Fase 1. Diagnóstico da Situação



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Transcrição:

CAPACITAÇÃO INSTITUCIONAL NO DOMÍNIO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM CABO VERDE: Directrizes Estratégicas para a Ciência, Tecnologia e Inovação Fase 1. Diagnóstico da Situação Março 2005 1

ÍNDICE ÍNDICE... 2 I. - INTRODUÇÃO... 3 I.1.- METODOLOGIA... 3 I.2.- TERMO DE COMPARAÇÃO... 5 II. BREVE DESCRIÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA.. 7 III. DESPESAS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM CABO VERDE...10 IV. BASE TECNOLÓGICA...12 IV.1.- TAXA DE ELECTRIFICAÇÃO E CONSUMO DE ELECTRICIDADE...13 IV.2.- TAXA DE PENETRAÇÃO DO TELEFONE E DOS TELEMÓVEIS...14 IV.3.- POSE DE COMPUTADOR E INTERNET...15 V. POTENCIAL HUMANO...17 V.1.- NÍVEIS DE EDUCAÇÃO EM CABO VERDE...17 V.2.- COMPETÊNCIAS NO MERCADO DE TRABALHO...18 V.3.- MECANISMOS DE FORMAÇÃO AVANÇADA...19 V.3.1.- Ensino Básico e Secundário...19 V.3.2.- Ensino Superior...21 VI. PRODUÇAÕ CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA...23 VI.1.- PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS EM CABO VERDE...24 VI.2.-CABO VERDE COMO TEMA CIENTIFICO...24 VII.- INOVAÇÃO...28 VIII. - CONCLUSÃO...29 2

I. - INTRODUÇÃO I.1.- Metodologia Adoptou-se neste estudo, para a elaboração do diagnóstico da situação da Ciência e Tecnologia em Cabo Verde, o método de selecção e quantificação de Indicadores. A referência internacional para avaliação da investigação e desenvolvimento é o Manual Frascati da OCDE. O Manual tenta estandardizar o processo de contabilização e inventariação dos inputs de I&D, sejam de origem governamental sejam de origem privada. Basicamente, o Manual Frascati considera apenas dois tipos de indicadores: o pessoal devoto a I&D e as despesas de I&D. Para além disso, o Manual estabelece uma classificação institucional e funcional da I&D definindo com precisão os conceitos de investigação fundamental, aplicada e desenvolvimento experimental em contraponto como uma definição mais geral de Serviços e Actividades Científicos. Por si só, a existência destes indicadores é suficiente para um diagnóstico com rigor da situação da I&D em qualquer país. Permite ainda a comparação com outros países e elaboração de metas quantificadas para o próprio país. No entanto, os conceitos e práticas aconselhadas são demasiado restritivos (de modo a contabilizar unicamente o esforço real de I&D) e pressupõem a existência de dados estatísticos recolhidos e mantidos para o efeito. A sua aplicação em Cabo Verde no presente estudo não se torna possível devido a não existência dos dados necessários. Mas os conceitos são válidos, independentemente do grau de desenvolvimento do Sistema de Ciência e Tecnologia de um país, pelo que, pelo menos na forma, tentaremos seguir a base preconizada nos Manuais da Família Frascati. Igualmente importante é a análise dos outputs da C&T. Dependente dos objectivos, podese utilizar o número de patentes ou análise da intensidade tecnológica dos produtos e ainda indicadores bibliométricos. Vários outros manuais da OCDE e da UNESCO tentam definir os conceitos utilizados de modo a serem comparáveis em qualquer parte do 3

mundo. Mais uma vez, para o caso de Cabo Verde, a não existência de dados impossibilita uma análise detalhada, profunda e comparável. Assim a metodologia adoptada, não é a de avaliar o Sistema Científico e Tecnológico mas sim avaliar o Potencial Científico e Tecnológico, os seus constrangimentos e pontos fortes. Para isso, seleccionou-se uma série de indicadores característicos da envolvente e a partir destes indicadores procurou-se elaborar um diagnóstico que realça esses pontos fortes e constrangimentos. A análise será então mais qualitativa do que quantitativa. Esses indicadores são: 1.- O enquadramento (ou como se faz C&T): enquadramento institucional esforço institucional em C&T; esforço privado em C&T; 2.- A envolvente Cientifica e Tecnológica medida pelo: recurso às TIC (Penetração da Internet e do Telefone) e a taxa de electrificação e consumo de electricidade (mede o potencial de uso de tecnologias modernas). 3.- O potencial humano medido pela: taxa de escolaridade e potencial de formação 4.- Produção cientifica e tecnológica (potencial) medida por: artigos que têm Cabo Verde como sujeito de estudo (e participação de Caboverdianos residentes na produção dos artigos). Finalmente, será feita uma avaliação sumária do potencial de inovação em Cabo Verde. Será analisado a dinâmica empresarial em Cabo Verde e a sua ligação com a comunidade cientifica e tecnológica. Um indicador para este item será o recurso à Internet nas empresas e a adesão a normas de qualidade. 4

