A MORTE NAS TRAGÉDIAS SENEQUIANAS

Documentos relacionados
A ARTE DRAMÁTICA SENEQUIANA: INSTRUMENTO PARA A FORMAÇÃO HUMANA

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CARÁTER EDUCATIVO DAS TRAGÉDIAS DE SÊNECA

Humanitas dezembro/1999

Curso: (curso/habilitação) Licenciatura em História Componente Curricular: História Antiga II Carga Horária: 50 horas

O HOMEM IDEAL EM SÊNECA: REFLEXÕES SOBRE O ASPECTO EDUCATIVO DAS TRAGÉDIAS FEDRA, MEDÉIA E TIESTES

A ARTE DRAMÁTICA DE SÊNECA E SUA FUNÇÃO EDUCATIVA

O PROPÓSITO PEDAGÓGICO DA POESIA TRÁGICA SENEQUIANA: UMA ANÁLISE DAS TRAGÉDIAS FEDRA, MEDÉIA E TIESTES

O PROPÓSITO EDUCATIVO DO TEATRO TRÁGICO DE LÚCIO ANEU SÊNECA

Programa Analítico de Disciplina HIS120 História Antiga

Gêneros Literários. Drama. Imita a realidade por meio de personagens em ação, e não da narração. Poética de Aristóteles

A TRAGÉDIA TIESTES DE SÊNECA E SEU ASPECTO EDUCATIVO

LETRAS CLÁSSICAS Letras Classicas 6.pmd 1 09/01/2012, 16:20

Há quatro GÊNEROS principais e clássicos e mais um gênero moderno (a partir do séc. XIX); são eles:

M O R A M O R T I S NAS TROADES DE SÉNECA. João Paulo Rodrigues Balula

O drama da existência

Ética Profissional e Empresarial. Aula 2

SANTO AGOSTINHO: ILUMINAÇÃO E EDUCAÇÃO PEREIRA MELO, José Joaquim (DFE /PPE /UEM) ARAÚJO, Carla Karoline Amador de (PIBIC/ CNPq-UEM)

FELICIDADE: O BEM QUE TODOS QUEREM. 7º ano - Capítulo 2

AIRTO CEOLIN MONTAGNER (UERJ E UNIGRANRIO)

OS PRECEITOS MORAIS DE SÊNECA NA FORMAÇÃO DO HOMEM VIRTUOSO.

Carta: quando se trata de "carta aberta" ou "carta ao leitor", tende a ser do tipo dissertativoargumentativo

Educação na Grécia. Fundamentos teórico-epistemológicos da educação I. PPGE UEPG Professoras Gisele Masson Patrícia Marcoccia

Cód. Disciplina Período Créditos Carga Horária

Mariana Vaitiekunas Pizarro (Instituto Federal do Paraná / IFPR-Londrina)

FILOSOFIA HELENÍSTICA

Educação Matemática MATEMÁTICA LICENCIATURA. Professora Andréa Cardoso

Gêneros Literários OBRAS LITERÁRIAS: QUANTO À FORMA = VERSO & PROSA QUANTO AO CONTEÚDO = GÊNEROS LITERÁRIOS

Estudo dos gêneros literários

PLANO DE CURSO CÓDIGO: GHI002 PERÍODO/SÉRIE: 1º TURMA: I EMENTA DA DISCIPLINA

REVISÃO GERAL DE CONTEÚDO 9º ANO ENSINO FUNDAMENTAL II. Professor Danilo Borges

A ÉTICA NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO

9º ANO ENSINO FUNDAMENTAL II PROFESSOR DANILO BORGES

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. Relatório Perfil Curricular

Américo da Costa Ramalho,

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, FILOSÓFICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO. A Geografia Levada a Sério

Módulo I AS DUAS ESFERAS DE AÇÃO. Módulo II - A VONTADE SELF E EGO Conceitos O ser essencial (Self) O Ego O mito de Prometeu

Renata Viol Ferreira da Silva. Lílian Veiga de Carvalho

Slides por Carlos Daniel S. Vieira

A EDUCAÇÃO SENEQUIANA: O ÓCIO COMO CONDIÇÃO PARA O PROCESSO EDUCATIVO

PROGRAMA DE DISCIPLINA

HORÁRIO 2019 (B) CURSO DE LETRAS

Congresso Internacional: Camilo: o homem, o génio e o tempo. 9, 10 e 11 de setembro de Programa

LETRAS CLÁSSICAS Letras Classicas 10.pmd 1 2/8/2011, 14:46

LETRAS HORÁRIO ANO / 1º SEMESTRE - PERÍODO DIURNO E NOTURNO ANO HORÁRIO SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA QUARTA-FEIRA QUINTA-FEIRA SEXTA-FEIRA

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA PROFESSOR: REINALDO SOUZA

Artigo 2 - O Curso de Letras habilitará o aluno em Português e uma Língua Estrangeira e suas respectivas literaturas.

