27/04/2018. Ação de fazer nascer, formação, produção. Natureza íntima e própria de um ser. Natureza como força criadora das coisas.

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Transcrição:

Os períodos da filosofia grega (ANTIGA) Os quatro grandes períodos da filosofia grega, nos quais seu conteúdo se altera e se enriquece, são:, do fim doséculoviia.c.aofimdoséculova.c.; 2. Período socrático ou antropológico, do fim do séculova.c.aofimdoséculoiva.c.; 3. Período sistemático, do fim do século IV a.c. aofimdoséculoiiia.c.; 4. Período helenístico ou greco-romano, do fim doséculoiiia.c.aoséculovid.c. Nele a filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transformações na natureza. A filosofia pré-socrática se desenvolve em cidades da Jônia (na hoje chamada Ásia Menor): Mileto, Éfeso, Samos e Clazômena; em cidades da Magna Grécia (sul da atual Itália e ilha da Sicília): Crotona, Tarento, Eleia e Agrigento; e na cidade de Abdera, na Trácia (nordeste do atual território da Grécia). Vejamos as principais características da cosmologia: É uma explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da natureza, da qual os seres humanos fazem parte. Desse modo, ao explicar a natureza, a filosofia também explica a origem e as mudançasdos seres humanos. Physis = Palavra grega que significa fazer surgir, fazer brotar, fazer nascer, produzir. A Filosofia, então, nasce como cosmologia, como busca incansável pela Physis (termo grego que designa a natureza). Sua origem está ligada à necessidade do homem grego explicar a realidade ao seu redor. A palavra Physis possui três sentidos principais: Ação de fazer nascer, formação, produção. Natureza íntima e própria de um ser. Natureza como força criadora das coisas. Na análise sobre a Physis, os filósofos pré-socráticos buscaram uma explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da Natureza e, consequentemente, do humano. Na busca pela compreensão da Physis, dois conceitos serão perscrutados pelos pré-socráticos: Arché: significa aquilo que está no começo, principio, origem. É buscada pelos primeiros filósofos com principio absoluto (primeiro e último) de tudo o que existe. É o fundamento, a origem originante. Cosmos: significa ordem e organização do mundo. Segundo os primeiros filósofos, é uma ordem regrada ou normativa. Seu objetivo é tentar entender, a partir da multiplicidade das coisas, o uno. 1

Segundo Chauí (2002, p. 35-36), a Filosofia Nascente possuía as seguintes características: a) É uma explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da Natureza, da qual os seres humanos fazem parte, de modo que, ao explicar a Natureza, a Filosofia também explica a origem e as mudanças dos seres humanos. b) A Filosofia pré-socrática afirma que não existe criação do mundo, negando, assim, a afirmação de culturas anteriores e, principalmente, a religião judaica. Nada vem do nada enada volta ao nada, afirmava o espírito grego. E isso significa: 1) O mundo, ou Natureza, é eterno; 2) No mundo, ou Natureza, tudo se transforma em outra coisa sem jamais desaparecer a sua matéria. c) O fundo eterno, perene, imortal, de onde tudo nasce, no qual tudo é, e para onde tudo volta, é invisível para os olhos do corpo e visível somente paraoolho da razão, isto é, para o pensamento. d) O fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retorna é o elemento primordial da Natureza e chama-se Physis. A Physis é a Natureza eterna e em perene transformação. e) A Filosofia dos pré-socráticos afirmava que, embora a Physis seja imperecível, eterna, ela dá origem a todos os seres infinitamente variados e diferentes do mundo; esses seres, por outro lado, são perecíveis ou mortais. A Physis é imortal, mas as coisas físicas são mortais. f) Afirma o pensamento pré-socrático que todos os seres, alémdeseremgerados edeseremmortais,sãoseres em contínua transformação, mudando de