Resumo A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E A PRÁTICA DE ENSINO EM GEOGRAFIA Maria Angélica Nastri de Carvalho - UNISANTOS O objetivo do trabalho é discutir quais as percepções do professor de Geografia sobre sua formação acadêmica e, principalmente, sua preparação para a docência, buscando compreender aspectos fundamentais como o da escolha profissional e o da visão que os entrevistados têm sobre sua formação inicial e continuada. O foco central, no entanto, diz respeito à questão da disciplina de Prática de Ensino em Geografia. Foram realizadas três entrevistas e foi utilizada a análise de conteúdo (BARDIN, 2007) como referencial teórico-metodológico, considerando-se a expressão verbal dos professores como essencial para a compreensão dos problemas de formação e de início de carreira desses sujeitos. Destacaram-se três categorias de respostas, a saber: 1ª a escolha profissional, abordando as razões para a escolha de ser professor de Geografia e identificando as influências externas para a respectiva escolha; 2ª a formação de professor, levantando-se os pontos positivos e negativos da formação, além de algumas experiências iniciais na carreira; e 3ª as aulas de Prática de Ensino em Geografia, destacando como eram as aulas e os estágios. Os resultados preliminares apontam para questões importantes sobre a formação desses professores, tais como: 1ª a disciplina de Prática de Ensino pouco ou nada ajuda na formação profissional; 2ª a formação acontece dentro das salas de aula, na prática do trabalho docente; 3ª a formação acontece em paralelo às necessidades, que vão aparecendo no campo profissional; e 4ª a formação profissional continua sendo realizada por meio de cursos e de práticas do dia a dia, sem interferência do poder público. Por fim, os dados indicam que uma formação para mudança depende de uma política de formação que contribua para que se denuncie o burocratismo, tanto na formação superior, quanto nas práticas das Escolas, incentivando-se uma formação mais crítica, e desenvolvendo-se estágios, que se articulem com as Escolas. Palavras-chave: Formação de Professores de Geografia; Formação Inicial e Continuada Prática de Ensino em Geografia. Introdução A prática de ensino tem sido considerada com um dos elementos mais valorizados na formação dos professores, como em seu exercício profissional, conforme destacam vários autores (NÓVOA, 1995; ABDALLA, 2006; MENDONÇA; MENDONÇA, 2009). E, nesta perspectiva, as ideias expostas aqui representam resultados preliminares de dados coletados junto a três professores de Geografia, com o intuito de rever a questão da formação desses professores e de como realizam suas práticas docentes. O texto discute quais são as percepções que esses professores têm sobre sua formação acadêmica e, principalmente, sua preparação para começar o trabalho docente, enfocando a disciplina de Prática de Ensino em Geografia. 00789
2 Foram realizadas entrevistas com professores com mais de vinte anos de experiência no magistério. Procuramos entender como, depois de tantos anos, eles veem ou reveem sua formação e a disciplina de Prática de Ensino. Trata-se, assim, de uma pesquisa de abordagem qualitativa, e que se utiliza da análise de conteúdo (BARDIN, 2007) como referencial teórico-metodológico. Nesta direção o texto se divide em três partes. Iniciase com os referenciais teóricos e os procedimentos metodológicos da pesquisa; em seguida, aborda a análise dos resultados e, por último, tece as considerações finais. Do referencial teórico aos procedimentos metodológicos É fato que a formação de professores, seja inicial ou continuada, não é suficiente e também não recebe a devida atenção por parte dos governantes. Como destaca Saviani (2011, p. 10), o que se revela permanente é a precariedade das políticas formativas, cujas sucessivas mudanças não lograram estabelecer um padrão minimamente consistente de preparação docente para fazer face aos problemas enfrentados pela educação escolar em nosso país. Entretanto, como afirma Nóvoa (1995, p. 21), o professor se afirma profissionalmente, mas a