ARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOS NO CARIRI, CEARÁ



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ- UFC FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA - CAEN DAYANE LIMA RABELO DE SOUZA ARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOS NO CARIRI, CEARÁ Fortaleza 2003

DAYANE LIMA RABELO DE SOUZA ARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOS NO CARIRI, CEARÁ Dissertação submetida ao curso de Pósgraduação em Economia da Universidade Federal do Ceará (CAEN/UFC), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre Profissional em Economia de Empresas. Aprovada em 28/03/2003 Prof. Dr. Jair do Amaral Filho (Orientador) Universidade Federal do Ceará- UFC Prof. Dr. Antônio Lisboa Teles da Rosa Universidade Federal do Ceará- UFC Prof. Dr. Carlos Américo Leite Moreira Universidade Federal do Ceará- UFC

Souza, Dayane Lima Rabelo de Arranjo Produtivo de Calçados do Cariri, Ceará/ Dayane Lima Rabelo de Souza.- Fortaleza, 2003. Dissertação (Mestrado Profissional)- CAEN, UFC. 1. Desenvolvimento Econômico 2. Economia Industrial 3. Arranjo Produtivo Local I. Arranjo produtivo de calçados do Cariri, Ceará CDD 338.9

AGRADECIMENTOS À Deus, que mais uma vez me deu forças para concluir um importante trabalho e alcançar um objetivo que tanto almejava na vida. À minha família, pelo seu amor, sem o qual não seria possível ter chegado até aqui. Ao meu orientador, prof. Jair do Amaral, pela contribuição que enriqueceu enormemente este trabalho, pela sua compreensão e atenção. Ao Programa Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais do SEBRAE. Aos meus colegas de trabalho do Centro de Estratégias de Desenvolvimento- CED, pela cooperação e fornecimento de informações, em especial nas pessoas de Míriam Rebouças e Aprígio Lócio. Às minhas melhores amigas: Cristina, Bebeca, Suiane, Lívia, Lígia, Lídya, Liliana, Patrícia, Lys, Luca, Isabelle, Erika, que me fizeram sorrir, por várias vezes, mesmo diante das adversidades. Aos meus colegas do Mestrado Profissional, pelos momentos e conhecimentos que pudemos compartilhar juntos. Às instituições e empresas do Cariri que tanto colaboraram para realização dessa pesquisa, em especial ao SEBRAE e SENAI locais. Aos professores Lisboa e Américo, membros da contribuíram para melhoria e conclusão deste trabalho. banca examinadora, que À todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para sua concretização. Sinceramente, o meu muito obrigada!!! i

SUMÁRIO LISTA DE TABELAS... iv LISTA DE GRÁFICOS... v LISTA DE FIGURAS... vi RESUMO... vii ABSTRACT...viii 1. INTRODUÇÃO... 1 2. CAPÍTULO I- CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE AGLOMERADOS INDUSTRIAIS, INTERAÇÕES COOPERATIVAS ENTRE EMPRESAS E OS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS- APLS... 4 2.1. OS MODELOS DE COOPERAÇÃO INTEREMPRESARIAL... 10 2.1.1. Distritos Industriais... 10 2.1.2. Clusters... 12 2.1.3. Arranjos Produtivos Locais- APLs... 14 3. CAPÍTULO II- CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DE CALÇADOS... 23 3.1. CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DE CALÇADOS... 23 3.2. CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DE CALÇADOS NO MUNDO... 26 3.3. CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DE CALÇADOS NO BRASIL... 29 3.4. CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DE CALÇADOS NO CEARÁ... 33 4. O ARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOS DO CARIRI... 42 4.1. CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO DO CARIRI... 42 4.2. O ARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOS DO CARIRI... 44 4.2.1. Histórico... 44 4.2.2. Principais Agentes do Setor Produtivo... 47 4.2.3. Instituições de Articulação e Coordenação... 47 4.2.4. Perfil das Empresas Estudadas... 58 4.3. DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO... 66 4.3.1. Atividade Anterior a Produção de Calçados... 66 4.3.2. Máquinas e Equipamentos... 66 4.3.3. Processo Produtivo... 67 4.3.4. Treinamento e Qualificação da Mão-de-Obra... 68 4.3.5. Distribuição... 69 4.3.6. Capital de Giro... 70 4.3.7. Relações de Cooperação... 71 4.3.8. Interações Verticais... 72 4.3.9. Mercado Consumidor... 73 4.3.10. Capital para Constituição Inicial das Empresas... 74 4.3.11. Principais Fontes de Informação... 75 4.3.12. Principais Vantagens da Empresa por estar Localizada no Arranjo... 76 4.3.13. Novos e futuros investimentos... 78 ii

4.3.14. Exportações... 80 4.3.15. Subcontratação... 80 5. CONCLUSÕES... 81 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 86 7. SITES CONSULTADOS... 91 8. ANEXOS... 92 iii

LISTA DE TABELAS Tabela 1- Mercado mundial: principais produtores, exportadores e consumidores... 26 Tabela 2- Estados Unidos da América: importações... 27 Tabela 3- Brasil: exportação de calçados... 28 Tabela 4- Brasil: Principais Países Importadores de Calçados... 29 Tabela 5- Número de estabelecimentos dos segmentos do Complexo Calçadista- Brasil... 30 Tabela 6- Número médio de empregados por estabelecimentos estaduais selecionados da Federação, e no Brasil como um todo... 31 Tabela 7- Brasil: estados produtores de calçados... 35 Tabela 8- Origem dos insumos utilizados no Ceará... 36 Tabela 9- Principais produtores de calçados do estado do Ceará... 37 Tabela 10- Maiores exportadores de calçados do estado do Ceará em 2000... 39 Tabela 11- Principais produtos exportados pelo estado do Ceará- 1997 e 2000... 39 Tabela 12- Produto Interno Bruto - 1998... 43 Tabela 13- Liberações para o setor calçadista da região... 49 Tabela 14- Empresas coureiro-calçadistas beneficiadas pelo PROAPI... 56 Tabela 15- Empresa coureiro-calçadistas beneficiadas pelo PROVIN nos municípios de Crato, Juazeiro do Norte e de Barbalha... 58 Tabela 16- Número de empresas segundo o porte nos municípios de Crato, Barbalha e Juazeiro... 58 Tabela 17- Empresas visitadas na pesquisa de campo... 59 Tabela 18- Quantidade média de horas de qualificação oferecidas aos empregados por ano... 65 iv

