Palavras-Chave: Plano de estudos. Atuações docentes. Educação física escolar.

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Transcrição:

O ENVOLVIMENTO DE DOCENTES COM DIFERENTES PERFIS DE ATUAÇÃO NO PROCESSO DE (RE)FORMULAÇÃO COLETIVA DO COMPONENTE DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA.1 Giliane Dessbesell 2, Fernando Jaime González 3. 1 Pesquisa desenvolvida a partir do projeto de Iniciação Científica, pertencente ao Grupo de Pesquisa Paidotribas. 2 Graduada em Educação Física. Mestranda do PPGCMH/UFRGS. 3 Professor orientador, Doutor do Departamento de Humanidades e Educação, fjg@unijui.edu.br Resumo: A Educação Física escolar desde que assumida como componente curricular trouxe desafios aos professores. Diferentes contextos mostram práticas escolares inovadoras na EF, mas também práticas tradicionais, ou então, caracterizadas pelo abandono do trabalho docente. A diversidade de atuações impulsiona a investigação das disposições que subjazem desempenhos distintos. Nesse estudo, buscamos compreender quais elementos condicionam a mudança do componente curricular de EF e o entrelaçamento destes com as disposições individuais de docentes com atuações diferentes. A partir da realização do Grupo de Estudos e da observação de professores, os principais resultados apontam que, em um contexto em que a EF era fragmentada e sem sentido, perfis de atuação docente diferentes foram apagando seus contornos, mostrando mudanças significativas. Começam a emergir estratégias que podem potencializar práticas inovadoras e inibir aquelas que não possibilitem a EF cumprir sua função enquanto componente curricular. Palavras-Chave: Plano de estudos. Atuações docentes. Educação física escolar. Introdução A Educação Física escolar tem uma construção histórica e, portanto, tradicional, que atribuiu a ela um caráter prático e ativista, o qual ainda hoje configura a atuação docente nos mais diversos contextos. O denominado movimento renovador da EF brasileira desde suas primeiras reflexões, há mais de vinte anos, questiona esse papel tradicional no contexto escolar e impulsiona mudanças profundas no que se refere às práticas pedagógicas. As proposições do movimento renovador estão relacionadas tanto à desvinculação da área de concepções esportivistas e biológicas, como a estabelecer discursos e projetos educacionais de orientação crítica e democrática. A perspectiva proposta pelo movimento renovador tenciona que a EF escolar se fundamente em Pedagogias Progressistas, cujas propostas de ação visam colocar a educação, portanto a prática pedagógica, na perspectiva da transformação social, rumo a uma sociedade igualitária e justa (BRACHT et al., 2002, p. 10). Nesse contexto, a Educação Física é incorporada ao rol das disciplinas obrigatórias da educação básica brasileira (LDB 9394/96, Art. 26 3o e parágrafo com redação dada pela Lei nº 10.793/2003

