NEUTROPENIA FEBRIL: REVISÃO DA LITERATURA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS

Documentos relacionados
Sistematização do atendimento primário de pacientes com neutropenia febril: revisão de literatura

NEUTROPENIA FEBRIL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM CÂNCER

THE INITIAL APPROACH TO FEBRILE NEUTROPENIA IN PATIENTS WITH MALIGNANCIES MANEJO INICIAL DA NEUTROPENIA FEBRIL EM PACIENTES COM NEOPLASIAS MALIGNAS

NEUTROPENIA FEBRIL. Rafael Henrique dos Santos. Fortaleza, 27 de Março de 2017

NEUTROPENIA FEBRIL. NEUTROPENIA; NEUTROPENIA/etiologia; NEUTROPENIA/diagnóstico; NEUTROPENIA/ quimioterapia; FEBRE; MEDIÇÃO DE RISCO.

PROTOCOLO MÉDICO NEUTROPENIA FEBRIL. Área: Médica Versão: 1ª

INFECÇÕES RELACIONADAS A CATETERES VASCULARES

NEUTROPENIA FEBRIL: MANEJO PARA O CLÍNICO NA EMERGÊNCIA

Infecções causadas por microrganismos multi-resistentes: medidas de prevenção e controle.

Pneumonia Comunitária no Adulto Atualização Terapêutica

Imagem da Semana: Fotografia

TÍTULO: PERFIL DE SENSIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS DE BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES ENCONTRADAS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ONCOLÓGICA

PROTOCOLO DE TRATAMENTO ANTIMICROBIANO EMPÍRICO PARA INFECÇÕES COMUNITÁRIAS, HOSPITALARES E SEPSE

LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO DE INFECÇÃO POR ACINETOBACTER SPP EM AMOSTRAS DE HEMOCULTURAS DE UM LABORATÓRIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS


Definição Sepsis 3.0 Sepse: Choque séptico:

NEUTROPENIA FEBRIL: ABORDAGEM DIAGNÓSTICA E TERAPÊUTICA FEBRILE NEUTROPENIA: DIAGNOSTIC AND THERAPEUTIC APPROACH

2. Aplicabilidade: Coletadores, técnicos, bioquímicos, biomédicos, técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos

PROTOCOLO DE GERENCIAMENTO DE SEPSE 11- INSTRUÇÕES MULTIPROFISSINAIS ESPECÍFICAS: TIPO DE INSTRUÇÃO. Primeiras 06 horas

Infecção em doença estrutural pulmonar: o agente etiológico é sempre Pseudomonas?

USO RACIONAL DE ANTIBIÓTICOS

PLANO ESTADUAL DE ELIMINAÇÃO DE BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES (BMR) USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS

PROTOCOLO MÉDICO DIARRÉIA AGUDA. Área: Médica Versão: 1ª

Infecções por Gram Positivos multirresistentes em Pediatria

ROTINA DE PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DE TRATO VASCULAR

Avaliação do impacto clínico da infecção do líquido ascítico por bactéricas multiresistentes

Diretrizes Assistenciais

PROTOCOLO DE ATENDIMENTO

O ESTUDO. Pneumonias: monoterapia com β-lactâmico ou terapia combinada a macrolídeo?

USO RACIONAL DE ANTIBIÓTICOS EM GERMES MULTIRRESISTENTES

Tratamento da ITU na Infância

Prevenção de Infecção do Trato Urinário (ITU) relacionada á assistência á saúde.

Antibióticos. Disciplina Farmacologia Profª Janaína Santos Valente

PROTOCOLO MÉDICO. Assunto: Pneumonia Hospitalar. Especialidade: Infectologia. Autor: Cláudio de Cerqueira Cotrim Neto e Equipe GIPEA

Definir critérios de diagnóstico, prognóstico e tratamento das pneumonias do adulto adquiridas em comunidade.