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Brasil: Indicadores Anuais do Setor Calçadista, Milhões de Pares. 32 Gráfico 2- Dificuldade na operação nos primeiros anos de funcionamentocontratar empregados qualificados... 68 Gráfico 3- Dificuldade na operação entre o primeiro e o terceiro anocontratar empregados qualificados... 69 Gráfico 4- Dificuldade na operação nos primeiros anos de funcionamentofalta de capital de giro... 70 Gráfico 5- Dificuldade na operação entre o primeiro e o terceiro ano- falta de capital de giro... 71 Gráfico 6- Dificuldade na operação nos primeiros anos de funcionamentovender produção... 73 Gráfico 7- Dificuldade na operação entre o primeiro e o terceiro ano- vender produção... 74 Gráfico 8-Revistas e publicações especializadas... 75 Gráfico 9- Congressos e feiras comerciais e industriais do setor... 76 Gráfico 10- Disponibilidade de mão-de-obra qualificada... 76 Gráfico 11- Baixo custo da mão-de-obra... 77 Gráfico 12- Proximidade com clientes/consumidores... 77 Gráfico 13- Proximidade com fornecedores de insumos... 78 Gráfico 14- Expansão da capacidade produtiva (realizado nos últimos anos). 79 Gráfico 15- Expansão da capacidade produtiva (previstos para os próximos 5 anos)... 79 Gráfico 16- Alterações no desenho/estilo dos produtos... 79 v

LISTA DE FIGURAS Figura 1- Arranjos Produtivos Locais identificados no estado do Ceará... 22 Figura 2- Cadeia produtiva de calçados... 23 Figura 3- Fluxo de produção... 24 vi

RESUMO Com base na literatura sobre aglomerados industriais, principalmente no que se refere aos Arranjos Produtivos Locais- APLS, que versa sobre a importância das relações cooperativas entre micro, pequenas e médias empresas, e dada a crescente importância destas no contexto mundial, faz-se necessário repensar novas estratégias que garantam a competitividade destas estruturas produtivas. Neste estudo, nos propomos a analisar as característica e a dinâmica interna do Arranjo Produtivo Local de calçados do Cariri. Foram selecionadas 20 empresas, segmentadas segundo o porte, para realização de entrevistas de campo e foram visitadas, ainda, instituições de articulação e apoio ao arranjo. Nas conclusões deste trabalho, identificamos os principais problemas, as interações entre empresas para então nos determos em algumas sugestões capazes de alavancar o arranjo, além de proporcionar um desenvolvimento mais equânime e sustentável para região, consequentemente para o estado do Ceará. vii

ABSTRACT On the basis of literature on industrial accumulations, mainly as for Productive Arrangements Local - APLS, that turn on the importance of the cooperative relations between micro, small and medium companies and given the increasing importance of these in the world-wide context, becomes necessary to rethink new strategies that guarantee the competitiveness of these productive structures. In this study, we consider them to analyze the characteristic and the internal dynamics of the Local Productive Arrangement of footwear in Cariri. 20 companies, segmented had been selected according to transport, for accomplishment of field interviews, had been visited still, institutions of joint and support to the arrangement. In the conclusions of this work, we identify the main problems, the interactions between companies for then in withholding them in some suggestions capable to promote the arrangement, beyond, to provide a more sustainable development for region, and for consequense for the state of the Ceará. viii

1. INTRODUÇÃO Tem se mostrado crescente a importância do papel das micro, pequenas e médias empresas- MPMEs na geração de empregos, crescimento econômico e redução de desequilíbrios no Brasil e no mundo. Concomitantemente, a rápida difusão tecnológica, abertura econômica e desregulação dos mercados têm acirrado a competitividade e tornado, cada vez maior, a taxa de mortalidade de empresas desses portes. Esta tem sido uma preocupação para formuladores de políticas públicas e estudiosos da matéria. Várias teorias e modelos têm tentado elucidar os ganhos advindos da organização de MPEs em estruturas produtivas mais sinérgicas como forma de inserção competitiva. A organização de MPEs em aglomerados, de forma que o isolamento dê lugar a relações mais cooperativas, pode resultar em uma eficiência coletiva e externalidades positivas para o território no qual essas se encontram, podendo gerar um desenvolvimento mais equânime e sustentável. Isoladamente, o impacto que essas empresas podem auferir é quase inócuo, entretanto, a ação coletiva é capaz de gerar economias de escala e escopo, que para uma pequena empresa isolada seria praticamente impossível, possibilitando assim a inserção mais competitiva no atual cenário mundial. No presente estudo, nos propomos a conhecer as possibilidades de desenvolvimento e as características de inserção das micro, pequenas e médias empresas calçadistas da região do Cariri, especificamente dos municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, em Arranjos Produtivos Locais- APLs. Para tanto, o estudo é realizado à luz da teoria de aglomerados de empresas presente nas literaturas sobre clusters, distritos industriais, tendo como foco principal os APLs. Apesar da diversidade dos modelos de aglomerados produtivos, há uma convergência em afirmar que ganhos podem ser gerados quando uma concentração de empresas de um mesmo setor, ou de setores complementares, desenvolve ações coletivas do tipo cooperação competição, compartilhando informações, tecnologia, fortalecendo o tecido sócio-produtivo do território no qual se encontram, bem como, dando maior robustez ao capital social.

