Direito Penal PARTE ESPECIAL ESQUEMA I Prof. Raphael (Rá) 1 CAPÍTULO I DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Dos Crimes contra a Vida Fundamento constitucional Direito supraestatal, inerente a todos os homens e aceito por todas as nações, imprescindível para a manutenção e para o desenvolvimento da pessoa humana. Possibilidade lógica de restrições a direitos fundamentais. STF relatividade dos direitos fundamentais razões de relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio de convivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde que respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição, pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros. CP legítima defesa (art. 25) e o aborto legal (art. 128). Em tais casos, uma vida pode ser sacrificada para preservar outra, em face da ausência momentânea do Estado para a proteção de bens jurídicos, ou então para preservar a vida da gestante ou a sua dignidade, quando a gravidez resulta de estupro. Dos Crimes contra a Vida Espécies, competência e ação penal Homicídio Dispositivo legal
Estrutura do tipo penal Doloso: 2 simples (caput) privilegiado ( 1º) qualificado ( 2º): motivos do crime (incisos I e II); meios e modos de execução do crime (incisos III e IV); conexão (inciso V); feminicídio (inciso VI e 2º-A e 7º); homicídio funcional, policídio e policialicídio (inciso VII). circunstanciado ( 4º, 2ª parte, e 6º) Culposo: simples ( 3º) circunstanciado ( 4º, 1ª parte) perdão judicial ( 5º) Homicídio simples art. 121, caput Essa conduta que não aloja elementos normativos ou subjetivos, é composta por um núcleo e um elemento objetivo: Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de 6 a 20 anos. Conceito de homicídio É a supressão da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa. Curiosidade! A Bíblia nos relata a história do primeiro homicídio, cometido por Caim contra seu irmão Abel, em Gêneses, Capítulo 4, versículo 8. Caim agiu impelido por um sentimento de inveja, pois Deus havia se agradado da oferta trazida pelo seu irmão Abel e rejeitado a dele. Dessa forma, Caim chamou Abel para com ele ir ao campo e, lá, o matou. Pelo fato de ter causado a morte de seu irmão, Deus puniu Caim, amaldiçoando-o, fazendo com que passasse a ser um fugitivo e errante pela Terra. O conceito supracitado permite uma importante conclusão: a eliminação da vida humana não acarreta na automática tipificação do crime de homicídio. Homicídio simples e caráter hediondo Objetividade jurídica Vida humana exterior ao útero materno. Objeto material
Núcleo do tipo Verbo matar. 3 Crime de forma livre só comissiva, ou seja, só se pode praticar por ação? Sujeito ativo Sujeito passivo Do início do parto em diante haverá homicídio ou infanticídio (art. 123). Assim, será homicídio ou infanticídio a ocisão do feto durante o parto, hipótese chamada de feticídio. De acordo com parte da doutrina médica, o parto passa por quatro fases: 1ª) período de dilatação: contrações do útero. Em alguns casos, inicia-se com a ruptura do saco amniótico; 2ª) período expulsivo: inicia-se com o colo do útero completamente dilatado e termina com a expulsão do feto; 3ª) período de secundamento ou dequitadura: expulsão da placenta e membranas. 4ª) período de Greenberg: primeira hora depois da expulsão da placenta. Assim, da 1ª fase em diante a morte será considerada homicídio ou infanticídio. Frise-se, porém, que parte da doutrina penal sustenta que o parto se inicia com a expulsão do feto. Discordamos dessa posição. A entender assim, se o médico, por imprudência, vier a dar causa à morte do feto na primeira fase acima descrita (dilatação), haverá aborto culposo, e, diante da ausência de previsão legal da forma culposa, esse fato seria atípico. Somente haverá punição se causar a morte ou lesão corporal em relação à mulher. Sensacional! Elemento subjetivo Dolo, denominado de animus necandi ou animus accidendi. Não se reclama nenhuma finalidade específica. Admite-se o dolo eventual. No que tange ao dolo, importante destacar a diferença entre dolo direto de primeiro grau, dolo direto de segundo grau e dolo eventual. a) Dolo direto de primeiro grau: o agente tem a consciência (representação) que sua conduta causará um resultado e a vontade de praticar a conduta e produzir o resultado. O dolo abrange a produção do fim em si. Refere-se ao fim proposto. Exemplo: A efetua disparo de arma de fogo (conduta consciente e voluntária) em direção a B, pretendendo produzir a sua morte (resultado consciente e voluntário). Estudar! b) Dolo direto de segundo grau (dolo de consequências necessárias): previsão dos efeitos colaterais (resultado típico) como consequência necessária do meio escolhido. O sujeito prevê o delito como consequência inevitável para atingir outro fim proposto. Exemplo: o agente, para matar seu inimigo (fim proposto), coloca uma bomba no avião em que ele se encontra, vindo a matar, além do desafeto (dolo direto de primeiro grau), todos os demais que estavam a bordo como consequência necessária do meio escolhido (dolo direto de segundo grau).