qualidade (por exemplo: o quente esfria) e mudando de quantidade(por exemplo: o pequeno cresce). Portanto, o mundo está numa mudança contínua, sem por isso perder sua forma, sua ordem e sua estabilidade. Esta mudança (nascer, morrer, mudar de qualidade ou de quantidade) chama-se movimento e o mundo está em movimento permanente. A Natureza, então, é mobilidade permanente. O movimento do mundo chama-se devir e segue leis rigorosas que o pensamento pode ter acesso mediante o conhecimento. O devir, portanto, é a passagem contínua de uma coisa ao seu estado contrário e essa passagem não é caótica, mas obedece a leis determinadas pela Physis ou pelo princípio fundamental do mundo. 1. Período pré-socrático ou cosmológico É dividido em escolas: : Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto Heráclito de Éfeso; Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona Árquitas de Tarento; Escola Eleata: Parmênides de Eleia Zenão de Eleia; Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Leucipo de Abdera Demócrito de Abdera. A grande preocupação filosófica era, conforme já abordado, a explicação da Natureza (Physis); consideravam os filósofos deste período, que era possível estabelecer um único princípio ou natureza como originante da existência. Vejamos algumas considerações: Tales de Mileto Nascido na segunda metade do século VII a.c., desenvolveu a sua atividade intelectual na primeira metade do século seguinte. Astrônomo, predisse o eclipse do Sol ocorrido no ano 585 a.c.; engenheiro e matemático, formulou o teorema que leva o seu nome. Tales é considerado o primeiro filósofo grego ao introduzir a investigação racional acerca do princípio ou arché do real.aoobservaroquesepassa no universo, consideraa água como elemento primordial de tudo, o princípio gerador de todas as coisas. Anaximandro de Mileto Compatrício, discípulo e sucessor de Tales, provavelmente, nasceu nos últimos anos do século VII a.c. e morreu em meados do século VI a.c. Foi também astrônomo, geômetra e geógrafo, desenhou um mapa do mundo e escreveu uma obra que foi posteriormente intitulada Acerca da Natureza. Anaximandro repele as ideias de seu mestre para afirmar que o princípio universal é uma substância indefinida, infinita, indeterminada: o apeíron. (O prefixo a, em grego, significa não e o termo peiron designa fim ; logo, apeíron trata-se do infinito). O infinito é o princípio e do apeíron nasce o frio e o calor como separações da substância primordial e se formam os fluídos, a terra, o ar eos astros. 2

Anaxímenes de Mileto Colega de Anaximandro; sabemos muito pouco a seu respeito, salvo que escreveu também uma obra chamada Acerca da Natureza, na qual expunha as suas teorias sobre a natureza. Ensina queéoar o elemento primeiro, do qualnasce o fogo, por um processo de rarefação, e, depois, por condensação, a água, a terra, as pedras e os demais seres. Heráclito de Éfeso Nasceu em Éfeso, na Jônia, e viveu na transição do século VI para o século V a.c. Os historiadores narram que, desde 546 a.c., a Jônia havia sido submetida à invasão e ao domínio dos persas. Em 498 a.c., todas as cidades, com exceção de Éfeso, uniram-se numa confederação contra os persas e foram derrotadas. É considerado por muitos, o mais importante dos pré-socráticos. Também é um dos poucos que possuímos fragmentos de seus escritos (ao todo 132 fragmentos). Heráclito de Éfeso Sua filosofia é uma tentativa de mostrar o dinamismo do universo e do homem. É tradicionalmente conhecido como o filósofo que afirmou radicalmente o devir de todas as coisas, isto é, que tudo muda e nada permanece (nada é). Seu pensamento pode, sem dúvidas, ser resumido na célebre afirmação: Oqueexistenãoéoser,mas o devir; não há outra realidade que não seja a mudança. No universo, segundo o filósofo, tudo escorre (panta rei), tudo se transforma, há um movimento constante de kinesis(mudança). Heráclito