Tendo em vista a importância do setor calçadista para o estado do Ceará, dado o número de empresas e empregos existentes, consequentemente seu forte impacto econômico, optou-se por estudá-lo. O arranjo produtivo selecionado para o estudo de caso foi o Cariri, especificamente os municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, pois estima-se a existência de 300 a 400 produtores ativos e 200 inativos no setor de calçados, empregando aproximadamente 8.000 pessoas em postos formais e informais. Deste total, estima-se, quanto ao porte das empresas, que: 70% são micros, 25% pequenas e 5% grandes empresas. O estudo foi dividido em três capítulos conforme descritos a seguir. No primeiro capítulo será realizada uma revisão teórica da literatura, tendo por base as teorias já anteriormente relacionadas. Neste momento, serão explicitados os ganhos advindos da cooperação e organização entre empresas, além de serem relatadas, de forma breve, experiências ocorridas mundialmente, como é o caso dos distritos industriais italianos. No segundo capítulo será realizada uma caracterização do setor calçadista, onde são relacionadas as principais etapas produtivas, bem como, a integração da cadeia de calçados Em seguida, será realizada a apresentação da situação deste setor em nível de mundo, Brasil e estado. Nessa etapa, são relatados dados específicos do setor calçados. No mundo é dado destaque à crescente competitividade inerente à produção de calçados chineses de baixo valor agregado e italianos com qualidade superior. No Brasil, relatamos a importância do crescimento das exportações para o país e a existência dos maiores aglomerados produtivos do setor calçados nos estados do Rio Grande do Sul (Vale dos Sinos) e em São Paulo (Franca). No estado do Ceará serão apresentados dados sobre o número de empresas, empregos, exportações e sua representatividade para a economia local. No terceiro capítulo, encontram-se os resultados da pesquisa de campo sobre o arranjo produtivo de calçados do Cariri. Os mesmos serão apresentados segundo alguns itens considerados importantes para análise do arranjo em questão, tais como: atividade anterior a produção de calçados, máquinas e equipamentos, processo produtivo, treinamento e qualificação da mão-de-obra, distribuição, capital de giro, relações de cooperação, mercado consumidor, capital para constituição 2

inicial das empresas, principais fontes de informação, principais vantagens da empresa por estar localizada no arranjo, novos e futuros investimentos, exportações e subcontratação. Por fim, são feitas as conclusões acerca do estudo e lançadas algumas proposições de medidas que poderão melhorar a eficiência produtiva do arranjo, além de fortalecer as relações entre empresas. 3

2. CAPÍTULO I- CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE AGLOMERADOS INDUSTRIAIS, INTERAÇÕES COOPERATIVAS ENTRE EMPRESAS E OS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS- APLs A rápida difusão dos avanços dos novos paradigmas produtivos e organizacionais, a liberação e desregulação dos mercados têm sido alguns fatores propulsores do acirramento da competitividade entre as empresas. A aproximação entre os territórios, ocasionada pela redução das distâncias, graças a tecnologia da informação e telecomunicações, mais acessíveis e eficientes, também tem acentuado a competitividade e aumentado a velocidade da transferência de informações, além de ter impulsionado os deslocamentos espaciais de investimentos. Tudo isso tem mostrado, freqüentemente, a importância de um maior aporte de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento- P&D, capital intelectual e inovações, dado que o conhecimento passa a ser um ativo primordial e valoroso para que as empresas possam ser efetivamente competitivas. Nesse sentido, países têm adotado estratégias diferenciadas para garantir o fortalecimento de suas economias, não somente em termos microeconômicos, evitando que as empresas fiquem fragilizadas pelo cenário de competitividade e pelos choques macroeconômicos, mas também mudando o foco de sua política industrial. O fato de que as decisões de investimentos estão, sendo cada vez mais, condicionadas pela busca de vantagens competitivas, têm impulsionado os governos a buscarem soluções endógenas para a superação das barreiras enfrentadas na conquista do desenvolvimento. Inseridas nesse contexto, as Micro, Pequenas e Médias Empresas- MPMEs têm desempenhado um papel fundamental, pois além de demonstrarem força e capacidade de gerar emprego e renda, possuem um forte enfoque econômico, contribuindo para o crescimento da economia 1 e minimizando desequilíbrios regionais em muitos países. 1 Dados do SEBRAE mostram que as micro, pequenas e médias empresas constituem cerca de 98% das empresas existentes no Brasil, empregam 60% da população economicamente ativa, e geram 4

A importância e expressividade das pequenas unidades produtivas não datam de hoje, pode-se dizer que a pequena empresa sempre esteve presente ao longo do processo de transformação dos modos de produção e dos sistemas econômicos. Do feudalismo ao período anterior a Revolução Industrial do século XVIII, a organização das pequenas unidades produtivas era caracterizada pela realização de todas as etapas do processo em oficinas de artesãos, sob total conhecimento dos mesmos. Contudo, a evolução tecnológica e a necessidade de criar excedentes para acumulação de capital forçou a classe capitalista a aumentar a produtividade e consequentemente, ampliar seu domínio sobre a força de trabalho por meio da divisão do trabalho e especialização, principalmente a partir da Revolução Industrial. Condições insalubres de trabalho e verticalização da produção foram características marcantes desse período. A partir do século XIX, com o advento da Segunda Revolução Industrial e o fortalecimento da indústria automobilística, instituiu-se um novo paradigma industrial elaborado a partir da administração científica de Frederick Taylor. O movimento de gerência científica iniciado por Taylor pressupunha um planejamento do processo produtivo, de modo a diminuir o poder de decisão dos trabalhadores. O perfil administrativo e organizacional predominante é composto por uma intensa verticalização hierárquica, rigidez e especialização da produção, divisão entre gerência e execução, características fordistas e tayloristas. No início do século XX, começam a surgir novas abordagens 2 sobre a administração do trabalho e do processo produtivo, dado que, o fordismo e o taylorismo não significaram necessariamente aumento de produtividade, pois o nível de insatisfação dos trabalhadores foi crescente, o que ficava refletido diretamente nos resultados da produção. 42% da renda produzida no setor industrial, contribuindo com 21% do Produto Interno Bruto- PIB. MCT/SEPTE (2000). 2 A teoria das Relações Humanas desenvolvida por Elton Mayo e colaboradores, por exemplo, surgiu, basicamente, como um movimento à teoria clássica de Taylor. Seu objetivo era o de corrigir a forte tendência a desumanização do trabalho surgida com a aplicação de métodos rigorosos, científicos e precisos, aos quais os trabalhadores deveriam submeter-se. 5