c) Dolo eventual (dolo de consequências possíveis): o agente não quer o resultado, mas, representando como possível a sua ocorrência, não deixa de agir, assumindo o risco de produzi-lo. O sujeito pretende praticar uma conduta para atingir um fim proposto. Entretanto, prevê (representa; está consciente; antevê) que sua conduta tem a possibilidade de produzir, além do resultado pretendido, outro resultado. Mesmo assim, não deixa de agir, assumindo o risco da produção desse outro resultado. O agente prevê ("efetivo conhecimento") esse outro resultado como consequência possível de sua conduta. Exemplo 1: o autor arremessa um saco de entulho do 10 andar do seu apartamento visando a acertar a caçamba que se encontra na rua (fim proposto). Entretanto, prevê que pode atingir o pedestre que se encontra nas proximidades ('efetiva consciência' da possibilidade de produzir o resultado), principalmente por saber que não possui boa pontaria, mas, mesmo assim, não deixa de agir e pratica o arremesso, assumindo o risco de produzir o resultado, que realmente ocorre (morte do pedestre). Nesse caso, em relação à morte da vítima, há dolo eventual. Exemplo 2: o STJ já decidiu que ocorre dolo eventual na hipótese do agente que, imprimindo velocidade excessiva a veículo automotor (165 km/h), trafega em via pública urbana movimentada e provoca desastre que ocasiona a morte do condutor de automóvel que se deslocava em velocidade normal, à sua frente, abalroando-o pela sua parte traseira. 4 Consumação Dá-se com a morte (crime material), a qual se verifica com a cessação da atividade encefálica, como determina o art. 3º, caput, da Lei nº 9.434/97. Tentativa Art. 14 - Diz-se o crime: II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Pena de tentativa Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de 1/3 a 2/3. É possível a tentativa conatus de homicídio. Classificação doutrinária Simples atinge um único bem jurídico. Comum pode ser praticado por qualquer pessoal. Material o tipo contém conduta e resultado naturalístico, exigindo este último morte para a consumação. De dano reclama a efetiva lesão do bem jurídico. De forma livre admite qualquer meio de execução. Comissivo (regra) ou omissivo (impróprio, espúrio ou comissivo por omissão, quando presente o dever de agir).
Instantâneo consuma-se em momento determinado, sem continuidade no tempo, mas há também quem o considere instantâneo de efeitos permanentes. 5 Unissubjetivo (unilateral ou de concurso eventual) praticado por um só agente, mas admite concurso. Em regra, plurissubsistente a conduta de matar pode ser fracionada em diversos atos. Progressivo para alcançar o resultado final o agente passa, necessariamente, pela lesão corporal, crime menos grave rotulado nesse caso de crime de ação de passagem. Homicídio privilegiado art. 121, 1º Caso de diminuição de pena 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3. Natureza jurídica Trata-se de causa de diminuição de pena. Sendo assim, melhor seria sua denominação como homicídio 'minorado' e não 'privilegiado'. Assim, homicídio privilegiado é fruto de criação doutrinária e jurisprudencial trata-se de uma causa de diminuição de pena. Incomunicabilidade do privilégio Direito subjetivo do condenado Homicídio privilegiado e Lei dos Crimes Hediondos Não é, por ausência de amparo legal. Circunstâncias que ensejam o reconhecimento do privilégio 3 O DP é o ramo do ordenamento jurídico que mais possui raízes e preocupações éticas, e, por esse motivo, acentua-se cada vez mais a significação dos motivos determinantes do crime. O motivo é o antecedente psíquico da ação, a força que põe em movimento o querer e o transforma em ato: uma representação que impele à ação. Motivo de relevante valor social Interesse da coletividade. Exemplo: a morte do traidor da pátria ou o estuprador que aterroriza as mulheres e crianças de uma pacata cidade do interior. Motivo de relevante valor moral Interesse particular do agente, mas apurado de acordo com os princípios morais da sociedade. Interesse particular do responsável pela prática do homicídio, aprovado pela moralidade prática e considerado nobre e altruísta.