IMAGENS DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA EM CHARGES E CARTUNS POSTADOS NA INTERNET

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

CONCEPÇÕES ÉTICAS Mito, Tragédia e Filosofia

Elenco de Disciplinas do Dellin RES. N. 103/00-CEPE RES. N. 33/03-CEPE RES. N. 10/07-CEPE

Capítulo 1 Felicidade e filosofia no pensamento antigo

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO. A Geografia Levada a Sério

Filosofia da Arte. Unidade II O Universo das artes

EMENTAS Departamento de Letras Estrangeiras UNIDADE CURRICULAR DE LÍNGUA E LITERATURA ITALIANA

- Realização do teste diagnóstico.

ritual de uma cerimônia, traduz e reflete, na significativa concreção desse gesto de apreço do Plenário do Supremo

Códigos Disciplinas Carga Horária. LEC050 Linguística I 60 horas --- LEC091 Estudos Literários I 60 horas ---

A ATUAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

PROGRAMA DE DISCIPLINA

REDAÇÃO DISSERTATIVA / ARGUMENTATIVA

ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO DE FILOSOFIA

Um olhar estético sobre as tragédias gregas. Prof. Arlindo F. Gonçalves Jr.

PLANO DE CURSO 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

Fevereiro EXITO DISTRIBUIDORA E Alves, Rubem A pedagogia dos caracóis 30,00 COMPRA COMÉRCIO DE LIVROS LTDA

Teorias éticas. Capítulo 20. GRÉCIA, SÉC. V a.c. PLATÃO ARISTÓTELES

A Mística do Educador:

Planificação Anual GR Disciplina Português (Ensino Profissional) 3.º

Frei Luís de Sousa. As personagens mais importantes

PROPOSTA CURSO DE LETRAS HORÁRIO 2017

Os gêneros literários. Literatura Brasileira 3ª série EM Prof.: Flávia Guerra

UNICAMP II GÊNEROS DISCURSIVOS. CRÔNICA: Trata fatos do cotidiano cujo objetivo é despertar no leitor reflexão. CONTEÚDO:

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA

TEXTOS SAGRADOS. Noções introdutórias

Onde Situar a Catequese hoje?

ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL MÓDULO 2

Formação inicial de professores de ciências e de biologia: contribuições do uso de textos de divulgação científica

DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS 2017 / 2018

Português 11º ano PLANIFICAÇÃO ANUAL Ano letivo 2016/2017

INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA

ARTE GREGA Por arte da Grécia Antiga compreende-se as manifestações das artes visuais, artes cênicas, literatura, música, teatro e arquitetura, desde

O BANQUETE MONSTRUOSO. Tereza Pereira do Carmo ISEAT. Introdução: do mito

ENSINO RELIGIOSO - 9º ANO

ENTENDENDO A MITOLOGIA GREGA

Bem vindo à Filosofia. Prof. Alexandre Cardoso

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA

Filosofia e Ética. Professor Ronaldo Coture

TEMAS/DOMÍNIOS Conteúdos Objectivos Tempos Avaliação Textos dos domínios transacional e

À guisa de pórtico. Neles ecoam ainda as palavras de Fernando Pessoa: «A busca de quem somos / na distância de nós.»

