A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E A PRÁTICA DE ENSINO EM GEOGRAFIA

Documentos relacionados
A CONCEPÇÃO DE ENSINO ELABORADA PELOS ESTUDANTES DAS LICENCIATURAS

O ESTÁGIO DOCENTE COMO LUGAR DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

ENSINO MÉDIO: INOVAÇÃO E MATERIALIDADE PEDAGÓGICA EM SALA DE AULA 1. Palavras-Chave: Ensino Médio. Inovação Pedagógica. Pensamento docente.

O ESTÁGIO DOCENTE NA POS-GRADUAÇÃO ESPAÇO OU LUGAR DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO?

OS SABERES DOCENTES: AS CONCEPÇÕES DE PROFESSORAS DA REDE MUNICIPAL DO RECIFE

A FORMAÇÃO CONTINUADA NO CONTEXTO ESCOLAR: O QUE REVELAM OS PROFESSORES?

ANEXO F QUADRO RESUMO DOS NÚCLEOS DE SENTIDO POR ESTÁGIO

O CURSO DE PEDAGOGIA COMO LÓCUS DA FORMAÇÃO MUSICAL INICIAL DE PROFESSORES Alexandra Silva dos Santos Furquim UFSM Cláudia Ribeiro Bellochio UFSM

A UTILIZAÇÃO DE SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS EM PROJETOS DE INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO CIENTÍFICA, DESENVOLVIDOS NA ARGENTINA

A IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE DE PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE UMA INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE DOURADOS

FORMAÇÃO DE PROFESSORES: AMBIENTES E PRÁTICAS MOTIVADORAS NO ENSINO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. Apresentação: Pôster

Concepções de ensino-aprendizagem de docentes de Física Quântica do ensino superior

IDENTIDADE E SABERES DOCENTES: O USO DAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA

TRAJETÓRIAS PROFISSIONAIS DOS EGRESSOS DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO E PEDAGOGIA DA FIBRA ( )

A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA A DISTÂNCIA UAB/ IFMT SOBRE O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

TÉCNICAS ENSINO UTILIZADAS PARA TRABALHAR COM AS TECNOLOGIAS DIGITAIS MÓVEIS

Palavras-chave: Formação e Profissionalização docente; Estado da arte; ANPEd

A FORMAÇÃO PARA A DOCÊNCIA: HIATOS EM UM CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS

A UTILIZAÇÃO DA PLATAFORMA MOODLE NA FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

ENTRE ESCOLA, FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SOCIEDADE, organizados na seguinte sequência: LIVRO 1 DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO NA RELAÇÃO COM A ESCOLA

CONCEPÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA ENTRE DOCENTES DE ENSINO SUPERIOR: A EDUCAÇÃO FÍSICA EM QUESTÃO

PERSPECTIVAS NA FORMAÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE DOS ALUNOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA DA UESB

FORMAÇÃO CONTINUADA DE DOCENTES DO ENSINO SUPERIOR: POSSIBILIDADES DE CONSTRUÇÃO GRUPAL DE SABERES DOCENTES EM INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE ENSINO

ESTÁGIO CURRICULAR E FORMAÇÃO DOCENTE: A ESCOLA COMO ESPAÇO PARA PRODUÇÃO DE SENTIDOS SOBRE A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA

O REPENSAR DO FAZER DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR NO PROCESSO DE REFLEXÃO COMPARTILHADA COM PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES NUMA PERSPECTIVA DE (RE) CONSTRUÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL

RESENHA. professores: vivências, formação e práticas docentes nos anos iniciais do ensino fundamental. São Paulo: Porto de idéias, 2012.

DESAFIOS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA NO ENSINO FUNDAMENTAL II: A LEITURA EM QUESTÃO

DOCENCIA E TECNOLOGIA: FORMAÇÃO EM SERVIÇO DE PROFESSORES E TRAJETÓRIAS CONVERGENTES

PENSAMENTOS DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS SOBRE SABERES DOCENTES: DEFINIÇÕES, COMPREENSÕES E PRODUÇÕES.

FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: O LUGAR DA DIDÁTICA NOS CURSOS DE LICENCIATURA DA UNICENTRO

PIBID FURG E SUAS CONTRIBUIÇÕES NA FORMAÇÃO DE PEDAGOGOS

RELAÇÕES ENTRE PROCESSOS FORMATIVOS DE PROFESSORES DE FÍSICA E O DESENVOLVIMENTO DE SABERES DOCENTES

O PIBID COMO POLÍTICA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM UM CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA

1- APRESENTAÇÃO e JUSTIFICATIVA:

COMO ESTÃO AS ESCOLAS PÚBLICAS DO BRASIL?

A PROFISSIONALIDADE DO BACHAREL DOCENTE NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Eixo Temático ET Educação Ambiental A PRÁTICA DOCENTE E A CONSTRUÇÃO DE NOVAS FORMAS DE SE PERCEBER E INTERVIR NO MEIO AMBIENTE

O ENSINO DE DIREITOS HUMANOS NOS CURSOS DE ENSINO MÉDIO DO IFRS: DESAFIOS E POSSIBILIDADES. Laura, D. A. 1 ; Letícia S.F. 2

Revista Diálogos Interdisciplinares - GEPFIP

PROFESSORES INICIANTES, EGRESSOS DA PEDAGOGIA: IMPASSES, DESAFIOS E PERCEPÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO

MAT ÀS DÚVIDAS: ARTICULANDO TEORIA DO CONHECIMENTO E PRÁTICA NA ESCOLA ESTADUAL MARIA CONSTANÇA BARROS MACHADO. Cleverson Borges da Silva - UFMS

CONSTRIBUIÇÕES DO PIBID NA FORMAÇÃO DOCENTE

UNIMONTES E PIBID TRILHANDO NOVOS HORIZONTES PARA A FORMAÇÃO INICIAL DOS DOCENTES EM GEOGRAFIA

SABERES PROFISSIONAIS PRODUZIDOS NO PLANEJAMENTO DO TRABALHO DOCENTE. Chrysna Gabriella Pereira Morais 1 Edinaldo Medeiros Carmo 2 INTRODUÇÃO

XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

POLÍTICAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL PARA A DOCÊNCIA UNIVERISTÁRIA

A FORMAÇÃO CONTINUADA DO COORDENADOR PEDAGÓGICO DE UMA REDE MUNICIPAL DE ENSINO

ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE MATEMÁTICA UFF DISCIPLINA: ANÁLISE DE DADOS PROFESSOR: HUMBERTO J. BORTOLOSSI

Desenvolvendo o Pensamento Matemático em Diversos Espaços Educativos

FORMAÇÃO DE PROFESSOR: A CONSTRUÇÃO DO SABER DOCENTE¹

4 Escola Esperança e SAEB 2001: Uma visão comparativa da formação de professores

FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE: UM ESTUDO NAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DA ZONA RURAL E ZONA URBANA DE SÃO LUÍS.

PERCEPÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO TERRITÓRIO DE IDENTIDADE DO SISAL. Paulo José Pereira dos Santos 1 Katiuscia da Silva Santos 2

AS POLITICAS DE VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO: UMA ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO NA CIDADE DE CRATO-CE 1 RESUMO

FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A ATUAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA COMO REFLEXO DE SUA FORMAÇÃO

O ENSINO DE SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) NAS ESCOLSA ESTADUAIS DE DOURADOS/MS RESUMO INTRODUÇÃO

FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DOCENTE NO ENSINO MÉDIO: A BUSCA PELA QUALIFICAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE M.R.F.L.

TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA EM AMBIENTES FORMAIS DE ENSINO: ANÁLISE DE REGÊNCIAS DE LICENCIANDOS EM QUÍMICA

FORMAÇÃO DIDÁTICO - PEDAGÓGICA DO DOCENTE DO ENSINO SUPERIOR

PRÁTICAS DOCENTES DE TUTORIA VIRTUAL E ESTÁGIO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: POTENCIALIDADES DE FEEDBACKS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A FORMAÇÃO INICIAL DO PEDAGOGO PARA ATUAR NO AMBIENTE HOSPITALAR: LIMITES E PERSPECTIVAS

PIBID GEOGRAFIA NA MEDIAÇÃO ENTRE A ESCOLA E A UNIVERSIDADE COMO ESPAÇOS DE FORMAÇÃO DOCENTE

A PERCEPÇÃO DE LICENCIANDOS SOBRE A PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR NA FORMAÇÃO INICIAL EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO PELA PESQUISA SEGUNDO PROFESSORES DO ENSINO MEDIO POLITÉCNICO 1

O LIVRO DIDÁTICO NAS AULAS DE MATEMÁTICA: UM ESTUDO A PARTIR DAS CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES. Introdução

HISTÓRIA DE VIDA, FORMAÇÃO E IDENTIDADE DOCENTE: BUSCANDO A REALIZAÇÃO DE UM SONHO

XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

dimensões. A primeira - necessidades/expectativas quanto ao percurso de formação -, engloba elementos da formação inicial e proposições para um curso

Palavras-chave: Formação continuada. Ensino fundamental. Avaliação de rendimento escolar.

Palavras-chave: Alfabetização Matemática. Letramento Matemático. Formação inicial de professores.

FORMAÇÃO DOCENTE: O PIBID E A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

CONCEPÇÕES SOBRE O PEDAGOGO NA FORMAÇÃO ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

Resultados e discussão

TRABALHO COLABORATIVO DE UMA PROFESSORA ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL EM UMA ESCOLA COM EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL

Palavras-Chave: Prática Formativa. Desenvolvimento Profissional. Pibid.

COMENTÁRIOS DO PROFESSORES TELMA FREIRES E RODRIGO RODRIGO RODRIGUES CONHECIMENTOS PEGAGÓGICOS CARGO ATIVIDADES (2)

ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO DE INTEGRAÇÃO DOCENTE: PERSPECTIVAS CONCEITUAIS INOVADORAS RESUMO

Introdução. Referencial teórico

Investigação sobre o conhecimento e a formação de professores Síntese da discussão do grupo temático

O DISCURSO CIRCULANTE DOS ESTUDANTES SOBRE A DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR Mônica Patrícia da Silva Sales UFPE

ENSINO MÉDIO INTEGRADO E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

NOVAS METODOLOGIAS DE ENSINO: UMA PESQUISA SOBRE O USO DO SOFTWARE GEOGEBRA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO

DE ENGENHEIRO A PROFESSOR: A CONSTRUÇÃO DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE

Eixo Temático: Eixo 01: Formação inicial de professores da educação básica. 1. Introdução

PROFESSORES DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA EM INÍCIO DE CARREIRA E AS NOVAS DEMANDAS DO TRABALHO

FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFESSORAS DE MATEMÁTICA NA PERSPECTIVA DAS NOVAS TECNOLOGIAS

ISSN do Livro de Resumos:

OS DESAFIOS DA PESQUISA NA FORMAÇÃO DOS ESTUDANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA OFERECIDO PELA PLATAFORMA FREIRE, NO MUNICÍPIO DE BOM JESUS DA LAPA BA

LEMBRANÇAS E ESQUECIMENTOS: PROFESSORES DA REDE PÚBLICA E SUA FORMAÇÃO PARA O USO DAS TECNOLOGIAS

TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA: DESENVOLVENDO NOVAS COMPETÊNCIAS PARA O ENSINO

A CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR NO ENSINO DA FÍSICA PELOS DOCENTES NA REGIÃO DO CURIMATAÚ ORIENTAL DA PARAÍBA

Patrícia Sândalo Pereira 1 Edinalva da Cruz Teixeira Sakai 2 Rogers Barros de Paula 3. Introdução

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO - UM MOMENTO DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

DIAGNÓSTICO DO ENSINO E APRENDIZADO DA CARTOGRAFIA NOS DIFERENTES NÍVEIS DE FORMAÇÃO

GT1: Formação de professores que lecionam Matemática no primeiro segmento do ensino fundamental

FORMAÇÃO DO PEDAGOGO: VIVÊNCIAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES NO ESTÁGIO CURRICULAR DO CURSO DE PEDAGOGIA/EAD.

FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES: CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE ALFABETIZAÇÃO EM QUESTÃO NO ÂMBITO DO PIBID

Transcrição:

Resumo A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E A PRÁTICA DE ENSINO EM GEOGRAFIA Maria Angélica Nastri de Carvalho - UNISANTOS O objetivo do trabalho é discutir quais as percepções do professor de Geografia sobre sua formação acadêmica e, principalmente, sua preparação para a docência, buscando compreender aspectos fundamentais como o da escolha profissional e o da visão que os entrevistados têm sobre sua formação inicial e continuada. O foco central, no entanto, diz respeito à questão da disciplina de Prática de Ensino em Geografia. Foram realizadas três entrevistas e foi utilizada a análise de conteúdo (BARDIN, 2007) como referencial teórico-metodológico, considerando-se a expressão verbal dos professores como essencial para a compreensão dos problemas de formação e de início de carreira desses sujeitos. Destacaram-se três categorias de respostas, a saber: 1ª a escolha profissional, abordando as razões para a escolha de ser professor de Geografia e identificando as influências externas para a respectiva escolha; 2ª a formação de professor, levantando-se os pontos positivos e negativos da formação, além de algumas experiências iniciais na carreira; e 3ª as aulas de Prática de Ensino em Geografia, destacando como eram as aulas e os estágios. Os resultados preliminares apontam para questões importantes sobre a formação desses professores, tais como: 1ª a disciplina de Prática de Ensino pouco ou nada ajuda na formação profissional; 2ª a formação acontece dentro das salas de aula, na prática do trabalho docente; 3ª a formação acontece em paralelo às necessidades, que vão aparecendo no campo profissional; e 4ª a formação profissional continua sendo realizada por meio de cursos e de práticas do dia a dia, sem interferência do poder público. Por fim, os dados indicam que uma formação para mudança depende de uma política de formação que contribua para que se denuncie o burocratismo, tanto na formação superior, quanto nas práticas das Escolas, incentivando-se uma formação mais crítica, e desenvolvendo-se estágios, que se articulem com as Escolas. Palavras-chave: Formação de Professores de Geografia; Formação Inicial e Continuada Prática de Ensino em Geografia. Introdução A prática de ensino tem sido considerada com um dos elementos mais valorizados na formação dos professores, como em seu exercício profissional, conforme destacam vários autores (NÓVOA, 1995; ABDALLA, 2006; MENDONÇA; MENDONÇA, 2009). E, nesta perspectiva, as ideias expostas aqui representam resultados preliminares de dados coletados junto a três professores de Geografia, com o intuito de rever a questão da formação desses professores e de como realizam suas práticas docentes. O texto discute quais são as percepções que esses professores têm sobre sua formação acadêmica e, principalmente, sua preparação para começar o trabalho docente, enfocando a disciplina de Prática de Ensino em Geografia. 00789

2 Foram realizadas entrevistas com professores com mais de vinte anos de experiência no magistério. Procuramos entender como, depois de tantos anos, eles veem ou reveem sua formação e a disciplina de Prática de Ensino. Trata-se, assim, de uma pesquisa de abordagem qualitativa, e que se utiliza da análise de conteúdo (BARDIN, 2007) como referencial teórico-metodológico. Nesta direção o texto se divide em três partes. Iniciase com os referenciais teóricos e os procedimentos metodológicos da pesquisa; em seguida, aborda a análise dos resultados e, por último, tece as considerações finais. Do referencial teórico aos procedimentos metodológicos É fato que a formação de professores, seja inicial ou continuada, não é suficiente e também não recebe a devida atenção por parte dos governantes. Como destaca Saviani (2011, p. 10), o que se revela permanente é a precariedade das políticas formativas, cujas sucessivas mudanças não lograram estabelecer um padrão minimamente consistente de preparação docente para fazer face aos problemas enfrentados pela educação escolar em nosso país. Entretanto, como afirma Nóvoa (1995, p. 21), o professor se afirma profissionalmente, mas a afirmação profissional do professor é um percurso repleto de lutas e conflitos, de hesitações e recuos. Estas questões foram contribuindo para que pensássemos um pouco mais na formação e na prática do professor de Geografia. Também, se considerarmos que a formação se dá na prática desse professor, não dá para excluir a Escola, enquanto contexto da produção e profissionalização docente, como afirma Abdalla (2006, p. 59-60), de modo a entender como os professores aprendem na Escola (p. 60). E os entrevistados reconhecem que a formação principal aconteceu no ambiente escolar, confirmando que a escola é o seu lugar de formação, e que foi lá que eles aprenderam a dar aulas. Mostram, assim, a importância da Escola enquanto campo de saberes científicos, pedagógicos, culturais e político-sociais, como destaca Abdalla (2006). E, nesta perspectiva, concordamos, também, com a autora, quando se refere à escola como espaço de ser e estar do professor e como locus da ação e da formação do professor, em que os professores constroem o sentido de sua profissão (ABDALLA, 2006, p.67). Buscamos analisar, então, as percepções dos professores de Geografia sobre as razões e/ou os motivos da escolha da profissão docente, a fim de identificar as influências externas para esta respectiva escolha. Levantamos, também, pontos positivos e negativos sobre a própria formação e suas experiências iniciais na docência, em 00790

3 especial, em relação às aulas de Prática de Ensino em Geografia. Optamos, então, por uma abordagem qualitativa de pesquisa (BOGDAN; BICKLEN, 1994), e utilizamos a análise de conteúdo (BARDIN, 2007; FRANCO, 2007). Tendo em vista esses aspectos, é preciso destacar, ainda, que a escolha dos sujeitos de pesquisa, dos três professores, não foi ao acaso. Ou seja, levou-se em conta a longa experiência profissional e a distância de sua formação inicial, para entender como eles reviam as questões levantadas na entrevista, principalmente, sobre a sua formação. A entrevista apresenta uma primeira parte estruturada com questões fechadas, que destacam o perfil do entrevistado, idade, formação, experiências profissionais. E uma segunda parte, com questões abertas, tais como: por que decidiu ensinar Geografia? Quais pontos positivos e negativos levantariam em seu curso de formação? Quando terminou o curso, sentia-se preparado para entrar numa sala de aula? E como continuou a sua formação? Para melhorar o nível da informação, introduzimos questões mais diretas, tais como: como era sua aula de prática? Como aprendeu a dar aulas? Conte boas e más experiências do início da carreira. Terminadas as entrevistas, passamos às análises preliminares dos resultados, focando, nessa etapa, a classificação de três categorias de análise, conforme Bardin (2007): 1ª a escolha da profissão de professor e da disciplina; 2ª os pontos positivos e negativos da formação acadêmica; e a 3ª a Prática de Ensino de Geografia. Da análise aos resultados a partir das categorias anunciadas Os primeiros resultados da pesquisa nos possibilitaram categorizar os seguintes dados, conforme descritos a seguir. A escolha da profissão e da disciplina: dois entrevistados afirmam que escolheram Geografia como primeira opção; um porque queria conhecer o mundo e outro por influência externa. A terceira entrevistada tinha Geografia como segunda opção, mas acabou se encontrando na disciplina. Pontos positivos e negativos da formação: os pontos positivos levantados foram: vontade de estudar; disciplina dinâmica; trabalha o dia a dia; faculdade boa; boas aulas; estudos do meio; e trabalho de campo. Este último aspecto é confirmado por Rodrigues e Otaviano (2001, p. 35), quando revelam que o estudo de Geografia pressupõe trabalhos de campo, para compreender e analisar o espaço geográfico e a dinâmica de sua organização por meio do trabalho de campo. Os pontos negativos que 00791

