CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DA MICRO E PEQUENA AGROINDÚSTRIA DE FRUTAS TROPICAIS - ESTADO DO CEARÁ



Documentos relacionados
Frutas em Calda, Geléias e Doces

DESENVOLVIMENTO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, GERAÇÃO DE EMPREGO E INCLUSÃO SOCIAL. XII Seminario del CILEA Bolívia 23 a 25/06/2006

Elaboração e Análise de Projetos

O AGRONEGÓCIO DO PALMITO NO BRASIL:

MANUTENÇÃO: VANTAGENS E DESVANTAGENS

22/02/2009. Supply Chain Management. É a integração dos processos do negócio desde o usuário final até os fornecedores originais que

Identificação e análise de gargalos produtivos: impactos potenciais sobre a rentabilidade empresarial

Importância da normalização para as Micro e Pequenas Empresas 1. Normas só são importantes para as grandes empresas...

A Análise dos Custos Logísticos: Fatores complementares na composição dos custos de uma empresa

MOTIVAÇÕES PARA A INTERNACIONALlZAÇÃO

Revisando... Segmentos antes da porteira: Insumos agropecuários Serviços agropecuários

negócios agroindustriais

Desempenho da Agroindústria em histórica iniciada em Como tem sido freqüente nos últimos anos (exceto em 2003), os

MERCADO DE TRABALHO NA PRODUÇÃO DE ALGODÃO E SOJA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

1. Quem Somos 2. Os acionistas 3. Estrutura da empresa 4. Estratégia, Conceito de negócios e serviços 5. Área de atuação: portfólio, regiões e

Gestão de Pequenas e Medias Empresas

Quais estratégias de crédito e cobranças são necessárias para controlar e reduzir a inadimplência dos clientes, na Agroveterinária Santa Fé?

Soluções de Crédito. Cadeia Produtiva do Café CADA VEZ BOMPRATODOS

Noções de Administração de Materiais

Projeto Execução Expositores

TECNOLOGIA O QUE É O SEBRAETEC A QUEM SE DESTINA COMO PARTICIPAR SETORES ATENDIDOS VANTAGENS AÇÕES NÃO COBERTAS CONTATO

PROPOSTAS DO III SEMINARIO SUL BRASILEIRO DE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL GRUPO DE TRABALHO PRODUÇÃO DE ALIMENTOS PARA O TURISMO RURAL

BADESUL Agricultura Sustentável: inovação e sustentabilidade

Válvulas de Controle-"Case"- Copesul. Nelzo Luiz Neto da Silva 1 Jader Weber Brum 2

Q u al i f i c a ç ã o f o r m al d o s r e s p o n s á v e i s P ó s g r a d u a d o s

Empresas de Minas diminuem investimento

A transição Agroecológica da Cajucultura familiar no Município de Barreira, Ceará, Brasil.

Os benefícios da ce ISO 14001

Giuliana Aparecida Santini, Leonardo de Barros Pinto. Universidade Estadual Paulista/ Campus Experimental de Tupã, São Paulo.

Participação de pequenas empresas nos parques tecnológicos

Pesquisa Mensal de Emprego PME. Algumas das principais características dos Trabalhadores Domésticos vis a vis a População Ocupada

SGQ 22/10/2010. Sistema de Gestão da Qualidade. Gestão da Qualidade Qualquer atividade coordenada para dirigir e controlar uma organização para:

REDEPETRO RN. Grandes Compradores, pequenos fornecedores. M.Sc. Gutemberg Dias

PLANO DE ESTUDOS 3º trimestre 2012

FOCOS DE ATUAÇÃO. Tema 8. Expansão da base industrial

Prof. Gustavo Boudoux

Prof. Marcelo Mello. Unidade III DISTRIBUIÇÃO E

Projeto Extensão Industrial Exportadora. 2ª Reunião do Comitê Consultivo. FASE Iv

Políticas públicas e o financiamento da produção de café no Brasil

ED 2180/ maio 2014 Original: espanhol. Pesquisa sobre os custos de transação dos produtores de café