Nas novas abordagens sobre a administração do trabalho passava-se a priorizar o estímulo a cooperação em detrimento da preocupação com a organização do trabalho. Com a denominada Terceira Revolução Industrial, no Japão, dados os avanços tecnológicos contínuos e a emergência maciça da microeletrônica, as práticas gerenciais passaram a valorizar a polivalência, redução das hierarquias, trabalhos em grupos, autonomia, flexibilidade em relação ao mercado. Frente a essa realidade, unidades produtivas pequenas tornariam-se importantes peças para complementariedade da cadeia de produção, pois por possuírem estruturas mais ágeis e flexíveis poderiam adaptar-se mais rapidamente as constantes modificações das estruturas do mercado. Essa nova abordagem garantia maior competitividade às empresas, chamada por Piore e Sabel (1984) e Schimitz (1989) de especialização flexível. O processo de reestruturação industrial condicionado pela transição do paradigma de produção em massa, caracterizado basicamente pela predominância da grande empresa verticalizada nos moldes dos princípios tayloristas e fordistas e pela base produtiva eletromecânica, para o paradigma da produção flexível/ enxuta e ágil, com a revolução da microeletrônica, fez ressurgir a discussão sobre o significado e a importância das Micro, Pequena e Média Empresas, no cenário mundial (Neto, 2000). Inseridas nessa realidade, as empresas moldadas sob os padrões fordistas se viram obrigadas a introduzir técnicas de flexibilização da produção em um contexto pós-fordista. Desse modo, a realização de subcontratações de empresas de menor porte para complementar as atividades da cadeia produtiva foi fator determinante para garantia da sobrevivência e competitividade. Um exemplo dessa estratégia pode ser visto na multinacional italiana Benetton que possui, atualmente, uma rede de pequenas unidades produtivas que desenvolvem etapas do processo de produção dos bens finais confeccionados pela mesma. Além disso, as empresas de grande porte têm garantido a competitividade se deslocando de suas regiões de origem para outras que ofereçam vantagens competitivas capazes de minimizar os custos da produção. Esse caso acontece, 6

freqüentemente, com empresas que têm se deslocado do Sul e Sudeste do Brasil para a região Nordeste na busca de incentivos fiscais e mão-de-obra barata e abundante, além da infra-estrutura oferecida pelos estados. Nesses casos, a separação entre gerência e execução da produção permanece, dado que, os setores da administração permanecem junto às matrizes, enquanto as estruturas deslocadas são verdadeiras montadoras. Como conseqüência desses processos, as MPMEs têm tido que se adaptar às demandas do mercado, bem como, acompanhar os padrões de desenvolvimento gerados nas grandes empresas. Tal processo não ocorre facilmente, dado que estruturas produtivas menores incorrem em maiores custos e enfrentam maiores barreiras à entrada no mercado. No entanto, tais estruturas produtivas possuem a capacidade de auferir economias de escala, adaptar-se e absorver conhecimentos, desde que hajam interações e troca de conhecimentos entre as mesmas. Para tanto, a aprendizagem interativa (learning by interacting) entre os atores é uma das principais ferramentas para geração do conhecimento e, por conseguinte, para a geração das bases fundamentais para que as empresas se mantenham em um contexto mais competitivo (Leite, 2003). A temática, sobre a busca de uma inserção competitiva das MPMEs, tem sido uma preocupação de estudo em várias áreas, sobretudo na literatura econômica 3. Algumas teorias sugerem que para as MPMEs serem verdadeiramente competitivas é necessário que haja uma cooperação oriunda da proximidade entre estas empresas baseada, sobretudo, em relações de confiança 4. Marshall (1998) em Princípios de Economia foi um dos primeiros estudiosos a identificar as vantagens da produção em escala que podem também ser obtidas por uma grande quantidade de empresas de pequeno porte, concentradas em um dado território, especializadas nas suas fases de produção e recorrendo a um único mercado de trabalho local. 3 Ver Porter (1999), Amorim (1998), Becattini (1990), Schmitz (1999), etc. 4 Ver Locke (2001). 7

Numa linha não marshalliana, Porter (1999) diz que os aglomerados 5 influenciam a competitividade de três maneiras: primeiro, pelo aumento da produtividade das empresas ou setores componentes; segundo, pelo fortalecimento da capacidade de inovação e, em conseqüência, pela elevação da produtividade; terceiro, pelo estímulo à formação de novas empresas, que reforçam a inovação e ampliam o aglomerado. O autor ressalta ainda a importância dos extravasamentos gerados por esses aglomerados, decorrentes de economias externas. No entanto, a sustentabilidade destes modelos organizacionais baseados na proximidade pode ser questionada dado que, estas estruturas podem gerar uma vulnerabilidade na economia local, tendo em vista a especialização e predominância de apenas um setor como principal responsável pela geração de empregos, de receitas, dentre outros. Isto significa que, choques exógenos podem afetar o desempenho dessa economia e comprometer consideravelmente o desenvolvimento da região. Humphrey e Schmitz (1998) ressaltam os riscos inerentes às transações baseadas na falta de confiança entre agentes. Para os autores, em situações de perfeita competição, os riscos seriam reduzidos visto haver uma perfeita informação sobre todas as transações, reduzindo, por conseguinte a probabilidade de incerteza para eventos futuros. A organização dessas empresas em aglomerados possui origens diferenciadas dependendo da região na qual se origina. Segundo Putnam (1996), o caso dos distritos industriais da Terceira Itália, por exemplo, teve como principal pilar as tradições cívicas, a confiança gerada culturalmente e sobretudo a progressiva acumulação de capital social 6 que foram responsáveis pelos círculos virtuosos da Itália Cívica. 5 Para Porter (1999) um aglomerado é um agrupamento geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numa determinada área, vinculadas por elementos comuns e complementares. 6 O capital social é compreendido como sendo o conjunto das características da organização social, que englobam as Redes de relações, normas de comportamento, valores, confiança, obrigações e canais de informação (...) (Putnam, 1993). 8