PERÍODO 83.1 / 87.2 PROGRAMA EMENTA:

Congresso Internacional: Camilo: o homem, o génio e o tempo. 9, 10, 11 de setembro de 2016

A LEITURA LITERÁRIA EM TURMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: OS CÍRCULOS DE LEITURA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE ARTES CURSO DE TEATRO

PROGRAMA. Romanização da Península Ibérica; A reconquista; Modalidades do latim: clássico e vulgar;

AULA DE FILOSOFIA. Prof. Alexandre Cardoso

QUESTIONÁRIO DE FILOSOFIA ENSINO MÉDIO - 2º ANO A FILOSOFIA DA GRÉCIA CLÁSSICA AO HELENISMO

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA CAMPUS DE ROLIM DE MOURA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO

MAGISTRADOS JUDICIAIS ANTIGUIDADE SECÇÃO PENAL. Presidente da Secção. Dr. Fernando Monterroso - Juiz Desembargador ***

Professora: Ana Priscila da Silva Alves Disciplina: Filosofia Série: 1 ª do Ensino Médio Tema: Felicidade

XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

Transcrição:

A MORTE NAS TRAGÉDIAS SENEQUIANAS PIRATELI, Marcelo Augusto PEREIRA MELO, José Joaquim No seu tempo, Sêneca teve grande destaque, sendo considerado uma das figuras mais importante do mundo cultural romano do século I. Além das relevantes atividades políticas, desempenhou uma significativa produção filosófica e literária: fue un gran escritor, por su abundante producción de ensayos [...] y también por sus tragedias que hacían de él, a ojos de sus contemporáneos, el rival romano de la tragedia griega (VEYNE, 1996, p. 11). Sêneca escreveu as suas peças num estilo elaborado, revestido-as de um tom eloqüente, oratório e empolado (CARDOSO, 1997, p. 14). Não eram textos para as grandes massas, tendo, portanto, como público, pessoas bem situadas na sociedade romana acostumas ao luxo e a vida palaciana; eram pessoas que participavam de um lazer intelectualizado, que frequentavam sessões de recitações e círculos literários (CARDOSO, 2005a). Suas tragédias se destacam pela linguagem requintada e por seu estilo. A suas tragédias, além de claras inspirações morais, trazem ricas reflexões psicológicas e especialmente sobre as paixões, apresentando ao público os dramas e as angústias da alma das personagens. Do clima dessas paixões heróicas é que Sêneca extrai as meditações sobre a condição do espírito humano (LEONI, 1957). O homem torna-se enfermo quando se deixar dominar pelos vícios e pelas paixões. No entanto, em seu drama existencial, o homem defronta-se, inevitavelmente, com um grande mal: o medo da morte. Essa preocupação com a morte se destaca não apenas no pensamento filosófico, mas também na obra literária de Sêneca, consistindo um princípio de sua moral a tomada de consciência dessa realidade: a mortalidade enquanto condição natural do homem. Quando incapaz de aceitá-la essa realidade e controlar o seu medo o homem compromete ao seu projeto de caminhar rumo a sabedoria e a felicidade. Para Sêneca, cabia ao homem identificar os males a que estava 1

sujeito, buscando constantemente a sua perfeição. Cabe ao homem, para atingir este ideal de perfeição, estar em conformidade com a sua própria natureza e se afastar daquilo que lhe pudesse retirar desse caminho. Isso somente seria possível com a superação do medo da morte. Na aceitação da morte o homem encontraria o fundamento de sua liberdade ao passo que isso permitiria que ele superasse os medos que afligem a sua existência. Para Sêneca a poesia dramática contribui para a tomada de consciência da morte, ajudando o homem a não temê-la. Cabe ao homem refletir sobre o sentido da vida e da morte, portanto, não se escondendo dessa condição que é natural para não cair na solidão e desespero. Nossa hipótese é que nas tragédias senequianas, além de um caráter filosófico e político, destaca-se uma preocupação formativa na qual se revela uma pedagogia da morte que orienta para uma educação que Sêneca entendia como verdadeira cujo resultado seria o homem ideal. Portanto, em Sêneca, uma verdadeira educação pressupõe uma educação para a morte, pois isso proporcionará ao homem que tome consciência de sua condição, de sua fragilidade e mortalidade. Com isso, a morte não seria entendida como causa de angústia e sofrimento, mas como momento de libertação. Com o objetivo de responder às questões propostas, a investigação privilegiará a poesia trágica 1 de Sêneca (aqui entendidas como fontes) que possuem uma função didática por apresentarem as suas concepções filosóficas e formativas, destacadamente no que se refere à morte. Na tragédia Hércules no Eta a morte nós é apresentada como libertação e ato de virtude. Pode-se verificar como a vida do sábio é demonstrada pela trajetória de Hércules: na morte do herói ocorre o espetáculo da consolidação do sábio. No final da tragédia, Hércules aceita a morte e mais: se orgulha de tê-la dominado. Essa aceitação é marcante no caminho percorrido pelo herói, tal como o homem que caminha rumo a sabedoria (concepção de Sêneca de que a vida toda é um aprender a morrer). 1 Da sua significativa produção literária, chegaram até os dias de hoje nove tragédias. São elas: A loucura de Hércules, Hércules no Eta, As troianas, Agamêmnon, Fedra, Média, Tiestes, Édipo e As fenícias. 2

