CIVILIDADE E EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS JAPONESAS: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES COM NORBERT ELIAS Orientanda: Joice Camila dos Santos Kochi Orientadora: Magda Sarat Co-orientadora: Míria Izabel Campos Universidade Federal da Grande Dourados CNPq RESUMO Este painel constitui-se do plano de trabalho de Iniciação Científica e pretende apresentar as primeiras aproximações com a obra de Norbert Elias. Considerando a grande colônia japonesa existente em Dourados/MS, surgiu o interesse em conhecer o processo de educação formal e informal destes imigrantes, a partir das memórias e experiências vividas no país de origem. O objetivo é compreender as relações entre crianças e adultos no processo civilizador ocorrido no país oriental. A metodologia se constituirá de estudos bibliográficos acerca da infância, Educação Infantil e processo de civilização das crianças. Na produção de documentos serão utilizadas fontes da História Oral. PALAVRAS-CHAVES: 1) Infância 2) Processo civilizador 3) Educação Japonesa INTRODUÇÃO Conforme escreve Imagava e Pereira (2006) tanto a emigração como a imigração precisam ser entendidas como movimentos de grupos humanos implicados reciprocamente. Ainda de acordo com as autoras: Pode-se inferir que os processos migratórios são decorrência da busca constante dos homens pela garantia de sua sobrevivência, definidos pelas relações sociais que estabelecem através de sua interação com o meio, ou seja, as migrações são definidas historicamente entre diversos povos (IMAGAVA, PEREIRA, 2006, p. 66). No Japão, com o início do processo de modernização do país, os governantes adotaram uma política de mandar trabalhadores para diferentes localidades do mundo. Como discorre Sakurai (1998, p. 4) A vinda de imigrantes para o Brasil é parte desta política. Nessa direção, até o final dos anos 1970 o Brasil recebeu cerca de 250.000 imigrantes japoneses, que vieram na sua maioria para trabalhar na agricultura. Como salienta Sakurai (2002, s/p): As maiores concentrações de japoneses ocorreram nas regiões centro, norte e oeste do Estado de São Paulo, dirigindo-se depois para o norte do Paraná e Mato grosso do Sul. Cidades como Marília, Tupã, Bastos, Registro em São Paulo, Londrina, Maringá no Paraná, Dourados em Mato Grosso do Sul, cresceram em torno da presença dos japoneses.
2 Como podemos perceber pela afirmação da autora a cidade de Dourados, que será lócus da nossa pesquisa, fez parte da rota de imigração. Em depoimento dado em 2008, por ocasião da comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, Kyoshi Rach, presidente da Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Dourados, declara que [...] em Dourados, houve dois grandes momentos de imigração japonesa, em 1947 e em 1953. Os pioneiros chegaram em 1947, eram profissionais de várias áreas que se estabeleceram na região. Hoje somos aproximadamente 6 mil pessoas entre descendentes e pioneiros. Importante destacar o aspecto de que esta também é parte da minha história de vida, por ser uma descendente de origem japonesa. Sakurai (2002, p. 3) escreve que [...] os imigrantes japoneses sempre tiveram a sua identidade marcada por suas diferenças com a sociedade brasileira. Sabemos que o Japão apresenta como forte traço cultural a valorização da cooperação, respeito pelo grupo e, ainda, a consciência de grupo é bastante forte e praticada, refletindo assim na educação das crianças, a qual dá o maior valor ao trabalho coletivo, grupal, até mesmo definindo a estrutura das instituições que recebem os pequenos (KISHIMOTO, 1997). Ainda conforme a autora O alto índice de escolarização alcançado pelo sistema de ensino japonês privilegia conteúdos e competitividade. Entretanto, na esfera préescolar, não é obrigatória, os jardins-de-infância definem, a partir dos anos 90, orientações em que se destaca o brincar (KISHIMOTO, 1997, p. 66). Em contrapartida, a autora ressalta que no Brasil permanecem práticas padronizadas pelo adulto, mantendo atividades repetitivas, com horários fixos (KISHIMOTO, 2009). Nessa perspectiva, a partir dos estudos de Elias (1994), teórico que se aprofundou nas pesquisas acerca do processo civilizador pelo qual passou a humanidade ao longo história, nas diferentes sociedades e culturas, nós procuraremos entender até que ponto às crianças é permitido participar das decisões nos contextos educativos. Em suas teorias, o autor escreve que a criança não é apenas maleável ou adaptável em grau muito maior do que os adultos. Ela precisa ser adaptada pelo outro, precisa da sociedade para se tornar fisicamente adulta (ELIAS, 1994a, p. 30, grifos do autor). Portanto, queremos refletir em que medida a criança é protagonista do seu processo de adaptação e como o adulto participa de uma educação na qual o poder relacional envolve adultos e crianças.