PLANO DE AÇÃO PARA EXECUÇÃO DO ACORDO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA MAPA x ABRAS

TEMA: A importância da Micro e Pequena Empresa para Goiás

Estudo da linha de produção de uma fábrica de ração

Atlas Digital de MINAS GERAIS 1 de 18

FALTA DE TRABALHADOR QUALIFICADO NA INDÚSTRIA. Falta de trabalhador qualificado reduz a competitividade da indústria

Agronegócios: conceitos e dimensões. Prof. Paulo Medeiros

Indústria avícola paranaense

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA AGRICULTURA 1

SISTEMAS DE GESTÃO São Paulo, Janeiro de 2005

EVOLUÇÃO DA MANUTENÇÃO

SOCIOECONÔMICOS 10 2 ASPECTOS INTRODUÇÃO PRODUÇÃO E CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO

2 O Novo Modelo e os Leilões de Energia

A indústria de máquinas-ferramenta. Mauro Thomaz de Oliveira Gomes, Mary Lessa Alvim Ayres, Geraldo Andrade da Silva Filho

Pesquisa IBOPE Ambiental. Setembro de 2011

MATRIZ CURRICULAR CURRÍCULO PLENO

POLITICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

AULA 6 Esquemas Elétricos Básicos das Subestações Elétricas

GEBD aula 2 COMPRAS. Profª. Esp. Karen de Almeida

Logística e Administração de Estoque. Definição - Logística. Definição. Profª. Patricia Brecht

Favela como Oportunidade: Plano de Desenvolvimento das Favelas para sua Inclusão Social e Econômica

O espaço rural brasileiro 7ºano PROF. FRANCO AUGUSTO

1 INTRODUÇÃO. 1.1 Motivação e Justificativa

APROVEITAMENTO INTEGRAL DE ALIMENTOS

7 etapas para construir um Projeto Integrado de Negócios Sustentáveis de sucesso

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

2. Função Produção/Operação/Valor Adicionado

Descrição do Sistema de Franquia. Histórico do Setor. O Fórum Setorial de Franquia

TAXA INTERNA DE RETORNO DOS RECURSOS APLICADOS NO CENTRO NACIONAL DE PESQUISA DE CAJU

Estratégia Internacional

Projeto Piloto de Desenvolvimento de Fornecedores da Cadeia de Petróleo, Gás e Naval

Uso Sustentável de Produtos Fitofarmacêuticos. Formação de Agricultores na Região centro

Custo de Produção do Milho Safrinha 2012

7. Viabilidade Financeira de um Negócio

PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO APL 2010/2014 RESUMO

MERCADO PARA O CAFÉ EM GRÃO DO ACRE 1

GEOGRAFIA Questões de 35 a 42

Regulamento do projeto "50 Telhados"

SETOR DE ALIMENTOS: estabelecimentos e empregos formais no Rio de Janeiro

O Mercado como instrumento de conservação da Mata Atlântica. Consumo Responsável, Compromisso com a Vida!

no SRM do que no CRM está na obtenção da certificação de qualidade ISO Para que o Fabricante de Cilindros mantenha o referido certificado de

"Gestão Contábil para micro e. pequenas empresas: tomada

projetos com alto grau de geração de emprego e renda projetos voltados para a preservação e a recuperação do meio ambiente

NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO E OS PRAZOS DE ROTAÇÃO Samuel Leite Castelo Universidade Estadual do Ceará - UECE

Principais características da inovação na indústria de transformação no Brasil

GESTÃO DE OPERAÇÕES E LOGÍSTICA - ESTOQUES

Documento Explicativo

PESQUISA DE OPINIÃO SOBRE OS FATORES DE INFLUÊNCIA NA INDÚSTRIA DE TRATAMENTO DE ALIMENTOS COM RADIAÇÃO NO BRASIL

Programa BB Aqüicultura e Pesca

Panorama Geral da Ovinocultura no Mundo e no Brasil

Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste

Outros Tópicos Importantes na Elaboração do Fluxo de Caixa

MELHORIA NA QUALIDADE DO LEITE JUNTO À COOPERATIVA AGROLEITE NO SUL DO BRASIL, COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL.