No caminho rumo a sabedoria, Hércules domina o sofrimento e administra a sua própria morte, subjugando-a, portanto. O herói de Sêneca está convicto de sua capacidade para trilhar o seu próprio caminho até a virtude (independentemente dos deuses), mas somente a caminhada do sábio é que convence Hércules dessa verdade, pois a virtude pertence ao homem que a conquista. No homem somente a razão era livre, isto é, quando o homem colocava as suas ações sob o domínio da razão é que experimentava de fato a liberdade. Para Sêneca esse era o homem virtuoso; somente o sábio, o homem virtuoso era livre. A liberdade que Sêneca fala é a liberdade em relação aos medos que poderiam afligir o homem, principalmente o medo da morte. A liberdade somente é possível com a certeza de que não se abalará diante da dor e da ameaça da morte. O remédio para a insegurança diante da morte é não temê-la, tal como Hércules fez no seu caminho até a sapiência. Hércules, o herói trágico de Sêneca, trilha o caminho para tornar-se um homem virtuoso ao passo que deixa o luta contra os monstros exteriores e se dedica ao enfrentamento de seus monstros internos, isto é, contra o medo da dor e sofrimento, principalmente contra o mais aterrador dentre todos: o medo da morte. Hércules de forma exemplar suporta a dor e sofrimento (Hércules no Eta, vv. 1740-1741; 1749-1755), vencendo a morte pelo destemor. Na peça, Hércules é proclamado por Alcmena como o vencedor do reino da morte. Somente depois da aceitação da morte é que o herói atinge a condição de sábio. Em As Troianas, Sêneca apresenta uma denúncia as sevícias cometidas na guerra; sendo evidente uma intenção moral ao fazer uma crítica a guerra e ao exaltar os vencidos. No entanto, Sêneca apresenta um problema mais amplo na sua peça dramática ao apresentar como questão essencial o tema da morte, que equivale à liberdade contraposta à vida como escravidão. Sêneca dramatiza essa questão em sua peça ao apresentar o sacrifício de Políxena e a morte de Astíanax, filho de Heitor, transmitindo pelo clímax da ação dramática uma verdadeira lição de sabedoria. Não se trata apenas da exaltação da dor dos vencidos, mas uma resposta contundente aos dilemas da sorte. Na peça, pela boca de Andrômaca, fica explícito a serenidade da jovem que se prepara para a morte como se fosse um verdadeiro ritual de núpcias (As Troianas, vv. 945.948). Em As Troinas de 3

Sêneca, o destino da morte de Políxena mostra-se como uma contraposição a sorte das de Andrômaca, Cassandra e Hécuba que são condenadas a escravidão. Apesar dos destinos de Políxena e Astíanax serem correlatos e se desenvolverem em planos distintos, paralelamente, acabam confluindo no relato da imolação descrito pelo mensageiro. Astíanax tem a sua morte apresentada como libertação e um ato heróico ao se precipitar do alto da torre, antecipando, assim, a morte que os vencedores lhe haviam destinado. Assim como Políxena que se ofereceu destemidamente ao golpe mortal do sacrificador (As Troianas, vv. 1151-1152). O que torna essas mortes admiráveis são a aceitação e a antecipação dos desígnios do destino. A morte de Astíanax converte-se num suicídio, entendido como uma opção privilegiada para Sêneca quando as razões que obrigam a viver estão esgotadas, pois assim o indivíduo em seu último ato voluntário readquire a sua plena liberdade. Ao celebrar os vencidos e sua salvação individual em As Troianas, Sêneca apresenta um pressuposto fundamental de seu pensamento ético: a morte como libertação e a liberdade na morte. Sêneca dedica a máxima preocupação com o tema da morte, de sua presença ameaçadora e angustiante. Considerando a morte como presença certa na vida do homem, Sêneca o convoca a caminhar na perspectiva dela, a fim de que aproveite bem o tempo que lhe é disponível e esteja pronto a enfrentar corajosamente essa suprema realidade humana. Sêneca encontrou uma forma mais agradável para falar sobre esses assuntos ao abordar essas questões por meio da poesia dramática. Assim, não se limitou apenas aos seus tratados filosóficos e cartas para transmitir as suas preocupações educativas, mas também utilizou do teatro como instrumento exemplar para a formação humana, realizando numa postura pedagógica uma educação pela arte. Sêneca alcançou um papel de destaque não apenas em seu tempo, mas ao longo dos séculos. Os seus ensinamentos morais, seus conselhos e a sua preocupação com a condição humana, especialmente em relação à morte, que atormenta esse mesmo homem em todos os tempos e lugares são evidentes em suas obras, sejam elas filosóficas ou literárias, por isso sua contribuição tornou-se atemporal. 4