de Éfeso A quem desce no mesmo rio sobrevém águas sempre novas. Não se pode descer duas vezes no mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado, mas, por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança, se espalha e se reúne, vem e vai. Descemos e não descemos no mesmo rio, nós mesmos somos e não somos. (HERÁCLITO apud REALE, 2007, p. 52). Heráclito de Éfeso Tudo marcha, tudo flui, nada se estabiliza. Tratase de um princípio verificado pela experiência sensível e isso vem a significar que, o que é muda e, por esse motivo, é. Para Heráclito, o mundo é um fluxo ou mudança permanente de todas as coisas, um devir eterno. A vida se transforma em morte, a morte em vida; o universo é um perpétuo renascer e morrer, nada permanece idêntico a si mesmo. Escola Itálica para outros autores ESCOLA PITAGÓRICA A Escola Pitagórica foi uma comunidade singular de caráter científico, religioso e político. Essa Escola floresceu no século VI a.c. em torno da figura de Pitágoras de Samos e foi o mais importante centro de estudos e de meditação de toda a Antiguidade; trata-se da primeira instituição filosófica do mundo ocidental, localizada ao sul da Itália, região chamada pelos gregos de Magna Grécia. Pitágoras era considerado um sofos (sábio), matemático (lembremo-nos de seu famoso teorema), físico, astrônomo, sacerdote e filósofo e reuniu vários adeptos em uma espécie de monastério, submetendo os iniciados a complexos ritos de iniciação. 3

Escola Pitagórica A tese principal defendida pelos pitagóricos era a de que o número é a unidade primordial. Foram eles, sobretudo matemáticos, e a sua dedicação à matemática exerceu influência definitiva na sua explicação acerca da origem da natureza do real. Observaram como as propriedades e comportamentos dos seres reais podem ser formulados matematicamente e partiram da hipótese de que todos os seres do universo são formuláveis matematicamente. Os pitagóricos consideravam como única explicação possível o fato de que os princípios da matemática são também os princípios dos seres reais e, como os princípios da matemática são os números, afirmaram que os números constituem a natureza do universo. A partir dessa afirmação, atribuíram um número a cada coisa e afirmaram que os números procedemdedoiselementos:opareoímpar. Assim, os pitagóricos adotaram o dualismo da natureza e conseguiram estabelecer uma série de oposições entre dois termos (par/ímpar, limitado/ilimitado, bom/mau, luz/obscuridade, etc.), os quais são aspectos dos princípios originais propostos. Sendo os números a unidadeprimordial, como os pitagóricos entendiam a Physys? Para os pitagóricos, a Physis é o uno ou a unidade primordial e os seus elementos são o par e o ímpar. O par é ilimitado porque sempre pode ser dividido por dois; o ímpar é limitado porque nunca pode ser dividido por dois. O Uno ou unidade primordial participa de ambos porque é pareímpar.ouno,porém,nãoéonúmeroum; este já é uma das manifestações determinadas da Physis. Ora, fica claro, então, que o universo pitagórico é um kosmos (palavra grega que significa ordem, ordenamento, organização ). Cosmos, portanto, é um termo que os pitagóricos, pela primeira vez, usaram neste sentido específico e neste mesmo sentido se manterá como definitivamente adquirido pelo pensamento ocidental. Com o pensamento pitagórico, a Filosofia cumpriu um dos passos mais decisivos: o mundo deixou de ser domínio de forças obscuras, campo de misteriosas e indecifráveis potências (mito), e tornou-se a ordem (cosmos) e, como tal, tornou-se transparente ao espírito e ao conhecimento. O termo ordem diz respeito a número e número diz racionalidade, cognoscibilidade e permeabilidade ao pensamento. No fundo, por mais que pareça obscuro e sem nexo o pensamento pitagórico, percebemos que o domínio do número significa o domínio da racionalidade e da verdade. O pensamento eleático, assim como o pitagórico, representa uma importância grega para a Itália Meridional. Eleata vem de Hyele, nome de uma fonte que existia na região de Regio Calábria; depois passou a ser designada por Eleia e, finalmente, Vélia pelos antigos romanos. Em face das questões cosmológicas, a escola de Eleia assume a seguinte posição: nega a multiplicidade e sucessão dos seres, vista como sendo ilusões dos sentidos; e afirma, em nome da razão, a unicidade, eternidade e imutabilidade do ser. 4