Falta de mão-de-obra qualificada dificulta aumento da competitividade da indústria

Fusões e Aquisições no Setor Sucroalcooleiro e a Promoção da Bioeletricidade

Bacharelado CIÊNCIAS CONTÁBEIS. Parte 6

Cadeia Produtiva do Leite. Médio Integrado em Agroindústria

Panorama do mercado da banana no Brasil Orivaldo Dan

Transcrição:

ISSN 0103-5797 (@)Mi."nistériOdaAgriCUItUra'dOAbastecimentoedaRefOrmaAgrária '" Centro Nacional de Pesquisa de Agroindústria Tropical- CNPAT ~ Emo"" B",ild. d, P"qn;'. Agroo. - EMBRAPA - MAARA CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DA MICRO E PEQUENA AGROINDÚSTRIA DE FRUTAS TROPICAIS - ESTADO DO CEARÁ Carlos Roberto Machado Pimentel Fortaleza, CE 1996

Copyright EMBRAPA-CNPAT - 1996 EMBRAP A-CNP AT. Documentos, 19. Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: EMBRAP A-CNP AT Rua dos Tabajaras, 11 - Praia de Iracema Caixa Postal 3761 60060-510 Fortaleza, CE Telefone (085) 231. 7655 Fax (085) 231. 7762 Telex (85) 1797 Tiragem: 500 exemplares Comitê de Publicações Presidente: Clódion Torres Bandeira Secretária: Germana Tabosa Braga Pontes Membros: Valderi Vieira da Silva Álfio Celestino Rivera Carbajal Ervino Bleicher Levi de Moma Barros Maria Pinheiro Fernandes Corrêa Antônio Renes Uns de Aquino Coordenação Editorial: Valderi Vieira da Silva Revisão: Mary Coeli Grangeiro Ferrer Normalização Bibliográfica:Rita de Cássia Costa Cid CapaJEditoração Eletrônica: Nicodemos Moreira dos Santos Júnior Diagramação: Arilo Nobre de Oliveira PIMENTEL, C. R. M. Características tecnológicas da micro e pequena agroindústría de frutas tropicais - Estado do Ceará. Fortaleza: EMBRAPA-CNPAT, 1996. l5p. (EMBRAPA CNP AT, Documentos. 19). Frutas tropicais; Agroindústria; Tecnologia; micro e pequena empresa; Brasil - Nordeste - Ceará. CDD: 338.45

SUMÁRIO IMPORT ÂNCIA DA AGROINDÚSTRIA DE FRUTAS TROPICAIS 5 Amostra 7 RESULTADOS E DISCUSSÕES 7 Produtos obtidos 7 Capacidade de produção anual 9 Capacidade de estocagem de matéria- prima e produção obtida 11 Disponibilidade de máquinas e equipamentos 11 Atualização de informações 13 Estratégias para modernização das micro e pequenas. d'. agroln ustnas 14 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 15 Pág.

CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DA MICRO E PEQUENA AGROINDÚSTRIA DE FRUTAS TROPICAIS - ESTADO DO CEARÁ Carlos Roberto Machado Pimentel' IMPORTÂNCIA DA AGROINDÚSTRIA DE FRUTAS TROPICAIS As transformações ocorridas, nos últimos anos, na economia mundial têm promovido modificações nos diversos segmentos produtivos ligados à agricultura. Grande parte dessas transformações estão relacionadas com a indústria agroalimentar e com a forma de como ela se integra a produção agropecuária. A produção agrícola tem-se tomado cada vez mais interdependente e inter-relacionada com os diversos segmentos fornecedores e compradores de produtos agrícolas. Neste contexto, a agroindústria tem desempenhado um papel fundamental, uma vez que é responsável pela ligação entre produtor e mercado consumidor. O estabelecimento racional da agroindústria, além de recuperar os investimentos em poucos anos,contribui para: agregar renda dentro da economia; dinamizar o comércio e elevar o emprego em outros setores; fixar o homem no meio rural; elevar a produtividade do agricultor; reduzir as oscilações dos preços do setor agrícola; reduzir os custos de armazenagem e transporte (Lauschner, 1980)., Eng.-Agr.,D.Sc.,EMBRAP A I Centro Nacional de Pesquisa de AgroindÚstria Tropical (CNP AT),Rua dos Tabajaras.lI,Praia de Iracema.Caixa Postal 3761, CEP 60060-510 Fortaleza,CE.

