A MODULARIDADE NO PROCESSO DA LOGÍSTICA REVERSA COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA



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A MODULARIDADE NO PROCESSO DA LOGÍSTICA REVERSA COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA Jean Mari Felizardo - felizardo@ppgte.cefetpr.br Mestrando em Tecnologia Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE/CEFET-PR. Av. Sete de Setembro, 3165, bloco D, 3 andar, 80.230-901, Centro, Curitiba, Paraná, Brasil. Kazuo Hatakeyama - kazuo@ppgte.cefetpr.br Prof. Dr. em Engenharia Mecânica - Programa de Pós-Graduação em Tecnologia PPGTE/CEFET-PR. Av. Sete de Setembro, 3165, bloco D, 3 andar, 80.230-901, Centro, Curitiba, Paraná, Brasil Resumo O objetivo deste estudo foi estabelecer a inserção da logística reversa utilizando o processo de modularidade, visto que é uma nova estratégia de mercado para as indústrias. Para isto, foi explicitada a logística reversa como fator chave de sucesso, como também a importância de inovação e tecnologias apropriadas no contexto produtivo. Em seguida, foram apresentadas empresas nacionais e internacionais que utilizam a logística reversa em função de sua modularidade como novo modelo de flexibilidade na cadeia de produção, objetivando o desenvolvimento sócio-econômico do país, além de ferramenta como diferencial competitivo. Palavras-chave: Ciclo de Vida do Produto; Estratégia Competitiva; Logística Reversa; Modularidade; Supply Chain Management. 1. INTRODUÇÃO A modularidade surgiu como vantagem competitiva na indústria de computadores na década de 60, demonstrando grande importância no processo de desenvolvimento de produto. Este conceito já é usado na produção desde o início do século XX, porém, seu uso em projetos é uma tendência atual, não só no ramo de tecnologia da informação, mas também na indústria em geral. Esta é uma tendência crescente nas indústrias, devido em grande parte a complexidade de seus produtos e a dificuldade de controle de seus fornecedores. Assim, o objetivo deste estudo foi estabelecer conexão entre a logística reversa e a modularidade, através da terceirização de partes dos projetos de Cadeia de Distribuição Reversa como fator chave de produção para desenvolver um novo nicho de mercado para as indústrias, além de evitar e/ou diminuir a degradação ambiental. 2. LOGÍSTICA: FATOR CHAVE DE SUCESSO A economia brasileira, e porque não dizer, a mundial, teve recentemente, um período de expansão, mas, em se tratando de Brasil, isso ocorreu simultaneamente com os altos índices inflacionários, acarretando problemas diversos, entre eles a recessão. Nessas circunstâncias, os setores produtivos e população voltam-se para o Governo, buscando apoio e assistência para sua sobrevivência. No entanto, a que se considerar outras possibilidades. Para Dias,

(...) essa é uma boa hora de rever conceitos e criar novos paradigmas, principalmente na indústria: A economia deveria considerar a possibilidade de uma revisão crítica de seus próprios padrões de operação. Se puder eliminar os elementos ineficientes de sua estrutura e concentrar-se na melhoria da qualidade de sua operação, é possível que as políticas adotadas para que sobreviva, a levem ao crescimento (1986, p. 15). Esse pensamento resume bem a realidade e ainda propõe modificações altamente benéficas às empresas sérias. Segundo Dias, para implantar melhoramentos na estrutura industrial, basta dinamizar o sistema logístico (id.). Esse sistema engloba o suprimento de materiais e componentes, a movimentação e o controle de produtos e o apoio ao esforço de vendas dos produtos finais. No Brasil, somente agora os administradores modernos estão reconhecendo a necessidade de se estabelecer um conceito bem definido de logística, uma vez que começam a compreender melhor o fluxo contínuo de materiais, as relações tempo-estoque na produção, na distribuição e dos aspectos relativos ao fluxo de caixa no controle de materiais. Dias continua discorrendo sobre o tema, quando afirma que, a verdade é que o enfoque da administração está mudando o tradicional produza, estoque e venda, para um conceito mais atualizado, que envolve