Xenófanes de Cólofon É considerado o fundador da Escola Eleata; nascido em Cólofon, na Ásia Menor, quando da invasão dos persas na Jônia, fugiu de sua terra natal em 546 a.c. e, após longa peregrinação, estabeleceu-se em Eleia, colônia jônica da Magna Grécia (Itália), onde fundou sua escola e morreu com mais de noventa anos de idade. Ficou conhecido na tradição filosófica pela crítica aos aspectos antropomórficos dos deuses míticos, submetidos a paixões e desejos humanos e imaginados com características humanas. De modo geral, é ele o primeiro a nos fornecer uma apresentação filosófica da concepção dos deuses. Xenófanes de Cólofon Se os bois, cavalos e leões tivessem mãos ou se pudessem pintar e realizar as obras que os homens fazem com as mãos, os cavalos pintariam imagens dos deuses semelhantes aos cavalos e os bois semelhantes aos bois e plasmariam os corpos dos deuses semelhantes aos aspectos que cada um deles tem. (XENÓFANES apud REALE, 2007, p. 57). Xenófanes de Cólofon O filósofo afirma a existência de um deus único, com poderes absolutos, clarividência infalível, isento de paixões, absolutamente justo e imóvel. Esse deus é sem forma humana ou qualquer outra conhecida por nós, governando todas as coisas pela penetração de seu espírito e habitando sempre o mesmo lugar. Não se move, isto é, não está sujeito ao tempo e ao devir (geração, alteração qualitativa e quantitativa, corrupção, degradação, etc.). Sendo imóvel, é sempre idêntico a si mesmo, eterno, uno e todo. Em dado momento, afirmará que esse deus é o próprio kosmos, que não exclui, mas admite outros deuses ou entes divinos, sejam elespartesdo kosmosouforçasdo kosmos. Nasceu em Eleia, hoje Vélia, na Itália Meridional. Foi iniciado na Filosofia por um pitagórico, Ameinias; escreveu o famoso poema intitulado Sobre a Natureza e ocupou-se também de política, fornecendo interessantes leis ao povo de Eleia. O grande Parmênides (540-470 a.c.), como denominava Platão, no âmbito dos présocráticos, é um inovador radical, um revolucionário. Com ele a cosmologia sofre um profundo abalo e transforma-se em uma ontologia, uma filosofia do ser. Indo além do mundo das aparências sensíveis - ponto de partida e análise apurada de todos os filósofos de então -, alcança aquilo que, nas coisas, é propriamente o objeto da inteligência. O que é que a inteligência vê, em primeiro lugar, nas coisas todas do universo? Segundo Parmênides, vemos precisamente o que as coisas são, ou seja, o ser. A ideia de ser, assim destacada, impõe-se a Parmênides que, de acordo com Maritain (1978, p. 43), torna-se cativo do ser (do mesmo modo como Heráclito tornou-se cativo do devir). Somente umacoisa Parmênides analisa: o que é e não pode deixar de ser; o ser é, o não-ser não é. Por conseguinte, Parmênides é o primeiro filósofo que temos notícia a formular o conhecido princípio da não contradição, princípio supremo de todo reto pensar. Se a realidade é o ser, consequentemente, ele é eterno e atemporal; toda mudança é ilusória. Para ele, não havia mudança nas coisas; o ser é imóvel e nada perece 5