Portanto, a combinação da eficiência coletiva 7 gerada a partir da aglomeração de empresas, associada a capacidade de desenvolvimento econômico estimulado pelas relações sociais entre os atores envolvidos, proporciona um ambiente capaz de gerar externalidades positivas para localidade na qual a estrutura produtiva emergiu, consequentemente, induzindo-a a um processo de desenvolvimento local mais acelerado. Segundo Neto (2000), a cooperação interempresarial pode viabilizar o atendimento de uma série de necessidades das empresas, necessidades essas que seriam de difícil satisfação nos casos em que as empresas atuam isoladamente. Entre essas necessidades destacam-se: combinar competências e utilizar know-how de outras empresas; dividir o ônus de realizar pesquisas tecnológicas, compartilhando o desenvolvimento e os conhecimentos adquiridos; partilhar riscos e custos e explorar novas oportunidades, realizando experiências em conjunto; oferecer uma linha de produtos de qualidade superior e mais diversificada; exercer uma pressão maior no mercado, aumentando a força competitiva em benefício do cliente; compartilhar recursos, com especial destaque aos que estão sendo subutilizados; fortalecer o poder de compra; obter mais força para atuar nos mercados internacionais. Outros benefícios como o aumento das exportações, a criação de institutos de capacitação, o fomento aos setores correlacionados ao aglomerado podem também ser observados em diversos casos. 7 O conceito de eficiência coletiva combina os dois efeitos, i. e., das economias externas locais espontâneas ou não planejadas e das ações conjuntas deliberadas ou planejadas das empresas e do setor público, para explicar as vantagens competitivas de empresas aglomeradas (Schmitz, 1999). 9

Diversos modelos têm demonstrado a capacidade de aumento da competitividade das MPMEs na forma de uma estrutura produtiva mais sinérgica, tais como os Arranjos e Sistemas Produtivos Locais. Discutiremos a seguir esses casos, nos detendo, principalmente, nos APLs que servirão como fundamentação para o estudo de caso do Arranjo Produtivo de Calçados do Cariri que será realizado no último capítulo deste trabalho. 2.1. OS MODELOS DE COOPERAÇÃO INTEREMPRESARIAL 2.1.1. Distritos Industriais Pyke, Becattini e Sengenberger (1990) definem distrito industrial como um sistema produtivo local, caracterizado por um grande número de firmas que são envolvidas em vários estágios, e em várias vias, na produção de um produto homogêneo. Ainda segundo Becattini (1990), o distrito industrial pode ser considerado como um conjunto produtivo, onde a coordenação entre as várias fases e o controle do seu funcionamento não obedecem a regras prefixadas, ou a mecanismos hierárquicos, como no resto das empresas privadas, mas são moldados na demanda do mercado e na capacidade produtiva das empresas. A origem dos conceitos sobre distritos industriais remonta ao início do século XX. Marshall em Principles of Economy (1920) foi o precursor do conceito. Segundo o autor, esta modalidade de aglomerado de empresas geraria uma série de externalidades, tais como mão-de-obra especializada, acesso a fornecedores e serviços especializados, e disseminação do conhecimento entre as empresas. Segundo a linha marshalliana, a característica comum, determinante desse modelo, entre as empresas, é a aproximação territorial e a criação de laços sociais, culturais, econômicos e políticos. Muitos dos distritos industriais de empresas de pequeno e médio porte foram encontrados na Itália e têm despertado o interesse de diversos estudiosos e formuladores de políticas públicas em todo mundo, tendo em vista a apresentação 10

de uma possibilidade de desenvolvimento econômico dentro de um sistema que apresenta poucas barreiras à entrada, tanto de cunho tecnológico, quanto financeiro. No entanto, o caso italiano não segue linearmente a teoria marshalliana sobre distritos, pois suas características vão além da proximidade territorial e da produção homogênea dissertadas pelo autor, existindo estreitas articulações entre empresas e instituições. No caso italiano a proliferação das pequenas unidades e sua concentração espacial impulsionaram o desenvolvimento da Terceira Itália. São diversos os distritos nas regiões Centro-Nordeste, principalmente nos segmentos: vestuário, móveis, calçados e têxtil. No entanto, o reconhecimento e a importância dos distritos industriais para Itália não foi imediato, somente com algumas mudanças no pensamento econômico e com o alargamento das pesquisas empíricas sobre os distritos reconheceu-se a virtude e a contribuição das elaborações conceituais e teóricas relacionadas a essa modalidade de aglomeração de empresas. Alguns emblemas desse sistema são a adaptabilidade e capacidade de inovação combinados à capacidade de satisfazer rapidamente a demanda, isto com base numa força de trabalho e redes de produção flexíveis (Amaral Filho, 2002). A constituição dos distritos industrais italianos foi decorrente de um processo espontâneo, onde prevaleceram as relações entre os atores locais na construção coletiva de canais de confiança, transparência e cooperação com base na evolução histórica da construção do sistema, dos valores e da cultura. A política econômica do governo, nesse caso, se deu no momento em que esses distritos já estavam formados, portanto, não houve uma política específica que previsse programas especiais para essas regiões, dado que ações foram de acordo com as especificidades locais. 11