definição de mercado, planejamento do produto e apoio logístico (...). Além disso, os administradores também estão reconhecendo que devem coordenar suprimentos, produção, embalagem, armazenagem, transporte, comercialização e finanças em uma atividade de controle global, capaz de apoiar firmemente cada fase do sistema com um máximo de eficiência e um mínimo de capital empatado. Essa abordagem dá ênfase crescente a um controle que possa atuar com rapidez e precisão, tornando a departamentalização ultrapassada (ibid., p. 15-16). Pretendendo jogar um pouco mais de luz sobre esse tema, pode-se definir a Logística Empresarial como sendo todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviços adequados aos clientes a um custo razoável (Ballou, 1993, p. 24). Tendo esta definição, para este estudo será dada ênfase na Logística Reversa. Os Canais de Distribuição Reversos (CDR) constituem-se de diferentes alternativas de comercialização dos materiais captados de pós-consumo ou dos resíduos industriais até a sua reutilização, como um produto ainda em condições de uso ou através da reciclagem de seus materiais constituintes (Ballou, 1993). A quantidade de bens descartados pela sociedade tem aumentado drasticamente nas grandes metrópoles e nas últimas décadas, esgotando as capacidades dos sistemas de disposição final tradicionais dos bens de pós consumo, os aterros de diversas classificações e a incineração, obrigando a um novo equacionamento para estes materiais, aumentando os custos ecológicos a serem pagos pela sociedade. Fonte de Resíduos Fonte de Materiais Reciclados Alternativas de Disposição Final Materiais Virgens INDÚSTRIA Produtos e Materiais Comércio Atacado/Varejo Reciclagem Industrial Processamentos Diversos Coletas Diversas Poluição Direta (contaminação) Destino Não Seguro (poluição) Destino Seguro (não poluente) Poluição Indireta (excesso) Consumidores Reuso Pós-Consumo: Produtos e Materiais Figura 1. Canais de Distribuição Reversos: ciclo de vida ampliado FONTE: Leite, 2000, p. 3.

A figura 1 resume o fluxo dos produtos e materiais em uma visão ampliada de seus ciclos de vida, com o acréscimo da cadeia produtiva reversa e suas principais etapas de comercialização. Introduz a idéia de destino seguro e não seguro dos pós-consumos, bem como explicita as conseqüências finais dos descartes não seguros, na sua forma direta ou contaminante e na sua forma indireta provocada pelo acúmulo de pós consumo. Sendo assim, a Logística Reversa é uma nova área da Logística Empresarial, que se preocupa em equacionar a multiplicidade de aspectos logísticos do retorno ao ciclo produtivo destes diferentes tipos de bens industriais, dos materiais constituintes dos mesmos, bem como dos resíduos industriais através de reutilização controlada do bem e de seus componentes ou da reciclagem dos materiais constituintes, dando origem a matérias-primas secundárias que se reintroduzirão ao processo produtivo (Leite, 2000). 3. TECNOLOGIA APROPRIADA COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA PARA AS EMPRESAS Os países industrializados desenvolveram tecnologias que satisfazem a produção de bens e exigências dos mercados deles, enquanto levando em conta problemas específicos relacionaram a própria disponibilidade de trabalho, matérias-primas, economia, legislação etc. Quando os países em desenvolvimento compram tecnologias, pensando alcançar desenvolvimento tecnológico e independência industrial, não estão freqüentemente atentos ao fato de que qualquer tecnologia só é necessariamente satisfatória (apropriado) na ocasião e para o lugar onde foi desenvolvida. As tecnologias apropriadas não deveriam ser consideradas como uma alternativa ao desenvolvimento de tecnologia moderna (ou para transferência de tecnologia), mas como um complemento para isto. Deveria ser possível conciliar as tecnologias que são apropriadas porque elas ajustaram as necessidades sociais, culturais e ambientais de um grupo com essas tecnologias modernas. O acordo entre preocupações sociais e econômicas deveria guiar o uso de tecnologias, de forma que levem em consideração o ser humano. A tecnologia moderna é conduzida erradamente