Parmênides se arvora em ser um dos primeiros a estabelecer um itinerário para o conhecimento: Via da absoluta verdade: essa via é também chamada de via da não contradição ; o grande princípio parmenidiano, que é o princípio da verdade, assim se enuncia: O ser é e não pode não ser; o não-sernão é e não pode ser. O ser, portanto, é e deve ser afirmado; o não-ser não é e deve ser negado, e nisso consiste a verdade. Assim, negar o ser ou afirmar o não-ser é, ao contrário, a absoluta falsidade. Portanto, o ser é puro positivo e o não-ser é puronegativo;o ser éaúnicacoisa pensávele exprimível Conclui-se, então, que os dois problemas essenciais da Filosofia, os quais nortearão a discussão dos grandes temas da tradição, ficam daqui por diante nitidamente postos: o problema metafísico (conciliação entre ser e devir) e o problema gnosiológico (o valor do nosso conhecimento). De modo geral, o trabalho filosófico, depois de Parmênides e Heráclito, será o de realizar uma espécie de acerto de contas entre as duas posições. Zenão de Eleia O procedimento que adotou consistiu em fazer ver que as consequências derivadas dos argumentos apresentados para refutar Parmênides eram ainda mais contraditórias e ridículas do que as teses que pretendiam refutar. Ou seja, Zenão descobriu a refutação da refutação, isto é, a demonstração por absurdo.(reale, 2007, p. 36). Desse modo, segundo Aristóteles, Zenão fundou o método da dialética, isto é, do confronto entre teses opostas e contrárias para provar que nenhuma delas é verdadeira ou que a tese contraditória seria falsa. Zenão instaura, assim, na Filosofia, a arte da argumentação. Desenvolve seu método de discussão e argumentação como método de prova para defender as teses de Parmênides, que começavam a ser ridicularizadas por outros filósofos e pela opinião pública. O ECLETISMO O Ecletismo trata-se do conjunto de tendências filosóficas que sucede o eleatismo e o heraclitismo e possui como principal discussão a existência ou inexistência do uno e do múltiplo, do ser e do devir,da imobilidadee movimento. O ECLETISMO Os filósofos que vieram depois de Heráclito e Parmênides já não podiam aceitar que a razão ou o pensamento, o logos, coincidisse diretamente com a experiência sensível, visto que, para ambos, o verdadeiro é o que se oferece apenas ao e pelo pensamento e é este que julga a experiência sensível. Mas, afinal, o logos é uno ou múltiplo? Como manter a ideia de que o ser é o ser verdadeiro porque sempre idêntico a si mesmo e, ao mesmo tempo, demonstrar que a multiplicidade e o movimento, a diferença entre as coisas e sua transformação também são verdadeiras? Essas questões nortearam a discussão filosófica dos ecléticos. Empédocles de Agrigento Empédocles (492-432 a.c.) era natural de Agrigento, cidade de origem dórica, na Sicília. Era um homem com for tíssima personalidade, sacerdote, vidente e místico; pregador errante e dramaturgo, político e, claro, filósofo. Empédocles é o primeiro pensador que procura resolver a dificuldade dos eleatas, tentando salvar, de um lado, a imobilidade e, de outro, os fenômenos testados pela experiência. Admitia uma pluralidade de elementos constituintes das coisas. Eram precisamente quatro elementos primordiais: terra, ar, água e fogo. Podiam misturar-se nas mais diferentes proporções, produzindo assim as várias substâncias que encontramos no mundo. O que determinava a união e a desagregação entre esses eram dois princípios abstratos: amor e ódio. Por sua causa, todas as substâncias compostas são pouco duradouras; somente os quatro elementos e os dois princípios são eternos pelo fato de serem simples. 6