2.1.2. Clusters Segundo Amaral Filho (2002), a estratégia baseada no cluster, de origem predominantemente anglo-saxônica, pretende funcionar como uma espécie de síntese dos conceitos, ou estratégias citadas, como os distritos industriais, na medida que pretende ser mais abrangente, não só por incorporar aspectos do conceito precedente, mas porque não fica restrito as pequenas e médias empresas Segundo Amorim (1998), cluster denomina um conjunto numeroso de empresas, em geral pequenas e médias, operando em regime de intensa cooperação, onde cada uma das firmas executa um estágio de processo de produção. Essas empresas participam de um mesmo negócio, como produção de calçados ou confecções, embora cada uma das firmas seja uma entidade autônoma. Ainda segundo Amorim (1998): "as evidências que se avolumam indicam que não é o tamanho das pequenas empresas o que lhes prejudica, mas sim o fato de que essas costumam operar sozinhas em ambientes cada vez mais competitivos. Reside justamente nesse aspecto o potencial de ganhos que a formação de cluster pode proporcionar às pequenas empresas. Os clusters podem representar instrumentos eficazes na superação desse problema de ineficiência das pequenas empresas. Trabalhando juntas, em forma de clusters, as pequenas empresas podem ganhar os benefícios da ação coletiva que lhes permitirão enfrentar grandes competidores e penetrar nos mercados nacionais e internacionais." Além disso, a estratégia de cluster possibilita a criação de um ambiente fecundo para o surgimento de inovações e troca de conhecimentos, por meio de aportes em pesquisa e desenvolvimento oriundos das interações entre os atores locais. É importante ressaltar o caráter geográfico inerente aos clusters, pois de modo mais abrangente, podemos entendê-los como a concentração setorial e geográfica de empresas. Só podemos dizer que um cluster está formado quando ambos os aspectos estão combinados. Elementos como a especialização e inovação também são fatores essenciais para constituição de um cluster efetivamente competitivo. 12

Os clusters são capazes de gerar benefícios que para uma empresa isolada seria incapaz. Seguindo Schmitz (1997), os efeitos podem ser agregados em dois conjuntos não intencionais e intencionais. 1) Efeitos não intencionais - externalidades, efeito renda, multiplicador etc. 2) Cooperativos intencionais - maior envolvimento e participação do trabalho, como nos métodos japoneses, redes e acordos de cooperação entre firmas, iniciativas de sindicatos patronais e políticas públicas. Os dois tipos de efeitos não são independentes. Uma externalidade gera maiores efeitos se a cooperação, no cluster, é mais intensa e vice versa. Outro exemplo típico de efeito, que pode ser gerado, a partir dos clusters, são os spin-off, surgimento de novas e pequenas empresas com raízes em outras. Esse surgimento além de aumentar o pool de empresas localizadas na região, contribui para consolidação da cadeia produtiva que esteja inserida no cluster. No entanto, para que um cluster possa se consolidar, gerando benefícios para as empresas envolvidas a partir da eficiência coletiva, um conjunto de fatores facilitadores, segundo Humphrey e Schmitz (1998), devem ser obtidos: "Divisão do trabalho e da especialização entre produtores; Estipulação da especialidade de cada produtor; Surgimento de fornecedores de matéria-prima e de máquinas; Surgimento de agentes que vendam para mercados distantes; Surgimento de empresas especialistas em serviços tecnológicos, financeiros e contábeis; Surgimento de uma classe de trabalhadores assalariados com qualificações e habilidades específicas; Surgimento de associações para realização de lobby e de tarefas específicas para o conjunto de seus membros". 13

É interessante ressaltar que eficiência coletiva não significa necessariamente que todas as empresas estejam crescendo na mesma proporção, pois o fator competitividade continua inerente, mesmo nesta estrutura produtiva. O que passa a acontecer, é a existência de um mercado e relações mais transparentes que podem incitar tanto a competição quanto a cooperação, resultando em crescimento para algumas empresas enquanto outras podem decair, auferindo de forma geral um ganho coletivo, contribuindo para o desenvolvimento do cluster e, consequentemente, da região. Não existe um modelo único de cluster. Para Mytelka & Farinelli (2000), a existência ou não de alguns fatores pode gerar três diferentes classificações destas estruturas produtivas a saber. A primeira delas, chamada de cluster informal, caracteriza-se por baixos níveis de incorporação tecnológica de processos e produto, bem como, desarticulação nas relações de interação e confiança entre os agentes. A segunda modalidade é denominada de cluster organizado. Nesta categoria, o diferencial encontra-se na relação mais estreitada entre os atores, nesse sentido, as inovações ocorrem mais sistematicamente e já existem relações de cooperação, embora incipientes. A terceira classificação, chamada de cluster inovador, é identificada pelos altos níveis de incorporação tecnológica, da constante introdução de processo inovativos e de estreitos laços de confiança e cooperação entre os atores localizados no aglomerado. Os clusters informais e organizados são as formas predominantes nos países em desenvolvimento, enquanto nos países desenvolvidos é mais comum encontrar clusters com maior dinamismo para a inovação. 2.1.3. Arranjos Produtivos Locais- APLs Os conceitos de distrito industrial e cluster tiveram suas origens, principalmente, nas economias de países desenvolvidos, onde a forte articulação governamental, o ambiente macroeconômico estável e o desenvolvido empreendedorismo conjugados foram importantes fatores de contribuição para o nascimento e consolidação destas estruturas produtivas. 14

Segundo Britto & Albagli (2002) 8 : Arranjos Produtivos Locais- APLs são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, com foco em um conjunto específico de atividades econômicas e que apresentam vínculos e interdependência. Esse tipo de organização tem surgido, principalmente nas economias em desenvolvimento, com características peculiares a cada arranjo que variam desde a região na qual estão inseridos até o setor do qual fazem parte. Isso significa dizer que não existe uma receita única para criação ou desenvolvimento de APLs, dado que as diferenças estão inerentes à dinâmica interna de cada um deles. Já os sistemas produtivos e inovativos locais são aglomerações territoriais, cuja interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, possibilitando inovações de produtos, processos e formatos organizacionais e gerando maior competitividade empresarial e capacitação social (Britto & Albagli, 2002). Os APLs, diferentemente dos sistemas produtivos, podem ser caracterizados como estruturas produtivas cujo nível de organização das empresas envolvidas é ainda, muito incipiente, contudo, esse ambiente possibilita interações entre os atores e com o entorno, criando um ambiente favorável para obtenção de ganhos coletivos. Os APLs, são estruturas poucos desenvolvidas, surgidas praticamente de um improviso dos produtores ou das demandas da região. Isso fica refletido na forma pela qual se inserem no mercado. As inovações, normalmente, possuem um caráter incremental e muitas vezes, o design de produtos é derivado de cópias de empresas maiores e a mais tempo no mercado. As relações entre produtores e com o meio são, em geral, desconexas e informais. De acordo com Mytelka & Farinelli (2000), arranjos produtivos são, em geral, constituídos por micro e pequenas empresas, com baixo nível tecnológico, e cujos donos/administradores possuem pouca ou nenhuma capacidade e formação gerencial/administrativa. Também, a mão-de-obra é pouco qualificada, sendo seu treinamento prática pouco usual. Face as pequenas ou inexistentes barreiras à 8 Glossário de Arranjo Produtivos Locais/ Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais/REDESIST. 15