BRASIL, 2010, p. 23). A Educação Física passa a ter a mesma demanda das demais disciplinas, o que difere do que tradicionalmente se acreditava ser sua intencionalidade no interior da escola. As novas perspectivas propostas para Educação Física, tanto no meio acadêmico, como na maioria dos documentos curriculares oficiais, trouxeram vários desafios aos professores nas escolas. O atual contexto escolar ainda revela que o caráter tradicional da Educação Física é muito presente, ou ainda, o abandono do trabalho docente (FORTES et al., 2012). Por outro lado, esse mesmo contexto existem práticas inovadoras, que são vinculadas diretamente as ações dos professores e não pelas expectativas dos demais agentes escolares em torno da disciplina. A partir dessa configuração da EF escolar, distintos estudos, como os desenvolvidos no Grupo de Pesquisa Paidotribas e pelos investigadores da Rede Internacional de Investigações Pedagógicas em Educação Física (REIIPEFE) da qual a Unijuí faz parte (FARIA et al., 2010; MACHADO et al., 2010), apontam elementos que se entrelaçam na configuração desse fenômeno. Porém, são limitados os estudos que procuram compreender como as configurações que pautam as atuações docentes dificultam e/ou favorecem a transformação da Educação Física escolar. Para tanto, faz-se necessário investigar como a dinâmica escolar, profissional e pessoal interagem com um movimento de mudança. Nesse sentido, a finalidade desse estudo está em perceber o envolvimento de professores de Educação Física, com diferentes perfis de atuação, na mobilização dos saberes para reformulação do plano de estudos para a disciplina. Metodologia O projeto se caracteriza como uma pesquisa etnográfica. Assim, a investigação acerca da atuação dos professores está sendo realizada em uma escola da Rede Estadual de ensino, em um município do noroeste do RS. Os sujeitos participantes da investigação são professoras de Educação Física, concursadas e que sempre residiram no contexto onde a pesquisa se realiza, bem como tiveram sua formação escolar na escola em que atuam hoje. Esses sujeitos foram escolhidos por trabalharem no mesmo contexto e apresentarem perfis de atuação adequados às intenções da pesquisa, determinando, dessa forma, a opção pela instituição em que se realiza o estudo. No primeiro contato com as professoras, para obter informações sobre os seus respectivos trabalhos, foram realizadas entrevistas abertas, quando foram abordadas questões sobre formação inicial e continuada, dinâmica das aulas, concepções sobre a disciplina e carga horária. A partir disso, a investigação se realiza em dois momentos: a) o acompanhamento rotineiro das aulas das professoras Julia e Daniela (cujos nomes são fictícios), quando há, somente, a observação, sem interação direta com os sujeitos, no que se refere à aula. As observações ocorrem com turmas específicas, do ensino fundamental e médio respectivamente, além de acompanhar as professoras em outros momentos nesse contexto; b) Observação dos encontros do grupo de estudos, que são realizados quinzenalmente (dentro desse mesmo projeto funcionam, ainda, dois grupos, com docentes que têm seus encontros em outras duas cidades da região, porém estes não são acompanhados em seu cotidiano, a esse conjunto de grupos de estudo denominou-se Pátio da Escola ), onde as professoras, juntamente com os pesquisadores, trabalham em na reformulação do componente curricular de EF. Nesses dois momentos são observados

tanto a maneira que as professoras têm colocado em prática o que vem sendo discutido nos encontros, como suas posturas e expectativas diante disso. Resultados e discussão Iniciamos com a descrição dos aspectos e as análises destes que ajudam entender o impacto do grupo de estudos nas atividades pedagógicas das professoras, bem como dos desencadeamentos provenientes da implantação do novo projeto da EF. Concomitante, como foco específico de nossas análises, nos detemos na atualização do envolvimento das professoras no decorrer do processo em questão. Quando iniciamos as observações na escola, além de encontrar professoras que sempre trabalharam individualmente, sob a sua ótica daquilo que deveriam abordar nas aulas de EF, deparamo-nos com dois tipos de perfis de atuação. Um que aparentava um perfil de investimento pedagógico (FARIA et al., 2010); e outro caracterizado pelo desinvestimento pedagógico (MACHADO et al., 2010). Desse modo, o componente curricular, nessa escola, encontrava-se à margem dos demais, fragmentado e sem uma intencionalidade específica, pois cada docente tinha o seu projeto, Fato que não era questionado, nem pelas professoras, nem pela comunidade escolar, de modo explicito. O que se ouvia apenas era que uma fazia um trabalho sério (Julia) e a outra apenas largava a bola (Daniela). A proposição de reformulação do Plano de Estudos trouxe para as professoras o que podemos chamar de novidade. As discussões sobre as atuais demandas da EF como componente curricular e a sequência dos conteúdos ao longo dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio, foram um despertar às proposições do movimento renovador. Ambas as professoras se pautavam na ideia de que o esporte era o conteúdo essencial da EF e, a partir do momento em que se deparam com as outras práticas corporais, percebem que a demanda é muito mais ampla. O primeiro impacto causado está na confissão sobre a falta de conhecimento ao tratar de temas estruturadores como: ginástica, lutas, atividades na natureza, atividades aquáticas, jogos motores, expressão corporal, agravado pelas condições estruturais da escola. E ainda, a constatação de que, até então, não trabalhavam esses temas as fez desconfiar das práticas pedagógicas que vinham tendo. Salientamos um aspecto que se evidenciou nos dois perfis durante o processo observado. As proposições feitas no grupo sobre como ensinar este ou aquele conteúdo, mesmo que fosse sobre o esporte, eram como se fosse água em terra seca. As sugestões eram aplicadas imediatamente pelas duas professoras. Essa urgência fica ainda mais evidente no momento em que o plano de estudos está definido e começa a ser implantado, quando precisam organizar os conteúdos dos denominados temas estruturadores escolhidos. Nesse aspecto, uma das principais motivações em se ocupar com os planos de estudo está em saber o que será trabalhado em cada ano. Na medida em que o plano de estudos ganhava corpo, não eram poucas a manifestações das professoras em relação à satisfação de poderem visualizar os conteúdos que devem trabalhar no decorrer do ano letivo. Isso evidencia que essa falta de alinhamento dos conteúdos era algo que as angustiava. Além disso, o processo de escolha, com reflexões e decisões apropriadas ao contexto, sobre o que os alunos devem aprender enquanto estiverem naquela instituição, resultaram na segurança das professoras em se apropriarem dos conteúdos a que se propuseram.

