CONTRIBUIÇÕES RELATIVAS AO PROCESSO DE AUDIÊNCIA PÚBLICA 014/2006



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Transcrição:

CONTRIBUIÇÕES RELATIVAS AO PROCESSO DE AUDIÊNCIA PÚBLICA 014/2006 Outubro/2006 Página 1

CONTRIBUIÇÕES RELATIVAS AO PROCESSO DE AUDIÊNCIA PÚBLICA 014/2006...1 1 OBJETIVO...3 2 REALIZAÇÃO DO INVESTIMENTO NO ÂMBITO DO PPT...5 3 A TRANSCENDÊNCIA DO OBJETO DA AP014/2006...8 4 IMPACTOS NOS AGENTES SETORIAIS... 10 5 PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO... 13 Página 2

1 OBJETIVO Este documento tem por objetivo apresentar as contribuições da Neoenergia ao processo de Audiência Pública 014/2006, relativa ao estabelecimento de critérios para a consideração de Usinas Termoelétricas na elaboração do Programa Mensal de Operação Eletroenergética PMO, em função da falta de combustível para o setor elétrico. Inicialmente analisamos o ambiente institucional e regulatório vigente quando da tomada da decisão pelo investimento em geração termoelétrica no âmbito do Programa Prioritário de Termoeletricidade PPT, implantando pelo Governo Federal. A análise sustenta a premissa básica contida neste documento, qual seja, a de que os geradores termoelétricos participantes do PPT não podem ser penalizados pela falta de combustível, tendo em vista as garantias oferecidas pelo próprio Governo quanto ao seu suprimento e à falta de capacidade de gerenciamento desta questão pelo empreendedor. Tal premissa se justifica na medida em que recente regulamentação emanada pela ANEEL, qual seja, a Resolução Normativa 231, de 2006, que serve de base para a metodologia disponibilizada na referida Audiência Pública, penaliza os agentes termoelétricos do PPT pela falta de gás natural, já que contabiliza este evento em seus índices de indisponibilidade forçada. Em um segundo momento, após analisar as motivações da Agência para a regulamentação proposta, buscamos demonstrar que o objeto da AP014/2006 ora em discussão transcende a regulação do setor elétrico, sendo necessária uma articulação com os demais órgãos do Governo Federal no sentido de buscar as soluções que atendam à premissa de não penalizar os agentes do Página 3

setor, assim como promover as adequações necessárias para que o planejamento da operação ocorra dentro de previsões realistas quanto à confiabilidade do atendimento ao sistema. A manutenção do sugerido na AP014/2006 não resolve os problemas que deram origem à questão da falta de gás e afeta profundamente os direitos econômicos dos agentes setoriais que não possuem qualquer gerência sobre a questão. Posteriormente, apontamos os principais impactos oriundos da aplicação da Disponibilidade Verificada nos modelos de otimização energética utilizados para o despacho hidrotérmico e para a formação dos preços de curto prazo, nos termos da Resolução Normativa 231, de 2006, concluindo que os agentes penalizados serão aqueles pertencentes ao segmento de geração de energia elétrica, tanto térmicos quanto hidráulicos, que não gerenciam questões ligadas à falta de gás alocado ao setor, nem tampouco os critérios que definem sua destinação para outros usos, distintos da geração de energia elétrica. Por fim, procurou-se apontar o encaminhamento da questão, de forma a atender aos anseios da ANEEL com relação à confiabilidade de fornecimento e que não penalize os agentes setoriais que não possuem gerenciamento sobre a disponibilidade de gás natural e que possuem assegurado seu fornecimento pela União. Página 4

2 REALIZAÇÃO DO INVESTIMENTO NO ÂMBITO DO PPT Em fevereiro de 2000, por meio do Decreto nº 3.371, foi lançado pelo Governo Federal o Programa Prioritário de Termeletricidade PPT que visava a construção de uma base de geração térmica para garantir maior sustentabilidade e segurança quanto ao abastecimento ao Sistema Interligado Nacional. Nos termos do artigo 2º do referido Decreto, as usinas termelétricas, integrantes do Programa Prioritário de Termeletricidade, farão jus às seguintes prerrogativas: I - garantia de suprimento de gás natural, pelo prazo de até vinte anos, de acordo com as regras a serem estabelecidas pelo Ministério de Minas e Energia;.... O Ministério de Minas e Energia coordenou o PPT e baixou normas para sua execução, com destaque para a Portaria 43, de 2000, elencando as usinas termelétricas integrantes do PPT. A referida Portaria apresenta os objetivos do PPT, como se vê nos trechos abaixo transcritos extraídos dos seus considerandos: O MINISTRO DE ESTADO DE MINAS E ENERGIA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 87, parágrafo único, inciso II, da Constituição, e considerando que a Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, estabelece que a política energética nacional para o aproveitamento racional das fontes de energia visará, dentre outros objetivos, incrementar em bases econômicas a utilização do gás natural, valorizar os recursos energéticos, proteger o meio ambiente e promover a conservação de energia; Página 5