entrada o número de empresas tende a ser muito grande, o que, de um lado, proporciona uma dinâmica acentuada na geração de emprego, por outro dificulta o processo de cooperação inter-firmas. Esta é a razão pela qual a capacidade de mudança de patamar, no que tange a capacidade de inserção dinâmica via exportações, de geração de novos processos e produtos da própria sobrevivência a médio prazo é pequena. Esses arranjos são típicos aglomerados mono-produtores de pequenas e médias empresas- PMEs, onde o esforço de imitação se limita à cópia sem adaptação, desprovidos de uma absorção direcionada para melhoramento e aperfeiçoamento de produtos que possibilitem a entrada efetiva do imitador(es) nos nichos de mercado inovador. A formação de arranjos produtivos locais encontra-se geralmente associada a trajetórias históricas de construção de identidades e de formação de vínculos territoriais (regionais e locais), a partir de uma base social, cultural, política e econômica comum. São mais propícios desenvolverem-se em ambientes favoráveis a interação, a cooperação e a confiança entre os atores. A ação de políticas, tanto públicas como privadas, pode contribuir para fomentar e estimular tais processos históricos de longo prazo (Britto & Albagli, 2002). Apesar da fragilidade dos arranjos produtivos, é preferível que as empresas estejam localizadas no interior dessas estruturas do que operando isoladamente, pois a organização de MPMEs em APLs pode levá-las a se tornar igualmente competitivas se agregarem e transacionarem as vantagens existentes nas grandes empresas, tais como: tecnologia, logística, transferência de informações e do conhecimento 9. Além disso, MPMEs inseridas em APLs podem explorar as competências coletivas e se favorecerem de um ambiente favorável para que possam auferir economias de escala, o que para uma pequena empresa isolada torna-se praticamente inviável. Segundo Lastres & Cassiolato (2000), algumas das principais peculiaridades que devem ser observadas no estudo dos Arranjos produtivos Locais são: 9 Parte importante da base de conhecimentos é tácita, ou seja, reside e desenvolve-se em crenças, valores, know-how e habilidades de cada indivíduo e organização, e provém do aprender fazendo, usando e interagindo. 16

Dimensão territorial: na abordagem dos arranjos produtivos locais, a dimensão territorial constitui recorte específico de análise e de ação política, definindo o espaço onde processos produtivos, inovativos e cooperativos têm lugar, tais como: município ou áreas de um município; conjunto de municípios; micro-região; conjunto de micro-regiões, entre outros. A proximidade ou concentração geográfica, levando ao compartilhamento de visões e valores econômicos, bem como de diversidade e de vantagens competitivas em relação a outras regiões. Diversidade de atividades e atores econômicos, políticos e sociais: os arranjos produtivos locais geralmente envolvem a participação e a interação não apenas de empresas que podem ser desde produtores de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços, comercializadas, clientes, entre outros, e suas variadas formas de representação e associação, como também, de diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento. Aí se incluem, portanto universidades, instituições de pesquisa, empresas de consultoria e de assistência técnica, órgãos públicos, organizações privadas e não governamentais, entre outros. Conhecimento tácito: nos arranjos produtivos locais, geralmente, verificam-se processos de geração, compartilhamento e socialização de conhecimentos, por parte de empresas, instituições e indivíduos. Particularmente de conhecimentos tácitos, ou seja, aqueles que não estão codificados, mas que estão implícitos e incorporados em indivíduos, organizações e até em regiões. O conhecimento tácito apresenta forte especificidade local, decorrendo da proximidade territorial e/ou de identidades culturais, sociais e empresariais. Isto facilita sua circulação em organizações ou contextos geográficos específicos, mas dificulta ou mesmo impede seu acesso por atores externos a tais contextos, tornando-se, portanto, elemento de vantagem competitiva de quem o detém. Inovações e aprendizados interativos: nos arranjos produtivos locais, o aprendizado interativo constitui fonte fundamental para a transmissão de conhecimentos e ampliação da capacitação produtiva e inovativa das firmas e instituições. A capacitação inovativa possibilita a introdução de novos produtos, 17

processos e formatos organizacionais, sendo essencial para garantir a competitividade dos diferentes atores locais, tanto individual como coletivo. Para o alcance efetivo da competitividade nas unidades produtivas de menor porte, é importante ressaltar a importância dos processos inovativos dentro dos aglomerados de empresas, visto que, tais processos possuem a capacidade de introduzir mudanças técnicas, gerar dinamicidade na economia e promover vantagens competitivas para as empresas. Governança: no caso específico dos arranjos produtivos locais, governança refere-se aos diferentes modos de coordenação entre os agentes e atividades, que envolvem da produção à distribuição de bens e serviços, assim como o processo de geração, disseminação, usos de conhecimentos e de inovações. Existem diferentes formas de governança e hierarquias nos sistemas e arranjos produtivos, representando formas diferenciadas de poder na tomada de decisão (centralizada e descentralizada; mais ou menos formalizada). Por fim, para que um arranjo produtivo possa desenvolver uma dinâmica progressiva, é necessária a articulação de quatro elementos a saber (Amaral Filho, 2002): CAPITAL SOCIAL O capital social é um bem público e facilita a cooperação formal e informal, estimulado pela confiança entre os atores do arranjo. A horizontalização das organizações e suas relações baseadas em relações de cooperação e confiança devem, segundo Putnam (1996), estar positivamente relacionadas com o bom desempenho governamental. A formação e o acúmulo do capital social deve ter por bases fatores como a confiança e a cooperação, elementos que garantem relações mais estreitas entre as empresas, de modo que as transações entre as mesmas e o mercado podem ocorrer com maior eficiência e eficácia fortalecendo o tecido sócio-produtivo e imprimindo uma certa coordenação dentro do arranjo. 18

