedade dissolvida" 12. Ademais, após o cumprimento dos objetivos precípuos da liquidação, com a real satisfação do passivo, e a realização do ativo, o patrimônio remanescente, se houver, será partilhado entre os sócios, tendo como parâmetro, em regra, a participação de cada um no capital social da empresa. Há, porém, a possibilidade de que os sócios pactuem outra forma de realização da partilha, visto se tratar de direito disponível. Há, ainda, a possibilidade de que os bens do patrimônio social não sejam suficientes para a satisfação das obrigações contraídas pela sociedade. Assim, se o capital social estiver totalmente integralizado, o liquidante poderá pedir, desde logo, a falência da sociedade, ou realizar os pagamentos que sejam possíveis, com a devida observância dos critérios de preferência entre os credores, confessando a falência da empresa somente após o término dos recursos da liquidação. A primeira alternativa atribuída ao liquidante tem previsão expressa no art. 1.103, VII, do Código Civil, bem como no art. 210 da Lei de Sociedades Anônimas, enquanto que a segunda possibilidade vem albergada no art. 1.106 do Código Civil, assim como no art. 214 da Lei nº 6.404/76. Saliente-se, também, que no caso de dissolução parcial, haverá, também liquidação parcial da sociedade, consoante disposição dos arts. 1.028 e 1.032. De acordo com André Luiz Santa Cruz Ramos: "Assim, por exemplo, um sócio 12 Op. Cit. p. 460. 10

descontente pode requerer sua saída da sociedade e o recebimento da parte que lhe cabe no patrimônio social. Nesse caso, não se nomeia liquidante, bastando a indicação de perito contábil para a apuração dos haveres" 13. Ressalte-se, por fim, que não haverá necessidade de liquidação quando a sociedade se extingue por fusão, incorporação ou cisão total, vez que a nova sociedade, no caso de fusão, a incorporada, em se tratando de incorporação, ou a(s) sociedade(s) resultante(s) da cisão total assumirá(ão) os direitos e obrigações das sociedades extintas. Nessas hipóteses, então, passa-se direto do ato de dissolução para a fase de extinção da sociedade. 2.3.2.1 Tutela dos Interesses de Terceiros na Fase de Liquidação Conforme ressaltado acima, a sociedade em fase de liquidação sofre uma perda parcial de sua personalidade jurídica, na medida em que não pode mais ser considerada sujeito de direito, tampouco apta a contrair obrigações, uma vez que a parte subsistente de sua personalidade jurídica se funda, apenas, no adimplemento das dívidas já existentes. Dessa forma, os interesses de terceiros devem ser tutelados, uma vez que firmar acordos com a sociedade em liquidação não se faz possível. Para tanto, a lei estabeleceu três formas de proteção: a publicidade do ato dissolutório, mediante o arquivamento na Junta Comercial, consoante estabelecido pelo Código Civil, em seu art. 51, 1º, bem como pela LSA, em seu art. 210, I; a utilização obrigatória do termo "em liquidação", no nome empresarial da sociedade, em todas as vezes em que se apresenta, conforme previsão do art. 1.103 do CC, assim como do art. 212 da LSA; e, por fim, a previsão da figura do liquidante, representante legal da sociedade em fase de liquidação. 13 Op. Cit. p. 497. 11

2.3.2.2 A Figura do Liquidante Consoante acima delineado, a terceira forma de proteção prevista ao terceiro de boa-fé é a instituição de um representante legal para a sociedade liquidanda. Assim, durante a fase de liquidação e até que a personalidade jurídica da sociedade seja plenamente extinta, a representação da sociedade não será mais exercida pelos diretores, no caso da sociedade anônima, nem pelos administradores, em se tratando de sociedade limitada, mas esta será incumbência do liquidante, sendo este o responsável pela expressão da vontade da sociedade liquidanda. O liquidante tem como incumbências: arrecadar os bens móveis e imóveis integrantes do patrimônio social, aliená-los a preço de mercado, dar quitação aos devedores pelos pagamentos feitos em favor da sociedade, contratar advogado para a cobrança dos inadimplentes, pedir aos sócios a complementação da integralização das ações ou quotas, se necessário ao prosseguimento da liquidação, renegociar dívidas, rescindir os contratos de trabalho, na medida em que são desativados os setores da organização administrativa em que laboram os respectivos empregados, dentre outras obrigações. Em algumas situações, principalmente em se tratante de dissolução extrajudicial, a pessoa que já representava a sociedade, como o diretor ou o administrador, poderá ser investido na função de liquidante. Há, porém, diferenças significativas entre as duas funções, principalmente no que diz respeito à extensão da personalidade jurídica da sociedade, antes e depois do ato de dissolução, pois, ao passo em que o administrador tem amplos poderes, para obrigar a sociedade por quaisquer atos, mesmo pelos que são estranhos ao objeto social, o liquidante somente a pode vincular nos atos inerentes à fase de liquidação. A escolha do liquidante, em se tratando de procedimento de dissolução extrajudicial da sociedade, caberá aos sócios, desde que não esteja nomeado no estatuto ou contrato social. Em se tratando de sociedade anônima, porém, a designação é feita pela assembleia geral que aprovou a dissolução, ou pelo conselho de administração, se este já existia e foi mantido. No procedimento judicial, ao revés, a escolha do liquidante será feita pela autoridade judicial, respeitadas as 12

