EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE



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Transcrição:

ARTIGO EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE 137

1 Vanderlene Brasil Lucena Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão - (vanda_brasil@hotmail.com). 2 Zilmar Timóteo Soares Doutor e mestre em Educação. Graduado em Biologia pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema) - (zilmarsoares@bol.com.br). 138 EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE

Desde as primeiras civilizações humanas mais simples e remotas de que se tem registro, observa-se que, movido pelo instinto de sobrevivência e perpetuação da espécie, o ser humano busca na natureza tudo que é possível para seu bem-estar. As civilizações foram evoluindo e com elas a necessidade de cada vez mais subtrair do meio natural tudo o que pode satisfazê-las. E nessa busca incessante e mais tarde também insana, pois já não era só a sobrevivência, mas o acúmulo de bens diversos, o ser humano não só manipulou os recursos ambientais disponíveis como também os alterou. As relações entre as pessoas foram se tornando mais complexas e exigentes, notadamente novos interesses foram emergindo e grupos sociais e nações se organizaram, criando normas, padrões, leis e diretrizes gerais para uma vida em sociedade, em que se excluíram do meio, para só mais tarde perceber que estavam se autodestruindo, à medida que indiscriminadamente faziam e fazem uso dos recursos naturais renováveis e não renováveis. Consequências disso são os impactos ambientais, catástrofes ecológicas, mudanças climáticas e de estações e o desaparecimento de espécies animais e vegetais sobre a terra. A FUNÇÃO DA ESCOLA NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE No processo de evolução e organização das civilizações surgem, além dos grupos sociais, as instituições para diversos fins de manutenção dos grupos e interesse da sociedade. A esse mesmo homem, algoz de si mesmo, promotor da destruição da vida natural, recai a responsabilidade e o dever de respeitar e contribuir para a construção de uma nova visão, consciência e modo de se relacionar com a vida, ou seja, com a natureza. Diante deste processo evolutivo da humanidade que vem destruindo os recursos naturais, cabe à escola dar o primeiro passo para trabalhar bem a educação ambiental e criar na escola um ambiente capaz de envolver todos os professores e também a comunidade. O meio ambiente vai além das dimensões biofísicas, como vegetação, recursos hídricos, fauna, solos, atmosfera. Revista UNI Imperatriz (MA) ano 2 n.2 p.137-150 janeiro/julho 2012 139

Envolve as configurações dos conhecimentos, das técnicas, das estruturas e das relações sociais. As instituições educacionais encontram-se perante um desafio, quanto as suas funções e, particularmente, no que concerne à conscientização e à formação dos discentes. Com esse pensamento, o artigo tem por finalidade auxiliar na formação e na qualificação dos alunos e professores, com base nos princípios e na metodologia que envolve a comunidade escolar na defesa do meio ambiente. Este auxílio na qualificação visa também a promover um maior conhecimento sobre novos processos de preservação e conservação, adequação às formas de regulamentação, bem como criar condições que facilitem a difusão da informação científica entre docentes e discentes. VANDERLENE BRASIL LUCENA E ZILMAR TIMÓTEO SOARES É por meio da educação, seja ela familiar ou escolar, que a sociedade transfere seus costumes e conhecimentos fundamentais à vida. Na família e nos grupos sociais de diversos segmentos, eles são repassados naturalmente ou por imposição dos grupos sociais. O ato de educar significa transferir conhecimentos, costumes, comportamentos aceitáveis e de sobrevivência. Ocorre de forma sistematizada e a mais científica possível, quando é realizado em uma instituição especializada. Todas as formas objetivam assegurar o contínuo processo de socialização e ajustamento dos novos indivíduos à sociedade e ao mesmo tempo desenvolver mais potencialidades que as do próprio grupo do qual se faz parte. Nesse contexto, afirma Oliveira (2000): A educação é uma das atividades básicas de todas as sociedades humanas, pois a sobrevivência de qualquer sociedade depende da transmissão de sua herança cultural aos jovens. Portanto, ao longo da história, foram apenas mudando as formas de construção do conhecimento e em muitos casos os objetivos, pois novas exigências sociais despontaram, porém os fins são os mesmos: a manutenção e a conservação dos grupos e seus interesses sociais. A escola não é a única responsável pela educação, porém ainda é a mais importante e oficial instituição disseminadora do conhecimento. Ela se apropria do conhecimento por diversos meios e 140 EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE

o reproduz de forma a atender ao sistema, pouco se adaptando aos avanços científicos e tecnológicos, para cumprir realmente seu papel. Ela tem uma estrutura complexa, pois compreende um conjunto de ações voltadas para fins diversos, que vão desde formação básica a especialidades dos indivíduos em seus grupos sociais. Nesse aspecto, contribui incontestavelmente para o bem-estar de um novo ser socializado, mas ainda deixa a desejar, quando há muito cai na estagnação e mesmice do processo de construção do conhecimento, esquivando-se de sua verdadeira função. É uma necessidade e responsabilidade de todos, já que a vida é resultante de uma relação intrínseca com a natureza, portanto não se trata simplesmente de um processo educacional, mas uma construção de valores indispensáveis à manutenção da vida. Nessa construção, ocorrendo de fato, não só a educação ambiental terá êxito mas também toda a vida humana nos diversos níveis sociais, pois um homem com valores sociais e éticos consequentemente é um homem que respeita a natureza e suas leis. No âmbito internacional, a educação ambiental surge em 1977, com a Conferência Internacional de Educação Ambiental, em Tbilisi. Nesse encontro se definiram os objetivos e características da educação ambiental, bem como as metodologias concernentes ao plano nacional e internacional. Já no Brasil, há tempos que alguns idealistas, estudiosos, cientistas, religiosos, sindicalistas e até mesmo algumas instituições clamam por uma educação voltada para a defesa do meio ambiente, como Chico Mendes e outros. Mas ela só passou a ser exercida como obrigação nacional a partir de 1988, com a Constituição Federal, responsabilizando os governos federal, estaduais e municipais. A FUNÇÃO DA ESCOLA NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE Como todo processo educacional, a educação ambiental deve ser conduzida impreterivelmente por professores conscientes, críticos, abnegados, livres de preconceitos, bem como dispostos a transmiti-la a seus alunos e a toda comunidade. Só a consciência é capaz de instruir com garantia de formular conceitos coerentes a que se propõe e assim fundir conhecimentos e experiências na Revista UNI Imperatriz (MA) ano 2 n.2 p.137-150 janeiro/julho 2012 141

produção de novos cidadãos livres para pensar, sentir e mudar a realidade. Nesse sentido, afirma Vieira (1996): O curso de educação ambiental deve basear-se em vivências juntamente com conhecimentos. Desenvolver o lado sensível é de fundamental importância para que o professor possa repetir sua experiência com seus alunos. Neste contexto, entende-se que a formação do professor para a educação ambiental depende de dois fatores indispensáveis: o curso e a sensibilidade dele. Ou seja, não basta ter uma graduação, é preciso vivência e saber dividir as experiências vividas com os discentes. Ainda sobre esse contexto, os Pârametros Curriculares Nacionais (1997) relatam: A responsabilidade e a solidariedade devem expressar desde a relação entre as pessoas com seu meio, até as relações entre povos e nações, passando pelas relações sociais, econômicas e culturais. VANDERLENE BRASIL LUCENA E ZILMAR TIMÓTEO SOARES A carta magna brasileira reconhece o direito de todos a um ambiente equilibrado ecologicamente e responsabiliza o poder público em assegurar a efetividade desse direito. Nesse contexto, ela ainda prevê que a forma de manter o equilíbrio ecológico é promover a educação e conscientização da população, e para tanto essa responsabilidade recai com maior ênfase sobre as instituições educacionais, oficiais ou não, já que as mesmas possuem a função de instruir e educar. Legalmente a educação ambiental existe, está fundamentada em leis e figura como uma das mais preocupantes no cenário educacional. Como em outros setores, deixam a desejar o cumprimento e o respeito à mesma. Em 1996, é promulgada a lei Darci Ribeiro, ou seja, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), com um texto mais atual, que contemplou senão todas pelo menos boa parte das necessidades da educação brasileira, sendo uma delas a educação ambiental. E sobre essa modalidade de educação o artigo segundo afirma que A educação é dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 142 EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE

Na prática, entende-se que esse pleno desenvolvimento humano não pode ocorrer às margens ou em meio a tamanha degradação ambiental que vive o mundo, inclusive nosso Brasil. Como membros efetivos, os professores também são alvo das atribuições da LDB, quando a mesma no art. 13, I e II, afirma sobre o papel dos docentes: I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagó- gica do estabelecimento de ensino. Esse artigo reforça a participação dos docentes no planejamento do processo educativo, ou seja, os mesmos também são responsáveis diretos por todo o processo e não só por uma parte, que é o que muitos pensam. Na prática, o processo de planejamento e propostas pedagógicas nas escolas deixa muito a desejar, já que na maioria dos casos são elaborados simplesmente para constar nos arquivos e, portanto, não correspondendo às necessidades do educando, às experiências, pesquisas e àquilo que propõem as diretrizes educacionais. Com considerações importantes sobre a prática da educação ambiental, Rodrigues (2000), ressalta que muitos projetos em educação ambiental desconsideram todo um saber acumulado na área de pesquisa em educação e tem sido comum encontrar grupos desenvolvendo programas baseados numa concepção de educação linear e mecânica de transmissão de informações. Uma das demonstrações de ineficácia dos planos e propostas é o fato de que o que se vai trabalhar em um mês ou em um ano é planejado em três ou quatro horas. Este é mais um dos pontos que precisam mudar para se ter uma boa educação em termos gerais. Para enfrentar todos esses problemas, sugere Rodrigues (2000): O maior acesso à informação potencializa mudanças comportamentais necessárias para um agir orientado para a defesa do interesse geral. É bastante relevante essa orientação, pois o mundo da informação domina hoje um espaço muito grande na vida de cada ser humano, sendo portanto uma via de conhecimento, motivação e sensibilização para a participação de todos na defesa da vida. A FUNÇÃO DA ESCOLA NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE Os Parâmetros Curriculares Nacionais são propostas do Ministério da Educação e do Desporto para a educação, usando temas trans- Revista UNI Imperatriz (MA) ano 2 n.2 p.137-150 janeiro/julho 2012 143

versais e orientando a escola, docentes e discentes referentes ao tratamento dos mesmos. Em relação ao meio ambiente e à saúde, é dedicado um fascículo (volume 9) com o tema Meio Ambiente e Saúde. Destaca-se a principal intenção: A intenção deste documento é tratar as questões relativas ao meio ambiente em que vivemos, considerando seus elementos físicos e biológicos e os modos de interação do homem e da natureza, por meio do trabalho, da ciência, da arte e da tecnologia. E com objetivos bem definidos, expõe como se deve trabalhar com o tema meio ambiente. VANDERLENE BRASIL LUCENA E ZILMAR TIMÓTEO SOARES Com os parâmetros curriculares nacionais, tornaram-se mais palpáveis e viáveis as diretrizes educacionais, previstas em lei e propostas pelo Ministério da Educação (MEC), além de ir ao encontro de vários anseios dos docentes em todos os níveis de ensino. Este documento reflete com mais intensidade as reais necessidades do currículo educacional. A proposta interdisciplinar, por exemplo, apesar de difícil aplicabilidade, tornou-se um fato, pois os docentes passaram a ter uma garantia documental da modalidade, o que antes eram apenas teorias de alguns especialistas não efetivos na sala de aula. Mesmo assim, ainda é preciso acabar com muito preconceito e resistência ao novo para um maior aproveitamento dos parâmetros curriculares atuais e outros que virão. A educação é um ato político e que, para ser identificada como um ato educativo na perspectiva ambiental, necessita mais de uma mudança qualitativa da escola do que de informações eficientes. Isto será possível com uma maior ênfase nos aspectos éticos e políticos da questão ambiental. Assim, os resultados basearam-se em entrevistas com acadêmicos e professores sobre o tema a Função da escola na defesa do meio ambiente. Foram consultados 30 acadêmicos no município brasileiro de Imperatriz (MA), em agosto de 2010, sobre a função da escola na defesa do meio ambiente com os seguintes questionamentos: 144 EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE

5% 5% 5% Sim Não Pouca Muito pouca 85% Sobre a preocupação da escola com os problemas ambientais, 85% afirmaram que sua escola já demonstrou interesse por este tema. Os resultados da pesquisa nos emitem dados animadores. Mas algumas escolas ainda deixam para um segundo plano os aspectos ambientais e, os que responderam que sim, deixaram claro que somente em datas especiais trabalham problemas ambientais no seu currículo, confirmando assim, que os temas ambientais são tratados nas escolas por meio de projetos, seminários e feiras, desconectados da realidade e da situação local. Como desafio e não como algo impossível de se realizar, é possível que, com mais segurança, os profissionais da escola, de comum acordo, estabeleçam metodologias mais valiosas e viáveis que possam trilhar na busca de seu próprio desenvolvimento e do desenvolvimento ambiental no processo educativo de que participam. A FUNÇÃO DA ESCOLA NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE Sobre a função da escola na defesa do meio ambiente foram consultados 20 professores e 100% afirmaram que é responsabilidade deles mostrar que a escola tem função intrínseca sobre o aspecto ambiental. Esse resultado positivo mostra que os professores estão conscientes do seu papel de defensores do meio ambiente. O gráfico 2 demonstra um problema sério, já que 40% dos professores consultados afirmam que os cursos superiores deixaram a desejar no que se refere à preparação do docente para a educação ambiental. Dez por cento admitiram não ter recebido nenhuma informação sobre as questões ambientais no seu curso, já o restante dos entrevistados disseram ter recebido pouca informação. Revista UNI Imperatriz (MA) ano 2 n.2 p.137-150 janeiro/julho 2012 145

10% 30% 20% Sim Não Pouca Muito pouca 40% VANDERLENE BRASIL LUCENA E ZILMAR TIMÓTEO SOARES 50% 10% 40% Tem conhecimento Tem pouco conhecimento Não tem nenhum conhecimento O gráfico 3 mostra que a maioria dos professores tem pouco conhecimento das leis que tratam da defesa do meio ambiente. É um problema que precisa ser revisto entre os educadores. É necessário mais compromisso com as literaturas, leis e normas que estão relacionadas com os aspectos ambientais. 20% Sim Não 80% 146 EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE

É um resultado importante, porém suscita outro questionamento: como estão sendo trabalhados os conteúdos nos 20% restantes, se 80% dos entrevistados relataram que sua instituição tem projetos voltados para as questões ambientais? É uma questão para ser revista pelos gestores educacionais, já que a escola está descrita como formadora de opinião. 10% 50% 40% 0% Sim Não Pouco Muito pouco Metade dos professores entrevistados afirmaram que o que a escola está fazendo em defesa do meio ambiente ainda é pouco. Esse dado pode ser relevante ou apenas demonstrar o grau de consciência dos entrevistados em relação à questão ambiental. É necessário mais conhecimento sobre o tema, que é de suma importância para a nossa vida e a vida no planeta. A FUNÇÃO DA ESCOLA NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE 20% 40% 20% Sim Não Pouco Muito pouco 20% Revista UNI Imperatriz (MA) ano 2 n.2 p.137-150 janeiro/julho 2012 147

