MODERNIZAÇÃO E INOVAÇÃO NA CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO NAVAL



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Transcrição:

MODERNIZAÇÃO E INOVAÇÃO NA CONSTRUÇÃO E REPARAÇÃO NAVAL José Ventura de Sousa 1 e Filipe Henriques Duarte 2 1 Associação das Indústrias Marítimas, Lisboa, Portugal ventura.sousa@aim.pt 2 Associação das Indústrias Marítimas, Lisboa, Portugal filipe.duarte@aim.pt Resumo Apresenta-se uma caracterização da actividade de construção e reparação naval a nível mundial e europeu em termos de novas encomendas, carteira de encomendas e novos contratos, comparando-se os seus diferentes comportamentos e preconizandose a evolução daqueles indicadores face à crise financeira económica financeira mundial. A nível nacional apresenta-se um estudo da evolução dos principais indicadores, em termos de volume de negócio, produtividade e quantificação do peso do sector na indústria transformadora e no seu expressivo contributo para o crescimento das exportações. Analisa-se o comportamento do sector face à crise, concluindo-se que apesar de também ser afectado, os seus efeitos são mais moderados do que os que se fazem sentir a nível mundial. As PME do sector são as empresas em que os efeitos da crise parecem mais evidentes. Faz-se uma breve caracterização em termos de dimensão e tecnologias utilizadas do sector construção e reparação naval em Portugal. São identificadas as vantagens competitivas que o sector dispõe, tais como situação geográfica, clima e qualificação da mão-de-obra, como também, os constrangimentos que condicionam o seu crescimento. Aconselha-se uma visão estratégica para o sector, que permita ultrapassar os constrangimentos identificados e defenda uma política com medidas de curto, médio e longo prazo, que visem reforçar a inovação e modernização do sector.

1 Introdução A Indústria Naval, designada por indústria de construção e reparação naval, inclui duas actividades de características diferentes, quer do ponto de vista de estrutura industrial quer do ponto de vista de mercado: A construção naval, actividade industrial típica e a manutenção/reparação e conversão naval, actividade que deve ser tipificada como serviço industrial. Os estaleiros portugueses que constituem a Indústria Naval Nacional têm dimensões diferentes, dedicam-se a uma das actividades atrás referenciadas como actividade nuclear. A actual crise económica e financeira está a provocar um profundo impacto nos estaleiros europeus. Os estaleiros portugueses também vão ser afectados pela crise, embora em menor escala, sendo os estaleiros de pequena e média dimensão, aqueles em que o efeito é mais visível. Em 2008, os estaleiros de dimensão PME já registaram uma redução do volume de negócios, depois de um período de forte crescimento nos seis anos anteriores. Esta indústria tem vantagens competitivas relativamente à maioria das indústrias transformadoras, em particular a reparação, devido à localização geográfica privilegiada; ao largo de Portugal cruzam as principais rotas mundiais de transporte marítimo. As condições climatéricas do nosso país são únicas a nível europeu para o exercício da actividade de construção e reparação. Existe mão-de-obra disponível e preparada para responder às solicitações do mercado. É um sector duplamente estratégico para Portugal, por proporcionar o desenvolvimento de outras indústrias ligadas ao mar, gerador de emprego e riqueza numa gama variada de indústrias associadas, integrador de conhecimento e alta tecnologia. Os estaleiros nacionais de maior dimensão dispõem de infra-estruturas e capacidade tecnológica para responder a mercados diversificados como o da construção de protótipos para a exploração da energia das ondas e de estaleiros modernos que concorrem a nível mundial (Portugal dispõe do maior estaleiro europeu de reparação naval). O sistema de incentivos postos à disposição das empresas portuguesas, através do QREN, é manifestamente insuficiente para permitir às PME do sector a inovação, reestruturação e modernização das suas infra-estruturas, tornando-se necessário um plano específico para o sector, enquadrado numa estratégia de eficiência colectiva para as indústrias marítimas, bem como, a transposição para o país de um Regime de Apoio à Inovação, aprovado pela Comissão Europeia e em vigor na maioria dos estaleiros europeus.