Empédocles de Agrigento Para o pensador grego, os quatro elementos são as raízes de todas as coisas, os chamados rizomata e, portanto, são eles a arché da Physis. Essas raízes são eternas, cada uma é idêntica a si mesma, indestrutível, sem nascimento, sem perecimento. Segundo Empédocles, no princípio as raízes estão inteiramente misturadas e formam o Uno. Depois uma força corpórea, mas externa a elas, as invade e as separa: o Ódio, que separa o que estava misturado e faz surgir o Múltiplo, as quatro raízes diferenciadas. Em seguida, uma outra força corpórea, externa e oposta à primeira, se introduz no seio do múltiplo e faz com que as raízes se misturem e se combinem: o Amor, gerador de todas as coisas. Empédocles de Agrigento O pensamento de Empédocles constitui uma interessante síntese do heraclitismo e do eleatismo. É eleática sua doutrina da existência de um ser eterno, indestrutível, qualitativamente imutável (rizomata); é heraclitismo o misturar-se e separar-se, que constitui o devir. Anaxágoras de Clazômena Anaxágoras (500-428 a.c.) nasceu em Clazômena, na Jônia. Sua proposta filosófica era resolver a crise do eleatismo e do heraclitismo, isto é, afirmar simultaneamente a existência do Ser imutável e a do mundo plural e mutável. Para Anaxágoras, a Physis de tudo é o spermata (sementes). Cada tipo de matéria provém de uma mistura originária e tal mistura são as sementes ; são invisíveis, eternas, imutáveis, idênticas a si mesmas, totalidade plena, assim como o ser de Parmênides. Entretanto, como podemos saber da existência de tais sementes? Pelo pensamento. Anaxágoras de Clazômena Anaxágoras continua na perspectiva de Parmênides e Heráclito, isto é, somente a razão ou a inteligência, somente o pensamento alcança a realidade última e originária: a Physis. Anaxágoras, entretanto, introduziu na especulação filosófica um elemento novo radicalmente distinto, que chamará de Nous (Razão ou Inteligência): a ordem somente pode ser explicada por uma inteligência soberana, uma substância inteligente ou pensante, sutil, invisível. Esta força inteligente introduz o movimento na massa primitiva das sementes. O Nous é a substância que sabe ou reconhece todas as coisas, que move todas as coisas, mas se encontra sozinho e em si mesmo. Como Deus,oNousestáseparadoeforadomundo. OS ATOMISTAS A doutrina atomista, fundada por Leucipo, sistematicamente desenvolvida e levada a êxito pelo seu discípulo Demócrito, assinala a última tentativa de responder as aporias dos eleatas, buscando salvar o princípio de fundo do eleatismo: o Ser (e isso sem negar os fenômenos). Para os atomistas, a Physis é o átomo (palavra grega criada por Demócrito para designar aquilo que não é divisível). O átomo é uno, contínuo, imutável, eterno (como o Ser de Parmênides); mas há uma quantidade inumerável ou infinita de átomos ou unidades discretas, como os números pitagóricos. OS ATOMISTAS Existe, ainda, uma grande novidade nos atomistas, que os distancia de Parmênides e dos pitagóricos: entre um átomo e outro há o vazio, que é o não ser como algo real, existente. Assim, pela primeira vez, um grego admite a existência do vácuo, a existência real do espaço sem ser corporal. Portanto, o átomo (pleno) e o vazio (vácuo) são os princípios constitutivos de todas as coisas, geradas pelo contato entre os átomos que se movem no vazio, chocando-se, ricocheteando-se uns contra os outros, fazendo as coisas nascerem, mudarem e perecerem. 7

OS ATOMISTAS Percebe-se, no pensamento de Demócrito e dos atomistas, uma espécie de preparação para a descrição física do átomo e da própria matéria. Porém, que lugar teria o processo cognitivo para os atomistas? O pensamento é também movimento de átomos. A diferença entre o conhecimento sensível e racional é apenas de grau. O pensamento supõe um mais fino e rápido movimento de átomos do que a percepção sensível; é o início do que a tradição filosófica designará como materialismo. À primeira vista, ao nos debruçarmos sobre o pensamento dos pré-socráticos, parece-nos que estamos diante de um emaranhado de informações desconexas, um pensamento ingênuo e sem critérios. Entretanto, nada há de ingênuo no pensamento desses gregos; percebese uma intensa capacidade de realizar um discurso até então não feito: o discurso estritamente racional e especulativo, um discurso que procura compreender os fundamentos da existência e, acima de tudo, um discurso que nos abre acesso para o amor à sabedoria. 8