4 se destacaram foram: a densidade de curso considerada fraca; nas aulas só trabalhavam com texto; professores desinteressados; o curso não tinha estrutura boa e era muito corrido; faltou geografia física. Prática de ensino em Geografia: segundo os entrevistados, as aulas de prática eram muito teóricas e só usavam textos ; aulas muito boas", "a professora ensinava postura e como se vestir, mas não ensinou a usar a lousa ou outros métodos didáticos. Não fez estágio, acabou dando aula e assinaram o estágio. Um ponto em comum das três entrevistas é que os professores começaram a dar aulas e não fizeram estágio. Uma das dificuldades dos estudantes de Geografia é articular os conteúdos da prática de ensino com os demais que circulam nas escolas. Como afirmam Mendonça e Mendonça (2009, p. 418): os estudantes, em final de curso, na prática do estágio, apresentam dificuldades em articular os conteúdos e muitas vezes desconhecem partes dos programas a serem trabalhados na educação básica. Também foi importante a questão da formação continuada, pois os professores faziam todos os cursos que apareciam na Diretoria de Ensino, pela prefeitura e promovidos pelas escolas particulares. Entretanto, só um dos entrevistados fez curso de especialização. Os resultados preliminares apontam para questões importantes sobre a formação desses professores, tais como: 1ª a disciplina de Prática de Ensino pouco ou nada ajuda na formação profissional; 2ª para os professores, a formação aconteceu dentro das salas de aula, na prática do trabalho docente; 3ª a formação acontece em paralelo às necessidades, que vão aparecendo no campo profissional; e 4ª não há interferência do poder público na formação profissional dos professores em exercício, pois os mesmos continuam a fazer sua formação por meio de cursos e de práticas do dia a dia. Considerações Finais Percebemos que essas três entrevistas apresentam pontos em comum, principalmente, em relação à formação inicial de professores. Também afirmam que a formação principal que tiveram está sendo na própria Escola, confirmando que a Escola é, de fato, como enfatiza Abdalla (2006), o contexto da produção docente. Notamos, ainda, que todos os professores entrevistados também reconhecem que a profissão docente envolve muitos desafios, principalmente no início da carreira, quando os professores se sentem menos preparados e mais desafiados. E, nesta direção, relatam essas dificuldades e desafios do início da carreira e do momento atual que vivem. O primeiro entrevistado 00792

5 afirma que não faria a carreira docente novamente, os outros afirmam que fariam, mas ressaltam que não é uma carreira fácil. A busca pela formação continuada, por meio de cursos, de trabalhos e de especialização, também é muito importante para todos os entrevistados. Cada um seguiu um caminho próprio para sua formação, buscando participar de diferentes cursos para melhorar e atualizar suas práticas. Entretanto, não aparecem, nas entrevistas, relatos de incentivo governamental para essa atualização. Por fim, os dados também indicam que é preciso destacar que o caminho da formação, seja inicial e/ou continuada, que pretenda gerar mudanças, depende de uma política de formação que contribua para que se denuncie o burocratismo, tanto na formação superior, quanto nas práticas das Escolas, e que se incentive uma formação mais crítica, desenvolvendo-se estágios, que sejam, realmente, articulados com as Escolas. Referências ABDALLA, M. F. B. O Senso Prático de Ser e Estar na Profissão. São Paulo: Cortez, 2006. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2007. BOGDAN, R.; BIKLEN, S. K. Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto Editora, 1994. FRANCO, M. L. P. B. Análise de conteúdo. Brasília, 4ª ed. Brasília: Liber Livro, 2012. MENDONÇA, S.; MENDONÇA, M. A formação do professor de geografia: uma tarefa para pedagogos? Geografia: Ensino & Pesquisa, Santa Maria, v.13, n.2 p.416-422, 2009. NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e sua formação. Porto: Porto Editora, 1995. RODRIGUES, A. B.; OTAVIANO, C. A. Guia Metodológico do Trabalho de Campo de Geografia. Geografia, Santa Catarina, v.10, v.1, p.35-43, jan/jun 2001. SAVIANI, D. Formação de professores no Brasil: dilemas e perspectivas. Poiesis Pedagógica. UFG, Catalão, v. 9, n.1, p.07-19, jan/jun 2011. 00793