A maioria demonstrou que necessita de mais qualificação para trabalhar as questões ambientais na escola. Essa resposta talvez esteja relacionada à falta de um programa dos gestores educacionais que leve a sério os problemas ambientais como questões de sobrevivência não só para o futuro, mas para os dias de hoje. 60% 10% 10% 20% Sim Não Pouco Muito pouco VANDERLENE BRASIL LUCENA E ZILMAR TIMÓTEO SOARES Sobre os livros didáticos, os resultados demonstraram que os professores não estão satisfeitos com os conteúdos, o que justifica em parte a falta de instrumentalização, porém sabemos que não é a única via de acesso para se trabalhar a educação ambiental. Os próprios docentes podem utilizar problemas ambientais do cotidiano da escola, bairro, município e estado. Com base nas entrevistas e observações, ficou claro que há muito que fazer para que a escola se torne um veículo na defesa do meio ambiente. É necessária uma construção contínua no interior da escola, proporcionando assim uma educação ambiental para o desenvolvimento sustentável e para uma vida ampla e longa que sustente com inteligência cada desafio individual, das instituições e das sociedades, para que visualizem o amanhã com uma diferença que pertença a todos nós, ou não pertença a ninguém. Com base na revisão literária e pesquisa de campo efetivadas para a produção desse artigo, ficou explícito que a educação ambiental vem sendo aplicada informalmente, ou seja, mesmo 148 EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE

nas escolas acontece como em outras instituições, em forma de campanhas, seminários e outras, e formal, quando possui uma relação concreta com o planejamento e conteúdos curriculares, essa última com menos frequência, e ainda falta coerência nas propostas, nos projetos e uma vontade maior de fazer acontecer a transformação da consciência de todos. Constata-se ainda que, na maioria dos casos, a problemática ambiental é tratada na escola somente por meio de projetos, seminários e feiras, fazendo apenas alguns enfoques nas aulas regulares, já que os livros didáticos pouco se referem à temática e os professores, por uma questão de formação, condições de trabalho e também de conscientização, acabam por não fazerem sua parte, ignorando que cuidar do meio ambiente é cuidar da vida. É importante ressaltar que a função da escola e, portanto, dos professores em relação à defesa do meio ambiente é imprescindível, não só porque trabalham com educação, mas também pelo fato de que são agentes transformadores dessa educação e já fazem acontecer no meio de um público-alvo formado de pessoas que serão os futuros condutores dos destinos da vida, socioambientais e sociopolíticos do país e do mundo, pois vivemos a globalização. O artigo tem por finalidade auxiliar na formação e na qualificação dos alunos e professores, com base nos princípios e na metodologia que envolve a comunidade escolar na defesa do meio ambiente. Este auxílio na qualificação visa também a promover um maior conhecimento sobre novos processos de preservação e conservação, adequação às formas de regulamentação, bem como criar condições que facilitem a difusão da informação científica entre docentes e discentes. A FUNÇÃO DA ESCOLA NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE Revista UNI Imperatriz (MA) ano 2 n.2 p.137-150 janeiro/julho 2012 149

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente saúde (PCN s). Secretaria de Educação Fundamental - Brasília: vol.9, 1997. BRASIL, MEC, Panorama da Educação ambiental no Ensino Fundamental. Secretaria de Educação Fundamental Brasília; SEF, 2001, p.149. (Oficina de trabalho realizada em março de 2000). BRASIL, Constituição Federal (1988); Constituição da República Federativa do Brasil; DF, 1998. OLIVEIRA, P.S., Introdução à Sociologia da Educação. 3ª ed. São Paulo. Àtica, 2000. VANDERLENE BRASIL LUCENA E ZILMAR TIMÓTEO SOARES PILETTI, C., Filosofia da Educação. 9ª ed. São Paulo. Ática, 2005. RODRIGUES, N., Por uma nova escola: o transitório e o permanente na educação. 12ª ed. São Paulo: Cortez, 2000. UEMA Universidade Estadual do Maranhão. Apostila; Leis de Diretrizes e Bases da Educação LDB. 200. VIEIRA, E., Sociologia da Educação: reproduzir e transformar. 3ª ed. São Paulo: FTD, 1996. 150 EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE