Tai Chi Chuan e capacidade funcional em idosos



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Transcrição:

Tai Chi Chuan e capacidade funcional em idosos *Universidade Católica de Brasília UCB **Universidade de Brasília UnB (Brasil) Tai Chi Chuan and functional capacity in elderly Márcio de Moura Pereira* Alessandra Bastos Matida* Lucy Gomes* Ana Patrícia de Paula* Marisete Peralta Safons** mmourap@hotmail.com Resumo Introdução: Tai Chi Chuan (TCC) é uma atividade capaz de prover melhorias no condicionamento físico, saúde e integração social em indivíduos idosos. Objetivos: O propósito deste estudo foi avaliar o efeito do TCC no incremento de capacidade funcional em idosos. Metodologia: 45 indivíduos idosos (5 homens, 40 mulheres; idade 67,07±4,63 anos), não praticantes de atividade física orientada, completaram este estudo. Eles praticaram o TCC Estilo Yang de 24 Movimentos durante 12 semanas, 3 vezes por semana. Cada aula constou de 15 min. de aquecimento, 20 min. de treinamento da coreografia do TCC e 15 min. de relaxamento. A intensidade do exercício foi leve (PSE 2 na Escala CR10 de Borg). A capacidade funcional foi avaliada através da pré e pós-teste para: Força de Quadríceps (FQ), Força de Membros Inferiores (FMMII), Flexibilidade (FLEX) e Equilíbrio (EQ). Resultados: Verificou-se nos praticantes de TCC um incremento de 15,55% para FMMII (p=0,001), 74,91% para EQ (p=0,01) e 137,5% para FLEX (p=0,003). Quanto à força de quadríceps (FQ), apesar de não ter havido significância (p=0,11), ainda assim se observou um incremento de 11,48%. Conclusão: Estes resultados indicam que o TCC é eficaz na melhora da capacidade funcional em idosos. Unitermos: Idoso. Tai Chi Chuan. Capacidade funcional. Abstract Introduction: Tai Chi Chuan (TCC) is an activity capable of providing improvements in the physical conditioning, health and social integration to senior individuals. Objectives: The purpose of this study was to assess the effect of TCC on functional capacity in the elderly. Methodology: 31 elderly people (5 male, 40 female; age 67,07±4,63 yr), who do not practice any form of oriented physical activity, completed this study. They practiced the 24 Forms Yang Style TCC during 12 weeks, 3 times/week. Each session included 15 min of warm-up, 20 min of TCC form pratice and 15 min of cooldown. The exercice intensity was weak (RPE 2 in CR10 Borg scale). Strength of quadriceps (SQ), Lower body strength (LBS), Balance (B) and Lower Body Flexibility (LBF), was evaluated before and at the end of this intervention. Results: TCC group showed significant increase in LBS (15,55%; p=0,001), B (74,91%; p=0,01) and LBF (137%, p=0,003). But, SQ showed no significant (p=0,11) increase (11,48%). Conclusion: These results indicate that TCC program is effective in promote functional capacity in elderly people. Keywords: Elderly. Tai Chi Chuan. Functional capacity. http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N 125 - Octubre de 2008 1 / 1 2 seqüências de aquecimento de uma aula de Tai Chi Chuan para idosos (video, 11.51 Mb)