A interdependência da agroindústria e da agricultura minimiza o caráter altamente perecível dos produtos e a perda de peso e volume por que passam no processo de industrialização, influenciando nos custos de transporte, principalmente nas longas distâncias (Silveira, 1991). No Brasil, a agroindústria teve seu crescimento acelerado a partir da década de 70. Atualmente possui uma capacidade instalada capaz de processar toda a produção do País. No Nordeste, a agroindústria desenvolveu-se a partir da criação do Programa de Agroindústria no Nordeste (PDA.N), instituído em 1974 pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico. No período 1975 a 1985, foram contempladas por este programa 85 agroindústrias (Silveira, 1992). Os subsetores que obtiveram maior incentivo foram os de produção de conservas de frutas, legumes e outros vegetais inclusive concentrados. Dentre os estados do Nordeste beneficiados pelo PDAN naquele período, o Ceará foi responsável por 17% e 11,3% do número de empresas contempladas e valor de crédito aprovado, respectivamente (Silveira, 1992). De acordo com o Censo Agroindustrial de 1992, a composição setorial da agroindústria cearense não é muito diferente da regional havendo uma predominância do setor de vestuário, de calçados e de produtos alimentares. Dentre os subsetores agroindustriais do Ceará, o de frutas tropicais reúne melhores chances de promover uma expansão acelerada a médio prazo. Este subsetor foi responsável, em 1993, por, aproximadamente, 33% das exportações cearenses (Ceará, 1994). Além do mercado externo existe amplo mercado interno para as frutas tropicais. Estimativas realizadas pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEV ASF) indicam que haverá no ano 2000 escassez de oferta de frutas, destacando-se melão, manga, melancia e limão (Passos & Souza, 1993). 6

Neste contexto, destacam-se as micro e pequenas empresas que são responsáveis por grande parte da geração de emprego e renda, principalmente no meio rural. Entretanto, elas necessitam promover melhorias contínuas no seu padrão tecnológico. Para que ocorra avanço tecnológico nas agroindústrias locais, torna-se indispensável conhecer suas atuais caracteristicas tecnológicas. Este conhecimento pode ser uma importante fonte de informações no delineamento de uma estratégia para o desenvolvimento da agroindústria de frutas tropicais. Este estudo tem por objetivo conhecer o perfil tecnológico micro e pequenas indústrias de frutas tropicais existentes no Ceará. das Amostra Os dados utilizados neste estudo foram levantados pelo CNP ATe pelo Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), em agosto de 1993. Foram utilizados 28 questionários, obtidos por meio de entrevistas diretas realizadas nas micro e pequenas empresas agroindustriais de frutas tropicais existentes no Estado do Ceará. O tamanho da amostra foi determinado com base no cadastro industrial fornecido pelo SEBRAE-CE. Para qualificar a empresa como micro e pequena utilizou-se como referência o número de empregados, conceituando-se como microempresa aquela que possui até 19 empregados e pequena a que tem mais de 19 e menos de 100 empregados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Produtos obtidos Observou-se que as empresas pesquisadas produzem, pnnclpalmente, doces, polpas, sucos e cajuína (Tabela 1). 7

TABELA 1 - Principais produtos obtidos nas micro e pequenas agroindústrias de frutas tropicais. Ceará, 1993. Produto Doces Banana Polpa Cajá Maracujá Sucos Laranja Uva Número de empresas 09 09 07 04 03 03 01 02 02 Percentual em relação à amostra estudada 29,9 29,0 22,0 12,0 9,0 9,0 4,0 6,0 6,0 ína Fonte: Dados de pesquisa 08 25,0 Com relação a doces, predominam os de goiaba, banana e caju produzidos em 29%, 29% e 22%, respectivamente, nas empresas estudadas. Dentre os outros tipos de doces produzidos destacam-se os de mamão e abacaxi. Considerando a diversidade de frutas existentes no Estado, observa-se que não há o seu aproveitamento para fabricação de doces. Em termos de polpa de frutas, há maior freqüência das de goiaba, caju, cajá e maracujá, demonstrando que existe um mercado para este tipo de produto. Com relação a sucos, são produzidos os de laranja e uva em 6% das empresas pesquisadas. Entretanto, deve-se salientar que o Estado do Ceará não é um grande produtor de polpa e suco de frutas. 8

