O EMPREGO GRAMATICAL NO LIVRO DIDÁTICO Desiree Bueno TIBÚRCIO (G-UENP/campus Jac.) desiree_skotbu@hotmail.com Marilúcia dos Santos Domingos Striquer (orientadora-uenp/campus Jac.) marilucia.ss@uol.com.br Introdução Nós, graduandos do curso de Letras (Inglês), do 1º ano, no período vespertino, pretendemos com este artigo apresentar uma análise realizada sobre o livro didático Novo Diálogo (2006), destinado a 5º série (6º ano) do Ensino Fundamental, cuja autoria é de Eliana Santos Beltrão e Tereza Gordilho. Esse livro é utilizado por um Colégio Estadual da cidade de Jacarezinho-Pr. Essa análise foi realizada a fim de averiguar como o presente livro trabalha com a gramática, considerando que esse material é de uso imprescindível em sala de aula, portanto é imensurável a importância da verificação de seu conteúdo. Fundamentação Teórica Através da afirmação de Possenti (1996, p. 73) de que o conceito de gramática não é unívoco, assim também os conceitos de regra, de língua, e de erro não o são, são definidos três diferentes conceitos de gramática. Para definir tais conceitos, esse estudioso da língua portuguesa, utiliza a expressão conjunto de regras que corresponde: às gramáticas normativas conjunto de regras que devem ser seguidas ; às gramáticas descritivas - conjunto de regras que são seguidas ; às gramáticas internalizadas - conjunto de regras que o falante domina (POSSENTI, 1996, pg. 63-69). Convergente com esses três conceitos, Travaglia (2002, p. 38-39) compreende que a gramática pode ser ensinada através de três tipos de processos: o ensino prescritivo, descritivo, e produtivo. O ensino
prescritivo trabalha privilegiando a norma culta, com ênfase no ensino das regras gramaticais, estando ligado então às gramáticas normativas. O ensino descritivo considera o conhecimento do falante e procura mostrar como ele pode ser utilizado. O ensino descritivo se liga as gramáticas descritivas, como também em conjunto com as gramáticas normativas. O ensino produtivo procura trabalhar a língua materna de maneira a estender seu uso, sem modificá-la, ligando-se então a gramática internalizada. Diante desses conceitos e processos de ensino, podemos compreender, a partir de Bagno (2009) que ensinar a gramática pela gramática, ou seja, a gramática normativa, muito dificilmente se ensina a se "usar a língua". Assim, o ensino da gramática normativa, já não é mais compatível, levando em consideração que a gramática ensinada, não é a mesma na qual os falantes utilizam. Análise do livro didático O livro didático Novo Diálogo (BELTRÃO E GORDILHO, 2006) é constituído por sete módulos, para realizarmos esse trabalho, elegemos então apenas o primeiro módulo, onde a gramática é trabalhada em 2 sub-itens, intitulados Trabalhando a gramática. Na página 16, é iniciado, então, o primeiro subitem, na qual o objeto de estudo é a Frase. Para trabalhar a frase, primeiramente o livro traz uma tirinha, página 16, e o primeiro exercício apenas pede que o aluno faça a leitura da tira. Já o segundo exercício, começa a trabalhar a construção de frases e suas relações com os sinais de pontuação que a configuram. Por exemplo: 2. A sequência dos quadrinhos e o diálogo dos personagens revelam o conflito entre um menino e uma menina por causa de uma boneca. a) A menina se queixa à avó no primeiro quadrinho. Que fala da menina revela o seu descontentamento? b) A imagem da menina revela que ela está chorando. Que elementos indicam isso ao leitor?
c) Na fala da menina, que sinal de pontuação pretende enfatizar a emoção que ela sentiu? (BELTRÃO E GORDILHO, 2006, p. 16). O item b e c fazem com que o aluno preste atenção nas expressões que a menina apresenta no 1º quadrinho da tirinha: primeiro o seu descontentamento, segundo a expressão fisionômica através das lágrimas, depois pelo sinal de exclamação que enfatiza a emoção que ela sentiu. Ou seja, o sinal está ligado à construção ou expressividade de sentimento. O item b do 3º exercício fará com que o aluno analise o emprego repetido dos pontos de exclamação que determinam um tom explosivo de descontentamento: b) A fala da avó está registrada com repetidos pontos de exclamação. O que esse emprego determina sobre o tom de fala da personagem? (BELTRÃO E GORDILHO, 2006, p. 17). Ou seja, os sinais estão sendo trabalhados na reflexão, na ligação com o uso para a expressividade, não na relação direta com a norma gramatical, o que ocorre apenas no exercício 4: c) Quantas frases a menina utiliza em sua fala, nesse desfecho, para expressar seu contentamento? Justifique sua resposta. As falas dos personagens estabelecem comunicação porque são enunciados com sentido completo. Assim, a palavra ou o conjunto de palavras que forma cada uma dessas falas é denominada frase. (BELTRÃO E GORDILHO, 2006, p. 17). Com isso, o livro leva o aluno a compreender a frase pelo uso na tira e, consequentemente, tudo se consolida então em frase. Assim, no subitem que aparece na seqüência, denominado de Conceituando, a frase é normatizada: Frase é todo enunciado de sentido completo, constituído por uma palavra ou um conjunto de palavras capaz de estabelecer comunicação. Inicia-se com letra maiúscula e termina com um sinal de pontuação.