como a solução para qualquer problema. A sociedade ocidental é extremamente míope quando procura soluções para seus problemas. Agrada-se com soluções momentâneas, não importa os problemas que elas possam causar no futuro (as vezes muito pior que esses que estão resolvendo agora). Está claro que a sociedade ocidental vê mudanças tecnológicas como algo essencialmente positivo, mas, infelizmente, tecnologia não pode propor soluções a todos os danos que os homens têm causado para o planeta e também não é capaz de assegurar que os efeitos ruins da tecnologia, em algumas áreas, necessariamente serão neutralizados pela introdução de produtos novos e até de novas tecnologias. Há uma grande discussão sobre esse legado para gerações futuras, porque as pessoas não pensam que a tecnologia vai fracassar, provendo assim as soluções esperadas, quando dela necessitam realmente. Entretanto, pode-se colocar a possibilidade da modularidade como um processo tecnológico apropriado para a competitividade no mercado global, com respeito a pontos de vista sociais, culturais e ambientais. 4. INOVAÇÃO PARA O AVANÇO SOCIAL DO BRASIL Os atuais avanços tecnológicos conduzem para uma nova era: a do conhecimento, onde as vidas, inclusive os negócios, sofrerão intensas modificações. Em um cenário marcado por rápidas mudanças, riscos e incertezas onde a procura por inovações e pela capacidade de se tomar decisões imediatas, sem apoio em normas preestabelecidas é crescente -, a habilidade de criar constitui um dos recursos mais precisos. Inovar significa introduzir algo novo. Atendendo-se a etimologia, inovar é menos do que criar, já que a criação pede, além de se ter o novo, que ele também seja valioso. Diz-se que inovar não é apenas conceber as idéias e projetos, porém também realizá-los.

Os termos criatividade e inovação têm sido usados de muitas maneiras diferentes, e inúmeras são as definições já propostas para ambos os termos. Para os propósitos deste, pode-se considerar a inovação como o processo que resulta na emergência de um novo produto, bem ou serviço, aceito como útil. RECURSOS MATERIAIS CONHECIMENTO IDÉIA CRIATIVA MOTIVAÇÃO INOVAÇÃO VANTAGEM COMPETITIVA E/OU OUTROS BENEFÍCIOS FONTE: O autor. Figura 2. Fatores necessários à Inovação A criatividade sugere que é preciso: renovar-se, renascer, ou seja, nascer a cada dia; produzir coisas valiosas que sejam aceitas pelos demais e que perdurem; buscar o auto-desenvolvimento através do valor da audácia e da aceitação de riscos; ter agilidade para se adaptar; perceber a multiplicidade e a riqueza das alternativas; ter fina sensibilidade para as situações e problemas. Por vontade própria ou por necessidade de inserção no contexto Latino Americano e mundial, o Brasil de hoje passa por um período de transformações rumo à modernidade. Apesar do sentido muito amplo desta modernidade, existem aspectos em relação ao tema que vêm se consolidando como unanimidade nacional, um consenso que existe em termos de idéias de desestatização, desregulamentação, abertura de fronteira, maior integração com mercados externos, qualidade, produtividade, etc. Através de várias ações concretas, o governo brasileiro, tem estimulado a sociedade nesta direção e é reconfortante observar a profunda mudança de mentalidade que se processa no meio empresarial e em toda a sociedade de uma maneira geral. Hoje em dia, é muito difícil, encontrar empresários que não estejam engajados nessas mudanças, que não aceitam a concorrência externa como estímulo à sua melhoria constante. Ao mesmo tempo em que se reconhece esta importante mudança, porém, convive-se atualmente em uma conjuntura político-econômica muito difícil. Como então compatibilizar os ideais de modernidade descrita em um contexto tão adverso? A resposta pode ser: com inovação! Essa palavra tem sido muito utilizada, com situações ou problemas de difícil resolução. 5. MODULARIDADE: NOVO MODELO DE FLEXIBILIDADE NA CADEIA DE PRODUÇÃO A modularidade é uma estratégia para construir processos ou produtos complexos a partir de pequenos subsistemas que podem ser desenvolvidos individualmente, mas que funcionam como um conjunto integrado.