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Estudos a respeito dos efeitos do Tai Chi Chuan (TCC) apontam esta modalidade de Exercício Chinês como capaz de incrementar ganhos de condicionamento físico entre os praticantes idosos, ajudando inclusive na prevenção de quedas, melhorando a qualidade de vida e a mobilidade (FEDER et al., 2000; OLIVEIRA et al., 2001). Dentre os benefícios psicológicos decorrentes da prática do TCC foram relatados aumento da sensação de bem-estar, redução do estresse, além da diminuição da ansiedade e da percepção da dor (GOMES, L.; PEREIRA, M.M.; ASSUMPÇÃO, L.O.T., 2004a; GOMES, L.; PEREIRA, M.M.; ASSUMPÇÃO, L.O.T., 2004b). Entretanto, há carência de informações a respeito dos efeitos do TCC Estilo Yang de 24 movimentos sobre a capacidade funcional em idosos, tornando necessário que se desenvolvam estudos que visem esclarecer os possíveis benefícios deste exercício para esta população. 2. Objetivos Verificar os efeitos do TCC Estilo Yang de 24 Movimentos na capacidade funcional em idosos: Força de Quadríceps (FQ), Força de Membros Inferiores (FMMII), Flexibilidade (FLEX) e Equilíbrio (EQ). 3. Metodologia Este foi um estudo de intervenção em que um grupo não-aleatório de idosos (amostra de conveniência) foi submetido à prática de TCC com pré e pós-teste para FQ, FMMII, FLEX e EQ de acordo com desenho experimental apresentado na Tabela 1. Tabela 1. Desenho experimental do projeto VI VI VD VD VD VD TCC TEMPO (FQ) (FMMII) (FLEX) (EQ) G1 T1: pré-teste T2: pós-teste Onde: VI variáveis independentes ; VD variáveis dependentes A amostra foi composta de 45 idosos (5 do sexo masculino e 40 do sexo feminino) que foram avaliados antes a após 12 semanas da prática do Tai Chi Chuan, Estilo Simplificado de 24 Movimentos adaptado para idosos (PEREIRA et. al., 2008). A FQ foi avaliada através do Teste de Uma Repetição Máxima (1RM), a FMMII foi avaliada através do Teste de Sentar e Levantar, a FLEX foi obtida através do Teste de Sentar e Alcançar no Banco de Wells e o EQ foi medido através do Teste de Apoio Unipodal.

Na estatística descritiva foram utilizados a Média (M) e o Desvio Padrão (DP). O teste t para amostras dependentes foi utilizado para comparar as médias do pré-teste com as do pósteste, adotando-se o nível de significância p 0,05. 3.1. Programa de Tai Chi Chuan O Programa de TCC foi desenvolvido ao longo de 12 semanas, na forma de aulas de 50 minutos de duração, com uma freqüência de 3 práticas semanais. As aulas foram ministradas dentro do padrão convencional da aula de Educação Física, com exercícios simples, coreografias curtas e poucas mudanças de direção. A intensidade do exercício foi leve - PSE 2 na Escala CR10 de Borg (BORG, 2000). O Aquecimento (15 min.) foi composto por exercícios educativos selecionados dentre os 24 movimentos do repertório da série de treinamento do TCC e executados com ênfase no alongamento muscular e nos exercícios respiratórios. No Treinamento Específico (20 min.) os alunos trabalharam com as coreografias específicas do TCC, mantendo as características de lentidão, fluidez e concentração mental. Em cada aula, as coreografias foram constituídas de 8 movimentos escolhidos dentro do repertório da série do TCC Estilo Yang de 24 movimentos. Coreografias em dupla (Tai Chi Tuishou) também foram utilizadas, com base nos exercícios da série de 24 movimentos. Já no Relaxamento (15 min.) buscou-se a descontração psíquica e muscular, através dos exercícios de meditação Tao Yin parar, respirar e acalmar a mente. 3.2. Protocolo do teste de força do quadríceps (FQ) A FQ foi mensurada na Cadeira Extensora, marca Weider, através do Teste de 1 RM (Teste Isotônico de Uma Repetição Máxima), de acordo com as recomendações de procedimentos da Sociedade Americana de Fisiologia do Exercício (BROWN & WEIR, 2003). Foi utilizando o Protocolo Crescente proposto por BAECHLE & GROVES (1992). 3.3. Protocolo do teste de força dos membros inferiores (FMMII) A FMMII foi mensurada de acordo com o protocolo de Rikli e Jones (RIKLI, 2007), registrando o número de levantamentos completos realizados em 30 segundos com os braços cruzados ao peito, em uma cadeira com 43 cm de altura 3.4. Protocolo do teste de Flexibilidade (FLEX)