PNEUMONIA ASSOCIADA A VENTILAÇÃO MECÂNICA

Mucosite oral: perfil dos pacientes pediátricos do Hospital das Clínicas da UFMG

INFECÇÃO URINÁRIA EM ADULTO

INFECÇÃO HOSPITALAR. InfecçãoHospitalar. Parte 2. Profª PolyAparecida

23/04/2013. Infecções Respiratórias agudas: Antibioticoterapia combinada é necessária? Mara Figueiredo Comissão de Infecção Respiratória e Micose-SBPT

Biossegurança Resistência Bacteriana. Professor: Dr. Eduardo Arruda

SEPSE NEONATAL. Renato S Procianoy Prof Titular de Pediatria, UFRGS Editor Jornal de Pediatria

LUCIANO DE SOUZA VIANA

Farmácia Clínica em Oncologia: Como eu faço no TCTH?

INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO

Cateter Venoso Farmacológico e Contaminação Microbiana. Dra. Cristhieni Rodrigues

Os Antibióticos - Profilaxia e Terapêutica das IACS

EMENTAS DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM FARMÁCIA CLÍNICA EM INFECTOLOGIA EAD

Avaliação da aplicação de um componente específico para a vigilância de infecções relacionadas à assistência à saúde em pacientes com câncer e

Antibioterapia no tratamento de feridas crónicas. Autoras / Orientadores: Diana Bernardes / Dra. Eduarda Luzia Soraia Monteiro / Dr.

Controvérsias: FIM da vigilância para MRSA, VRE, ESBL

PERFIL MICROBIOLÓGICO DOS LAVADOS TRAQUEAIS DE PACIENTES EM VENTILAÇÃO MECÂNICA NA UTI PEDIÁTRICA

Grupo de Interesse de Infecciologia Colégio de Especialidade de Farmácia Hospitalar 23 de fevereiro de 2018 Lisboa

SEPSE NEONATAL. Acadêmicos do Curso de Biomedicina na Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e

IRMANDADE SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO CARLOS

SEPSE Como reduzir morbimortalidade? Camila Almeida Médica Infectologista Infectologia/Controle de Infecção Hospitalar HMSJ

PEDIDO DE CREDENCIAMENTO DO SEGUNDO ANO NA ÁREA DE ATUAÇÃO HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA PEDIÁTRICA

Disciplina: Específica

IDENTIFICAÇÃO E SUSCEPTIBILIDADE BACTERIANA DE UMA UNIDADE HOSPITALAR PÚBLICA

Complicação severa das feridas oculares abertas % de todos os casos de endoftalmites infecciosas

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO

IMUNIZAÇÃO NOS PACIENTES PÓS TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOÉTICAS (TCTH)

Declaração de Conflitos de Interesse. Nada a declarar.

SELEÇÃO DE MÉDICOS RESIDENTES PARA 2017 ÁREA DE ATUAÇÃO COM PRÉ-REQUISITO GABARITO

EDUCAÇÃO EM SAÚDE: ORIENTAÇÕES NO CUIDADO DA CAVIDADE BUCAL NO TMO DA CRIANÇA. Com foco na mãe multiplicadora

CASO 7 PNEUMONIA COMUNITÁRIA

rof. Livre-Docente Disciplina de Infectologia residente da CCIH do Hospital São

PROTOCOLO MÉDICO SEPSE E CHOQUE SÉPTICO

TERAPÊUTICA ANTIBIÓTICA DA PNEUMONIA NOSOCOMIAL

Indicador: Incidência de mucosite em Unidades de Internação e em pacientes Ambulatoriais

OPAT Outpatient Parenteral Antimicrobial Therapy

USO RACIONAL DE ANTIBIÓTICOS

Glicopeptídeos Cinara Silva Feliciano Introdução Mecanismo de ação

11. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1

Terapêutica na Sepsis

Rotinas Gerenciadas. Departamento Materno Infantil. Divisão de Prática Médica/Serviço de Controle de Infecção Hospitalar

Curso de Urgências e Emergências Ginecológicas ABORDAGEM INICIAL DO CHOQUE SÉPTICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Faculdade de Medicina Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas

ESPAÇO ABERTO / FORUM

Neutropénia Febril no Doente Oncológico. Unidade de Oncologia Hospital Prof. Doutor Fernando da Fonseca, EPE