2 Conjuntura económica e evolução do sector 2.1 Internacional A construção naval é uma actividade global de capital intensivo e por isso está a ser fortemente afectada pela actual crise económica e financeira mundial. Depois de um crescimento de cinco anos consecutivos em que a procura mais que quadruplicou, verificou-se em 2008, uma redução para cerca de metade das encomendas de novas construções a nível mundial. Gráfico 1- Construção Naval Mundial Segundo a CESA Comunity European of Shipyards Association, no final de 2008, a carteira de encomendas ainda aumentou para 190,3 milhões de CGT (Compensated Gross Tonnage), em parte devido às encomendas de navios tanques, porta contentores e de navios de transporte de graneis, ditos navios standard, colocados nos estaleiros asiáticos até Setembro deste ano, que fez com que as encomendas mundiais atingissem 42,9 milhões de CGT, superando os 42 milhões de CGT de navios construídos. A crise mundial afectou profundamente o mercado dos navios de massa que constitui a base da actividade dos principais produtores asiáticos, Japão, Coreia do Sul e China. Dada a importância da construção naval para estes países, em particular para a Coreia, o Estado intervém em defesa da sua indústria, provocando por arrastamento uma forte concorrência em segmentos do mercado que até aqui não concorriam. Os produtores asiáticos dimensionaram-se para responder a um mercado que parecia não parar de crescer, mercado em que já existia um excesso de capacidade de oferta

evidente, provocando reflexos negativos nas taxas de afretamento de navios. No caso dos navios tanques, é possível correlacionar o início crise financeira com a queda das taxas de afretamento a tempo (12 meses) dos navios tanques. 100 90 TAXAS DE FRETAMENTO A TEMPO Períodos de 12 meses 80 70 60 50 40 30 20 10 0 199697 98 992000 01 02 03 04 05 062007 Jan-Fev-Mar-Abr-Mai- Jun- Jul-Ago-Set-Out-Nov-Dez-Jan-Fev-Mar-Abr-Mai- Jun- Fonte: Fearnleys 08 08 08 08 08 08 08 08 08 08 08 08 09 09 09 09 09 09 1.000 U S Dólares / dia VLCC Moderno Suezmax Moderno Aframax Moderno Produto 40 kdw t A actual carteira de encomendas vai fazer crescer a frota em cerca de 50 % por 2012, crescimento este que não vai ser acompanhado pela procura. Este desequilíbrio entre a oferta e a procura vai provocar cancelamentos de contractos, fecho de unidades produtivas, tendendo a médio prazo para o restabelecimento dum funcionamento normal do mercado de afretamento de navios. Segundo a CESA, no primeiro trimestre de 2009 a produção mundial de navios foi de 11,4 milhões de CGT, contra apenas 0,9 milhões de CGT de novas encomendas de navios o que torna evidente que uma parte substancial de comunidade internacional do shipping e da construção naval mundial vai ser obrigada a cancelar ou protelar parte dos seus projectos de desenvolvimento, bem como a adequar e reduzir a capacidade instalada, de modo a adequar a procura à oferta. 2.2 Europa Os estaleiros europeus cuja actividade se baseava na construção de navios standard, à semelhança dos estaleiros asiáticos vão ser fortemente afectados pela crise económica, alguns dos quais também irão ser confrontados com situações de falência. O efeito da crise é bem visível nas novas encomendas de navios colocadas nos estaleiros europeus. Segundo a CESA no final de 2008, o valor da carteira de encomendas caiu para 10.4 milhões de CGT (Compensated Gross Tonnage),