I.2.- Termo de Comparação A quantificação dos indicadores pode não fornecer informações suficientes sobre a situação da C&T se os analisarmos em valores absolutos. É necessária uma base de comparação. Podem ser valores desejáveis, óptimos ou frequentes ou ainda a comparação com outros países com características semelhantes. Para este estudo decidiu-se escolher alguns países cujas características se assemelham aos de Cabo Verde: os arquipélagos das Maurícias e das Seicheles. O arquipélago das Maurícias situa-se no Oceano Índico a Leste de Madagáscar. Os primeiros europeus a chegar às ilhas foram os Portugueses em 1505, tendo sido posteriormente ocupadas pelos Holandeses e Franceses. O país é actualmente uma democracia estável, independente desde 1968. Tem uma população de quase 1.200.000 habitantes e um PIB per capita de 10.810 (PPP US$), para dados de2002. Nesse ano, apresentava um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano. O turismo é uma das principais actividades económicas (mais de 650.000 visitantes/ano) mas a indústria têxtil tem um peso considerável no volume das exportações do país juntamente com o açúcar. A República das Seicheles é um vasto arquipélago de perto de uma centena de ilhas, situado a nordeste de Madagáscar no Oceano Indico. Independente desde 1976, foi ocupado pelos Franceses e Britânicos. A população, de quase 80.000 habitantes, goza do melhor índice de desenvolvimento humano em Africa e de um PIB per capita de 18.232 (PPP US$) em 2002. Para além da indústria do turismo (perto de 125.000 visitantes/ano) as Seicheles desenvolveram uma importante indústria de transformação do pescado. IDH 2002 C. Verde Maurícias Seicheles Índice Desenvolvimento Humano 105 64 35 PIB per capita (PPP US$) 5,000 10,810 18,232 PIB per capita rank 93 49 33 População 470 000 1 200 000 80 000 Taxa de Urbanização 56 % 43 % 50 % Exportação bens e serviços/pib 30,1 % 60,7 % 78,2 % Importação de bens e serviços/pib 65,1 % 56,9 % 80,9 % Indústria/PIB 16,4 % 31,1 % 30 % Serviços/PIB 72,8 % 61,9 % 67,1 % 5

As ilhas Maurícias têm já uma Universidade consolidada mas as Seicheles, apesar de disporem de vários institutos de formação superior não têm o que formalmente se designa por Universidade, exceptuando uma Universidade Americana, a University of Seychelles-American Institute of Medecine. A vantagem da escolha destes dois arquipélagos é que nos faz olhar para cima tendo como modelo países que padecem dos mesmos constrangimentos e desfrutam das mesmas forças. Não estão associadas a nenhum país continental, como as Canárias, os Açores e Madeira e por isso o modelo de desenvolvimento que adoptaram pode-nos trazer grandes ensinamentos. 6

II. BREVE DESCRIÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA A nível institucional, a Ciência e Tecnologia estão sob a tutela do Ministério da Educação e Valorização dos Recursos Humanos, que criou para o efeito a Direcção de Ciência e Tecnologia enquadrada na Direcção-Geral do Ensino Superior e Ciência. De salientar que está prevista na lei a criação de uma Comissão Consultiva para a Ciência e Tecnologia, que funciona junto do Director-Geral do Ensino Superior e Ciência, e sob a sua presidência, configurada como órgão de análise, reflexão e concertação sobre as questões concernentes à definição e execução da política nacional do ensino superior e da política nacional de ciência e tecnologia, respectivamente. A CCCT integra, para além dos directores de serviço da DGESC, os presidentes dos conselhos científicos das instituições de formação superior, bem como um representante dos departamentos governamentais responsáveis pelos seguintes sectores de actividade: agricultura, pescas e ambiente, infrastruturas, transportes e telecomunicações, energia, turismo, indústria e comércio. Desde 1999 que foi aprovado o Estatuto do Pessoal Investigador, consagrando, no essencial, o paralelismo com a carreira docente do ensino superior. O diploma aplica-se ao pessoal que realiza, com carácter sistemático, actividades de investigação científica, tecnológica e aplicada, em instituições categorizadas para o efeito. A competência do estado na matéria é também exercida indirectamente por alguns institutos tais como: O ISE (Instituto Superior de Educação), na cidade da Praia, e o ISECMAR (Instituto Superior de Engenharia e Ciências do Mar), no Mindelo, ambos instituições públicas de Ensino Superior. O INAG (Instituto Nacional de Administração e Gestão), na Praia, com experiência em formação na área de gestão e administração é igualmente, uma instituição de ensino pós-secundário. O INIDA (Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário) em São Jorge dos Órgãos, é um instituto público com vocação para a investigação 7

e execução de projectos de desenvolvimento agrário que também se dedica ao ensino através do CFA (Centro de Formação Agrária). O INDP (Instituto Nacional de Desenvolvimento das Pescas), cuja vocação é a realização de estudos e a execução de acções nos diversos domínios das ciências ligadas à pesca a fim de propor recomendações destinadas a melhorar os resultados sócio-económicos proporcionados pelas diferentes actividades da pesca, tendo em conta os planos e programas do Governo para esse sector. O INMG (Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica) que tem como objectivo a prestação de serviços e investigação na área de meteorologia e geofísica. O INGRH (Instituto Nacional de Gestão de Recursos Hídricos) que se ocupa da prospecção e gestão de recursos hídricos. O IIPC (Instituto de Investigação do Património Cultural) cujo domínio de intervenção é o património e a cultura. O INE (Instituto Nacional de Estatísticas), o AHN (Arquivo Histórico Nacional) e o IBN (Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro) são instituições cujas actividades são de importância para a execução de investigação nas áreas sociais e história. O Núcleo Operacional para a Sociedade da Informação (NOSI) e o recém criado Instituto das Telecomunicações (IT), pela natureza das suas actividades, são levados a lidar com tecnologias de ponta nomeadamente as Tecnologias de Informação e Comunicação. A funcionar em paralelo com estas instituições públicas, foram criadas a partir de iniciativas privadas, mais quatro instituições de ensino superior: o ISCEE (Instituto Superior de Ciências Económicas e Empresariais), com um pólo na Praia e outro no Mindelo, a UJP-CV (Universidade Jean Piaget), na Praia, o IESIG (Instituto de Estudos Superiores Isidoro da Graça), no Mindelo e o M EIA (Mindelo - Escola Internacional de Arte), também no Mindelo. 8