ESTUDO RETROSPECTIVO DE 267 AFECÇÕES POR PROTEUS MIRABILIS E PROTEUS VULGARIS EM CÃES (2003 A 2013)

Professor: Júlia Sousa Santos Nunes Titulação: Graduada em Enfermagem (UESB), pós-graduada em Obstetrícia (UESC) e PLANO DE CURSO

Vigilância Epidemiológica da Infecção Resultados de Inquéritos de Prevalência num Hospital Pediátrico

ESTUDO DE IMPACTO DOS PROTOCOLOS DA ODONTOLOGIA HOSPITALAR SOBRE AS CAUSAS DE ALTAS DAS INTERNAÇÕES DAS UTI s DO HOSPITAL REGIONAL DE ARAGUAINA TO.

PALAVRAS-CHAVE: Staphylococcus coagulase negativa. Infecção Hospitalar. Recém-nascidos. UTIN.

Triagem para o tratamento ambulatorial da neutropenia febril

USO RACIONAL DOS ANTIBIÓTICOS. Prof. Dra. Susana Moreno

Curso. Programa. precisamos saber? Risco de Infeção na Imunomodulação /Imunossupressão. O que.

RESUMO SEPSE PARA SOCESP INTRODUÇÃO

Clostridium difficile NA REALIDADE BRASILEIRA. Maria Beatriz S. Dias Hospital Sírio Libanês, HC-FMUSP

PLANO DE CURSO. CURSO DE ENFERMAGEM Reconhecido pela Portaria nº 270 de 13/12/12 DOU Nº 242 de 17/12/12 Seção 1. Pág. 20

Quimioterápicos Arsenobenzóis Sulfas

Tese (Mestrado) - Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Infectologia.

Protocolo de Vancocinemia

ANTIBIOTERAPIA ORAL CRÓNICA: UMA PRÁTICA COMUM?

PROTOCOLO PARA COLETA DE HEMOCULTURA

SEPSE. Tem 2 desse 3 critérios? Taquipnéia (FR 22) Pressão Sistólica 100 mmhg. Confusão Mental SIM. Coleta do pacote de SEPSIS

ANTIBIOTICOTERAPIA VIA ORAL VERSUS ENDOVENOSA EM CRIANÇAS COM CÂNCER NEUTROPÊNICAS FEBRIS

Sanidade da glândula mamária com foco em mastite

Exame Bacteriológico Indicação e Interpretação

Transcrição:

Revista Interdisciplinar do Pensamento Científico. ISSN: 2446-6778 Nº 3, volume 1, artigo nº 09, Janeiro/Junho 2017 D.O.I: http://dx.doi.org/10.20951/2446-6778/v3n1a9 NEUTROPENIA FEBRIL: REVISÃO DA LITERATURA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS Marina Camerini Lima 1 Bacharel em Ciências Biológicas Guilherme Rosa Pereira 2 Licenciatura em Ciências Biológicas Resumo: A neutropenia febril (NF) é uma complicação rotineira em pacientes com câncer submetidos a quimioterapia (QMT), sua apresentação clínica vai desde febre, com intensidades variáveis, sem outros sintomas acompanhados a sepse com grave infecção bacteriana ou fúngica, com grande impacto no prognóstico e mortalidade dos pacientes. Na última década, o prognóstico de muitos pacientes com doenças oncológicas e hematológicas malignas teve significativa melhora devido a novos quimioterápicos, transplantes de medula óssea e indicação de esquemas terapêuticos mais agressivos. As infecções são geralmente assintomáticas, de evolução rápida e muitas vezes fatais sendo essencial o diagnóstico e tratamento antibiótico precoce em pacientes neutropênicos febris. Diante de tal problemática o presente trabalho teve como pressuposto realizar uma revisão atualizada e completa sobre neutropenia febril em pacientes oncológicos, a fim de abordar sua etiologia, epidemiologia, diagnóstico clínico e tratamento. Palavras-chave: neutropenia, neoplasia, febre, infecção, câncer Abstract: Febrile neutropenia (FN) is a common complication in patients with cancer that are under chemotherapy treatment (QMT), its clinical presentation starts since from fever, with variable intensities, without other symptoms accompanied until sepsis with severe bacterial or fungal infection, with great impact on the prognosis and mortality. In the past decade, the prognosis of many patients with oncological and hematological malignancies has been significantly improved due to new chemotherapeutics, bone marrow transplants and indications of more aggressive therapeutic regimens. Infections are generally asymptomatic, of fast evolution and often fatal, and because of that is essential in febrile neutropenic patients, fast diagnosis and antibiotic treatment. In the face of such problematic, the present work had as presupposition to carry out an updated and complete review on febrile neutropenia in cancer patients, in order to address its etiology, epidemiology, clinical diagnosis and treatment. Key words: neutropenia, neoplasia, fever, infection, cancer 1 Universidade Federal de Ouro Preto, Bacharel em ciências biológicas marinacamerini@hotmail.com 2 Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro UENF. Licenciado em ciências biológicas. bioguilhermerp@hotmail.com ISSN: 2446-6778 REINPEC Páginas 116 de 296