A modularidade, baseada nas interações com o produto e/ou processo, pode ser dividida em três categorias: (Baldwin e Clark, 1997) Component-swapping modularity: ocorre quando dois ou mais diferentes módulos são combinados com uma plataforma básica, criando variantes de produtos pertencentes à mesma família; Compontent-sharing modularity: é o caso complementar ao anterior. Várias plataformas básicas, dividindo o mesmo módulo, formam diferentes variantes de produto pertencentes a diferentes famílias; Bus modularity: ocorre quando uma plataforma básica pode ser trocada por um ou vários módulos. Este tipo permite a variação no número e na localização dos módulos. Independente da categoria, a modularidade possibilita que se tenha uma gama variada de produtos, com respostas rápidas às mudanças de desejo e necessidades dos consumidores. Os engenheiros têm maior liberdade para projetar seus módulos, sem dependência direta de outras etapas de projeto. Devido a esta independência, aumenta-se a intensidade de inovações no projeto, pois os engenheiros podem criar e testar diferentes soluções dentro de seus próprios módulos, devendo respeitar somente as regras visíveis ou interfaces do sistema. Outro reflexo imediato é o alcance mais rápido de soluções melhoradas, pois os problemas são resolvidos com maior facilidade. Com este novo modelo flexível, o produto modular facilita a logística/distribuição com a diminuição de fornecedores, através da delegação de subsistemas menores aos fornecedores dos módulos. 6. A MODULARIDADE NA LOGÍSTICA REVERSA COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA Na atual fase da globalização e inovação, as empresas devem buscar a competitividade e produtividade. Essa modernização, faz com que ocorra mudança nos sistemas produtivos e no gerenciamento da cadeia de produção. Para isto, a modularidade pode prover a cadeia de logística reversa para a competitividade em contra ponto com o acirramento do mercado. Os sistemas produtivos devem cada vez mais produzir inúmeros produtos com características diferentes, para diversos clientes e em menor tempo e custo, mantendo sempre a qualidade exigida pelo cliente. Para isto, a logística é um fator determinante para o novo Gerenciamento da Cadeia de Produção (Supply Chain Management), pois a logística é o processo de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, serviços e informações, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do consumidor, ou seja, o produto certo, deve estar no lugar certo, na hora certa e para o cliente certo. Atualmente, não basta somente fabricar novos produtos com alto índice de qualidade, tecnologia e menor custo. É preciso se preocupar com o grande volume de produtos que são projetados e produzidos num tempo menor e com um ciclo de vida mais curto. Com a diminuição do ciclo de vida, há um aumento significativo de material descartado no meio ambiente, sem se preocupar com a degradação que estes materiais ocasionarão no decorrer de sua obsolescência. Pensando nisto, a inserção da logística reversa na cadeia de produção é fundamental para evitar e/ou diminuir a degradação do meio ambiente, como também, um novo nicho de mercado para as empresas. A logística reversa tem como objetivo a gestão integral do fluxo de retorno das embalagens, produtos e/ou resíduos industriais para a cadeia produtiva, ou seja, a gestão e distribuição de material descartável. De acordo com o ramo da atividade, as empresas podem inserir o processo da logística reversa utilizando a modularidade, que é uma estratégia para construir processos ou produtos complexos a partir de pequenos subsistemas que podem ser desenvolvidos individualmente, mas que funcionam como um conjunto integrado. O projeto de logística reversa tem inúmeras fases, tais como: coleta,

