DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL o desafio do século XXI



Documentos relacionados
serviço social na saúde coletiva reflexões e práticas

DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CONTRIBUIÇÕES DE IGNACY SACHS

Avanços na transparência

Arnaldo Chagas. PRODUÇÃO DE TEXTOS ACADÊMICOS Dos bastidores à elaboração do texto. 1ª Edição

Ateneo de investigadores (Espaço de intercâmbio entre pesquisadores)

Resolução de Exercícios Orientações aos alunos

Globalização e solidariedade Jean Louis Laville

O Marketing Educacional aplicado às Instituições de Ensino Superior como ferramenta de competitividade. Xxxxxx Xxxx Xxxxxxx Xxxxxxx Xxxxxxxxxxx

SUGESTÕES PARA ARTICULAÇÃO ENTRE O MESTRADO EM DIREITO E A GRADUAÇÃO

Resgate histórico do processo de construção da Educação Profissional integrada ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)

Desenvolvimento e sustentabilidade

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

Dicionário. Conceitos. Históricos

Apesar de colocar-se no campo das Engenharias, profissional destaca-se, também, pelo aprimoramento das relações pessoais

Guarantã do Norte-MT 2012

ENTREVISTA. Clara Araújo

coleção Conversas #6 Respostas que podem estar passando para algumas perguntas pela sua cabeça.

REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO EM UM CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A DISTÂNCIA

VOLUNTARIADO E CIDADANIA

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Unidade III Produção, trabalho e as instituições I. Aula 5.2 Conteúdo:

P.42 Programa de Educação Ambiental - PEA Capacitação professores Maio 2013 Módulo SUSTENTABILIDADE

A função organizadora das Leis Trabalhistas para o Capitalismo Brasileiro ( ) th_goethe@hotmail.com; joaoacpinto@yahoo.com.

universidade de Santa Cruz do Sul Faculdade de Serviço Social Pesquisa em Serviço Social I

01 UNINORTE ENADE. Faça também por você.

Projeto Você pede, eu registro.

Estratégia Europeia para o Emprego Promover a melhoria do emprego na Europa

CHAMADA PARA SUBMISSÃO DE ARTIGOS

O DEMÔNIO DE CADA UM DE NÓS A QUESTÃO DO BEM E DO MAL -O DIABO EXISTE REALMENTE?-

PROJETO DE REVISTA CIENTÍFICA EM MEIO ELETRÔNICO: Área de conhecimento: Relações Internacionais, Economia, Política, Direito

MANUAL PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS E SUBPROJETOS DE PESQUISA

SONDAGEM NACIONAL JORNALISTAS 2013

Uma reflexão sobre Desenvolvimento Económico Sustentado em Moçambique

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO

INTRODUÇÃO. Entendemos por risco a probabilidade de ocorrer um dano como resultado à exposição de um agente químico, físico o biológico.

Quando as mudanças realmente acontecem - hora da verdade

Plano de Negócios (PN): uma visão geral. O que é e para que serve

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE ASSISTÊNCIA A PROGRAMAS ESPECIAIS

1. Introdução. 1.1 Apresentação

1.3. Planejamento: concepções

Direito Civil (Parte Geral e Obrigações) Direito Civil (Teoria Geral dos Contratos) Direito Civil (Contratos em Espécie)

Um forte elemento utilizado para evitar as tendências desagregadoras das sociedades modernas é:

SUA ESCOLA, NOSSA ESCOLA PROGRAMA SÍNTESE: NOVAS TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA

P.42 Programa de Educação Ambiental - PEA Capacitação professores JUNHO 2013 Módulo EDUCAÇÃO AMBIENTAL

PARA SEMPRE CERTIFICAÇÃO FLORESTAL FSC. Carmen Figueiredo

Serviços de Saúde do Trabalho

Filosofias de Administração de Marketing (orientação) Prof. M.Sc. João Artur Izzo

Projetos acadêmicos Economia verde

Desafios para a gestão escolar com o uso de novas tecnologias Mariluci Alves Martino

/(,785$(&,'$'$1,$ $d (6&2/$%25$7,9$6( 352&(6626)250$7,926

Começo por apresentar uma breve definição para projecto e para gestão de projectos respectivamente.