1. INTRODUÇÃO As enfermidades oncológicas representam um importante problema de saúde em todo o mundo. Na última década, o prognóstico de muitos pacientes com doenças oncológicas e hematológicas malignas teve significativa melhora devido a novos quimioterápicos, transplantes de medula óssea e indicação de esquemas terapêuticos mais agressivos. Tal fato resultou em um aumento importante nas taxas de cura, mas causou um aumento no número de pacientes com neutropenia e infecções graves. Dessa forma, a importância de estudos em pacientes com neutropenia febril justifica-se por ser um problema crescente e potencialmente fatal (Buchheidt et al., 2004). A febre é definida como a presença exclusiva de temperatura igual ou superior a38,5 C ou de 38 C em duas ou mais ocasiões durante um período de 12 horas (Klaassen R.J. et al., 2000). Deve-se ter atenção especial para idosos e usuários crônicos de glicocorticoides, nos quais é maior o risco de infecção, mesmo na ausência de febre. As principais referências definem neutropenia como a contagem de neutrófilos no sangue e existem três classificações de gravidade da neutropenia, baseado na contagem absoluta de neutrófilos, e o risco de infecção é maior quanto menor for a contagem de neutrófilos: Neutropenia leve (1000cel/mm³ < neutrófilos <1500cel/mm³) - baixo risco de infecção; Neutropenia moderada (500cel/mm³ < neutrófilos <1000cel/mm³) risco moderado de infecção; Neutropenia grave (neutrófilos<500cel/mm³) - alto risco de infecção (Brasil et al., 2006). A neutropenia febril (NF) é uma complicação rotineira em pacientes com câncer submetidos a quimioterapia (QMT). Sua apresentação clínica vai desde febre, com intensidades variáveis, sem outros sintomas acompanhados a sepse com grave infecção bacteriana ou fúngica (Menichetti, 2010), com grande impacto no prognóstico e mortalidade dos pacientes. A frequencia da neutropenia febril pode depender de diversos fatores, sendo o principal deles, o tipo do cancer, de forma que é mais comum em pacientes com cancêr hematológicos. Segundo a literaturamédica internacional, pacientes com cancer hematológicos tem cerca de 80% de chance apresentar NF durante o tratamento (Rabagliati et al., 2009) e pacientes com tumores sólidos 30% (Brasil et al., 2006).Além disso, é comprovado que os episódios de Infecção Bacteriana Invasiva (IBI) e Infecção Fúngica Invasiva (IFI), são mais graves e mais frequentes em pacientes com câncer hematológico do que em pacientes com tumores sólidos(rabagliati et al., 2009). É fundamental que os profissionais da saúde, em especial os médicos, consigam diagnosticar e tratar a NF nos pacientes oncológicos para evitar complicações maiores ou ISSN: 2446-6778 REINPEC Páginas 117 de 296