Até o final o ano letivo de 2011, as decisões já estavam tomadas a respeito dos temas propostos para o próximo ano. Contudo, era sabido que haveria dois planos concomitantes. Um deles adequado a realidade das turmas que até então não tinham o planejamento cíclico dos temas e seus conteúdos. E o outro, para as turmas que começam o ciclo nos anos finais do Ensino Fundamental. A partir da distribuição das horas destinadas a cada tema, no tempo total do componente curricular, o desafio passou a ser a constituição dos conteúdos em cada um desses tema. E assim, no início do ano letivo em 2012, começam a serem colocadas em prática as decisões tomadas no ano anterior. Desse modo, evidencia um quadro, em que as professoras se deparam com temas escolhidos, os quais anteriormente não estavam presentes no contexto das suas aulas, o que, por conseguinte evidencia suas expectativas e angústias em relação ao o que ensinar. Além disso, a própria cultura escolar continuava se manifestando como um fator agravante da marginalização da EF. Em diferentes momentos as professoras tiveram de abrir mão das suas aulas para outras atividades dos alunos, sem que fossem avisadas previamente. No entanto, notamos que essa postura diante da EF parte muito mais da gestão da escola do que dos alunos. Principalmente, no que se refere às aulas da professora Julia, os alunos já possuem certas expectativas sobre o que vai acontecer. Inclusive, uma das perguntas que fazem aos professores que vão substituir é o que vamos aprender hoje?. De outro modo, a professora Daniela ainda enfrenta o questionamento dos alunos sobre as habituais práticas na EF o futebol. Os questionamentos ocorriam, mesmo com o esforço feito por parte da docente no início do ano, quando colocou para os alunos os temas estruturadores a serem trabalhados. Parecia que, para os alunos, isso não se encaixava nas aulas de EF, sendo preciso que a professora permanecesse convicta diante das decisões que havia tomado. Ela mesma não se importava em dizer a eles que a EF na escola havia mudado e que agora as coisas serão assim. Se, por um lado, a professora Daniela enfrentava esses questionamentos, por outro, aceita os desafios dos novos temas propostos, mesmo que, como ela mesma afirmava meta os pés pelas mãos. Além de absorver todas as informações dadas no grupo sobre tais temas, procurava meios de desenvolvê-los com os alunos. Um contraponto com a professora Julia, a qual teve maiores receios em abordar temáticas que, até então, não estavam presentes no contexto das suas aulas. No desenrolar das temáticas propostas, cabe ressaltar alguns momentos importantes das práticas inovadoras das professoras. Quando Julia abordou a ginástica, vimos como ponto culminante da unidade didática que ela preparou, o envolvimento de toda a escola, ao assistir as sequências de movimentos apresentadas pelos alunos. Além disso, após a sugestão de um dos estudantes, a turma 172, chamou as crianças dos anos iniciais para fazerem vivências nas acrobacias, como saltos, rolinhos e rodas. Resultando disso a constatação das professoras dos anos iniciais, que devem dar mais atenção à EF, visto que, pela unidocência, essa é uma responsabilidade delas, nessa etapa de ensino. Outro momento, foram os jogos motores: a partir da modalidade escolhida Tiro de laço, foi uma atividade que mexeu com a estrutura organizacional da escola, no momento em que, também, mobilizou os alunos a ensinarem aos anos iniciais. Disso resultou um movimento, no qual a direção permitiu que, em uma parte do pátio da escola, fossem colocadas estruturas de ferro doadas por iniciativa de pais, onde os alunos poderiam brincar com o tiro de laço.