Katia Luciana Sales Ribeiro Keila de Souza Almeida José Nailton Silveira de Pinho. Resenha: Marx (Um Toque de Clássicos)

Blog da House Comunicação entre a Agência Experimental e acadêmicos de Publicidade e Propaganda da FURB 1

BREVE HISTÓRIA DA CIÊNCIA MODERNA VOLUME 4 A BELLE-ÉPOQUE DA CIÊNCIA

4- A SUSTENTABILIDADE E OS CONTRATOS DE OBRAS PÚBLICAS 5- CENÁRIO ATUAL DOS CONTRATOS DE OBRAS PÚBLICAS 6- CONCLUSÕES

GESTÃO DO CICLO DE PROJETOS. Introdução

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

A GESTÃO DE PESSOAS NA ÁREA DE FOMENTO MERCANTIL: UM ESTUDO DE CASO NA IGUANA FACTORING FOMENTO MERCANTIL LTDA

Em recente balanço feito nas negociações tidas em 2009, constatamos

A origem dos filósofos e suas filosofias

MARKETING E A NATUREZA HUMANA

Motivar pessoas para o foco da organização

Iniciando nossa conversa

FACULDADES INTEGRADAS CAMPO-GRANDENSES. XI SEMANA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - Dias 21, 22 e 23 de Setembro

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

COMO PARTICIPAR EM UMA RODADA DE NEGÓCIOS: Sugestões para as comunidades e associações

O Projeto Ações Sociais AMO-RS nasceu do desejo de mudar realidades, incentivar, potencializar e criar multiplicadores.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO E S C O L A D E A R T E S, C I Ê N C I A S E H U M A N I D A D E

FACULDADE INTERNACIONAL DO DELTA PROJETO PARA INCLUSÃO SOCIAL DOS SURDOS DA FACULDADE INTERNACIONAL DO DELTA

MANUAL DA QUALIDADE Viva Vida Produtos de Lazer Ltda. Manual da Qualidade - MQ V. 1 Sistema de Gestão da Qualidade Viva Vida - SGQVV

NOTAS SOBRE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL NO BRASIL (Um clássico da Sociologia da Educação entre nós)

DIRETRIZES DE ORIENTAÇÃO DAS ATIVIDADES DO TRABALHO DE CURSO

Direito a inclusão digital Nelson Joaquim

w w w. y e l l o w s c i r e. p t

EDUCAÇÃO EM SAÚDE AMBIENTAL:

Entendendo Licitações e Contratos Administrativos. Aquisições e contratações na Administração Pública de forma simples e didática.

12ºDiscípulo. Nos passos de um verdadeiro servo. Elizeu Gomes Psicologia pelo Stratford Institute Carreer, Washington, D.C. - USA

SOCIEDADE E TEORIA DA AÇÃO SOCIAL

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO FORMADOR: TRÊS ASPECTOS PARA CONSIDERAR

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação PIBITI/CNPq 2015/2016.

INFORMAÇÃO PARA A PREVENÇÃO

SERVIÇO SOCIAL E TRABALHO INTERDISCIPLINAR

FUNDAMENTAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL RESUMO

CURSO PREPARATÓRIO PARA PROFESSORES. Profa. M. Ana Paula Melim Profa. Milene Bartolomei Silva

ASPECTOS HISTÓRICOS: QUANTO A FORMAÇÃOO, FUNÇÃO E DIFULCULDADES DO ADMINISTRADOR.

