PLANEJAMENTO E CONTROLE DO PROCESSO DE PROJETO PARA ALVENARIAS EM GESSO ACARTONADO, O DRYWALL E SEUS SISTEMAS COMPLEMENTARES. Gabriela NICOMEDES Arq, mestranda pelo PROARQ/ UFRJ. Av. Eng. Richard, no. 130, casa 10 - Grajaú, CEP 20561-090 Rio de Janeiro, RJ, Brasil - Correio eletrônico: gnico@uol.com.br Eduardo Linhares QUALHARINI D.Sc, prof. do PROARQ/ FAU/ UFRJ, Av. Brig. Trompowsky, s.n.- Centro de Tecnologia D-207, Cidade Universitária - Ilha do Fundão - Rio de Janeiro, RJ, Brasil - Correio eletrônico: qualharini@all.com.br RESUMO O presente trabalho é uma análise do sistema de construção a seco (drywall) e seus sistemas complementares, com ênfase nas vedações verticais; enfocando o processo de projeto, com o objetivo de direcionar para as características de desempenho e as suas limitações. Assim sendo, o produto final da fase de projeto, ou seja, o projeto executivo, será estudado como o coroamento de uma série de procedimentos específicos, utilizados no sistema de construção a seco, em um conjunto de proposições que possam melhorar o desempenho do produto final. Palavras-chaves: processo de projeto, tecnologia dos materiais, industrialização da construção. 1. RACIONALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL A necessidade de racionalizar a indústria da construção civil no Brasil é urgente, devido à situação econômica do país e do mundo, e esforços neste sentido vêm sendo realizados para cada etapa relacionada com a execução de uma edificação. Em função da competitividade do mercado, as etapas de projeto, de planejamento, e de execução, propriamente dita, estão sendo revistas em seus conceitos e modificadas, para atender às exigências de gerenciadores e usuários. Neste contexto, o projeto deve assumir um caráter tecnológico, devido às soluções presentes nos detalhamentos dos vários projetos elaborados, e um caráter gerencial, por sua função de apoio às decisões do planejamento da produção. (NOVAES, 2001). Para isso acontecer com mais amplitude, os métodos construtivos convencionais devem ser revistos e seus procedimentos racionalizados, e em alguns casos devem ser gradativamente substituídos por sistemas industrializados, que permitam que a obra transforme-se em uma linha de montagem - gerando rapidez, limpeza e economia, em seu processo. Assim, cada etapa de uma construção tem sua tecnologia e sistemas próprios, cabendo, então, estudos detalhados e complexos de viabilidade técnica. (CAPORIONI et al, 1971). Ainda, segundo Caporioni, a edificação industrializada se caracteriza pelo conjunto de procedimentos produzidos em série, partido também adotado por Corona E. e Lemos C. (in GAMBA, 1999), cujo objeto principal é a redução do tempo de trabalho, e conseqüentemente das etapas da obra. Portanto, este partido deve ser estruturado por um processo de projeto específico para o uso do gesso acartonado versus a execução de elementos de construção tradicional.
1.1 A racionalização do projeto Existe um vício profissional e cultural de projetar sempre para a alvenaria de tijolos, e quando surge o desafio de trabalhar com sistemas e exigências tecnológicas diferenciadas da tradição conhecida, os escritórios e profissionais envolvidos tem dificuldade de dominar o ato de projetar, detalhar e especificar para qualquer outro sistema construtivo, ainda mais quando este novo sistema construtivo exige a prática e domínio de um planejamento mais cuidadoso. Por outro lado, segundo NOVAES (op. cit.), o custo relativamente baixo das atividades do processo de projeto, oculta a verdadeira importância deste, na totalidade da economia da edificação. Com isso, deve haver uma grande modificação do ato de projetar edificações, pois de acordo com MASCARÓ (1998): - os projetos devem ser concebidos, desenvolvidos e detalhados especificamente para o sistema a ser adotado, e não adaptados no meio do processo para que determinado sistema se encaixe aos padrões pré-estabelecidos. Um agravante com relação ao sistema de construção a seco, em se tratando de uma tecnologia importada dos EUA (GAMBA, op. cit.), é a pouca experiência brasileira com o processo de montagem das vedações em gesso acartonado, fato que reflete diretamente no processo de projeto. Segundo NOVAES (op. cit.), a ausência de dados, ou mesmo a omissão, no conjunto dos projetos, de especificações e informações quanto à tecnologia inerente à execução das soluções propostas, assim como a ausência de informações que permitam a integração geométrica, tecnológica e produtiva entre componentes e subsistemas demonstra a importância da elaboração dos projetos voltados para a produção, relacionados com a caracterização do sistema construtivo e dos processos de trabalho empregados na produção. Portanto, os projetistas devem dominar o sistema e seu funcionamento, suas representações gráficas, com características e limitações, para evitar a ocorrência de patologias por mau detalhamento. 