ate mesmo o óbito do paciente.o paciente deve ser considerado neutropênico, até que o hemograma completo confirme ou descarte esta complicação. Portanto, na avaliação inicial é preciso analisar o estado oncológico atual, quimioterapia prévia, exame físico minucioso e solicitação de exames laboratoriais que se encontram descritos na Tabela 01. Tabela 01: Distribuição dos tópicos iniciais da avaliação da NF(Bellesso M. et al., 2010) A epidemiologia destas infecções tem mudanças periódicas por fatores tais como a gravidade e a duração da neutropenia; o tipo ea intensidade do tratamento de quimioterapia; fatores relacionados ao hospedeiro; a pressão seletiva sobre a flora microbiana normal que os antibióticos profiláticos antifúngico exerce no corpo; antibioticoterapia empírica; o uso de cateteres centrais e outros dispositivos médicos externos; fatores ambientais e geográficas, e duração da estadia hospitalar (Klastersky et al., 2000; Meunier et al., 2008). Atualmente, entre os patógenos mais frequentes encontram-se bactérias Gram-positivas como Streptococcus do grupo viridans e Staphylococcus coagulase negativos (ECN), sendo os Staphylococcus aureus e ECNs os agentes mais relacionados às infecções associadas a cateteres (Viscoli et al., 2002); bactérias Gram-negativas como E.coli, Klebsiella spp e Pseudomonas aeruginosa; anaeróbicos como Clostridium difficile e Bacteroides spp; e as infecções fúngicas causadas por Candida spp e Aspergillus spp, são associadas com maior mortalidade quando comparadas com alguns dos agentes bacterianos mais frequentes (García et al., 2005). ISSN: 2446-6778 REINPEC Páginas 118 de 296

Diante de tal problemática o presente trabalho teve como pressuposto realizar uma revisão atualizada e completa sobre neutropenia febril em pacientes oncológicos, a fim de abordar sua etiologia, epidemiologia, diagnóstico clínico e tratamento. 2. METODOLOGIA Foi realizada uma busca em banco de dados utilizando palavras-chaves como: neutropenia, infecção, febre, tratamento, oncologia e neoplasia. Foram encontrados artigos em Inglês, Espanhol e Português publicados recentemente. Foram excluídos aqueles que não possuíam suporte científico. Ao todo foram selecionados 17 artigos. DIAGNÓSTICO CLÍNICO Para se realizar o diagnóstico da NF o médico, além de fazer toda a avaliação clínica do quadro do paciente, deverá solicitar exames laboratoriais a fim de descartar ou confirmar a NF. Os exames mais importantes que dever ser solicitados são: a) Hemograma completo: devendo ter a contagem diferencial de leucócitos, de os valores dos neutrófilos são de extrema importância para a confirmação da NF. De forma que se o valor de neutrófilos for menor que 500cel/mm³, o caso é considerado neutropenia severa, com um alto risco de infecção. Neutrófilos entre 500cel/mm³ e 1000cel/mm³ é classificado como neutropenia moderada e um risco médio de infecção, e entre 1000cel/mm³ e 1500cel/mm³ neutropenia leve, com baixo risco de infecção (Brasil et al., 2006). b) Exames bioquímicos de função renal: ureia e creatinina; deverão ter mais importâncias em pacientes com antecedentes de insuficiência renal e pacientes que fazem acompanhamento com fármacos fortes e que, podem comprometer o aparelho renal de alguma forma. c) Proteína C Reativa: onde uma elevação de seus valores pode indicar uma infecção bacteriana. Seus valores aumentam cerca de 8 horas depois que a infecção de instalou no paciente. Sendo que resultados acima dos valores de referência podem indicar uma infecção bacteriana invasiva (IBI). d) Hemoculturas: devendo ser colhidas duas amostras periféricas e uma do cateter venoso central, se houver. Em geral, os métodos automatizados de hemocultura permitem uma rápida detecção da doença (de 1 a 5 dias). E nos casos de hemocultura positivas, deve ISSN: 2446-6778 REINPEC Páginas 119 de 296