Grupo de Trabalho Temático Corpo e Cultura (3) Relatório Parcial de Atividades ( )

DIRETRIZES E PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO DE PROPOSTAS DE CURSOS NOVOS DE MESTRADO PROFISSIONAL

XI SIMPÓSIO DE RELAÇÕES DE TRABALHO GRAMADO 22-24/10/2015

PARA ONDE VAMOS? Uma reflexão sobre o destino das Ongs na Região Sul do Brasil

Sicredi aprimora monitoramento de data center com o CA Data Center Infrastructure Management

difusão de idéias A formação do professor como ponto

Patrocínio Institucional Parceria Apoio

Capitalismo na China é negócio de Estado e no Brasil é negócio de governo*

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

OS SENTIDOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA CONTEMPORANEIDADE Amanda Sampaio França

A QUALIDADE DOS PLANOS DE DISCIPLINAS

A ARTE NA FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL: EM BUSCA DE UMA PRAXE TRANSFORMADORA

coleção Conversas #25 u s Respostas perguntas para algumas que podem estar passando pela sua cabeça.

Políticas de utilização dos laboratórios de informática

Transcrição:

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL o desafio do século XXI

COORDENAÇÃO Maria Alzira Brum Lemos CONSELHO EDITORIAL Bertha K. Becker Candido Mendes Cristovam Buarque Ignacy Sachs Jurandir Freire Costa Ladislau Dowbor Pierre Salama

José Eli da Veiga DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL o desafio do século XXI G a r a m o n d

Copyright 2005, José Eli da Veiga Direitos cedidos para esta edição à Editora Garamond Ltda. Caixa Postal: 16.230 Cep: 22.222-970 Rio de Janeiro Brasil Telefax: (21) 2224-9088 e-mail: editora@garamond.com.br Revisão Cláudia Rubim Editoração Eletrônica Luiz Oliveira Capa Estúdio Garamond sobre Jardins da Tunísia de Paul Klee CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte do Sindicato dos Editores de Livros V528d Veiga, José Eli da, 1948- Desenvolvimento sustentável : o desafio do século XXI / José Eli da Veiga. - Rio de Janeiro : Garamond, 2008 3ª ed. 220p. 14x21cm Inclui bibliografia ISBN 85-7617-051-5 1. Desenvolvimento sustentável. I. Título. 05-0394. CDD 338.9 CDU 330.1 Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98.

Agradecimentos A exclusiva responsabilidade do autor sobre o conteúdo deste livro não deve ocultar a generosa colaboração de muita gente, além do precioso respaldo institucional de diversas organizações. Nada disto teria sido possível sem o diálogo mantido com as centenas de alunos da USP que freqüentaram as disciplinas Introdução ao Desenvolvimento Sustentável (do curso de graduação em Economia, FEA) e Desenvolvimento e Meio Ambiente (do Programa de pós-graduação em ciência ambiental, PROCAM), ao longo dos últimos cinco anos. Dois cursos que não poderiam ter sido sequer propostos sem prévio trabalho investigativo viabilizado pelo apoio dessa insigne organização que é a FAPESP e pelo ambiente de primazia à pesquisa científica que prevalece no Departamento de Economia da FEA-USP. Na derradeira, e mais difícil etapa a da redação, inestimáveis sugestões foram feitas pelo economista e jornalista Thiago Guimarães, pelo sociólogo e doutorando no Procam Arilson Favareto, e pelo agrônomo e doutor em ciência ambiental Eduardo Ehlers. Não houve arrependimento em lhes ter roubado preciosas horas de trabalho e lazer, pois suas observações foram de grande valia para melhorar a exposição, corrigir erros e reduzir omissões. A essas pessoas e organizações fica registrada especial gratidão, mesmo que estas palavras jamais possam expressar plenamente a intensidade dos sentimentos de respeito e simpatia. J.E.V.

Sumário Prefácio - Ignacy Sachs... 9 Parte 1 - O que é desenvolvimento Como pode ser entendido o desenvolvimento... 17 Como pode ser medido o desenvolvimento... 83 Parte 2 - O que é sustentabilidade Como pode ser entendida a sustentabilidade... 109 Como pode ser medida a sustentabilidade... 173 Conclusão... 185 Bibliografia... 211 Sobre o autor... 225 7