Em termos de cajuína, observou-se que apenas 25% das empresas pesquisadas produzem, isto talvez pelo fato de sua fabricação exigir mão-de-obra e equipamentos mais especializados. Capacidade de produção anual As empresas estudadas apresentam alta capacidade de produção de doces de goiaba e banana, polpa de goiaba, sucos de laranja e uva, e cajuína (Tabela 2). TABELA 2 - Capacidade de produção anual nas micro e pequenas agroindústrias de frutas tropicais estudadas. Ceará, 1993. Produto Doces Banana Polpa Cajá Maracujá Sucos Laranja Uva ína Fonte: Dados de pesquisa ** Litros Capacidade de produção (t) 226 262 33 160 34 6 4 180 170 200.000** 9

Com relação ao doce de caju, observou-se que a capacidade de produção anual é de aproximadamente 33 toneladas. Analisando a capacidade instalada de produção, nas empresas estudadas, verificou-se que existe ociosidade na fabricação de polpa de maracujá (50%), suco de laranja (56%), suco de uva (55%) e cajuína (33%). Em geral, esta ociosidade associa-se à escassez de matériaprima ao longo do ano (Tabela 3). A ociosidade observada na produção de doces de goiaba (10%) e caju (5%) pode ser considerada normal em qualquer empreendimento. TABELA 3 - Produção anual das micro e pequenas agroindústrias de frutas tropicais estudadas. Ceará, 1993. Produto Doces Banana Polpa Cajá Maracujá Sucos Laranja Uva ína Fonte: Dados de pesquisa ** Litros Produ~ão 200 261 31 159 34 5 2 80 95 155.000** 10

Capacidade de estocagem de matéria-prima e produção obtida Estocagem de matéria-prima Do total das empresas estudadas, 22% não estocam matéria prima por falta de condições adequadas. Das empresas que estocam matéria-prima, 22% têm capacidade de armazenar o pedúnculo do caju e a goiaba, enquanto 10% estocam banana. Por outro lado, a capacidade de armazenamento das frutas "in natura" para serem processadas pelas empresas estudadas é baixa (Tabela 4). Associando a capacidade de armazenamento de frutas "in natura" com a produção verifica-se que esta estocagem não tem efeito no período de entressafra relacionando-se mais com a capacidade de produção, sendo portanto um armazenamento rotativo. Estocagem da produção Em função da possibilidade de local para a estocagem e da alta demanda da produção obtida, 20% das empresas estudadas não estocam produto. As restantes informaram que realizando esta prática, entretanto, a capacidade de estocagem existente é baixa (Tabela 5). Este fato mostra que as micro e as pequenas agroindústrias não têm capacidade de armazenar a produção obtida, o que em parte prejudica a comercialização no período de entres safra. Disponibilidade de máquinas e equipamentos De modo geral, as máquinas e os equipamentos existentes nas empresas estudadas não são adequados para o tipo de produto que fabricam. Considerando a produção de doces observa-se que o equipamento existente é adequado para uma produção artesanal, destinada a um mercado pouco exigente em termos de qualidade. As empresas que se dedicam à produção de doces, em geral, possuem os seguintes equipamentos: balança, triturador, tacho e fogão. Para que a produção de 11

doces tenha um padrão de qualidade adequado às exigências atuais do.mercado consumidor é necessário que as empresas, além destes equipamentos, tenham lavador, despolpadeira, fogão industrial e tacho encamisado. TABELA 4 - Capacidade anual de estocagem de frutas "in natura" nas empresas estudadas. Banana Produto Cajá Fonte: Dados de pesquisa Quantidade (t) 96 117 27 15 TABELA 5 - Capacidade de estocagem dos produtos obtidos nas empresas estudadas. Doces Produto Banana Produção (t) 13,00 4,50 6,00 Polpa ína Fonte: Dados de pesquisa ** Litros 1,20 0,16 86.000** 12