1.2 Mudanças de Atitude A expressão-chave para uma ampla mudança do ato de projetar é conhecer o controle de qualidade. O projetar deve deixar de ser um pensamento rápido de adequação a leis, normas e exigências de clientes e incorporadores, e passar a ser um documento fiel e respeitado durante a obra. O que significa a necessidade de uma maior parcela de tempo no papel, com mais horas de consultorias e estudos aprofundados, para que não haja posteriores ajustes aos imprevistos do canteiro, o que encarece e demanda soluções muitas vezes improvisadas e não ideais. A dissociação entre projeto e produção provoca, durante o processo de elaboração, omissões nos detalhamentos e ausência de completação na composição dos projetos resultantes, atribuindo à gerência da edificação, por conseqüência, indevida responsabilidade por decisões. (NOVAES, op. cit.). Neste contexto, o sistema de construção a seco, em especial as vedações em gesso acartonado, não permite uma flexibilidade de erros, tal como existe na alvenaria de tijolos cerâmicos, ou qualquer outra que contenha uma camada posterior de regularização (TANIGUTI et al, 2000). Os erros decorrentes de uma solução mal dada são somados a outros, até o comprometimento do aspecto geral da parede ou a incompatibilidade com as instalações complementares.
1.3- Logística de Montagem O esquema de montagem do gesso acartonado (drywall) deve começar, ainda em fase de projeto, onde serão especificados: - todos os tipos de placas; - todas as espessuras finais; - todas as dimensões dos montantes; - se existem isolamentos termoacústicos; - se a parede deve ser resistente ao fogo ou à umidade. Para representar o conjunto citado, existe uma nomenclatura padrão estabelecida por cada fabricante, onde basicamente são informados: a espessura final do painel (a) / a largura da estrutura (b) / a distância entre os montantes (c) - o tipo e a quantidade de painéis de gesso acartonado por face (d) - o tipo e a espessura do isolante (e), (se houver). - Ex: 95 (a) / 70 (b) / 600 (c) 1ST / 2ST (d ) LM 50 (e) Deve-se ressaltar que o desempenho da parede drywall varia conforme essas decisões de projeto. (TANIGUTI et al, op. cit.) Assim, como seqüência desta etapa, deve haver uma preocupação maior com a paginação das chapas/ placas de gesso acartonado, cujas emendas não podem coincidir com vãos de portas ou outros vãos que possam vir a sofrer esforços de vibração. O estudo da paginação também é importante para o cálculo de custos (POUBEL, 2001), e que podem aumentar sensivelmente conforme a decisão tomada. Portanto, no ato projectual, a especificação completa deve ser acompanhada de detalhes de montagem de cada parede, e enviados para a execução, com controles, que apresentem: - os pontos de início de paginação das chapas/ placas de gesso acartonado; - onde se situam os vãos em relação às emendas; - onde estarão os reforços internos para sobrecarga; - como serão distribuídas as instalações hidráulicas e elétricas, entre outras; - as características da parede no uso de ornatos e/ou aparelhos a serem chumbados para instalações complementares. Quanto aos sistemas complementares, estes também devem apresentar detalhes diferenciados em relação aos detalhes típicos desenvolvidos para a alvenaria de tijolos cerâmicos. Para o sistema drywall, deve-se buscar novos pontos de referência para a amarração dos condicionantes do projeto, assim como podem surgir novas interferências que devem ser cuidadosamente estudadas (GAMBA, 1999). A importância do projetista na fase dos projetos complementares não se resume à execução de detalhes especiais: cabe a ele, como personagem central da concepção de uma idéia, saber gerenciar e guiar os colaboradores (instaladores/fornecedores/outros) sobre qual a melhor forma de desenvolver as instalações para a alvenaria seca. Para tanto, é necessário que o