8

Prefácio Ignacy Sachs Na segunda metade do século passado, impulsionado pelos processos de descolonização e de emancipação do Terceiro Mundo e pela emergência do sistema das Nações Unidas, o desenvolvimento, um avatar do progresso iluminista, firmou-se como uma das idées-force das ciências sociais, configurando uma problemática ampla de caráter pluri e transdisciplinar, atravessada por polêmicas vivas de caráter ideológico e teórico. Idéia, visão, conceito, utopia? Não creio que devamos nos envolver neste debate semântico. O que importa é deixar bem claro que o desenvolvimento não se confunde com crescimento econômico, que constitui apenas a sua condição necessária porém não suficiente. Como bem disse Celso Furtado num dos seus derradeiros pronunciamentos, só haverá verdadeiro desenvolvimento que não se deve confundir com crescimento econômico, no mais das vezes resultado de mera modernização das elites ali onde existir um projeto social subjacente. Por isso, em última instância, o desenvolvimento depende da cultura, na medida em que ele implica a invenção de um pro- 9

jeto. Este não pode se limitar unicamente aos aspectos sociais e sua base econômica, ignorando as relações complexas entre o porvir das sociedades humanas e a evolução da biosfera; na realidade, estamos na presença de uma co-evolução entre dois sistemas que se regem por escalas de tempo e escalas espaciais distintas. A sustentabilidade no tempo das civilizações humanas vai depender da sua capacidade de se submeter aos preceitos de prudência ecológica e de fazer um bom uso da natureza. É por isso que falamos em desenvolvimento sustentável. A rigor, a adjetivação deveria ser desdobrada em socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado no tempo. Tudo indica que a idéia do desenvolvimento não perderá a sua centralidade nas ciências sociais do século que se inicia. Mais do que nunca, precisamos enfrentar as abismais desigualdades sociais entre nações e dentro das nações, e fazê-lo de maneira a não comprometer o futuro da humanidade por mudanças climáticas irreversíveis e deletérias. No entanto, a problemática do desenvolvimento passou de moda e o seu status acadêmico é cada vez mais marginal. As razões são múltiplas. A teologia do mercado, que faz hoje a cabeça de muitos economistas, torna redundante o conceito de desenvolvimento. Por sua vez, os adeptos da ecologia profunda teimam em considerar o crescimento econômico como um mal absoluto, quaisquer que sejam as suas modalidades e os usos sociais do seu produto. Por fim existem os desencantados do desenvolvimento, que apontam o fracasso bastante geral das políticas que se reclamavam do desenvolvimentismo para justificar o abandono puro e simples do conceito do desenvolvimento, visto por alguns como 10

uma mera armadilha ideológica inventada por políticos do primeiro mundo para perpetuar seu domínio sobre os países periféricos. Este fracasso é indiscutível, mas como avaliá-lo sem lançar mão do conceito normativo de desenvolvimento ou, ainda melhor, sem recorrer ao par desenvolvimento/mau-desenvolvimento que configura um contínuo de situações possíveis? Sobretudo, como definir políticas de saída do mau-desenvolvimento reinante na ausência de um projeto de desenvolvimento visionário e exequível? Convém apreciar o livro de José Eli da Veiga neste contexto difícil e confuso. Em quatro capítulos densos e eruditos, fruto de leituras bem escolhidas e de reflexão original, o autor discute os conceitos de desenvolvimento e de sustentabilidade e as diferentes maneiras de sua mensuração. Conclui, como era de se esperar, pela defesa do conceito de desenvolvimento sustentável como utopia para o século XXI, postulando a necessidade de buscar um novo paradigma científico, capaz de se substituir ao industrialismo. Concordo com o autor de que necessitamos de novos paradigmas, já que estamos sentados sobre as ruínas do socialismo real, do Consenso de Washington, do crescimento econômico socialmente perverso por se alimentar de desigualdades crescentes, da social-democracia, que foi longe demais na aceitação da economia de mercado, um conceito que J. K. Galbraith considera com razão como totalmente inócuo e por isso tão difundido. Em paralelo, devemos superar as barreiras que hoje separam as diferentes disciplinas do saber, caminhando para a eco-socio-economia proposta por William Kapp. Mas estes já são temas para um novo livro, que os leitores deste têm o direito de esperar de José Eli da Veiga. 11