De acordo com o protocolo para o teste de sentar e alcançar (FARINATTI, 2008), sentar diante do Banco de Wells com as pernas estendidas e, com as mãos unidas, realizar o movimento de alcançar a ponta do pé. Registrar o número de centímetros (cm) para mais ou para menos (+ ou -) entre as pontas dos dedos das mãos e a ponta do pé (ponto 0 na escala). 3.5. Protocolo do teste de Equilíbrio (EQ) O equilíbrio foi avaliado utilizando-se o Teste de Apoio Unipodal com os olhos fechados, de acordo com protocolo sugerido por GUSTAFSON et al. (2000), que afirma ser essa uma condição de teste desafiadora para idosos. O tempo de permanência em apoio unipodal foi mensurado utilizando-se um Cronômetro Digital Progressivo, marca Sanny, com resolução de 0,01 s. O objetivo é permanecer o maior tempo possível na posição ortostática, com as mãos nos quadris, em apoio unipodal e com os olhos fechados. O tempo de permanência máximo é de 30 segundos. O avaliador permanece próximo do aluno para evitar qualquer risco de queda. Fazer 3 tentativas para cada membro, anotando o valor quando o aluno abrir os olhos ou retornar ao apoio bipodal. Registrar o maior valor: este é o escore para equilíbrio daquele membro em segundos. O escore total é a média entre o maior valor das 2 pernas. 4. Resultados As médias e desvios-padrão de idade, estatura e massa corporal dos 45 idosos que participaram deste estudo foram, respectivamente, de 67,07±4,63 anos, 154,53±6,55 cm e 66,44±14,92 kg. Na análise paramétrica foram encontradas diferenças significativas (Tabela 2) entre as avaliações da FMMII (p=0,001), FLEX (p=0,003) e EQ (p<0,01), mas não foi verificada significância entre as avaliações da FQ (p=0,11). Tabela 2. Testes (M±DP) FQ FMMII FLEX EQ T1: pré-teste 46,00±12,96 22,95±6,17 0,80±6,80 2,99±0,98 T2: pós-teste 51,28±19,78 26,52±5,76 * 1,90±8,32 * 5,23±4,40 * *p 0,05 Verifica-se, portanto, que a força dos músculos inferiores, flexibilidade e equilíbrio no pósteste é significativamente maior que a observada no pré-teste, em termos percentuais, verificase que este incremento foi de: 15,55% para FMMII, 74,91% para EQ e 137,5% para FLEX. Quanto à força de quadríceps (FQ), apesar de não ter havido significância, ainda assim se observou um incremento percentual de 11,48%.

5. Conclusão Verificou-se que a prática do TCC Estilo Yang de 24 movimentos é benéfica na melhora da capacidade funcional em idosos. Este estudo confirmou que a prática do TCC incrementa tanto a força nos membros inferiores, quanto o equilíbrio e flexibilidade nesta população. Como é consenso na literatura científica que o fortalecimento da musculatura dos membros inferiores e a melhora do equilíbrio, por meio de atividade física específica, são claramente objetivos a serem alçados na prevenção de quedas, conclui-se que o TCC pode ser utilizado com esta finalidade, agregando as vantagens de ser de baixo custo, de fácil aplicação, de permitir o atendimento de grupos e de ser de grande versatilidade quanto a local, horário e roupas para sua prática. Por outro lado, não foi verificada qualquer significância na melhora da força nos músculos extensores dos joelhos. Este achado pode sugerir que, embora o TCC proporcione incrementos gerais de força nos membros inferiores, melhoras em grupos musculares específicos possivelmente não sejam conseguidas por esta modalidade, que deva então ser complementada com trabalhos específicos de exercícios resistidos para se alcançar maior especificidade. Outros estudos são necessários, entre idosos praticantes de TCC, para se averiguar os efeitos desta modalidade nas alterações das diversas variáveis, principalmente aquelas relacionadas ao equilíbrio. Enfocar também alterações em variáveis psicossociais modificadas pela prática do TCC e sua relação com o equilíbrio em idosos poderia preencher algumas das lacunas existentes nesta área na literatura científica. Bibliografia BAECHLE, T. R. & GROVES, B. R. Weight Training. Champaign: Leisure Press, 1992. BAUMGARTNER, R.N. Epidemiology of sarcopenia among the elderly in New Mexico. American Journal of Epidemiology, v. 147, p. 755-763, 1998. BORG, G. Escalas de Borg para a dor e o esforço percebido. São Paulo: Manole, 2000. BROWN, L. E. & WEIR, J.P. Procedures Recommendation I: acurate assessment of muscular strength and power. Journal of Exercise Physiology, v. 4, n. 3, p. 1-21, 2003. FARIA, J.C.; MACHALA, C.C.; DIAS, R.C.; DIAS, J.M. Importância do treinamento de força na reabilitação da função muscular, equilíbrio e mobilidade de idosos. Acta fisiatrica, v 3, n 10, p 133 137, 2003.