considerando que a nova concepção da matriz energética brasileira recomenda a utilização de usinas termelétricas, principalmente com utilização de gás natural, o que propicia condições de atendimento ao mercado a curto prazo e permite ganhos de confiabilidade e eficiência no sistema gerador de energia elétrica; geração estratégica para a operação de hidrelétricas, menor prazo de construção e maior facilidade na obtenção de financiamento; considerando que se faz necessário estabelecer ações integradas, coordenadas por este Ministério, resolve: (grifos nossos) A mesma Portaria detalhou algumas garantias aos investidores, destacando-se a nomeação da Petróleo Brasileiro S.A. - PETROBRAS como responsável pelo suprimento de gás natural. Foi neste ambiente de Política de Governo, que visou a implantação de fontes de geração de energia diversas da hidrelétrica, com prioridade para a termelétrica a gás natural, que diversos empreendedores investiram em geração termoelétrica no Brasil no âmbito do PPT. Para assegurar o fornecimento de gás natural a ser utilizado como combustível para fins de geração de energia elétrica, foram celebrados Contratos de Compra e Venda de Gás Natural, com as concessionárias estaduais de serviço público de distribuição de gás, tendo como participante interveniente a PETROBRAS. De acordo com os referidos contratos firmes de compra de combustível, os agentes térmicos tiveram assegurado o fornecimento de combustível por um período de 20 anos, contados a partir do início da operação comercial da primeira unidade geradora, o que ratificava o disposto em Decreto Presidencial. Página 6

Considerando que as térmicas do PPT são beneficiárias da garantia dada pela União quanto à disponibilidade de combustível, entendemos que a aplicação de penalidades pela falta de gás não pode afetar os direitos, obrigações e interesses das térmicas, seja no aspecto operacional, seja no que diz respeito ao lastro para atender aos seus compromissos de venda. Página 7

3 A TRANSCENDÊNCIA DO OBJETO DA AP 014/2006 Como será demonstrado no item a seguir, os efeitos da medida proposta pela Agência serão absorvidos quase que totalmente pelos agentes geradores e consumidores livres, que não possuem qualquer gestão sob a alocação do gás natural para o setor de energia elétrica, que, inclusive, está garantida pelo Governo Federal. Desta forma, a questão da disponibilidade de gás para o setor elétrico transcende o enfoque único e exclusivo da regulação específica deste setor. Apesar da proposta disponibilizada pela ANEEL estar em linha com o aumento da confiabilidade do atendimento do sistema, da forma proposta, todos os desdobramentos de tal medida serão absorvidos pelos agentes do próprio setor. A questão básica aqui tratada se refere à quantidade de gás disponível para o setor elétrico brasileiro. Apesar da limitação de informações quanto a real disponibilidade de gás no Brasil, tudo leva a crer que o problema em tela se refere à priorização do fornecimento de combustível para os diversos setores produtivos, e não à indisponibilidade para o pleno atendimento do setor elétrico (que, vale repetir, é garantido pela União por meio de Decreto Federal). De uma forma preliminar, entendemos que a ação que se impõe preliminarmente é uma articulação entre os diversos órgãos do governo Federal, no sentido de informar aos agentes interessados e à sociedade em geral, a real disponibilidade de gás natural e respectiva demanda associada. Por todo o exposto, entendemos que esta questão não poderá ser tratada por Resolução específica da ANEEL, devendo ser objeto de elaboração de Política Governamental e posterior regulamentação, envolvendo Ministério de Minas e Energia, o Conselho Nacional de Política Energética CNPE, o Comitê de Página 8

Monitoramento do Setor Elétrico CMSE, a Agência Nacional de Petróleo - ANP, a Empresa de Pesquisa Energética - EPE e a própria ANEEL. Página 9