condições previstas em estatuto ou contrato social, segundo o art. 657 do CPC/1939, aplicável por força do art. 1.218 do atual CPC. Deve também ser observado que a partir do momento em que entrar em vigor a Lei nº 12.441/2011, que insere no Ordenamento Jurídico brasileiro a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI, também haverá a necessidade de aplicação das regras aqui estudadas, no que couber sobre a liquidação de sociedades do patrimônio reservado pelo empresário individual ou empreendedor individual para o exercício da atividade econômica devido à disposição constante no 6º do art. 980-A do Código Civil vigente introduzido pela Lei nº 12.441/2011 14. 2.3.3 Extinção A extinção é a terceira e última fase do procedimento de dissolução de uma sociedade empresária, culminando na perda definitiva de sua personalidade jurídica. Inicia-se a presente fase com a prestação de contas pelo liquidante de suas atividades, nos termos do art. 1.108 do CC, que dispõe: "pago o passivo e partilhado o remanescente, convocará o liquidante assembleia dos sócios para a prestação final de contas". Assim, caso haja a aprovação das contas do liquidante, pelos sócios, consoante previsto pelo art. 1.109 do CC, bem como pelo art. 51, 3º, da LSA, haverá o encerramento da liquidação e a consequente extinção da sociedade. Dessa forma, com a apresentação e aprovação das mencionadas contas, far-se-á o registro do ato próprio na Junta Comercial, devendo constar, por imperativo do estabelecido pelo art. 53, X, do Decreto nº 1.800/96, "a declaração da importância repartida entre os sócios, a referência à pessoa ou às pessoas que assumirem o 14 "Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. (...) 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas." 13

ativo e o passivo superveniente ou não à liquidação, a guarda dos livros e os motivos da dissolução, se não for por mútuo consenso". José Maria Rocha Filho ressalta, ainda, que: "o pedido de registro do ato de extinção, (...), deve ser instruído com os documentos pertinentes, incluídas as certidões negativas de débito perante as Receitas Federal e Estadual, o FGTS e o INSS, valendo a pena lembrar que deveria ser exigida, também, a teor do Decreto- Lei nº 368, de 19.12.68, certidão negativa de débito salarial, expedida pelo Ministério do Trabalho [e Emprego], vez que, segundo o art. 1º, inciso III, daquele diploma legal, não pode ser dissolvida a empresa em débito salarial com seus empregados" 15. Se, porém, haja a discordância da prestação de contas por algum dos sócios, mas este seja vencido na assembleia que a aprovou, terá o prazo de 30 dias para a propositura da ação que entender cabível, conforme previsão do parágrafo único do art. 1.109 do CC, que dispõe: "o dissidente tem o prazo de trinta dias, a contar da publicação da ata, devidamente averbada, para promover a ação que couber". Outra hipótese prevista pelo Código Civil, no art. 1.110, é a insatisfação de algum credor quanto ao procedimento de liquidação. Dessa forma, o credor insatisfeito só terá direito a exigir dos sócios, individualmente, o pagamento do seu crédito, até o limite da soma por eles recebida em partilha, e a propor contra o liquidante ação de perdas e danos. Destarte, o procedimento de dissolução da sociedade empresária termina com sua extinção e, consequentemente, com a perda de sua personalidade jurídica. 3 Procedimento de Dissolução das Sociedades Contratuais Quando se fala meramente em dissolução das sociedades contratuais, devese ter em mente as hipóteses de dissolução total das sociedades contratuais, em 15 Op. Cit. p. 320. 14