Com a decisão da criação da Universidade de Cabo Verde, cuja natureza intrínseca implica a execução de actividades científicas e tecnológicas, a gestão e execução da Ciência e Tecnologia pelo estado terá outro perfil num futuro muito próximo. 9

III. DESPESAS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM CABO VERDE É comum indicar a falta de meios financeiros como um dos grandes constrangimentos ao avanço da C&T em Cabo Verde, juntamente com os parcos recursos humanos disponíveis. É por isso, de extrema importância analisar as despesas afectas à C&T de modo a ser possível ajuizar com objectividade esta afirmação. Como se viu na secção anterior, o esforço do estado na C&T, através sobretudo da criação e manutenção dos institutos públicos, é apreciável. Este esforço financeiro deverá ser analisado a luz dos resultados produzidos e dos objectivos para os quais foram criadas essas instituições. É preciso ter em conta contudo, que o Estado nem sempre é a única fonte de financiamento da C&T, incluindo os institutos públicos que dispõem de fontes internacionais e mesmo empresariais. Há ainda que contabilizar o esforço real de C&T ou seja a fracção do orçamento das instituições que é realmente dedicada exclusivamente a C&T (despesas com pessoal em actividades de I&D, material de laboratório, de secretaria e equipamento diverso, aquisição de bens de capital ou de investimento, documentação, etc.). Caso existam técnicos em regime parcial de dedicação a C&T, apenas o tempo dedicado deverá ser contabilizado. Caso os serviços e materiais tenham outras utilizações que não actividades de C&T, deverá ser contabilizado unicamente a quota dedicada a C&T. Por outro lado são contabilizadas as despesas relativas à I&D executadas dentro da unidade de investigação (despesas intra-muros) e as despesas de investigação com a contratação de actividades de I&D (despesas extra-muros). Este procedimento, detalhado no Manual Frascati, dificilmente poderá ser aplicado a Cabo Verde. Mas, uma análise qualitativa levanta algumas questões de fundo: qual o verdadeiro esforço de C&T nos institutos públicos, tendo em conta que a investigação e desenvolvimento não são a única actividade exercida? Quem nessas instituições se dedica a C&T? Qual o tempo de dedicação a C&T? Qual os gastos com materiais para C&T? Em 2004 as despesas para o funcionamento das instituições de C&T acima citadas, eram ligeiramente superiores a 3 % do total do orçamento do estado. Aos institutos tutelados pelo Ministério da Agricultura cabiam perto de 60 % do orçamento (40 % do Ministério 10

da Cultura), valor que baixava para apenas 3,5 % no caso do Ministério da Educação, isto devido ao maior peso das despesas do ensino secundário e primário. É preciso ter em conta que estes 3 % cobriam a totalidade das despesas embora, mais de 90 % fossem despesas de pessoal. E, como se disse anteriormente, as instituições públicas não se dedicam exclusivamente à C&T. Assim, a quota das despesas reais de C&T no orçamento do estado é bem menor que os números anteriormente citados. 11

IV. BASE TECNOLÓGICA Tanto a execução de actividades científicas e tecnológicas como os seus produtos estão intimamente ligados à existência de infrastruturas modernas. O uso de máquinas e outros equipamentos requer a disponibilidade de energia em quantidade e qualidade suficientes. Igualmente, a disponibilidade de meios de comunicação modernos é uma condição necessária para a realização de actividades científicas e tecnológicas, para além de ser um indicador do grau de penetração de novas tecnologias. Ademais, o computador e a Internet são, nos nossos dias, ferramentas fundamentais para a execução de actividades científicas e tecnológicas. Obviamente que a existência de outras infrastruturas (transportes, por exemplo) afecta o bom desempenho das actividades científicas e tecnológicas mas, tendo em conta a necessidade de manter um número reduzido de indicadores consideraremos apenas os seguintes: Taxa de electrificação Penetração do telefone Posse de Computador e Internet, A taxa de electrificação é um indicador absoluto visto que uma taxa zero corresponderia à impossibilidade de realização de actividades científicas e tecnológicas e a uma utilização nula dos seus produtos. O mesmo se pode dizer do uso de computadores que se tornou um instrumento imprescindível na execução de actividades científicas e tecnológicas. Já a utilização da Internet é mais característica da modernidade e inserção no sistema global de C&T, caracterizado por uma grande permeabilidade, partilha e comunicabilidade. Paralelamente, analisaremos o consumo per capita de electricidade como um elemento comparativo e a taxa de penetração de telemóveis como um indicador da apetência para a utilização de novas tecnologias. 12