resultado da redução de novas encomendas para 1.7 milhões de CGT inferior aos 3.9 milhões de CGT correspondente a navios concluídos neste ano. Gráfico 2- Construção Naval Europeia Os estaleiros europeus que desde 2006 avisavam existir um excesso de capacidade de construção da ordem dos 50 % e que procederam a uma reestruturação para se adaptarem ao mercado viram os estaleiros asiáticos acelerarem a sua expansão nos mercados tradicionais e agora que a crise se instalou, a procurarem investirem em mercados tecnológicos mais exigentes, até aqui dominados pelos europeus. Os produtores europeus, na sua maioria, concentraram-se em nichos de mercado exigentes de elevada tecnologia, que ainda se mantêm saudáveis e economicamente rentáveis. Contudo, a falta de financiamento ao sector provocada pelo receio da banca de uma catástrofe global da indústria, pode pôr em risco o lançamento de novos projectos inovadores de construção e a existência de muitos produtores europeus. Os estaleiros europeus através da CESA apelam a uma acção concertada a nível europeu que evite danos estruturais no sector em particular nas empresas de dimensão PME e tecnologicamente menos evoluídas, no âmbito do projecto LeaderSHIP 2015, defendendo que seja incentivada a procura em navios que necessitam de ser substituídos face à sua elevada idade, a políticas de financiamento inovadoras, à defesa de uma política de concorrência equitativa e a novas formas de colaboração na inovação tecnológica. 2.3 Portugal A pequena dimensão e natureza da construção e reparação naval em Portugal permitiram que a crise financeira e económica mundial ainda não se fizesse sentir

em 2008, mas são já visíveis os sinais de redução da sua actividade em 2009, com maior incidência nos estaleiros de dimensão PME, como adiante se evidenciará. Segundo a última informação oficial disponibilizada, que refere ao ano de 2007 (Informação Empresarial Simplificada), existiam 219 empresas inscritas na actividade de construção e reparação naval, representando 5.637 trabalhadores e um volume de negócios de 607 milhões de euros. A construção e reparação de embarcações metálicas atingiram um volume de negócios de 469,3 milhões de Euros, correspondendo a 77,3 % do volume de negócios total. O volume de negócios em construção de embarcações de recreio e desporto foi de 57,9 milhões de Euros, correspondente a 9,5 % do total do sector, sendo o restante referente a embarcações não metálicas. Construção e reparação de embarcações Volume de negócios em 2007 (milhões de euros e %) 57,9; 9,5% 79,8; 13,2% Metálicas Não metálicas 469,3; 77,3% Recreio e desporto Este sector tem uma forte componente para a exportação tendo atingido em 2007, 267,2 milhões de Euros, 79,3 % dos quais em construção e reparação de embarcações metálicas (211,9 milhões de euros), 5,3 % nas não metálicas, excepto recreio e desporto (14,2 milhões de euros) e 15,4 % nas embarcações de recreio e desporto (41,1 milhões de euros). Esta informação estatística evidencia a importância do sector como indústria exportadora. As exportações representaram 44,0 % do volume de negócios e quase duplicaram o valor das importações em 2007. Em 2007, segundo dados do INE, as vendas de construção e reparação naval para países terceiros cresceram 47,2 %, enquanto que para a União Europeia e apenas cresceram 9,1 %, revelando uma menor dependência do comércio externo com a UE.

Repartição das vendas de construção de reparação naval Milhões de euros 200 150 100 50 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Mercado nacional União Europeia Países terceiros As exportações para países terceiros subiram em 2007 para 21,4 % do total o que ficou a dever-se ao forte crescimento das vendas de construção e reparação de embarcações excepto recreio e desporto. Repartição das vendas por mercados 2007 Países terceiros 21,4% Mercado nacional 26,8% União Europeia 51,8% A Indústria Naval, além de ser uma indústria exportadora de elevado valor acrescentado, está a crescer a uma taxa anual muito superior à Indústria Transformadora, apesar dos existentes constrangimentos à competitividade, que adiante se identificam. Segundo dados do INE, o volume de negócios da construção e reparação naval, no período 2004 a 2007 (a comparação inicia-se em 2004 porque neste ano o INE introduziu uma nova metodologia) cresceu a uma taxa anual de 14,0 %, muito superior à taxa de 5,2 % de crescimento da indústria transformadora, fazendo subir de 0,40 % para 0,51 % o seu peso em milhões de Euros. A AIM prevê para o indicador referido uma taxa de crescimento superior em 2008, se os resultados evoluírem de modo idêntico ao dos associados da AIM. Em 2009, devido ao actual clima de crise económica e financeira prevê-se uma redução do volume de negócios do sector.