ESTRATÉGIA COLETIVA DE ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO Refletem as decisões coordenadas, entre produtores, sobre quem vai produzir, o que produzir e como produzir. Para que empresas inseridas em arranjos produtivos locais sejam efetivamente competitivas, fatores como aglomeração espacial, especialização, formação de consórcios, inovações contínuas representam elementos essenciais para gerar impactos positivos, tais como: economias de escala, economias externas, produtividade e rendimentos crescentes, além do aumento da competitividade. A ESTRATÉGIA COLETIVA DE MERCADO Mais uma vez, esta estratégia reflete as ações coordenadas e convergentes entre os produtores. A conquista e manutenção da competitividade é um dos maiores objetivos das empresas de menor porte, para tanto, é fundamental que o processo inovativo ocorra de forma sistemática, que o conhecimento e a qualificação sejam agregados ao processo produtivo garantindo a qualidade dos produtos, além de uma estratégia coletiva de mercado para que as empresas possam atingir economias de escala, consequentemente, um número maior e melhor de clientes. ARTICULAÇÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL Derivada do capital social, representa o mecanismo pelo qual o arranjo se relaciona com organizações públicas e privadas responsáveis pelas políticas públicas, e com as organizações privadas, as quais cumprem o apoio as pequenas empresas, ou ao desenvolvimento local. Neste aspecto, a voz e participação dos atores, além de uma articulação institucional interna e externa atuantes, são fatores decisivos para construção das estratégias de desenvolvimento do arranjo, bem como, a existência de uma governança presente e dinâmica. Neste trabalho, nos deteremos no estudo do arranjo produtivo local de calçados do Cariri, especificamente dos município de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha à luz da teoria de APLs, tendo em vista a identificação realizada e a importância crescente desta modalidade de estrutura produtiva para o desenvolvimento econômico, em especial, em regiões menos desenvolvidas. 19

Para Lastres & Cassiolato (2003), existem diversas vantagens do foco em Arranjos Produtivos Locais desenvolvido pela REDESIST, dentre as quais podemos destacar: representa uma unidade prática de análise e investigação que vai além daquela que enfatiza a organização individual, superando as restrições da abordagem setorial e permitindo o estabelecimento de uma ponte entre o território e as atividades econômicas; objetiva abarcar o grupo de diferentes agentes (firmas e organizações responsáveis por educação, treinamento, P&D, promoção, financiamento, etc.) e atividades econômicas correlatas que usualmente caracterizam qualquer sistema produtivo e inovativo local; simboliza e abrange todo o espaço real onde o aprendizado ocorre, as capacitações produtivas e inovativas são criadas e o conhecimento tácito flui; representa o lócus onde as políticas para promoção do aprendizado, inovação e criação de competências podem ser mais efetivas, pois permite a implementação de políticas e instrumentos específicos. A academia foi a pioneira nos estudos sobre APLs, estando apresentando uma vasta contribuição nesta área. Podemos destacar, como berço do estudo sobre APLs no Brasil, a Rede de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais/ REDESIST, formalizada desde 1997, sediada no instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que hoje conta com a participação de várias universidades e institutos de pesquisa no Brasil e no exterior, através da qual tem sido possível disseminar o importante papel da construção de APLs como atores do processo de desenvolvimento econômico. Os Arranjos Produtivos Locais já têm sido alvo de interesse e estudo no Brasil. O SEBRAE nacional tem trabalhado uma política específica de apoio a arranjos produtivos locais, na qual tem sido possível mapear arranjos em todo território nacional, identificando características como número de empresas, empregos, coordenação, governança, formação do capital social, dentre outras. Ao final desse 20

levantamento, será possível a constituição de um conjunto variado de sugestões de políticas públicas e privadas capazes de alavancar e dinamizar tais arranjos. Na esfera do governo federal, o Ministério da Ciência e Tecnologia -MCT tem apresentado uma preocupação com o desenvolvimento de APLs no país. Nesse sentido, o trabalho realizado tem priorizado arranjos nos diversos estados da federação, objetivando suprir as necessidades de capacitação, consultoria e orientações fundamentais para esses arranjos, com recursos oriundos do governo federal 10. No Ceará, pesquisas realizadas pelo Centro de Estratégias de Desenvolvimento- CED 11 permitiram identificar cerca de trinta e uma aglomerações de MPEs no estado 12. Inicialmente, a identificação desses APLs privilegiou aqueles mais visíveis; posteriormente a pesquisa pretende cobrir de forma mais abrangente todo Estado. As principais informações levantadas desses APLs dizem respeito ao número de unidades produtivas integrantes do mesmo, principais produtos, empregos criados, produção e faturamento, papel do APL na economia local, estratégia de sobrevivência, dinâmica e possibilidades de crescimento, fatores que impedem o crescimento, e, finalmente, a identificação de medidas que venham a contribuir para a expansão sustentável dos negócios dos arranjos. Os arranjos identificados no Ceará pertencem a setores diferenciados da economia local. Estima-se a existência de 6.861 produtores e 35.828 empregos nos 24 municípios estudados, o que reflete a alta capacidade de geração de postos de trabalho inerentes aos Arranjos Produtivos Locais. 10 No estado do Ceará três arranjos foram priorizados: ovinocaprinocultura, tecnologia da informação e floricultura. 11 O CED foi extinto, e em seu lugar foi criado o IPECE- Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. 12 Segundo o SEBRAE-CE, acredita-se que esse número pode chegar a 70 arranjos produtivos. 21