Portanto, justifica-se este estudo sobre Sêneca pelo interesse histórico e pedagógico que têm despertado as suas reflexões sobre a formação do homem que ele entendia como ideal, o sábio, agente social capaz de romper com as fragilidades da condição humana, sem ser atormentado pelo medo da morte e responder às necessidades do seu momento histórico (PEREIRA MELO, 2003). O estudo de Sêneca também se justifica na perenidade do seu pensamento. É inegável a sua importância, não apenas pela consolidação do pensamento filosófico em Roma, mas também pela influência que exerceu sobre a literatura na posteridade (CARDOSO, 2003; 2014). É ponto assente que a produção trágica de Sêneca foi influente e objeto de apreciações ao longo dos tempos. A obra de Sêneca não ficou limitada ao seu tempo, mas invadiu outros momentos históricos, o que evidencia a importância de suas reflexões e a validade do seu modelo pedagógico em outras sociedades. A importância do estudo das tragédias de Sêneca adquire relevância também pelas contribuições dadas para o tempo presente. O seu objetivo de orientar numa clara intenção pedagógica os indivíduos à prática da virtude como um caminho seguro para se ter uma vida feliz, sem ser atormentado pelo medo e angústia diante da morte pode contribuir para a formação moral dos homens de hoje, pois as preocupações existenciais, apesar de apresentarem diferentes faces conforme as especificidades de sua época, demonstram ter características comuns em todos os tempos. REFERÊNCIAS ABBAGNANO, N; VISALBERGHI, A. Historia de la pedagogía. 15. ed. México: Fondo de Cultura Económica, 2001. CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999. CANDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. 8. ed. São Paulo: T. A. Queiroz; Publifolha, 2000. (Grandes nomes do pensamento brasileiro). CARDOSO, Zelia de Almeida. Apresentação: As fenícias. In: SÊNECA. Tragédias: A loucura de Hércules; As troianas; As fenícias. São Paulo: Martins Fontes, 2014. p. 197-211. 5