ser feito uma cultura do sangue em ágar sangue ou MacConckey, incubar as placas na estufa e realizar a leitura com cerca de 18-24 horas. a fim de tentar descobrir o microorganismo causador e iniciar o antibiótico mais adequado para combater este microorganismo. Para a coleta das hemoculturas, a assepsia do local deverá ser feito com clorexidina degermante 0,5% (Paganini et al., 2011). e) EAS + Urocultura: Indicada na presença de sintomas urinários ou no caso de neoplasias de sítio nefrourinário diagnóstico (Hughes WT et al., 2002). 3. TRATAMENTO A introdução o quanto antes da antibioticoterapia é fundamental. No caso de dúvidas quanto à presença de neutropenia ou febre, a administração imediata de terapia empírica com antibiótico é a conduta correta, e deve ser mantida até que os resultados de exames laboratoriais esclareçam o diagnóstico (Hughes WT et al., 2002; Fernandes G.S et al., 2006). A abordagem terapêutica inicial do paciente depende da classificação de risco em baixo ou alto risco. Essa classificação é dinâmica podendo ser alterada após reavaliações que devem ser feitas com frequência. Nos pacientes de alto risco a antibioticoterapia será sempre intravenosa. A administração de Vancomicina como antibiótico inicial é recomendada quando alguns dos seguintes fatores estão presentes: instabilidade hemodinâmica; mucosite grave; infecção relacionada ao cateter; profilaxia antibiótica com quinolona; colonização prévia por Staphylococcus aureus resistente à oxacilina (MRSA) ou Pneumococo resistente à penicilina; cultura positiva para Grampositivo antes do isolamento definitivo do agente. Se houver indicação para uso de Vancomicina, esta deverá ser associada a um β-lactâmico com atividade antipseudomonas (Cefepime) com ou sem associação de aminoglicosídeo (Fluxograma 1) (Hughes et al., 2002). Em pacientes considerados de baixo risco, a terapia inicial poderá ser com antibióticos por via oral. O regime de antibiótico via oral sugerido é a combinação de Ciprofloxacina 500mg a cada doze horas e Amoxicilina-Clavulanato 1,5g ao dia, embora as Quinolonas de última geração também sejam eficazes. Caso seja optado pelo tratamento intravenoso para os pacientes de baixo risco, opta-se pelo mesmo esquema utilizado em pacientes de alto risco sem indicação de uso de Vancomicina (Fluxograma 1) (Sanz et al., 2005). ISSN: 2446-6778 REINPEC Páginas 120 de 296

Quanto ao seguimento do tratamento, deve ser considerado o número de dias sem febre, o valor de neutrófilos atingido e a identificação de possível foco infeccioso. Caso seja identificado o foco infeccioso, o tratamento deve seguir sua adequação para assim transcorrer de formar eficaz frente ao agente causador da infecção, de modo a ampliar a cobertura antimicrobiana para os patógenos do foco, sem obrigatoriamente alterar o antibiótico de base (Hughes et al., 2002; Viscoliet al., 2002; Rolston, 2005). 3. CONCLUSÃO A neutropenia febril no paciente oncológico, se não diagnosticada e tratada rapidamente tem grandes chances de levar o paciente a óbito. Os pacientes oncológicos são particularmente vulneráveis a complicações infecciosas. A identificação e o tratamento precoce são fundamentais para a melhora da sobrevida. Dentre os exames a serem solicitados, a hemocultura é necessária principalmente para o seguimento adequado do paciente; O paciente deve ser estratificado quanto ao risco para que receba a melhor alternativa terapêutica; A Vancomicina deve ser introduzida caso alguma das indicações esteja presente; Para o seguimento do paciente neutropênico febril deve-se considerar o número de dias sem febre e o valor de neutrófilos alcançado para alterar o tratamento ou adicionar outros antibióticos e/ou antifúngicos. ISSN: 2446-6778 REINPEC Páginas 121 de 296