Volume de Negócios (milhões de euros) 2007/2004 2004 2005 2006 2007 2008 anual Indústria Transformadora 71.398 73.103 76.908 83.027 5,2% Taxa de Variação (%) 2,4 5,2 8,0 Grupo 351 - Construção e Reparação Embarcações (CRE) 287 319 352 425 14,0% Taxa de Variação (%) 11,1 10,3 20,7 Peso do total da IT 0,40% 0,44% 0,46% 0,51% 8,4% Classe 3511 -CRE excluindo recreio e desporto 243 270 296 360 14,0% Taxa de Variação (%) 11,1 9,6 21,6 Peso do total da IT 0,34% 0,37% 0,38% 0,43% Classe 3512 -CRE de recreio e desporto 44 49 56 65 13,9% Taxa de Variação (%) 11,4 14,3 16,1 Peso do total da IT 0,06% 0,07% 0,07% 0,08% Universo AIM 210 258 299 326 388 15,8% Taxa de Variação (%) 22,9 15,9 9,0 19,0 Fonte: INE - Sistemas de Contas Integradas das Empresas e AIM No período 2004 a 2008, o volume de vendas dos estaleiros que constituem o universo AIM, cresceu a uma taxa anual média de 15,8 % e representa 76,7 % do total do Grupo 351. O grande peso do volume de vendas da reparação e manutenção de embarcações relativamente à construção reflecte-se positivamente no elevado valor acrescentado que este sector tem relativamente à média da Indústria Transformadora. VAB (milhões de euros) 2004 2005 2006 2007 2008 2007/2004 anual Indústria Transformadora 18.747 18.629 18.713 19.891 2,0% Taxa de Variação (%) -0,6 0,5 6,3 Grupo 351 - Construção e Reparação Embarcações (CRE) 84 102 105 125 14,2% Taxa de Variação (%) 21,4 2,9 19,0 Peso do total da IT 0,45% 0,55% 0,56% 0,63% 11,9% Classe 3511 -CRE excluindo recreio e desporto 243 270 296 360 14,0% Taxa de Variação (%) 11,1 9,6 21,6 Peso do total da IT 1,30% 1,45% 1,58% 1,81% Classe 3512 -CRE de recreio e desporto 44 49 56 65 13,9% Taxa de Variação (%) 11,4 14,3 16,1 Peso do total da IT 0,23% 0,26% 0,30% 0,33% Fonte: INE - Sistemas de Contas Integradas das Empresas O VAB da construção e reparação naval, no período em análise, subiu de 0,45 % para 0,63 % do VAB da Indústria Transformadora, quando em volume de negócios, no mesmo período subiu de 0,40 a 0,51 %. Os quadros apresentados também permitem concluir que as empresas que constituem o universo AIM têm uma representação significativa do sector. As conclusões que se extraírem da sua análise podem-se extrapolar sem erro significativo para a evolução da indústria naval a nível nacional.

A reparação naval é a actividade dominante representando em 2007 quase 60 % da actividade total. Os resultados conhecidos do volume de negócios dos associados da AIM em 2008 apontam para um aumento do peso da reparação neste ano. Vendas de construção e reparação naval (milhões de euros) Reparação de embarcações de recreio e desporto Embarcações pesca Construção embarcações recreio comp. Peso <= 100 Kg Construção embarcações recreio comp. <= 7,5 metros Construção embarcações recreio comp. > 7,5 metros Construção navios comércio Reparação de embarcações excepto recreio e desporto 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2.3.1 - Análise do sector por dimensão e natureza da actividade Referiu-se na introdução que a construção e a reparação/manutenção naval são duas actividades diferentes. De entre estas ainda existem duas realidades distintas, as grandes empresas e as PME, cuja análise se apresenta seguidamente em separado. Em 2008, o volume de vendas de 6 empresas que vendem serviços de reparação de grande dimensão, que constituem o grupo de associadas da AIM, Lisnave, ENVC, Lisnave Internacional, GASLIMPO e TECOR cresceu 25,4 %, atingindo 217,2 milhões de euros. Naquele grupo de empresas merece destaque o volume de vendas de reparação naval da Lisnave, que atingiu 150,53 milhões de euros (com um VAB da ordem de 95 %), representando um crescimento de 22,1 % relativamente a 2007 e o volume de vendas em construção naval dos ENVC, que cresceu 20,9 % em 2008, atingindo 108,2 milhões de euros.