conhecimento sobre o sistema atinja, também, as questões técnicas pontuais de cada área, como a possibilidade de utilização de shafts horizontais, o caminhamento diferenciado que uma tubulação pode realizar, a existência de reforços para chumbadores, ou a previsão dos locais de visitas de manutenção. A compilação de todas as questões técnicas que se apresentam no decorrer de um processo de projeto torna-se muito mais simplificada, quando há o domínio da técnica a ser utilizada, e quando esta técnica é definida desde a concepção da idéia do uso do drywall. 2. CONSIDERAÇÕES A principal escolha que deve ser feita durante o processo de concepção de um projeto não é somente qual o material ou sistema construtivo que será utilizado, mas também se este material se enquadra no contexto econômico e social, para as atividades a que se destina. MASCARÓ (1998, apud TAUT, 1914) desde sua época sinaliza que, para se julgar o que tinha sido construído, outras questões tinham que ser estudadas, e uma das principais é se o projeto do edifício satisfaz às exigências sociais e financeiras daqueles que o vão habitar. A grande vantagem do desenvolvimento tecnológico da construção civil é a gama de possibilidades oferecidas para a resolução das questões sócio-econômicas, além das questões técnicas. Portanto, o drywall deve ser entendido e utilizado como mais uma opção em sistema construtivo, e juntamente com as outras inovações tecnológicas, não pode ser considerado como substituto dos sistemas tradicionais, devendo coexistir todas as opções e devendo o projetista oferecer soluções alternativas conforme a situação apresentada na interface do projeto. 3. PROPOSIÇÕES AO PROJETO DE GESSO ACARTONADO A mudança de atitude no projeto é de suma importância para que sistemas que demandam mais controle de execução sejam racionalmente montados, visto que toda linha de montagem necessita de uma estratégia de ação, prevista anteriormente na teoria. Como tal, recomenda-se: - Um controle rígido do andamento dos projetos complementares, ao passo que a arquitetura é desenvolvida considerando todas as interfaces, são atitudes que devem tornar-se corriqueiras nos escritórios; - Um traçado de uma sistemática de projeto pode ser considerado o primeiro passo para se obter o controle de todas as interferências que atuam na criação de uma edificação. - Normalização da comunicação entre os projetistas, que deve ser intensificada para que não ocorram desatualizações que comprometam o projeto; - Estabelecimento de um padrão de nomenclatura a ser adotado em todos os projetos, visto que cada fabricante adota uma nomenclatura própria. O ideal é a adoção de nomenclaturas universais que estabeleçam parâmetros para a comparação entre fabricantes, com o objetivo de não prender o projeto a padrões pré-estabelecidos por fornecedores. - Avaliação do executado pelos ensaios realizados no IPT, cujos resultados e tabelas revelam os diferentes tipos de placas de gesso acartonado, assim como os diferentes tipos de estrutura interna, com suas respectivas resistências, o que vêm a facilitar a identidade de criação de um padrão único para todos os fornecedores.
- Reconhecimento dos materiais e do sistema construtivo a serem utilizados, devendo ser este considerado o passo zero de um projeto, ou seja, o ponto de partida para a escolha da equipe de profissionais que tomará as decisões durante todo o processo de projeto. - Reconhecimento do potencial plástico, das características técnicas e limitações do sistema construtivo escolhido para uma edificação, como ponto fundamental para o sucesso do projeto, visto que as possibilidades e limitações podem ser trabalhadas, resultando em um produto final (a edificação) com menor custo de construção e melhor manutenabilidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPORIONI, GARLATTI, TENCA-MONTINI, La Coordinación Modular. Inst. Universidad de Arquitectura de Venecia. Editorial Gustavo Gilli S.A.- Barcelona, 1971. GAMBA, Teresa Cristina Agut, Sistemas Alternativos na Vedação das Edificações: o Drywall. Orientador: Eduardo Linhares Qualharini. Rio de Janeiro: UFRJ / PROARQ, 1999. 113p. Dissertação. (Mestrado em Arquitetura). IPT, Ensaios Tecnológicos: Paredes em Gesso Acartonado, disponíveis via INTERNET pelo site www.ipt.br, adquiridos em abril/2002. MASCARÓ, Juan Luis, O Custo das Decisões Arquitetônicas. Porto Alegre: Ed. Sagra Luzzatto, 1998. NOVAES,C.C., Projetos para Produção como Instrumentos da Melhoria da Qualidade do Processo de Projeto de Edificações.Construção 2001 Encontro Nacional da Construção: Lisboa, IST (Instituto Superior Técnico), 1998. POUBEL, Maria de Fátima Gouvêa, Gerenciamento de Custos no Sistema Construtivo de Gesso Acartonado, Drywall, II WBGPPCE: São Paulo, 2001.