3 Pretendemos buscar nas vozes de imigrantes japoneses que vieram para Dourados, e vivenciaram a sua infância no Japão, depoimentos de como aconteceu o processo de educação formal e informal no seu país de origem e saber acerca das influências do adulto no processo civilizador das crianças no país oriental, bem como buscar analisar as diferenças percebidas nas práticas educacionais nos dois países, quer sejam, Brasil e Japão, a partir da experiência vivida por filhos e netos que fizeram o caminho de volta da imigração. OBJETIVOS E METODOLOGIA Os objetivos do trabalho são: Estudar a educação da infância japonesa e brasileira; Conhecer os discursos e as práticas da educação das crianças, a partir dos relatos de infância de imigrantes japoneses; Compreender como se dá o processo civilizador das crianças a partir dos estudos sociológicos de Norbert Elias; Realizar estudos comparativos entre as experiências vividas no passado e presente da educação das crianças japonesas. Pretendemos realizar estudos embasados em uma abordagem qualitativa nos quais, de acordo com Ludke e André (1986, p. 12), o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador. Nesses estudos há sempre uma tentativa de capturar a perspectiva dos participantes [...]. Portanto, nossa pesquisa iniciará com ampliação e aprofundamento dos estudos bibliográficos de obras relacionadas à temática proposta, que serão somados aos autores já lidos para a confecção desse Plano de Trabalho. Dentre eles destacamos: Ariès (1981), Elias (1994, 1994a, 1995, 2001), Kishimoto (1997, 2003, 2009), Kuhlmann Jr. (2004, 2005), Oliveira (1999), Sarat (2004) entre outros Para a pesquisa empírica realizaremos entrevistas com imigrantes japoneses de primeira geração, moradores da cidade de Dourados, estado de Mato Grosso do Sul, que tenham vivido sua infância no Japão e poderão nos contar acerca da educação vivenciada naquele país. Para tanto, nos apoiaremos na metodologia da História Oral, que se constituirá no principal corpo da pesquisa, pois é a principal fonte de coleta de dados, juntamente com o referencial bibliográfico.
4 A História Oral, conforme aponta Meihy (1996, p.9) é capaz de abrigar as palavras de grupos pequenos dando [...] sentido social às experiências vividas sob diferentes circunstâncias. Nessa direção, a história de vida de cada pessoa poderá contribuir com a pesquisa no sentido de revelar detalhes, pistas e perspectivas de compreender este segmento da população, bem como as características de uma educação que compõe, juntamente com outras, a formação do povo brasileiro, no caso, deste estudo o sulmatogrossense. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2ª ed. Rio de Janeiro: L T C Editora. 1981. ELIAS, N. O processo civilizador, volume 1: uma história dos costumes. Trad. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. ELIAS, Norbert. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994a. ELIAS, Norbert. Mozart: sociologia de um gênio. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 1995. ELIAS, Norbert. Norbert Elias por ele mesmo. Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. IMAGAVA, Cristiane Yassuko Miazaki e PEREIRA, Jacira Helena do Valle. O Papel das Escolas Étnica e Nacional de Educação Básica na Constituição Identitária de Migrantes Japoneses em Dourados-MS. InterMeio: revista do Programa de Pós- Graduação em Educação, Campo Grande, MS, v. 12, n. 24, p. 46-69, jul.-dez./2006 KISHIMITO, Tizuko Morchida. Brinquedo e brincadeira na educação infantil japonesa: Proposta curricular dos anos 90. Educação & Sociedade, ano XVIII, n. 60, p. 64-88, dez. 1997. KISHIMOTO, Tizuco Morchida, Escolarização e brincadeira na educação infantil. In: SOUZA, Cyntia Pereira de (Org.). História da Educação: processos, práticas e saberes. 3ª ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2003. KISHIMITO, Tizuko Morchida. Educação infantil no Brasil e no Japão: acelerar o ensino ou preservar o brincar? Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, v. 90, n. 225, p. 449-467, maio/ago. 2009. KUHLMANN Jr., M. Infância e Educação Infantil: uma abordagem histórica. 3ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2004. KUHLMANN Jr., M. Educação Infantil e Currículo. In: FARIA, Ana Lucia Goulart de; PALHARES, Maria Silveira Titulo: Educação infantil pos-ldb: rumos e desafios. 5ª ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.
5 LUDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MEIHY, J. C. S. B. Manual de história oral. São Paulo: Edição Loyola, 1996. OLIVEIRA, Magda Sarat. Lembranças de infância: que história é esta? Piracicaba, 1999. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Metodista de Piracicaba, 1999. SAKURAI, Célia. Imigração japonesa para o Brasil. Um exemplo de imigração tutelada- 1908-1941. In: XXII Encontro Nacional da ANPOCS. GT 9 MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS. Caxambu-MG, 1998. Disponível em: <bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/anpocs/sakurai.rtf> Acesso em: 20 março 2012. SAKURAI, Célia. Os Imigrantes Japoneses em Terras Brasileiras. Fundação Japão, São Paulo, Brasil. 2002. Disponível em: file:///e:/cap01_a1.htm. Acesso em: 20 março 2012. SARAT, Magda. Histórias de Estrangeiros no Brasil: infância, memória e educação. Piracicaba, 2004. Tese (Doutorado em Educação), Universidade Metodista de Piracicaba, 2004. 100 Anos Japão-Brasil. Dourados (MS) Terá Rua Oriental. Centenário da Imigração. 2008. Disponível em: file:///e:/index.php.htm. Acesso em: 20 março 2012. Endereços completos: _ Joice Camila dos Santos Kochi- Rua Hiran Pereira de Matos, 2170, Jardim Santa Brígida. CEP:79831250; _Magda Sarat- Rua José Domingos Baldasso, 514, Parque Alvorada. CEP 79823480; _Míria Izabel Campos- Rua Ali Hassan Ghadié, 200/ Apartamento 04, Parque Alvorada. CEP: 79823470.