Vendas de Construção e Reparação Naval GE Milhões Euros 350 300 250 200 150 100 50 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Reparação GE Construção GE GE Em 2008, o volume de vendas dos 8 estaleiros de construção e reparação naval, de dimensão PME, Naval Rocha, Estaleiros Navais do Mondego, Nautiber Estaleiros Navais do Guadiana, Estaleiros Navais de Peniche, Navalria, União Construtora Naval, Samuel e Filhos, Vianapesca, Cecílio e Carlos Sanfins, Menaval, Réplica Fiel, Sopromar e Conafi, caiu 2,8 % relativamente ao ano anterior, tendo atingido o valor da ordem dos 40 milhões de euros. Vendas de Construção e Reparação Naval PME 50 40 Milhões Euros 30 20 10 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Reparação PME Construção PME Total PME As PME do sector que vinham a crescer a uma taxa anual superior a 15 %, em 2008, parecem terem iniciado um novo ciclo negativo, que será mais acentuado se não forem tomadas medidas a nível político que permitam combater o efeito da actual crise financeira e económica mundial no sector.

A manutenção e reparação naval efectuada em estaleiros de grande dimensão (Lisnave e ENVC) é a actividade predominante no nosso país, tendo representado em 2008, 66 % do volume de negócios total dos associados da AIM. Volume de vendas dos estaleiros do universo AIM (milhões euros) 240 200 160 120 80 40 Reparação PME Construção PME Construção GE Reparação GE 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 A análise da actividade nos últimos 6 anos evidencia uma tendência de crescimento da reparação naval superior à da construção naval. É esta diferença de crescimento nos últimos quatro anos que justifica o peso do VAB na Indústria Transformadora tenha aumentado 18 pontos, dado o VAB da reparação naval ser substancialmente superior. 2.3.2 - Caracterização do sector quanto à tecnologia, processos e recursos humanos Os estaleiros nacionais trabalham com vários tipos de materiais, não se identificando, no conjunto, um tipo de material predominante. Quanto aos tipos de navios produzidos, a esmagadora maioria dos estaleiros produz mais do que um e, de uma forma geral, não existe um tipo de navio predominante que caracterize a actividade do estaleiro. O ambiente macroeconómico e as políticas públicas podem ter tanta influência na decisão de avançar com a aquisição de novas tecnologias para a empresa, como a própria situação interna da empresa e as suas perspectivas de evolução. É necessário reiniciar o ciclo da tecnologia de construção naval com vista a relançar a indústria naval Portuguesa. O mais recente estudo de Benchmarking realizado para o sector da construção e reparação naval em Portugal revelou que a base tecnológica dos estaleiros participantes se caracteriza pela utilização de tecnologias e processos com provas dadas mas que começam a mostrar alguma maturidade tecnológica. Verificou-se ainda que subsistem algumas práticas já ultrapassadas, mas também existem casos utilização de tecnologias avançadas. Os sectores mais tradicionais de embarcações em madeira dão o exemplo com a adopção da técnica de strip planking e da construção a vácuo de vergas para

