PODER JUDICIÁRIO ACÓRDÃO Registro: 2012.0000309456 Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº 0109441-96.2012.8.26.0000, da Comarca de Americana, em que é agravante POLYENKA LTDA, é agravado DONIZETE FERNANDES DA SILVA. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PEREIRA CALÇAS (Presidente), ENIO ZULIANI E MAIA DA CUNHA. São Paulo, 26 de junho de 2012. Pereira Calças RELATOR Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO 2 Comarca : Americana 2ª Vara Cível Agravante : Polyenka Ltda. (em recuperação judicial) Agravado : Donizete Fernandes da Silva Interessado : José Roberto Ossuna (administrador judicial) VOTO Nº 23.562 Agravo de instrumento. Recuperação judicial. Habilitação de crédito. O art. 12, parágrafo único, da Lei nº 11.101/05, não impõe, e sim faculta ao administrador judicial, ao emitir parecer na impugnação, apresentar o laudo contábil. Observância do art. 9º, II, da Lei nº 11.101/05. Juros simples, de 1% ao mês e "pro rata die", também devem ser computados até a data do pedido de recuperação judicial. Decisão mantida. Agravo não provido. Vistos. 1. Trata-se de agravo de instrumento que POLYENKA LTDA., em recuperação judicial, tira dos autos da impugnação retardatária de crédito manejada por DONIZETE FERNANDES DA SILVA. Insurge-se contra a decisão reproduzida às fls. 144/145, que julgou procedente a
PODER JUDICIÁRIO 3 habilitação e determinou a inclusão do crédito do agravado no valor de R$ 63.457,38, classe trabalhista. Pede a anulação da decisão em razão de violação ao art. 12, parágrafo único, da Lei nº 11.101/05 e, consequentemente, a determinação de elaboração de laudo pericial contábil. Além disso, acrescenta, não foi observado o disposto no art. 9º, II, da Lei nº 11.101/05. Insurge-se contra a aplicação de juros pro rata die no valor habilitado. Pugna pelo provimento para que seja anulada a decisão, com o escopo de que seja determinada a elaboração de laudo pericial, ou acolhido o montante de R$ 28.403,33 como aquele a ser habilitado. pela agravante à fl. 154. Indeferi o efeito suspensivo pleiteado Relatados. 2. O agravo não merece provimento. Embora já tenha se insurgido contra as mesmas questões inúmeras vezes antes, tendo, em todas, obtido provimento desfavorável e com exatamente o mesmo teor que se segue, cumpre novamente explanar à agravante que não há que se falar em nulidade da decisão que julga a impugnação de crédito por inexistência de manifestação de profissional especializado.
PODER JUDICIÁRIO 4 Neste sentido, confira-se os seguintes precedentes desta Câmara especializada: AI nº 0246442-60.2011.8.26.0000, AI nº 0509672-29.2010.8.26.0000, AI nº 0522784-65.2010.8.26.0000, dentre muito outros, todos de minha relatoria. Com efeito, ao contrário do que afirma a agravante, a regra do art. 12, parágrafo único, da Lei nº 11.101 de 2005, não impõe a apresentação obrigatória de parecer contábil no procedimento de habilitação de crédito: "Findo o prazo a que se refere o 'caput' deste artigo, o administrador judicial será intimado pelo juiz a emitir parecer no prazo de 5 dias, devendo juntar à sua manifestação o laudo elaborado pelo profissional ou empresa especializada, se for o caso, e todas as informações existentes nos livros fiscais e demais documentos do devedor acerca do crédito, constante ou não da relação de credores, objeto da impugnação" (grifo). Da simples leitura do dispositivo, verifica-se que a apresentação do laudo técnico, quando há impugnação ao valor do crédito relacionado na lista de credores, é uma faculdade do administrador judicial, que, "se for o caso", o apresentará. nulidade da decisão. Rejeita-se, portanto, a alegação de
PODER JUDICIÁRIO 5 A invocação do art. 9º, II, da Lei nº 11.101/05, não tem qualquer efeito sobre o "quantum" fixado na impugnação apresentada, haja vista que a decisão limitou-se a estabelecer, nos termos da sentença trabalhista e em cumprimento ao art. 6º, 2º, da lei falimentar, que o valor do crédito do trabalhador é aquele determinado na sentença laboral. O crédito do agravado está fundamentado em sentença proferida pela Justiça do Trabalho (fls. 79/80). O Administrador Judicial indicou corretamente o valor do principal e dos juros de mora, considerada a data do pedido de recuperação, em estrita observância ao art. 9º, II, da LRF, sendo a única divergência entre o valor apresentado pelo agravado e o administrador judicial a aplicação dos juros pro rata die (fl. 134). E insurge-se a agravante contra a aplicação dos juros na forma proporcional diária. Esta Câmara especializada, em aresto de minha lavra, já teve a oportunidade de se manifestar sobre a aplicação de juros nesta modalidade: "Embargos de declaração atacando acórdão que negou provimento a agravo. Recuperação Judicial. Habilitação de crédito trabalhista. Crédito deve ser incluído com base na sentença proferida na Justiça do Trabalho. Inviabilidade da habilitação, em nome do trabalhador, de créditos
PODER JUDICIÁRIO 6 que não sejam exclusivamente trabalhistas e por ele titularizados, tais como FGTS, INSS, Imposto de Renda, e Custas devidas à Fazenda Nacional, que não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial. Créditos referentes a honorários de advogado, de perito e contador, devem ser postulados pelos respectivos titulares. A atualização monetária deverá ser calculada até a data do pedido de recuperação judicial, na dicção dos artigos 9º, II e 18, da LRF. Juros simples, de 1% ao mês e "pro rata die", também devem ser computados até a data do pedido de recuperação judicial. Embargos de declaração acolhidos, com efeito modificativo, para ser providenciado extrato ou laudo por profissional ou empresa especializada, nos termos do acima especificado." (EDcl nº 508.102.4/6-01; grifo). Desta forma, verifica-se que a aplicação de juros pro rata die é utilizada, foi corretamente empregada pelo agravado e não deve ser afastada. Bem por isso, será negado provimento ao agravo, mantendo-se integralmente a decisão recorrida, por seus próprios fundamentos. 3. Isto posto, pelo meu voto, nego provimento ao agravo. DESEMBARGADOR MANOEL DE QUEIROZ PEREIRA CALÇAS RELATOR