4 IMPACTOS NOS AGENTES SETORIAIS É patente a preocupação da ANEEL com a necessidade de segurança no abastecimento e confiabilidade do fornecimento, bem assim com os níveis de risco de déficit originados pelos modelos de otimização utilizados no Planejamento da Operação. Porém, é necessário analisar os impactos que a medida proposta causa sobre os agentes setoriais, com vistas a encontrar nova solução para a ques tão da confiabilidade do abastecimento, sem afetar os agentes que não deram causa ao problema e que não possuem ferramentas para gerenciá-lo. A primeira percepção advinda da aplicação proposta contida na minuta de Resolução disponibilizada no processo de Audiência Pública 014/2006 é o aumento abrupto do Custo Marginal de Operação - CMO (e por conseqüência do Preço de Liquidação das Diferenças PLD) para todos os submercados, tendo em vista a retirada da oferta e a manutenção da demanda por energia nos modelos de otimização hidrotérmico utilizados pelo ONS e pela CCEE. Tal percepção, se traduz em realidade na medida em que se simula o comportamento do CMO e do PLD quando, da retirada da oferta térmica de acordo com o conceito de Disponibilidade Observada constante da Resolução ANEEL 231, de 2006, utilizando-se os dados constantes do Programa Mensal de Operação - PMO relativo ao mês de outubro do corrente ano. Tendo em vista que a grande parte do consumo no Brasil não é afetada pela variação dos preços no curto prazo, a retirada da oferta térmica não impactaria os níveis de consumo dos consumidores cativos. Página 10

Caso o consumo verificado permaneça próximo aos níveis atuais, pode-se concluir que o aumento abrupto do PLD afetaria de forma direta os agentes geradores, distrbuidores, comercializadores e os consumidores livres. O aumento sistêmico do PLD irá punir e premiar agentes de uma forma aleatória, dependendo da sua posição no mercado de curto prazo, sem qualquer mérito em função de prévia análise quanto aos sinais econômicos oferecidos pelas ferramentas disponibilizadas no mercado. Este aumento dos preços implicaria, de uma forma geral, nos seguintes impactos: Ganhos para os agentes que se encontram sobrecontratados; Aumento do preço de energia no curto e médio prazo para os consumidores livres; Redução da disponibilidade de energia no MCSD, já que as distribuidoras teriam o incentivo de manter sua sobrecontratação, inclusive acima do nível de 103% permitido para o repasse às tarifas, tendo em vista o provável ganho financeiro oriundo da liquidação de suas sobras a um PLD alto; por conseqüência, elevação das exposições financeiras das distribuidoras subcontratadas devido à escassez de energia do MCSD; e Aumento da probabilidade de despacho por parte das térmicas do PPT, o que incorrerá em aumento da Taxa de Indisponibilidade Forçada TEIF e conseqüente perda de lastro de venda dessas térmicas. Ademais, a alteração da formação dos preços irá gerar incerteza no ambiente de contratação livre e regulado, já que é decorrente de alteração das atuais regras de formação dos preços. Tal constatação introduz risco e imprevisibilidade quando da contratação de curto e de longo prazo, efeito indesejável a todos os atores do mercado de energia elétrica. Página 11

Ressalta-se que a questão foi apreciada pela ANEEL em sua Nota Técnica 028/2006-SRG/ANEEL, na medida em que tece os seguintes comentários: 6. A eventual redução da oferta de energia no horizonte de médio prazo afetará de maneira significativa o Custo Marginal de Operação CMO, calculado pelos modelos de otimização energética. 7. Tal elevação no CMO, certamente será refletida no Preço de Liquidação de Diferenças PLD, utilizado pela Câmara de Comercialização de Energia CCEE, para valorar a energia comercializada no mercado de curto prazo, o que poderá afetar agentes que não deram causa a uma repentina e não previsível elevação nos custos de operação.... deve ser avaliado pela CCEE, com a devida profundidade, o efeito que uma eventual redução na oferta de energia teria sobre as diferenças de preços entre os submercados, o que, de acordo com o novo modelo do setor, poderá onerar sobremaneira os consumidores cativos, além de outros agentes do setor elétrico. (grifos nossos) Página 12

5 PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO Considerando a abrangência institucional do problema, propomos que o Ministério de Minas e Energia, o Conselho Nacional de Política Energética CNPE, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico CMSE e a Empresa de Pesquisa Energética EPE, elaborem Política de Governo a ser regulamentada pela Agência Nacional de Petróleo ANP e pela ANEEL, sempre após realização de Processo de Consulta/Audiência Pública, que contemple o tratamento a ser dado para a falta de gás destinado ao setor elétrico, com vistas a aumentar a confiabilidade do abastecimento sem penalizar os agentes setoriais que não possuem qualquer gerência sobre as matérias que se relacionam ao gás natural no Brasil e a seu consumo. Página 13