transporte, recondicionamento, reutilização, reciclagem, substituição de partes do produto, desmanche e/ou descarte controlado. Processo Logístico Reverso Retornar ao Fabricante Revender (2 mão) Materiais Secundários Recondicionar Reutilizar Expedir Embalar Coletar Reciclar Desmanche Descarte Controlado Figura 3. Atividade do Processo Logístico Reverso FONTE: Lacerda, 2002, p. 4. (adaptado pelo autor) Como não se tem exatamente a quantidade de oferta de materiais reciclados, permitindo a continuidade industrial necessária, o processo da logística reversa pode utilizar a modularidade. Utilizando para isto a terceirização de partes do processo logístico por empresas especializadas de acordo com o produto descartado, pois, conforme o produto a empresa fabricante e mesmo as terceirizadas podem fazer uma ou mais atividades do produto descartado, o que representa uma economia em termos de volume a ser operacionalizado e transportado. Vale ressaltar que são pequenos subsistemas que desenvolvem operações diferentes, mas que os mesmos mantém o equilíbrio do sistema integrado. (...) o todo acha-se em estado de equilíbrio se e somente se cada parte se achar em estado de equilíbrio nas condições proporcionadas pela outra parte (Ashby, 1970, p. 96). Em nível mundial tem-se a empresa Xerox que utiliza o Canal de Distribuição Reverso em função de sua modularidade. Na comercialização de suas copiadoras, a Xerox nos Estados Unidos utiliza 50 centros de distribuição reversos operados por empresas terceirizadas, dois centros nacionais de distribuição reversa e diversas plantas de remanufatura ao longo do país. Na venda de uma nova máquina, a data de entrega e de desinstalação são planejadas e executadas pelas empresas terceirizadas nos diversos centros de distribuição conciliando as operações. Estas empresas se encarregam da desinstalação de produtos usados, da seleção e do destino a ser dado aos produtos e componentes. Em alguns casos, os equipamentos serão submetidos a reparos nos centros de distribuição regionais e destinado à locação de equipamentos usados, enquanto em outros casos o equipamento é enviado para um dos centros nacionais de distribuição reversa, onde serão realizados nova seleção e destino. Caso sejam modelos de grande venda nos Estados Unidos, a decisão poderá

ser a de transportá-los a uma planta de remanufatura, onde será executada a desmontagem completa com reaproveitamento dos componentes em condições de uso em novos equipamentos. Aqueles considerados sem condição de uso serão vendidos como sucata para a reciclagem dos materiais constituintes (Leite, 2002). Este é um exemplo de empresa em que a logística reversa e os cuidados na montagem da rede reversa em nível internacional fazem parte da estratégia empresarial com excelentes resultados. No Brasil, mais especificamente no Paraná, pode-se citar a empresa BS Colway que utiliza a logística reversa em função de sua modularidade. A BS Colway fabrica pneus a partir de carcaças do produto que são importadas da Europa e dos Estados Unidos. A mesma se encarrega de retirar pneus velhos das ruas e lixões de todo o Estado, através de empresa terceirizada. Após o transporte, os pneus são triturados pela BS Colway em pedaços de 80cm, finalizando o processo com o transporte destes pedaços para São Mateus do Sul, onde fica a Usina do Xisto da Petrobrás. Lá, são aproveitados para a produção de óleo combustível e gás. Após a retirada do óleo, os gases do xisto passam por outro processo de limpeza para a retirada do óleo leve, e o restante é encaminhado para a unidade de tratamento de gases, onde são produzidos mais dois tipos: o gás combustível e o GLP (gás liquefeito de petróleo). Nesta etapa é feita a recuperação do enxofre. O resíduo é misturado ao xisto já beneficiado e levado para as cavas da mina para ser recoberto por uma camada de argila e solo vegetal, permitindo assim a utilização da área para a criação de animais, plantio ou urbanização sem comprometer o meio ambiente. O processo não é poluente, uma vez que não há queima do pneu, apenas são extraídos óleo, gás e enxofre. A inserção da modularidade neste processo pode desenvolver inúmeros negócios, visto que a capacidade deste processo é de reciclar 27 milhões de pneus por ano, mas atualmente está operando com apenas 12% da capacidade, isto porque não se tem pneus suficiente para realizar o processo. As empresas que picam os pneus pagam R$ 0,30 por pneu de automóvel e R$ 1,00 pelo do caminhão. Isto gera um incentivo, pois cria a oportunidade para que pessoas de baixa renda possam trabalhar e receber algum