CARDOSO, Zelia de Almeida. Apresentação: A loucura de Hércules. In: SÊNECA. Tragédias: A loucura de Hércules; As troianas; As fenícias. São Paulo: Martins Fontes, 2014. p. 3-16. CARDOSO, Zelia de Almeida. Apresentação: As troianas. p. 107-118. In: SÊNECA. Tragédias: A loucura de Hércules; As troianas; As fenícias. São Paulo: Martins Fontes, 2014. p. 107-118. CARDOSO, Zelia de Almeida. Os cantos corais de Sêneca e a educação. Paideuma, [São Paulo], 2006. Disponível em: <http://www.paideuma.net/textozelia2.rtf>. p. 1-18. CARDOSO, Zelia de Almeida. A educação romana e os textos literários latinos. Paideuma, [São Paulo], 2007. Disponível em: <http://www.paideuma.net/poesiaeducacao.doc>. p. 1-15. CARDOSO, Zelia de Almeida. Estudo sobre as tragédias de Sêneca. São Paulo: Alameda, 2005a. CARDOSO, Zelia de Almeida. A função didática das tragédias de Sêneca. Paideuma, [São Paulo], 2005b. Disponível em: <http://www.paideuma.net/zelia4.doc>. p. 1-9. CARDOSO, Zelia de Almeida. Introdução: In: SÊNECA. Tragédias: A loucura de Hércules; As troianas; As fenícias. São Paulo: Martins Fontes, 2014. p. VII-XIX. CARDOSO, Zelia de Almeida. Introdução. In: SÊNECA. As troianas. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 9-27. CARDOSO, Zelia de Almeida. A literatura latina. São Paulo: Martins Fontes, 2003. FUNARI, Pedro Paulo. Roma: vida pública e vida privada. 11. ed. São Paulo: Atual, 2006. FUNARI, Pedro Paulo. A vida quotidiana na Roma antiga. São Paulo: Annablume, 2003. GRIMAL, Pierre. O Império romano. Lisboa: Edições 70, 1999. HELENO, José Geraldo. Hércules no Eta: uma tragédia estoica de Sêneca. 2006. 308f. Tese (Doutorado em Letras Clássicas) Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. LEONI, G. D. Estudo introdutivo. In: SÊNECA. Obras. São Paulo: Atenas, 1957. p. 9-40. LOHNER, José Eduardo dos Santos. Nota introdutória. In: SÊNECA. Agamêmnon. São Paulo: Globo, 2009. p. 7-15. 6

MARROU, Henri-Irénée. História da educação na Antigüidade. São Paulo: E.P.U.; EDUSP, 1974. PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Estudos de história da cultura clássica: cultura romana. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984. PEREIRA MELO, José Joaquim. O sábio senequiano: um educador atemporal. 247 f. Tese (Pós-Doutorado em História) Universidade Estadual Paulista, UNESP/Assis. Assis, 2007. PEREIRA MELO, José Joaquim. Sêneca e a formação pela arte. In: IV JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS: transformação social e educação, 4, 2005, Maringá. Anais... Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2005. p. 80-86. PEREIRA MELO, José Joaquim. Sêneca e o projeto de formação do sábio. Maringá: [s.n.], 2003. PIMENTEL, Maria Cristina. Quo verget furor? Aspectos estóicos na Phaedra de Séneca. Lisboa: Colibri, 1993. SEGURADO E CAMPOS, José António. Introdução. In: SÉNECA. Cartas a Lucílio. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. p. V-LIV. SEGURADO E CAMPOS, José António. Introdução. In: SÉNECA. Tiestes. Lisboa: Verbo, 1996. p. 9-54. SÊNECA. Agamêmnon. São Paulo: Globo, 2009. SÉNECA. Cartas a Lucílio. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. SÊNECA. Édipo. In: KLEIN, Giovani Roberto. O Édipo de Sêneca: tradução e estudo crítico. 2005. 156f. Dissertação (Mestrado em Lingüística) Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005. SÉNECA. Fedra. Lisboa: Edições 70, 2003. SÊNECA. Hércules no Eta. In: HELENO, José Geraldo. Hércules no Eta: uma tragédia estoica de Sêneca. 2006. 308f. Tese (Doutorado em Letras Clássicas) Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. SÊNECA. Hércules furioso. In: MARCHIORI, Luciano Antonio. Hércules furiosos de Sêneca: estudo introdutório, tradução e notas. 2008. 165f. Dissertação (Mestrado em Letras Clássicas) Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. 7

SÉNECA. Medeia. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 2011. SÊNECA. Medéia. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1985. (Os Pensadores). SÉNECA. Tiestes. Lisboa: Verbo, 1996. SÊNECA. Tragédias: A loucura de Hércules; As troianas; As fenícias. São Paulo: Martins Fontes, 2014. SÊNECA. As Troianas. São Paulo: Hucitec, 1997. SOARES, Nair de Nazaré Castro. O drama dos Atridas: a tragédia Thyestes de Séneca. Ágora: Estudos Clássicos em Debate, n. 6, 2004. p. 51-98. SOUSA, Ana Alexandra Alves de. Introdução. In: SÉNECA. Fedra. Lisboa: Edições 70, 2003. p. 9-21. SOUSA, Ana Alexandra Alves de. Introdução. In: SÉNECA. Medeia. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 2011. p. 9-34. ULLMANN, Reinholdo Aloysio. O estoicismo romano: Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996. VEYNE, Paul. Séneca y el estoicismo. México: Fondo de Cultura Económica, 1996. 8