Já a professora Daniela trouxe a escola movimentações ao abordar a ginástica e a dança. Nas turmas em que trabalhou um ou outro tema, levou as melhores apresentações a eventos da escola, como reunião de professores, reunião com a Coordenadoria Regional de Educação e apresentação na programação de dia das mães. Mesmo com todo o reconhecimento vindo por parte da direção, a professora Daniela foi questionada por sua coordenadora pedagógica a respeito de que ela deveria se preocupar em organizar torneios e treinar os alunos para participarem de outros que a escola estava sendo convidada, tendo em vista que, nos anos anteriores, era com essas atividades que a professora Daniela se ocupava. Contudo, mesmo decepcionada, a professora posicionou-se dizendo que tal tema seria desenvolvido no segundo semestre, conforme o seu planejamento. A disposição da professora Daniela, em permanecer firme diante das escolhas feitas, pode ser observada em seu discurso. Em um dos encontros do grupo, ela comentou que as pessoas inclusive um tio que fora professor de EF nesta mesma escola, hoje aposentado estão falando sobre as mudanças que vêm acontecendo nas suas aulas. Ela concluiu Eu era apagada e eles [nem os alunos, nem direção] não cobravam nada de mim. Assim, um vetor que potencializa as ações de investimento, por parte da professora Daniela, pode estar vinculado ao reconhecimento que vem tendo, não só diante da comunidade escolar, como fora dos muros da própria escola. Conclusões Os elementos que vão dando sentido à EF nessa escola trazem à confrontação de ambas as professoras com as suas práticas, o que fez com que se redesenhassem nesse contexto. Com esse novo olhar sobre si e sobre a sua área de atuação, veio o fôlego para dar sentido à EF, em que vários fatores se entrecruzam. O fato de confrontar-se com o que realizavam e o que o novo plano de estudo propõe, lança um desafio, em que não há apostas sobre os resultados, mas sim uma expectativa sobre o seu próprio domínio a respeito do que estão se propondo a aprender a ensinar. Aprendemos que os perfis encontrados no início das observações no campo, não são determinantes para forma como o envolvimento das professoras foi se desencadeando. Observamos que a falta de intencionalidade das aulas do perfil diagnosticado em desinvestimento (Daniela), estava vinculada à falta de conhecimento desse novo projeto de EF e estratégias para desenvolvê-lo. O que contraria expectativas sobre perfis de desinvestimento/abandono, que simplificam a uma postura pessoal e consciente do sujeito. De igual forma, percebemos que, mesmo fazendo um esforço para atribuir sentido a sua prática, Julia também esteve limitada pelos mesmos fatores de Daniela, contudo, o que há é uma diferença de postura diante da sua área de atuação. Para ambas, a disciplina estava à margem, porém uma luta com as armas que lhe eram acessíveis e a outra se limitou a um não fazer, mesmo que isso a incomodasse. Por fim, a investigação deixa um consistente caminho para a continuidade da pesquisa, permitindo o avanço em alguns pontos considerados pertinentes. Percebemos a necessidade da realização de entrevistas em profundidade, a fim de compreender qual é o atual discurso das professoras, bem como a sistematização das Unidades Didáticas dos temas estruturadores que vêm sendo construídas na medida em que o plano de estudos vem sendo colocado em prática. E, assim, começam a emergir estratégias

que podem potencializar práticas inovadoras e inibir aquelas que não permitem a EF cumprir sua função enquanto componente curricular em um processo constante de aprender e ensinar a EF. Referências BRACHT, Valter et al. A prática pedagógica: a mudança a partir da pesquisa ação. In: Revista Brasileira de Ciência do Esporte, Campinas, v. 23, n. 2, p. 9-29, jan. 2002. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 5. ed. Brasília : Câmara dos Deputados, Coordenação Edições Câmara, 2010. FARIA, Bruno de Almeida et al. Inovação pedagógica na educação física: o que aprender com práticas bem sucedidas? In: Ágora para la Educación Física y el Deporte, v. 1, p. 11-28, 2010. MACHADO, Thiago da Silva et al. As práticas de desinvestimento pedagógico na educação física escolar. In: Movimento, Porto Alegre, v. 16, p. 129-147, abr/jun. 2010.