IV.1.- Taxa de electrificação e consumo de electricidade Estima-se que no ano 2002, 60 % da população teria acesso a electricidade em Cabo Verde. Contudo, a tendência actual é no sentido de um crescimento rápido da população servida. As previsões no inicio do processo de privatização da ELECTRA apontavam para uma cobertura de quase 90 % das famílias até 2008. Os atrasos na implementação de alguns projectos poderão adiar para mais tarde a consecução deste objectivo, mas o mesmo continua perfeitamente realista. Por outro lado, a taxa de cobertura no meio urbano já anda perto dos 80 % e mesmo aproximando-se dos 100 % em certas zonas (Mindelo e Sal). Existe assim um fosso entre o meio rural e urbano que urge colmatar. Outra preocupação é a estabilidade e a qualidade da energia distribuída que pode inibir a utilização de material sensível ou levar ao recurso a centrais autónomas. 2002 Taxa Electrificação (%) Consumo Electricidade (kwh per capita) Cabo Verde 60 102 Seicheles 95 2,481 Maurícias 100 1,592 Seicheles e Maurícias já atingiram o pleno na electrificação. No entanto, comparativamente, o que destaca é a grande diferença do consumo de electricidade per capita. Cada cabo-verdiano consome um pouco mais de 100 kwh anualmente, mais de dez vezes menos do consumo per capita nas ilhas Maurícias e bem abaixo dos quase 2.500 kwh por cada habitante do arquipélago das Seicheles. Esta diferença explica-se pelo consumo dos turistas mas, sobretudo, pelo maior peso da indústria nestes países. 13

IV.2.- Taxa de Penetração do Telefone e dos Telemóveis O telefone tem em Cabo Verde uma vertente social muito forte, ligando os residentes à vasta diáspora espalhada por todo o mundo. É por isso, um equipamento que faz parte do quotidiano dos cabo-verdianos, considerado muito útil. O único constrangimento à instalação do telefone é de ordem financeira. Em 2002, um pouco mais de metade (51,9 %)das famílias cabo-verdianas dispunham de um telefone fixo representando uma densidade telefónica de 16 % (160 telefones por 1000 habitantes). Comparativamente, este valor é da mesma ordem de grandeza dos países do grupo de desenvolvimento médio-baixo, embora fique aquém dos valores encontrados para as ilhas Maurícias e Seicheles. 2002 Telefone (por 1000 hab.) Telemóvel (por 1000 hab.) Cabo Verde 160 98 Maurícias 270 288 Seicheles 269 553 As infra-estruturas físicas existentes cobrem a quasi totalidade do país, tendo sido alvos de avultados investimentos nos últimos anos. Actualmente, a média de espera para instalação do telefone é de cerca de 1,3 meses. Apesar do parque ter sofrido um aumento de 2.2 % em 2003, houve uma redução de 11 % na procura de novos postos o que pode denotar uma estabilização do mercado. Por isso, pode-se concluir que a disponibilidade física do telefone não é um constrangimento em Cabo Verde. A única preocupação prende-se com o custo das chamadas, sobretudo quando o telefone é um instrumento de comércio e comunicação com o exterior, encarecendo o custo dos serviços e afectando a competitividade. No tocante à difusão do telemóvel, é notável a prontidão com que foi adoptado em Cabo Verde, apesar do custo à primeira vista inibitório para a maioria da população. Em 2003, cinco anos depois da sua introdução em 1998 o serviço móvel ultrapassou os 50.000 clientes representando uma densidade de 11,6 %. Contudo, esta taxa é inferior à alcançada pelas ilhas Maurícias e Seicheles e, mesmo pela maioria dos países de África. 14

A grande densidade de telefones fixos (comparativamente à maioria dos países africanos) pode explicar essa diferença. Mas a diferença em relação às ilhas Maurícias e Seicheles deverá ter outra justificação. Ponto importante é que as funcionalidades existentes no telemóvel ainda são reduzidas em relação ao seu potencial. Resumem-se por enquanto a chamadas vocais e envio /recepção de mensagens escritas. IV.3.- Posse de Computador e Internet Sendo fruto de uma das maiores revoluções tecnológicas de sempre, o computador passou a ser imprescindível em qualquer actividade cientifica e tecnológica. Mais do que qualquer outro indicador, a disponibilidade deste equipamento espelha a capacidade técnica e científica de uma sociedade. É igualmente indispensável nas actividades económicas. Em 2002 a posse de computador era um privilégio de apenas 8 % da população caboverdiana a comparar aos quase 12 % e 16 % das ilhas Maurícias e Seicheles respectivamente. É manifestamente insuficiente e preocupante. Acrescenta-se que, menos de metade destes computadores tinham ligação a Internet. 2002 Computador (por 1000 hab.) Internet (por 1000 hab.) Cabo Verde 80 36.4 Maurícias 117 99.1 Seicheles 157 145.2 Fonte: UNDP http://hdr.undp.org/statistics/data/03 Não existem dados sobre a situação nas empresas, mas é presumivelmente um equipamento disponível em quase todas as grandes e médias empresas (à dimensão de Cabo Verde). Em relação às pequenas e micro-empresas, que representam o grosso do tecido empresarial cabo-verdiano, a situação varia dependendo da natureza de cada uma. Por outro lado, a maioria dos serviços do Estado dispõem de computadores e com a expansão da rede do estado o acesso à Internet tornou-se mais fácil. Assim, apesar do 15

baixo número de computadores nos lares, uma boa parte da população, usa o computador e acede à Internet a partir do local de trabalho. No entanto, há que diferenciar a posse de computador do aproveitamento que dele se faz, isto é, o hardware, o software e a relação entre eles e o meio envolvente. A existência de um computador numa empresa não implica que esta esteja informatizada. A noção importante é a de funcionalidades à qual se acresce a de comunicabilidade. O computador é mais do que uma versão avançada de uma máquina de escrever ou calcular. Permite a automatização, sistematização e controlo de várias tarefas com evidente criação de mais-valia e ainda, o tratamento e disponibilização de informação em tempo real. Neste ponto de vista, a informatização de processos e serviços é que dá uma visão mais pormenorizada das capacidades tecnológicas e de inovação de um país. A situação é díspare, com algumas empresas de ponta (banca e finanças, transportes aéreos e turismo) a apresentarem níveis elevados de informatização e integração na rede global e empresas mais tradicionais a resistirem à inovação informática. Como exemplo, as empresas de comércio e distribuição com alguma dimensão utilizam softwares de gestão de stock, entrada de vendas e contabilidade, mas a aderência às potencialidades da informática depende em grande parte da dimensão das empresas e sobretudo, do nível de instrução dos empresários. No global, o nível de adesão da sociedade e da economia às tecnologias informáticas ainda é demasiado baixo. 16