alusão às causas contidas no art. 1.033 e seguintes do Código Civil. Bem diferentes são as causas de dissolução parcial, eis que, nestas possibilidades, tais figuras societárias continuam a existir, embora com constituição diversa, motivada pela modificação no quadro societário. Tratar-se-á a seguir de cada uma dessas duas ramificações. Como bem assentado, a dissolução total acontece por meio do início do procedimento de cessação definitiva das atividades da sociedade empresária, não se confundindo com a situação jurídica em que a mesma continua plenamente a exercer suas atividades, com modificação apenas do quadro de sócios dela participante. O procedimento de dissolução pode ocorrer judicial ou extrajudicialmente. 3.1 Causas de Dissolução Extrajudicial As causas que ensejam dissolução total extrajudicial encontram-se previstas no art. 1.033 do Código Civil, o qual prevê que "dissolve-se a sociedade quando ocorrer": a) O vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado Trata-se o presente caso daqueles em que ocorre a constituição de sociedade por tempo determinado. Como no momento da criação todos os sócios deliberaram espontaneamente pelo exercício da atividade apenas durante certo tempo, expirado tal ínterim, a sociedade entra em processo de liquidação. Contudo, pelo princípio da autonomia da vontade, nada impede que, embora pactuado previamente o contrário, a sociedade se mantenha constituída indeterminadamente, mesmo porque não há nenhuma objeção de ordem pública a que ela continue exercendo suas atividades. Pelo contrário, há o interesse de que a sociedade continue ativa, respeitada a sua função social. 15

b) O consenso unânime dos sócios Esta hipótese também reforça o princípio da autonomia da vontade, por meio do qual, não havendo infração à lei, nada impede que, assim desejando, sempre continuem a exercer a atividade. Daí se depreende que, apenas mediante acordo de todos, a sociedade pode se extinguir, mesmo porque, se ao menos um dos sócios não o desejar, os demais não podem impedi-lo em sua livre iniciativa, sem prejuízo de que a sociedade seja dissolvida parcialmente. c) A deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado Entendemos que esta hipótese legal só se conforma como legítima caso haja expressa previsão estatutária. Caso contrário, poder-se-ia afirmar que o inciso anterior estaria esvaziado diante deste, posto que não seria necessário a lei aduzir que a sociedade poderia ser extinta por consenso unânime, se o consenso de maioria absoluta dos sócios fosse suficiente. Entender o diverso seria, além disso, desprestigiar claramente, de forma desproporcional, o princípio da proporcionalidade, já que nada impediria a continuação da sociedade por meio dos sócios remanescentes, bastando que estes se propusessem a entrar em acordo com os sócios dissidentes. d) A falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias Este elenco parte do próprio pressuposto de existência da sociedade: a pluralidade de sócios, uma vez que, por óbvio, não havendo mais de um sócio, não se constitui sociedade empresária; explora-se a atividade econômica como empresário individual. Assim, restando apenas um entre os sócios remanescentes, a sociedade entra em processo de dissolução, estabelecendo a lei uma quarentena de cento e oitenta dias, prazo mais que suficiente de presunção absoluta de que nem os antigos sócios continuarão na sociedade, nem houve a integração de novos ao antigo quadro. 16

e) A extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar É nítido que, no exercício legítimo do poder de polícia, o Estado não pode impedir a livre iniciativa de atividades empresariais lícitas, contudo pode limitá-la para efeito de fiscalização, mesmo porque qualquer empresa se sujeita a normas específicas que conduzam ao desempenho necessário de sua função social. Assim, uma dessas obrigações é a autorização para funcionar, a qual, quando extinta, torna necessária uma nova autorização, sob pena de, com a caducidade da anterior, a sociedade dissolver-se. 3.2 Causas de Dissolução Judicial De outra parte, as causas judiciais de dissolução total da sociedade encontram-se elencadas no art. 1.034 do Digesto Civil, as quais, dependendo de qualquer dos sócios, ocorrem à sociedade quando: a) Anulada a sua constituição O reconhecimento de vícios de validade na constituição das sociedades depende de pronunciamento judicial, eis que, como não é possível que apenas um dos sócios decida pela dissolução total da sociedade, o reconhecimento da ilegalidade na constituição da sociedade apenas se conforma por meio do reconhecimento judicial. b) Exaurimento de sua finalidade social ou nas hipóteses de verificação de sua impossibilidade de execução Da mesma forma, a citada causa, como é excepcional, só pode ser decidida judicialmente, mediante processo em que sejam assegurados contraditório e ampla defesa, além de ampla possibilidade de produção probatória. 17