FARINATTI, P.T.V. Envelhecimento: promoção da saúde e exercício. São Paulo: Manole, 2008. FEDER, G.; CRYER, C.; DONOVAN, S. & CARTER, Y. Guidelines for the prevention of falls in people over 65. British Medical Journal, v. 321, p. 1007-1011, 2000. GOMES, L.; PEREIRA, M.M.; ASSUMPÇÃO, L.O.T. Benefícios do Tai Chi Chuan em Idosos. Lecturas Educacion Física y Deportes, v. 10, n. 78, p. http://www.efdeportes.com/efd78/taichi.htm, 2004a. GOMES, L.; PEREIRA, M.M.; ASSUMPÇÃO, L.O.T. Tai Chi Chuan: nova modalidade de exercício para idosos. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 12, n. 4, p. 89-94, 2004b. GUIMARÃES, J. e FARINATTI, P. Análise descritiva de variáveis teoricamente associados ao risco de quedas em mulheres idosas. Revisa Brasileira de Medicina e Esporte. V. 11, n. 5, 2005. GUIMARÃES, L.H.C.T.; GALDINO D.C.A.; MARTINS,F.L.M.; VITORINO, D.F.M.; PEREIRA,K.L.; CARVALHO, E.M. Comparação da propensão de quedas entre idosos que praticam atividade física e idosos sedentários. Revista Neurociência, v 12, n 2, p 68-72, 2004. GUIMARÃES, R.M. Alterações da marcha em idosos com história de queda. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde). Brasília: UnB, 1999. GUSTAFSON, A.S.; NOAKSSON, A.C.G.; KRONHED, A.C.G.; MÖLER, M.; MÖLER, C. Changes in balance performance in physically active elderly people aged 73-80. Scandinavian Journal of Rehabilitation Medicine, v. 32, p. 168-72, 2000. MATSUDO, S.M. Evolução da aptidão física e capacidade funcional de mulheres ativas acima de 50 anos de idade de acordo com a idade cronológica. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, Escola Paulista de Medicina Programa de Pós Graduação em Reabilitação, 2001. MATSUDO, S.M.; MATSUDO, V.K.R.; BARROS NETO, T.L. Impacto do envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas da aptidão física. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 8, n. 4, p. 21-32, 2000. MAZZEO, R.S.; CAVANAGH, P.; EVANS, W.J.; FIATARONE, M.; HAGBERG, J.; MCAULEY, E.; STARTZELL, J. American College of Sports Medicine position standard. Exercise and Physical Activity for older adults. Medicine Science in Sports and Exercise, v. 30, p. 992-1008, 1998. OLIVEIRA, D.A.A.P. Prevalência de depressão em idosos que freqüentam os centros de convivência em Taguatinga, DF. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde). Universidade de Brasília, Brasília, 2002.

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