V. POTENCIAL HUMANO O processo de desenvolvimento passa obrigatoriamente pelo desenvolvimento humano. Uma economia competitiva requer recursos humanos qualificados, empreendedores e inovadores. Uma sociedade plena requer cidadania e participação. O processo de capacitação tecnológica, mais que qualquer outro, exige recursos humanos altamente qualificados. E a inovação é uma cultura e um acto deliberado que pressupõe, para além de conhecimento e saber, saber aprender e saber fazer mas sobretudo, prédisposição. Por outras palavras há que criar um terreno fértil de modo a aproveitar a mais pequena semente. E isso só se consegue com a criação de massa crítica, acumulando e incentivando a qualificação, a excelência e a ousadia. Ora, a criação de uma massa crítica não se consegue sem um adequado esforço de formação e motivação, e é trabalho de longo prazo, dependendo do ponto de partida, isto é, do nível de educação actual da população. V.1.- Níveis de Educação em Cabo Verde Em relação a muitos países em vias de desenvolvimento os índices de educação em Cabo Verde apresentam uma situação privilegiada. A taxa de analfabetismo tem decrescido continuamente, situando-se ligeiramente acima dos 25 % em 2000, para a população com 15 anos ou mais. Para o mesmo ano, 18,6 % da população de 4 anos e mais tinha concluído o ensino secundário. Apenas 1,6 % tinham qualificações de nível superior ao secundário sendo 0,5 com nível médio e 1,1 com nível superior. População de 4 anos e mais com o EBI 55.6 % População de 4 anos e mais com Secundário 18.6 % População de 4 anos e mais com o Curso Médio 0.5 % População de 4 anos e mais com o Curso Superior 1.1 % Taxa de Analfabetismo (15 anos ou mais) 25,2 % Fonte: INE Censos 2000 Todavia, é de lamentar que entre os jovens dos 15 aos 24 anos exista ainda uma taxa de analfabetismo que ronda os 11 %. As ilhas Maurícias apresentam um valor duas vezes 17

inferior, enquanto que as Seicheles ostentam um valor residual de 0,9 %. É igualmente o arquipélago das Seicheles que apresenta indicadores superiores relativos à frequência do ensino secundário (98 % contra os 55 % de Cabo Verde). Analfabetismo ( + 15 anos) (%) HDI 2002 Analfabetismo (15-24 anos) (%) Frequência Secundário (%) Cabo Verde 24.3 10.9 53 Maurícias 15.7 5.5 62 Seicheles 8.1 0.9 98 Este quadro de partida dá uma ideia do árduo caminho a percorrer para se atingir níveis de educação consonantes com os objectivos de desenvolvimento que têm como motor, o conhecimento e o saber. V.2.- Competências no Mercado de Trabalho Sendo estas as competências disponíveis na sociedade cabo-verdiana, as repercussões na economia são bem visíveis. Em 2000, perto de 27 % dos trabalhadores não possuíam nenhuma qualificação. Do outro lado da tabela, apenas 1 % dos trabalhadores se classificavam como quadros superiores divididos entre a administração pública e as empresas. Saliente-se que, somente 4,4 % dos trabalhadores eram técnicos e profissionais de nível intermédio. Quadros Superiores da Administração Publica, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa 1.0% Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas 4.4% Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio 4.4% Pessoal Administrativo e Similares 3.0% Pessoal dos Serviços e Vendedores 13.1% Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e Pescas 21.2% Operários, Artífices e Trabalhadores Similares 16.8% Operadores de Instalações de Máquinas e Trabalhadores da Montagem 5.2% Trabalhadores Não Qualificados 26.8% Forças Armadas 0.2% ND 4.1% 18

Temos, por isso, uma economia baseada na mão-de-obra pouco ou nada qualificada, o que tem forçosamente, consequências na qualidade dos produtos e serviços produzidos e no nível de competitividade da economia cabo-verdiana. V.3.- Mecanismos de Formação Avançada Há a necessidade de, rapidamente, aumentar o nível de formação da população em Cabo Verde. E isso passa, pela consolidação do ensino básico e secundário e sobretudo, pelo verdadeiro arranque da formação de nível médio e superior enquadrado numa estrutura física institucional e política consistente. V.3.1.- Ensino Básico e Secundário O ensino básico em Cabo verde já está consolidado, registando uma taxa líquida de escolarização na ordem dos 96%. Obrigatório e com uma duração de 6 anos este nível padece no entanto de algumas dificuldades e assimetrias regionais relacionados com constrangimentos económicos, sociais e orçamentais. O nível de qualidade precisa ser melhorado, nomeadamente, no que se refere ao ratio aluno/docente e aluno/sala (média de 28 para todo o país). Mas é ao nível da qualidade dos docentes que há muito a fazer. Com efeito, apenas pouco mais de um terço dos docentes tinham habilitações suficientes para leccionar até ao 6º ano e 30,3 % não tinham formação. Indicadores de qualidade no ensino básico Rácio Aluno/Docente Rácio Aluno/Turma Rácio Aluno/Sala Habilitações dos Docentes: - Suficientes para leccionar até ao 6º ano - Suficientes para leccionar até ao 4º ano - Sem Formação Fonte: Plano Estratégico para a Educação - GEP 28 28 50 36,3% 33,4% 30,3% 19