afirmação profissional do professor é um percurso repleto de lutas e conflitos, de hesitações e recuos. Estas questões foram contribuindo para que pensássemos um pouco mais na formação e na prática do professor de Geografia. Também, se considerarmos que a formação se dá na prática desse professor, não dá para excluir a Escola, enquanto contexto da produção e profissionalização docente, como afirma Abdalla (2006, p. 59-60), de modo a entender como os professores aprendem na Escola (p. 60). E os entrevistados reconhecem que a formação principal aconteceu no ambiente escolar, confirmando que a escola é o seu lugar de formação, e que foi lá que eles aprenderam a dar aulas. Mostram, assim, a importância da Escola enquanto campo de saberes científicos, pedagógicos, culturais e político-sociais, como destaca Abdalla (2006). E, nesta perspectiva, concordamos, também, com a autora, quando se refere à escola como espaço de ser e estar do professor e como locus da ação e da formação do professor, em que os professores constroem o sentido de sua profissão (ABDALLA, 2006, p.67). Buscamos analisar, então, as percepções dos professores de Geografia sobre as razões e/ou os motivos da escolha da profissão docente, a fim de identificar as influências externas para esta respectiva escolha. Levantamos, também, pontos positivos e negativos sobre a própria formação e suas experiências iniciais na docência, em 00790
3 especial, em relação às aulas de Prática de Ensino em Geografia. Optamos, então, por uma abordagem qualitativa de pesquisa (BOGDAN; BICKLEN, 1994), e utilizamos a análise de conteúdo (BARDIN, 2007; FRANCO, 2007). Tendo em vista esses aspectos, é preciso destacar, ainda, que a escolha dos sujeitos de pesquisa, dos três professores, não foi ao acaso. Ou seja, levou-se em conta a longa experiência profissional e a distância de sua formação inicial, para entender como eles reviam as questões levantadas na entrevista, principalmente, sobre a sua formação. A entrevista apresenta uma primeira parte estruturada com questões fechadas, que destacam o perfil do entrevistado, idade, formação, experiências profissionais. E uma segunda parte, com questões abertas, tais como: por que decidiu ensinar Geografia? Quais pontos positivos e negativos levantariam em seu curso de formação? Quando terminou o curso, sentia-se preparado para entrar numa sala de aula? E como continuou a sua formação? Para melhorar o nível da informação, introduzimos questões mais diretas, tais como: como era sua aula de prática? Como aprendeu a dar aulas? Conte boas e más experiências do início da carreira. Terminadas as entrevistas, passamos às análises preliminares dos resultados, focando, nessa etapa, a classificação de três categorias de análise, conforme Bardin (2007): 1ª a escolha da profissão de professor e da disciplina; 2ª os pontos positivos e negativos da formação acadêmica; e a 3ª a Prática de Ensino de Geografia. Da análise aos resultados a partir das categorias anunciadas Os primeiros resultados da pesquisa nos possibilitaram categorizar os seguintes dados, conforme descritos a seguir. A escolha da profissão e da disciplina: dois entrevistados afirmam que escolheram Geografia como primeira opção; um porque queria conhecer o mundo e outro por influência externa. A terceira entrevistada tinha Geografia como segunda opção, mas acabou se encontrando na disciplina. Pontos positivos e negativos da formação: os pontos positivos levantados foram: vontade de estudar; disciplina dinâmica; trabalha o dia a dia; faculdade boa; boas aulas; estudos do meio; e trabalho de campo. Este último aspecto é confirmado por Rodrigues e Otaviano (2001, p. 35), quando revelam que o estudo de Geografia pressupõe trabalhos de campo, para compreender e analisar o espaço geográfico e a dinâmica de sua organização por meio do trabalho de campo. Os pontos negativos que 00791