As causas de dissolução parcial da sociedade, a seu turno, afiguram-se mais simples. Isso porque não se tratam de causas reais de dissolução, em que o ente social entra em processo de liquidação, mas tão somente de causas de alteração do quadro de sócios, o que pode ocorrer perfeitamente com a morte ou a saída de antigo sócio, ou mesmo da permuta ou entrada de um novo, modificações que não desnaturam a vocação que a empresa tem de cumprir a sua função social, que é o que mais importa. c) A gestão fraudulenta ou temerária e no descumprimento do objeto social nas hipóteses em que há prática de crime Muito embora não seja explorado pela doutrina, mas na compreensão dos autores há a possibilidade da sociedade ser dissolvida por determinação judicial nas circunstâncias de atividades econômicas que sejam executadas para encobrir práticas criminosas como no caso da lavagem de dinheiro, dos crimes contra a ordem econômica, da gestão fraudulenta ou temerária no caso das instituições financeiras (crimes de gestão fraudulenta (art. 4º, caput, da Lei nº 7.492/86) e gestão temerária (art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86). Neste caso, essas condutas levariam como consequência ao afastamento dos sócios da sociedade, ou até mesmo à cassação das autorizações para funcionamento e exercício das atividades econômicas pela sociedade. É importante ressaltar que essas questões devem ser amadurecidas do ponto de vista doutrinário e jurisprudencial, pois no nosso entendimento este seria um dos efeitos da condenação pelos crimes apresentados neste item. 4 Procedimento de Dissolução das Sociedades Institucionais Inicialmente, insta aduzir que os motivos, bem como o procedimento de dissolução das sociedades institucionais, estão estatuídos na Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações). Ademais, assim como nos casos de dissolução das sociedades contratuais, a dissolução das sociedades institucionais também pode ocorrer de forma extrajudicial ou judicial, conforme as causas adiante explicitadas. 18

4.1 Causas de Dissolução Extrajudicial O art. 206 da Lei das Sociedades por Ações aduz que "dissolve-se a companhia: I - de pleno direito": a) Pelo término do prazo de duração Constituída a sociedade institucional a tempo determinado, expirado o referido prazo, a sociedade se extingue. Não há a regra parelha de que os sócios, assim desejando, podem prorrogar as atividades da sociedade, eis que, no caso das sociedades institucionais, por se regerem pelo estatuto, e não pelo contrato, a autonomia da vontade não tem tanta abrangência quando nas sociedades contratuais. Se o único óbice à continuidade legítima da sociedade contratual é a vontade dos sócios, em regra poucos, a objeção à continuidade legítima da sociedade institucional é a vontade dos acionistas, em geral muitos. Nada impede, contudo, que terminado prazo de duração da S.A., o antigo acionista explore a mesma atividade econômica, mas sob a constituição de outra sociedade. b) Nos casos previstos no estatuto O estatuto faz lei entre os acionistas, de sorte que, mediante previsão estatutária, é perfeitamente possível que, se tais normas não infringirem a lei, possam prever condições de pronta dissolução de tais sociedades. c) Por deliberação da assembleia geral (art. 136, X) É o espelho da previsão contida no art. 136, X, da Lei das Sociedades por Ações: Art. 136. É necessária a aprovação de acionistas que representem metade, no mínimo, das ações com direito a voto, se maior quórum não for exigido pelo estatuto da companhia cujas ações não estejam admitidas à negociação em bolsa ou no mercado de balcão, para deliberação sobre: (Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997) (...) X - dissolução da companhia. (Incluído pela Lei nº 9.457, de 1997) 19