A taxa líquida de escolarização, para o grupo etário dos [12-17] anos, ronda os 55% e a taxa bruta de escolarização, os 64%. Para este nível os constrangimentos materiais (ratio aluno/sala) são superiores aos encontrados no ensino básico mas o panorama é melhor quando se analisa o nível de formação. Contudo, mais de 25 % dos docentes não têm formação adequada as exigências deste nível. Indicadores de qualidade no ensino secundário Rácio Aluno/Docente Rácio Aluno/Turma Rácio Aluno/Sala Habilitações dos Docentes: - Suficientes - Insuficientes - Sem Formação Fonte: Plano Estratégico para a Educação - GEP 25 36 67 58,6% 15,9% 25,5% Na vertente de formação de professores existem em Cabo Verde duas instituições: o Instituto Pedagógico (IP) para a formação de professores do ensino básico e o Instituto Superior de Educação (ISE) para a formação de professores do ensino secundário. As formações ministradas pelo ISE têm nível superior (bacharelato e licenciatura). Nos dois casos, o esforço de formação tem sido contínuo desde já há muitos anos o que permite acreditar que paulatinamente o nível dos professores poderá vir a aumentar. Com efeito para o ano lectivo 2002/2003 o IP tinha mais de 800 alunos inscritos nos seus 7 cursos sendo que 445 se inscreverem no 1º ano. Já o ISE tinha em formação quase 700 futuros professores, a maioria no nível de licenciatura e perto de 290 no início da formação. Formação de Professores do Ensino Básico Instituto Pedagógico Frequências 1º Ano Total de Frequências Nº de Cursos IP Praia 236 422 3 IP Assomada 146 240 3 IP Mindelo 63 170 1 Total 445 832 7 Fonte: Plano Estratégico para a Educação - GEP 20

Formação de Professores do Ensino Secundário Instituições Frequências Total de Frequências Nº de 1º Ano Bacharelato Licenciatura Cursos ISE Praia 229 75 564 17 ISE Mindelo 60 60-2 Total 289 135 564 19 Fonte: Plano Estratégico para a Educação - GEP V.3.2.- Ensino Superior A execução de actividades de ciência e tecnologia exige níveis de educação avançada. E, geralmente, estão associados a existência de Universidades embora não seja restringida a este tipo de instituição. O nível de ensino superior em Cabo verde é recente, datando do ano de 1995 com a criação do Instituto Superior de Educação e posteriormente em 1996, o ISECMAR (Instituto Superior de Engenharia e Ciências do Mar) e em 1998, o ISCEE (Instituto Superior de Ciências Económicas e Empresariais). Mais recentemente, a crescente procura de ensino superior no país e a escassez de bolsas e vagas para estudos no estrangeiro, motivaram a criação de duas instituições privadas de ensino superior, a Universidade Jean Piaget na cidade da Praia no ano 2000 e o IESIG (Instituto de Ensino Superior Isidoro Graça) no Mindelo em 2002. Para além destas instituições o INIDA (Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário), através do Centro de Formação Agrária (CFA) disponibiliza cursos de nível bacharelato. O INAG (Instituto Nacional de Administração e Gestão) tem igualmente pretensões de ministrar formações de nível superior na área da administração. O nível geral dos cursos disponíveis é o de bacharelato (três anos em média) embora, algumas instituições proporcionam também, geralmente em parceria com instituições de ensino estrangeiras, o nível de licenciatura. O nível de pós graduação (Master ou Mestrado) existe, nas mesmas condições, em algumas instituições. Assim no total das instituições de ensino superior, no ano lectivo 2002/03 estavam inscritos cerca de 2.200 nos 55 cursos disponíveis, sendo que 991 estavam no inicio da formação. 21

Frequências do ensino superior em Cabo Verde Instituições de Ensino Frequências Total de Frequências Nº de Superior 1º Ano Bacharelato Licenciatura Pós-Grad. Cursos Universidade Jean Piaget 267-651 - 15 ISE Praia 229 75 564 15 17 ISE Mindelo 60 60 - - 2 IESIG Mindelo 295-332 - 7 ISECMAR Mindelo 70 245 - - 8 ISCEE Mindelo e Praia 70 214 - - 2 CFA INIDA Praia - 26 - - 1 DGESC / DG. Turismo - 32 - - 3 Total 991 652 1547 15 55 Fonte: Plano Estratégico para a Educação - GEP Em relação ao corpo docente, nota-se que apenas 28.7% exerciam em regime de exclusividade. No total 8.4% eram doutorados, 17.5% mestres e a maioria (74.1%) licenciados. Habilitações dos Docentes Habilitações dos Docentes Instituições Doutorados Mestrados Licenciados Alun. Prof. Exclus. Colab. Exclus. Colab. Exclus. Colab. Univ. J. Piaget 651 90 6 2 4 2 16 60 IESIG 332 38-6 - 13-19 ISECMAR 245 40 1-10 3 12 14 ISCEE 214 40 - - - 5-35 ISE Mindelo 60 10 - - - 1-9 ISE Praia 654 68 5 4 11 1 17 30 Total 2 156 286 12 12 25 25 45 167 Fonte: Plano Estratégico para a Educação - GEP O nível de mestrado em certas áreas e o de doutoramento pressupõe a realização de investigação original e investigadores séniores. O ISCEE tem um programa de Master que não implica realização de investigação e o número reduzido de pós graduados no ISE levam a crer que a investigação é ainda apenas uma aspiração nas instituições de ensino superior. A título comparativo, na Universidade das Maurícias no ano lectivo 2002/2003 estavam em preparação 125 doutoramentos e 526 mestrados num total de 5.310 inscritos. 22

VI. PRODUÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA O indicador mais comum para a produção científica é a bibliométrica, isto é, o número de artigos publicados em revistas cientificas com referee ( de referência e com revisão pelos pares). O Institute for Scientific Information (ISI), selecciona a nível internacional, as principais e as mais influentes revistas científicas que servem de referência à contabilidade de publicações cientificas em diversos países (Science Citation Index, Social Science Citation Index, Arts &Humanities Citation Index). A primeira vantagem é a garantia da qualidade, visto que os artigos são avaliados por especialistas de cada área antes de serem publicados. A segunda vantagem é a comparabilidade. Com efeito, as revistas citadas pelo ISI publicam artigos de investigadores de todo o mundo, sendo as condições de acesso as mesmas para qualquer investigador. Mas o recurso a este indicador é criticado por investigadores de algumas áreas científicas (nomeadamente as ciências sociais), por não incluir outras publicações como monografias, livros, entre outros. Igualmente, as diferentes áreas científicas têm cultura de publicação diferente. Os Matemáticos por exemplo, têm frequências menores de publicações relativamente às outras ciências exactas. Por outro lado, é um indicador quantitativo e não qualitativo, isto é, um artigo pode respeitar todas os requisitos técnicos (forma e substância) para ser publicado mas não ser de grande interesse científico. Neste caso, uma avaliação do número de citações é necessária para avaliar o interesse que determinado artigo suscitou na comunidade cientifica. Nos países onde o sistema científico ainda está em desenvolvimento, como é o caso de Cabo Verde, a cultura de publicação ainda não está bem enraizada. Por outro lado, os temas abordados podem ser não ser susceptíveis de internacionalização. Em consequência, não existem dados estatísticos que permitam uma avaliação bibliométrica segundo os parâmetros internacionais. Mas, para este estudo, partimos do princípio que o conceito é válido e procedemos a uma análise comparativa de publicações científicas internacionais que versam sobre Cabo 23

Verde. Foram escolhidas as ilhas Maurícias e o arquipélago das Seicheles como base de comparação. Com esta análise estamos conscientes de que deixamos de fora alguns artigos interessantes, algumas áreas e mesmo alguns temas de grande importância para Cabo verde. Mas sendo uma análise comparativa, as condições são as mesmas para todos e por isso as ilhas das Maurícias e Seicheles também terão as mesmas dificuldades. VI.1.- Publicações científicas em Cabo Verde Existem em Cabo Verde, algumas revistas especializadas que publicam artigos de carácter científico, algumas patrocinadas pelo Estado, outras por associações da sociedade civil. Por si só, a existência destas revistas demonstra a vontade de divulgação da comunidade científica e tecnológica. No entanto, não existe uma sistematização do controlo da qualidade nem uma diferenciação entre artigos de divulgação científica e artigos científicos, pelo que podem não representar uma verdadeira amostra do trabalho científico e tecnológico desenvolvido em Cabo Verde. VI.2.-Cabo Verde como tema científico A Internet é actualmente o meio de comunicação privilegiado da comunidade científica. Hoje em dia, é possível aceder a artigos científicos publicados em revistas internacionais através dos sites das respectivas editoras mediante uma assinatura. Alguns sites disponibilizam artigos científicos gratuitamente mas por enquanto não abrangem todas as áreas. De modo a avaliar o potencial científico de Cabo Verde, foi feita uma pesquisa as publicações electrónicas das editoras Wiley, Springer-Verlag, IEEE, Elsevier e Kluwer. No global representam perto de 2.000 e revistas e jornais científicos e milhões de artigos. Foram pesquisados todos os artigos que tinham o nome de Cabo Verde (ou Cape Verde) no título ou no abstract (resumo). Para os eventos encontrados, procuramos saber qual a filiação do autor (instituição). 24

Foram encontrados 131 eventos (artigos) que correspondiam aos critérios de pesquisa, isto é, que continham o termo Cabo Verde (ou Cape Verde) no título ou no abstract. Uma análise mais detalhada dos artigos mostrou que em alguns casos Cabo Verde não era o objecto principal do estudo, mas que fazia parte de um grupo (ilhas Atlânticas ou CPLP) ou era uma base de comparação com outras regiões do globo. Mas, mesmo nestes casos, há garantias que existiam dados científicos para sustentar a comparação. Restringindo a pesquisa ao título de artigos que tratavam especificamente de Cabo Verde, o número de eventos baixou para 52. Mas neste caso, alguns artigos que tratando de um tema teórico específico (tema principal que vinha no título) e que tinham como aplicação Cabo Verde, ficaram de fora. Tendo em conta que o objectivo da análise era quantificar o Potencial Científico de Cabo Verde, definido como o interesse que a comunidade científica tem em Cabo Verde, o primeiro indicador é o mais adequado. Por razões práticas, reduziu-se o domínio de pesquisa a apenas a sciencedirects.com o que representa a maioria dos artigos encontrados e foi feita a mesma pesquisa, com os mesmo requisitos para Cabo Verde e também para as ilhas dos Açores, Madeira, Canárias, Maurícias e Seicheles. Os resultados obtidos constam da seguinte tabela: Eventos Afiliação Cabo Verde 122 7 Seicheles 188 50 Maurícias 213 172 Madeira 250 76 Açores 336 57 Canárias 668 747 25