caravelas em fibra de carbono. Conclui-se que o maior atraso se faz sentir não nos processos produtivos em si, mas nas áreas relacionadas com o projecto e engenharia de produção, planeamento e controlo e acesso a bordo. 2.3.3 - Constrangimentos à competitividade do sector Como referido anteriormente as PME são as empresas mais vulneráveis do sector face à crise financeira e que por isso enfrentam um grande desafio. Num levantamento feito ao sector em 2007 foram identificados os constrangimentos à sua competitividade, os quais foram apresentados superiormente aos responsáveis políticos que tutelam o sector. Estes constrangimentos impedem que o sector goze de condições equitativas de concorrência no mercado internacional, tendo então sido proposto: Promulgar o Regulamento de Apoio à Inovação na Construção Naval, aprovado pela Comissão Europeia e em vigor nos estaleiros europeus. Promover a utilização de sistemas avançados de financiamento e garantia que tenham em consideração a natureza da actividade de construção naval. Adequar o regime de concessões e licenciamento à exploração dos estaleiros. 3 Conclusões A estratégia nacional para as empresas do sector naval, terá de passar pela dinamização da indústria, reconvertendo, reorganizando e modernizando tecnologicamente os estaleiros nacionais, em particular os de dimensão PME. A promoção, desenvolvimento e incorporação de tecnologias nacionais através da criação de novos produtos, novos materiais, protótipos de novos equipamentos para navios, e de novas embarcações, mais eficientes em termos ambientais e energéticos será um dos desafios para os estaleiros e indústria auxiliar. A investigação científica, desenvolvimento e inovação são as palavras-chaves para o século XXI. Para aproximar as políticas públicas do meio empresarial ligado à construção naval, a AIM propôs no âmbito do Cluster do Conhecimento e Economia do Mar, um projecto âncora denominado Modernização e inovação das indústrias marítimas assente em três pilares estratégicos: Qualificação e Internacionalização Inovação Investigação e Desenvolvimento Este projecto prevê um investimento total de 80 milhões de euros com um investimento privado de 73%, que poderá dar um novo rumo à indústria naval. Os incentivos ao investimento postos à disposição pelo Estado Português no Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) são manifestamente insuficientes para

que as empresas invistam na modernização e inovação do sector, se não forem enquadrados numa estratégia de eficiência colectiva, na qual se insere o Cluster referido. Pretende-se uma política para o sector que vise estabelecer condições equitativas de concorrência, no âmbito das medidas preconizadas a nível europeu, baseada numa abordagem que compreenda iniciativas de curto, médio e longo prazo, que vise reforçar a inovação e competitividade do sector, que inclua as seguintes acções: Desenvolver uma visão estratégica a nível nacional, incorporando a dimensão defesa e segurança e que trate em igualdade os estaleiros dependentes da Defesa e os tutelados pela Economia. Criar condições para a captação do investimento estrangeiro e a formação de alianças estratégicas entre empresas do sector, a nível nacional e internacional. Incentivar o reforço da colaboração entre empresas e universidades, para a formação de um centro tecnológico e de ciência para a indústria naval. Disponibilizar apoios e incentivos financeiros dirigidos à inovação, nomeadamente de tecnologia e design, para ganhar nichos de mercado marcados pela alta tecnologia, incorporação de conhecimento e inovação. Participar na satisfação das necessidades da construção naval militar nacional e europeia, tal como proposto nos objectivos estratégicos do projecto Uma Estratégia para a base Tecnológica e Industrial de Defesa. Proporcionar uma maior eficácia no funcionamento dos mercados laborais, incluindo a formação profissional. Criar uma dotação específica no sistema nacional de garantia mútua para a construção e reparação naval, para o financiamento à produção e ao fornecimento de garantias ao armador. Preservar o património marítimo-fluvial nacional e as identidades e culturas ribeirinhas e em particular os estaleiros tradicionais. Visto que as leis da concorrência se encontram francamente distorcidas, os estaleiros europeus e nacionais lutam pela sua existência. A forte concorrência internacional, associada à redução da procura resultante da crise económica e financeira mundial e potenciada pelo excesso de oferta de construção a nível mundial pode e deve ser enfrentada através de uma estratégia enquadrada pelo projecto europeu LeaderSHIP 2015, proposto pela CESA e aprovado pela Comissão Europeia. Referências CESA Annual Report 2007-2008 Enquadramento Dos Auxílios Estatais À Construção Naval (2003/C 317/06) LeaderSHIP2015: Relatório Intercalar {SEC(2007) 517} Diagnóstico Tecnológico dos Estaleiros Navais Portugueses AIM/QTEL (28/05/2008)