dinheiro, diz o gerente Élio Paes (Revista, 2002, p. 47). Deste modo, a BS Colway está de acordo com a determinação legal do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), sendo que a resolução 258 de 26 de agosto de 1999 estabelece que as empresas fabricantes e as importadoras de pneus são obrigadas a coletar e dar destinação final, ambientalmente adequada, aos pneus inservíveis, proporcionalmente às quantidades fabricadas e importadas. Nesse ano de 2002, para cada quatro pneus novos fabricados ou importados, os fabricantes e os importadores deverão dar destinação final a um pneu inservível; essa proporção vai aumentando a cada ano, sendo que em janeiro de 2005, para cada quatro pneus fabricados e importados, os fabricantes e importadores deverão dar destinação final a cinco inservíveis. Com esta atitude responsável da BS Colway, a mesma recebe o respeito da sociedade e ganha credibilidade, além de ser um diferencial competitivo. 7. CONCLUSÃO A revalorização logística dos equipamentos usados garantidos pela rede reversa até as consolidações em centros de distribuição reversos especializados, leva a revalorização econômica e tecnológica pelo reuso de seus equipamentos e componentes, e a revalorização ecológica, reduzindo o impacto ao meio ambiente, obtendo um resultado positivo em sua imagem corporativa junto aos clientes e à sociedade em geral. A modularidade inserida no sistema logístico é a chave fundamental para as empresas obterem vantagem competitiva. Isto porque tem-se no gerenciamento deste processo uma flexibilidade maior, aumento da qualidade, redução de custo e um aumento na capacidade de inovar, conseqüentemente, aumentando a competitividade das empresas.

8. REFERÊNCIAS Ashby, W. Ross., 1970, Introdução à cibernética, Tradução: Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva. Baldwin, C. Y; CLARK, C. B., 1997, Managing in age of modularity, Harvard Business Review, Cambridge, Set./Out. Ballou, Ronald H., 1993, Logística empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física, São Paulo: Atlas. Dias, Marco Aurélio Pereira., 1986, Administração de materiais: uma abordagem logística, São Paulo: Atlas. Lacerda, Leonardo., 2002, Logística reversa: uma visão sobre os conceitos básicos e as práticas operacionais, Disponível em: <http://www.cel.coppead.ufrj.br/fs-pesquisa.htm>. Leite, Paulo Roberto., 2000, Canais de distribuição reversos: fatores de influência sobre as quantidades recicladas de materiais, In: SIMPÓSIO DE ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO, LOGÍSTICA E OPERAÇÕES INTERNACIONAIS, 3., 2000, São Paulo. Anais... São Paulo: EAESP/FGV, p. 1-12.., 2002, Logística reversa: nova área da logística empresarial, Revista Tecnologística. São Paulo, 2 parte, p. 38-42. Revista Meio Ambiente Industrial, 2002, Petrobrás atinge marca de 1 milhão de pneus velhos reciclados, ano VI, 36. ed., n. 35, Tocalino, mar./abr. 2002.

MODULARITY IN THE PROCESS OF THE REVERSE LOGISTICS AS A COMPETITIVE STRATEGY Jean Mari Felizardo - felizardo@ppgte.cefetpr.br Master in Technology - Program of Masters Degree in Technology PPGTE/CEFETPR Av. Sete de Setembro, 3165, bloco D, 3 andar, 80.230-901, Centro, Curitiba, Paraná, Brazil. Kazuo Hatakeyama - kazuo@ppgte.cefetpr.br Prof. Dr. in Mechanical Engineering - Program of Masters Degree in Technology PPGTE/CEFETPR Av. Sete de Setembro, 3165, bloco D, 3 andar, 80.230-901, Centro, Curitiba, Paraná, Brazil. Abstract The objective of this study was to establish the insert of the reverse logistics using the modularity process, because it is a new market strategy for industries. For this, it was explained the reverse logistics as key factor of success, as well as the importance of innovation and appropriate technologies in the context of production. National and international companies that use the reverse logistics as a function of modularity as new model of flexibility in the production chain, aiming at the socioeconomic development of the country, besides tool as competitive differential are also presented to clarify the concept of reverse logistics. Keywords: Competitive Strategy; Modularity; Product s Life Cycle; Reverse Logistics; Supply Chain Management.