Trata-se de norma jurídica semelhante à contida no art. 1.033, III, do Código Civil, para as sociedades contratuais. Estabelece-se o requisito mínimo da maioria absoluta para a aprovação da dissolução da companhia. d) Pela existência de 1 (um) único acionista, verificada em assembleia geral ordinária, se o mínimo de 2 (dois) não for reconstituído até a do ano seguinte, ressalvado o disposto no art. 251 Trata-se, mutatis mutandis, da regra prevista para a sociedade contratual, admitindo que a existência de um único acionista torna a sociedade por ações em empresário individual. A presunção absoluta de dissolução ocorre com o período de 1 (um) ano, ressalvando-se a constituição de subsidiária integral como acionista único, por escritura pública, conforme o art. 251 da LSA. e) Pela extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar Faz-se referência a causa idêntica à prevista para as sociedades contratuais, a qual foi explicada anteriormente. 4.2 Causas de Dissolução Judicial No que atine às causas de dissolução judicial, o art. 206, II, da LSA aponta que "dissolve-se a companhia: II - por decisão judicial": a) Quando anulada a sua constituição, em ação proposta por qualquer acionista Mutatis Mutandis, é a mesma regra prevista para as sociedades contratuais, por meio da qual a legitimidade ativa da ação anulatória de constituição da sociedade por ações é conferida ao acionista, único que tem interesse jurídico para tal. 20

b) Quando provado que não pode preencher o seu fim, em ação proposta por acionistas que representem 5% (cinco por cento) ou mais do capital social As sociedades institucionais limitam-se aos fins previstos no seu estatuto e na LSA, ao passo que as contratuais encontram-se limitadas apenas pelo seu contrato social e pela Lei Civil. Os fins descritos no estatuto vinculam essas sociedades, de sorte que, verificando que as sociedades por ações fogem a estes objetivos, 5% dos acionistas possuem legitimidade ativa para, judicialmente, intentarem ação visando à sua dissolução. c) Em caso de falência, na forma prevista na respectiva lei Esta hipótese encontra-se diretamente vinculada à Lei nº 11.101/05, que se aplica às sociedades por ações por imperativo de seu art. 1º. Por fim, é importante notar que ainda há a hipótese contida no inciso III, que assenta que a dissolução poderá também ser declarada "por decisão de autoridade administrativa competente, nos casos e na forma previstos em lei especial". De forma devida, a LSA previu que leis especiais reguladoras de mercado poderão prever que, mediante recursos interpostos às autoridades administrativoregulatórias, a dissolução das sociedades institucionais poderão também ser dissolvidas. Para isso, contudo, é necessário prever processo administrativo em que seja reconhecido o contraditório e ampla defesa dos interessados e que os casos de dissolução deverão estar previstos taxativamente na lei, sob pena do cometimento de abusos. 5 Considerações Finais O regime jurídico de dissolução, liquidação e extinção das sociedades empresariais encontra-se definido no Código Civil em seus arts. 1.033 a 1.038 e art. 1.087, tendo buscado o legislador atender as demandas oriundas dos processos de declínio das sociedades empresariais ocasionados por vários fatores relacionados aos sócios, ao objeto social, à norma legal e até mesmo às práticas criminosas que 21

têm nas empresas e, no caso em tela das sociedades empresariais, um instrumento utilizado para prática de crimes. De certo, ainda encontram-se falhas no nosso regime legal de disciplinamento dos procedimentos de dissolução, liquidação e extinção de empresas, o qual muitas vezes se encontra omisso diante das novas formas de exercício de atividades econômicas e dos fatos sociais que são bem mais rápidos do que a dinâmica do legislador. Contudo, às normas inseridas no Ordenamento Jurídico brasileiro, percebese um esforço do legislador e daqueles responsáveis pela efetivação dessas normas no sentido de buscar avanços e modernizações para fazer frente aos atos injustos e díspares existentes no setor econômico no que se refere às atividades econômicas exercidas de maneira ilícita, para encobrir ilícitos ou ainda para dar maior celeridade às dissoluções empresariais que tenham como causa fatores lícitos ou a vontade dos sócios, ou ainda a vontade do Estado, sendo essas questões importantes para o regular desenvolvimento econômico do país. Ademais, o desenvolvimento econômico buscado passa pela correta, coerente e justa regulação e disciplinamento dos procedimentos de que farão uso: empresários coletivos, individuais e individuais de responsabilidade limitada para que os direitos que cada um possui sejam preservados, claro que aqui não é necessário tratar dos interesses dos terceiros envolvidos que necessita de proteção legal e fática, uma vez verificada a inexistência de má-fé. Referências ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. ALVARES, SAMANTHA LOPES. Ação de dissolução de sociedades. 1. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008. 22

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