4. BIBLIOGRAFIA Abbas A., Lichtman A., Pillai S. Cellular and molecular immunology. Philadelphia: Elsevier Inc; 2007. Ballesso, M., Costa, F. S., Chamone, F. A. D., et al. Triagem para o tratamento ambulatorial da neutropenia febril. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia 2010; 32(5):402-408. Brasil, A. B., Salles, M. J. C., Kaleka, C. C., Chohen, C., Trabulsi, M. F. M. Sistematização do atendimento primário de pacientes com neutropenia febril: revisão de literatura. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo 2006; 51(2):57-62. Buchheidt D., Hummel M., Engelich G., Hehlmanm R.. Management of infections in critically ill neutropenic câncer patients. Journal of Critical Care. 2004; 19:165-73. Fernandes, G. S., Pracchia, L. F., Costa, S.F., Brandão, R.A. Neutropenia febril In: Martins HS, Brandão Neto RA, Scalabrini Neto A, Velasco IT. Emergências clínicas: abordagem prática. São Paulo: Manole; 2006. p. 852-62. García, R. J. A. Microorganismos que participam da infecção no paciente neutropênico. In: Critical Practice ininfections Diseases. Recomendações para o tratamento da neutropenia febril baseadas em evidências. Baltimore (MD): Williams and Wilkins; 2005. p. 6-11. Hughes, W. T., Armstrong, D., Bodey, G. P., Bow, E. J., Brown, A. E., Calandra, T., et al. Guidelines for the use of antimicrobial agents in neutropenic patients with cancer. Clinical Infectious Diseases. 2002; 34:730-51. Klaassen R.J., Goodman R., Pham B., Doyle J.J. Low-risk prediction rule 1. for pediatric oncology patients presenting UIT fever and neutropenia.journal of Clinical Oncology. 2000;18:1012-9. Klastersky J., Paesmans M., Rubenstein E.B., Boyer M., Elting L., Feld R., et al. The Multinational Association for Supportive Care in Cancer Risk Index: a multinational scoring system for identifying low-risk febrile neutropenic cancer patients.journal of Clinical Oncology. 2000; 18:3038-51. Menichetti F. Infectious complications in neutropenic cancer patients. Internal and Emergency Medicine. 2010; 5 (Suppl 1): S21-S25. Meunier F., Lukan C. The First European Conference on Infections in Leukaemia -ECIL1: a current perspective.european Journal of Cancer. 2008;44:2112-7. Paganini, H., Santolaya, M. E.Diagnóstico y tratamiento de la neutropenia febril en niños con câncer Consenso de la Sociedad Latinoamericana de Infectología Pediátrica. Revista Chilena de Infectologia. 2011; 28 (Supl 1): 10-38. Rabagliati R., Fuentes G., Orellana E., Oporto J., Domínguez I., Benítez R., et al. Etiología de episodios de neutropenia febril en pacientes adultos concánceres hematológicos y de órganos sólidos enel Hospital Clínico Universidad Católica, Santiago-Chile. Revista Chilena de Infectologia. 2009; 26: 109-13 Rodrigues, J.A. Microorganismos que participam da infecção no paciente neutropênico. In: Critical Practice in Infections Diseases. Recomendações para o tratamento da neutropenia febril baseadas em evidências. Baltimore (MD): Williams and Wilkins; 2005. p. 6-11. ISSN: 2446-6778 REINPEC Páginas 122 de 296

Rolston, K. V. Challenges in the treatment of infections caused by gram-positive and gramnegative bacteria in patients with cancer and neutropenia. Clinical Infectious Diseases 2005; 40(Suppl 4):S246-52. Sanz, M.A. Testes clínicos no paciente neutropênico. In: Critical Practice in Infection Diseases. Recomendações para o tratamento da neutropenia febril baseadas em evidências. Baltimore (MD): Williams and Wilkins; 2005. p.17-22. Sickles E.A., Greene W.H., Wiernik P.H.. Clinical presentation of infection in granulocytopenic patients.archives of Internal Medicine. 1975; 135(5):715-9. Viscoli, C., Castagnola, E. Treatment of febrile neutropenia: what is new? Current Opinion in Infectious Diseases2002; 15:377-82. Sobre os Autores Autor 1: Bacharel em Ciências Biológicas pela UFOP. Pós Graduada em Análises Clínicas pela Faculdade Redentor. marinacamerini@hotmail.com Autor 2: Licenciado em Ciências Biológicas pela UENF. Pós Graduado em Análises Clínicas pela Faculdade Redentor. bioguilhermerp@hotmail.com ISSN: 2446-6778 REINPEC Páginas 123 de 296