4 se destacaram foram: a densidade de curso considerada fraca; nas aulas só trabalhavam com texto; professores desinteressados; o curso não tinha estrutura boa e era muito corrido; faltou geografia física. Prática de ensino em Geografia: segundo os entrevistados, as aulas de prática eram muito teóricas e só usavam textos ; aulas muito boas", "a professora ensinava postura e como se vestir, mas não ensinou a usar a lousa ou outros métodos didáticos. Não fez estágio, acabou dando aula e assinaram o estágio. Um ponto em comum das três entrevistas é que os professores começaram a dar aulas e não fizeram estágio. Uma das dificuldades dos estudantes de Geografia é articular os conteúdos da prática de ensino com os demais que circulam nas escolas. Como afirmam Mendonça e Mendonça (2009, p. 418): os estudantes, em final de curso, na prática do estágio, apresentam dificuldades em articular os conteúdos e muitas vezes desconhecem partes dos programas a serem trabalhados na educação básica. Também foi importante a questão da formação continuada, pois os professores faziam todos os cursos que apareciam na Diretoria de Ensino, pela prefeitura e promovidos pelas escolas particulares. Entretanto, só um dos entrevistados fez curso de especialização. Os resultados preliminares apontam para questões importantes sobre a formação desses professores, tais como: 1ª a disciplina de Prática de Ensino pouco ou nada ajuda na formação profissional; 2ª para os professores, a formação aconteceu dentro das salas de aula, na prática do trabalho docente; 3ª a formação acontece em paralelo às necessidades, que vão aparecendo no campo profissional; e 4ª não há interferência do poder público na formação profissional dos professores em exercício, pois os mesmos continuam a fazer sua formação por meio de cursos e de práticas do dia a dia. Considerações Finais Percebemos que essas três entrevistas apresentam pontos em comum, principalmente, em relação à formação inicial de professores. Também afirmam que a formação principal que tiveram está sendo na própria Escola, confirmando que a Escola é, de fato, como enfatiza Abdalla (2006), o contexto da produção docente. Notamos, ainda, que todos os professores entrevistados também reconhecem que a profissão docente envolve muitos desafios, principalmente no início da carreira, quando os professores se sentem menos preparados e mais desafiados. E, nesta direção, relatam essas dificuldades e desafios do início da carreira e do momento atual que vivem. O primeiro entrevistado 00792
5 afirma que não faria a carreira docente novamente, os outros afirmam que fariam, mas ressaltam que não é uma carreira fácil. A busca pela formação continuada, por meio de cursos, de trabalhos e de especialização, também é muito importante para todos os entrevistados. Cada um seguiu um caminho próprio para sua formação, buscando participar de diferentes cursos para melhorar e atualizar suas práticas. Entretanto, não aparecem, nas entrevistas, relatos de incentivo governamental para essa atualização. Por fim, os dados também indicam que é preciso destacar que o caminho da formação, seja inicial e/ou continuada, que pretenda gerar mudanças, depende de uma política de formação que contribua para que se denuncie o burocratismo, tanto na formação superior, quanto nas práticas das Escolas, e que se incentive uma formação mais crítica, desenvolvendo-se estágios, que sejam, realmente, articulados com as Escolas. Referências ABDALLA, M. F. B. O Senso Prático de Ser e Estar na Profissão. São Paulo: Cortez, 2006. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2007. BOGDAN, R.; BIKLEN, S. K. Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto Editora, 1994. FRANCO, M. L. P. B. Análise de conteúdo. Brasília, 4ª ed. Brasília: Liber Livro, 2012. MENDONÇA, S.; MENDONÇA, M. A formação do professor de geografia: uma tarefa para pedagogos? Geografia: Ensino & Pesquisa, Santa Maria, v.13, n.2 p.416-422, 2009. NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e sua formação. Porto: Porto Editora, 1995. RODRIGUES, A. B.; OTAVIANO, C. A. Guia Metodológico do Trabalho de Campo de Geografia. Geografia, Santa Catarina, v.10, v.1, p.35-43, jan/jun 2001. SAVIANI, D. Formação de professores no Brasil: dilemas e perspectivas. Poiesis Pedagógica. UFG, Catalão, v. 9, n.1, p.07-19, jan/jun 2011. 00793