Análise Bibliográfica Comparativa 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Canárias Cabo Verde Seychelles Maurícias Açores Madeira Eventos Afiliação Nota-se que a diferença de eventos encontrados, entre Cabo Verde e as Ilhas Africanas das Maurícias e Seicheles não é preocupante. O mesmo não se pode dizer do número desses artigos com a participação de autores de instituições em Cabo Verde. Do total de 122 artigos sobre Cabo Verde, em apenas menos 6 % aparecem co-autores de instituições Cabo-Verdianas. Este valor é largamente superado pelas ilhas Maurícias (pouco mais 80 %) e pelas Seycheles (26,6 %). Dos sete artigos com afiliação cabo-verdiana, dois eram assinados exclusivamente por cabo-verdianos, sendo os restantes quatro artigos escritos em co-autoria com instituições estrangeiras. Um dos artigos com afiliação cabo-verdiana foi escrito por um funcionário não cabo-verdiano de uma instituição internacional em Cabo Verde e tinha como tema a população do Brasil. O INDP, o INIDA, o INMG, o LEC e o INIT (já extinto) são as instituições caboverdianas de afiliação que aparecem nos artigos. Note-se que alguns artigos foram escritos por investigadores Cabo-Verdianos, mas que estão afiliados a instituições estrangeiras. 26

Como elemento de análise, nota-se que o número de artigos encontrados para as Canárias é inferior ao de autores afiliados a instituições das Canárias, o que se pode explicar pelo facto de nem todos os temas abordados serem relativos às Canárias. A esmagadora maioria dos artigos publicados diz respeito às áreas do ambiente, agricultura e ciências da terra. Em particular, os fenómenos ligados à geofísica e geologia das ilhas têm suscitado algum interesse da comunidade científica internacional. Aparece um número razoável de artigos sobre a população, inclusive algumas análise genéticas. No domínio da energia, o excelente potencial eólico de Cabo Verde também foi alvo de estudos por parte de instituições estrangeiras. Esta análise simples permite concluir que existe um interesse por Cabo Verde como tema científico, mas que a participação de instituições cabo-verdianas é, comparativamente, bastante fraca. 27

VII.- INOVAÇÃO Uma definição restrita de Inovação considera unicamente os produtos e/ou processos realmente novos. Assim, a extensão da Inovação num país seria avaliada pela proporção de empresas que introduzem no mercado produtos e/ou processos novos ou significativamente melhorados. Mas esta definição pode ser aplicada considerando unicamente o mercado em estudo, sendo que, nesse caso a aquisição de tecnologias/métodos inovadores no exterior é considerada inovação. No primeiro caso, a lista de patentes de um país seria um bom indicador. O segundo caso é mais difícil de quantificar. No caso de Cabo Verde, a segunda definição é a mais adaptada. Tendo em vista a competitividade, qualquer evolução qualitativa é bem-vinda independentemente da origem. Obviamente que, para além de aspirar a ter uma maior qualidade, os nossos bens e produtos terão que apresentar alguma novidade para poderem competir noutros mercados. Com uma indústria pouco expressiva e um grande número de empresas familiares e de pequena dimensão, a economia cabo-verdiana aparenta mais conservadorismo do que inovação. Algumas empresas, pela sua natureza lidam com tecnologias de ponta (telecomunicações) ou são obrigadas a adoptar essas tecnologias para se integrarem num mercado global (banca, transportes, turismo, entre outros). Um indicador do desenvolvimento tecnológico dos nossos produtos e serviços é a entrada em mercados altamente competitivos e tecnológicos, como é o caso da União Europeia e dos Estados Unidos. Neste caso, a indústria têxtil e de produtos do mar lideram, sendo sobretudo de realçar o esforço que foi necessário para que estes últimos pudessem entrar no mercado europeu. Não existem dados que permitam analisar a situação actual da inovação em Cabo Verde. Mas um dado importante para o futuro é que a aposta na inovação passa pela aposta na ligação entre o mundo empresarial e industrial e a comunidade cientifica e tecnológica, actualmente inexistente. 28

VIII. - CONCLUSÃO Em resumo pode-se concluir, perante os números constantes deste documento, que a C&T em Cabo Verde está ainda numa fase bastante embrionária. A produção é escassa e não há garantia de qualidade. Falta uma política coerente e uma distribuição mais eficaz dos meios humanos e materiais. E os quadros afectos a área estão maioritariamente absorvidos por outras tarefas e têm outros objectivos que a execução de actividades de C&T. O Estado sustenta, apesar de tudo, uma série de institutos cuja vocação é a investigação e desenvolvimento. Existe mesmo a impressão que se faz C&T em Cabo Verde, pecando por isso por uma fraca divulgação. Em projectos internacionais, os resultados desaparecem com o fim do período de execução. Em projectos nacionais a divulgação não parece ser uma prioridade. A principal conclusão deste estudo ficou a cargo dos participantes dos seminários de apresentação nas cidades do Mindelo e da Praia. As críticas foram divididas: por um lado, a falta de uma Visão Estratégica por parte do Estado foi considerado como um dos principais entraves ao desenvolvimento da C&T em Cabo Verde. Por outro lado, a atitude derrotista e pouco profissional da comunidade científica e tecnológica, foi também, duramente criticada. 29