Na produ'ção de polpa de frutas, as empresas utilizam peneira, triturador, despolpadeira e liquidificador industrial. É necessário que além destes equipamentos possuam lavador, pasteurizador, desaerador, resfriador e congelador. Para produção de cajuína, as empresas estudadas não utilizam um cozimento adequado, promovendo conseqüentemente uma redução na qualidade do produto final e uma ausência completa de padronização. Em geral, as empresas pesquisadas utilizam como equipamento para produção de cajuína apenas balança e prensa. Para que se viabilize uma produção em bases adequadas é necessária a existência de balança, lavador, despolpadeira, filtro, fogão industrial e encapsulador. Atualização de informações Qualquer empreendimento para preservar sua participação no mercado necessita que seus gerentes se atualizem com os novos métodos de produção e com as tendências do mercado consumidor. Com relação às empresas estudadas observou-se que 35% não têm acesso a nenhum tipo de informação sobre o produto trabalhado. Esta situação poderá, a médio prazo, causar a falência de parte destas empresas, causando indiretamente uma redução do nível de emprego no meio rural. De acordo com a amostra estudada, as principais fontes de informação para as micro e as pequenas agroindústrias de frutas tropicais são SEBRAE e Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial (NUTEC). Esta situação mostra que os órgãos que têm por objetivo principal o desenvolvimento das miero e pequenas agroindústrias necessitam intensificar seus trabalhos para incentivar estas empresas a participarem de feiras, associações de classe, manterem contato com órgãos de pesquisa e desenvolvimento e assinarem revistas especializadas. 13

Estratégias para modernização das micro e pequenas agroindústrias Dentre os fatores apontados como empecilho ao desenvolvimento das empresas destacam-se falta de capital de giro, máquinas obsoletas. A inexistência de capital (em 80% das empresas estudadas) foi responsável pela não- realização de qualquer tipo de investimento no ano de 1993. Por outro lado, apesar do reconhecimento das empresas de que necessitam adquirir novas máquinas e equipamentos, observou-se que apenas 32% estão dispostas a investir. Esta situação mostra que as micro e as pequenas agroindústrias de frutas tropicais precisam de incentivos para seu desenvolvimento. Estes incentivos podem ocorrer via crédito e/ou redução da carga tributária que sobre elas incide. Com relação à melhoria da qualidade do produto, apenas 19% estão dispostas a utilizar este processo como forma de modernizar a empresa. Esta situação mostra que é necessário um esforço para sensibilizá-ias sobre a importância da qualidade do produto na ampliação do mercado consumidor. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Os resultados obtidos permitem as seguintes conclusões: Apesar da importância da micro e pequena agroindústria de frutas tropicais na geração de emprego e renda, a tecnologia utilizada na obtenção de produtos não é adequada para atingir os padrões de qualidade exigidos pelo mercado consumidor, uma vez que a sua produção continua a ocorrer de forma tradicional. Para reverter a situação encontrada, a pesquisa na área industrial tem um papel relevante no desenvolvimento de técnicas de produção para as micro e as pequenas agroindústrias. 14

A não-adoção de máquinas e equipamentos mais avançados poderá ser contornada pelo acesso ao crédito do mesmo modo que as grandes agroindústrias. Para atingir um mercado mais amplo e obter melhores preços, os produtores devem se organizar em associações ou cooperativas com o objetivo de comercializar a produção obtida e transferir tecnologias para os produtores associados. As micro e as pequenas agroindústrias de flutas tropicais necessitam definir estratégias de atuação através de um planejamento de médio e longo prazo. REFERÊNCIAS BffiLIOGRÁFICAS CEARÁ. Secretaria de Indústria e Comércio - Cadastro industrial do Ceará/1992. Fortaleza, 1994. 867p. LAUSCHNER, R. Agroindústrias como fator de fortalecimento do setor agrícola. Brasília, Rev. Econ. Rural, v. 18, p.217-233, 1980. PASSOS, O.S.; SOUZA, l da S. Considerações sobre a fruticultura brasileira, com ênfase no Nordeste. Recife : EMBRAP N CNPMF, 1993. 49p. SILVEIRA, ld. da. Estudos sobre a agroindústria no Nordeste: a agroindústria de produtos alimentares. Fortaleza: BNB, 1991. v.6. (BNB-ETENE. Estudos Econômicos e Sociais, 51). SILVEIRA, ld. da. Estudos sobre a agroindústria no Nordeste: análise macroestatística da agroindústria. Fortaleza: BNB, 1992. v.3. (BNB-ETENE. Estudos Econômicos e Sociais, 40). 15