O tratamento jurídico-penal da eutanásia Palavra de origem grega que significa boa morte. 6 A vida é um direito indisponível, razão pela qual não se admite a construção de causa supralegal de exclusão da ilicitude fundada no consentimento do ofendido. Importante! a) Eutanásia em sentido estrito modo comissivo de abreviar a vida de pessoa portadora de doença grave, em estado terminal e sem previsão de cura ou recuperação pela ciência médica homicídio piedoso, compassivo, médico, caritativo ou consensual. b) Ortotanásia eutanásia por omissão omissiva, moral ou terapêutica. O médico deixa de adotar as providências necessárias para prolongar a vida de doente terminal, portador de moléstia incurável e irreversível. Distanásia é a morte vagarosa e sofrida de um ser humano, prolongada pelos recursos oferecidos pela medicina. Não é crime, por se tratar de meio capaz de arrastar a existência da vida humana, ainda que com sofrimento, até o seu fim natural. P! Domínio de violenta emoção Homicídio emocional crime de ímpeto. Mas não basta a emoção. O CP reclama a presença de 3 requisitos cumulativos: a) domínio de violenta emoção b) injusta provocação da vítima. É o comportamento apto a desencadear a violenta emoção e a consequente prática do crime. Significado! c) logo em seguida (reação imediata). Requisito relacionado à imediatidade entre a injusta provocação e a reação. Privilégio e atenuante genérica distinções: Privilégio: art. 121, 1º Homicídio doloso Domínio de violenta emoção Injusta provação da vítima Reação de imediatidade: logo em seguida Atenuante genérica: art. 65, III, c Qualquer crime (inclusive no homicídio doloso, na ausência de um ou mais requisitos do privilégio) Influência de violenta emoção Ato injusto da vítima Em qualquer momento Domínio de violenta emoção e erro na execução Domínio de violenta emoção e premeditação Domínio de violenta emoção e dolo eventual Homicídio híbrido
Homicídio qualificado art. 121, 2º Espécies de qualificadoras 7 motivos do crime (incisos I e II); meios e modos de execução do crime (incisos III e IV); conexão (inciso V); feminicídio (inciso VI e 2º-A e 7º); homicídio funcional, policídio e policialicídio (inciso VII). Qualificadoras e concurso de pessoas Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe (inciso I) Comunicabilidade da qualificadora ao mandante Motivo fútil (inciso II) Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum Inciso III À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido inciso IV Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime inciso V Feminicídio (inciso VI) Homicídio funcional (inciso VII) Questões pontuais Pluralidade de qualificadoras Homicídio e parentesco Qualificadoras e dolo eventual A questão da premeditação Homicídio culposo (ART. 121, 3 ) Tipo penal aberto. Causas de aumento de pena no homicídio culposo (art. 121, 4º, 1ª parte)
Causas de aumento de penal no homicídio doloso (art. 121, 4º, 2ª parte) 8 PERDÃO JUDICIAL (ART. 121, 5 ) CAUSA DE AUMENTO ACRESCENTADA PELA LEI DE EXTERMÍNIO DE SERES HUMANOS (ART. 121. 6 ) CAUSA DE AUMENTO ACRESCENTADA PELA LEI N 13.104, DE 09/03/2015 (ART. 121, 7 ) Situações específicas Homicídio e crime continuado. Homicídio e aborto: como já mencionado, ocorrerá aborto e não homicídio se houver a morte do feto na fase intrauterina. Assim, após o início do parto (rompimento do saco amniótico) ocorrerá homicídio ou infanticídio. Homicídio e lesão corporal seguida de morte: no homicídio, o agente quer o resultado morte (dolo direto) ou assume o risco de sua produção (dolo eventual). No crime de lesão corporal seguida de morte (art. 129, 3º), o agente não quer o resultado morte, nem assume o risco de produzi-lo. Homicídio e latrocínio (art. 157, 3º, in fine): Homicídio e extorsão mediante sequestro qualificada pela morte (art. 159, 3, in fine): se do sequestro resulta morte, o agente responderá pelo art. 159, 3. Neste caso, a finalidade do agente é o sequestro. A morte pode ser por dolo (direto ou eventual) ou por culpa. Genocídio: "Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo (...). Será punido: com as penas do art. 121, 2, do Código Penal, no caso da letra a": art. lº da Lei n 2.889/56. Crime militar: arts. 205 (homicídio doloso) e 206 (homicídio culposo) do CPM (Decretoei n i.001/69). Matar Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal: art. 29 da Lei n 7.170/83. Nos termos do art. 2 da Lei n 7.170/83, quando o fato estiver também previsto como crime no Código Penal, no Código Penal Militar ou em leis especiais, levar-se-ão em conta, para a aplicação da referida lei: 1- a motivação e os objetivos do agente; li - a lesão real ou potencial aos bens jurídicos mencionados no artigo anterior.