Em seguida, o livro apresenta os conceitos de frase oral e frase escrita, na página 18, e a classificação das frases conforme os sinais de pontuação que empregam: Interrogativa, Declarativa e Imperativa. E ainda, o livro apresenta, seqüencialmente, um quadro informando o que são Frases Nominais e Frases Verbais, sem maior abrangência ao assunto. Entramos depois em um conjunto de exercícios no Exercitando, página 18, na qual o primeiro exercício trabalha com a recuperação da tirinha de abertura e propõe as seguintes questões: 1. Na tirinha da Super-Vó, percebe-se que o menino, em toda a narrativa, não fala nenhuma vez, mas sua expressão facial indica o que ele sente. a) Elabore uma frase que possa representar a fala do personagem em cada quadrinho de acordo com a situação e a expressão facial retratadas. b) Que sinais de pontuação você empregou para enfatizar a fala do menino e que efeitos de sentido o emprego desses sinais produziu nas frases? (BELTRÃO E GORDILHO, 2006, p. 18). Com estes exercícios, o livro trabalha a conceituação dada sobre Frase, e a utilização da pontuação na mesma. Assim o aluno estará praticando aquilo que ele acabou de ver como conceitos teóricos. O exercício de número 3 apresenta um texto, sem pontuação alguma, mas está disposto de tal modo que dificilmente alguém não lhe atribuiria sentido. As questões referentes a ele valorizam o uso de textos no ensino da língua materna, ao afirmar que o texto, após ser lido, possuía sentido, mesmo não possuindo pontuação. E em seguida, é pedido ao aluno que trabalhe com essa pontuação, dessa maneira, ele nota por si próprio a necessidade de se utilizar a pontuação na linguagem escrita. 3. Leia abaixo o depoimento de uma jovem que passou por um aperto. Observe que os sinais de pontuação foram retirados. Um amigo de escola fez sua festa de aniversário com videoquê eu e minhas amigas começamos a cantar no mesmo microfone todo mundo ficou olhando para a gente porque o microfone estava desligado uma vergonha.
A.C.P., 12 anos. a) Quando você leu, certamente atribuiu sentido ao texto. Como você o pontuaria? b) Que sinais de pontuação foram usados por você? Onde? Para quê? (BELTRÃO E GORDILHO, 2006, p. 19). Vê-se, na página 25, como o segundo subitem trabalha oração e período. Neste subitem, podemos notar que o livro segue seu padrão, e temos desta vez como primeiro exercício a leitura de uma matéria intitulado: Meu querido Blog e logo em seguida questões de interpretação e logo no exercício 3, o aluno é levado a utilizar seus conhecimentos sobre Frase, tema da qual foi estudado no primeiro subitem. A terceira questão pede que ele dê indícios para comprovar que o texto se inicia com uma frase: 3. O texto inicia-se com uma frase. Que indícios podem justificar essa afirmação? (p. 19). Agora, para que se resolva o 5º exercício, ele deverá utilizar os conceitos descritos em quadrinhos dispostos ao lado dos exercícios, onde está a definição de período e dos conceitos vistos nas páginas anteriores: 4. As frases verbais também são chamadas de períodos. a) Em quantas frases o parágrafo está estruturado? b) As frases podem ser verbais ou nominais. Que tipo de frase predomina na construção desse parágrafo? (BELTRÃO E GORDILHO, 2006, p. 27). Exatamente no mesmo formato, o livro aborda a oração. No subitem Exercitando, página 29, são apresentados alguns trechos de textos literários para trabalho com os conceitos estudados, um desses textos é um trecho do Diário de Pedro, que tem como personagem um menino de quase 12 anos. Os exercícios são, por exemplo: a) Nesse trecho Pedro revela a sua insatisfação. Qual é o principal motivo de sua chateação?
b) Quais são as três hipóteses que Pedro levanta para explicar a sua solidão? c) Essas hipóteses formam períodos. Como são pontuados esses períodos e o que indica o emprego desses sinais? d) Quais dessas hipóteses são formadas por períodos que possuem apenas uma oração? e) Como essas orações podem ser identificadas? (BELTRÃO E GORDILHO, 2006, p. 29). Dessa forma, o que pretende o livro é que através da interpretação, os sentidos constituídos no texto, a gramática vá sendo trabalhada, ou seja, de forma bem contextualizada. Finalizando este subitem, temos o segundo exercício que questiona a totalidade dos conceitos estudados: 2. Com base nos exercícios e no que aprendeu, responda às questões. a) O que caracteriza uma oração? b) O que é uma frase? c) Todo período é uma frase? d) Toda frase é um período? (BELTRÃO E GORDILHO, 2006, p. 29). Temos enfim, o desfecho dessa análise, podendo então afirmar que normas gramaticais são apresentadas, no entanto com recursos inovadores que promovem contextualização. Considerações finais Tendo como objetivo a constatação do uso da gramática no livro didático Novo Diálogo (BELTRÃO E GORDILHO, 2006) pudemos constatar que a gramática é trabalhada por meio de um ensino produtivo. Ou seja, a gramática é trabalhada através de exercícios contextualizados, as normas são apresentadas de uma maneira abrangente, apesar de ainda notarmos o uso da gramática normativa. Contudo devemos lembrar o quanto essa mudança é complexa, levando em conta todos os fatores antagônicos a isso. Referências bibliográficas
BAGNO, M. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. 51º ed. São Paulo: Loyola, 1999. BELTRÃO, S. E.; GORDILHO, T. Novo Diálogo. São Paulo: FTD, 2006 POSSENTI, S. Porque (não) ensinar gramática na escola. Campinas SP: Mercado das Letras, 1996. TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1 e 2º graus. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2002.