MOVIMENTO CIVICO AVISAR TODA A GENTE Acerca da mortalidade das amêijoas na Ria Formosa e seu enquadramento. Propostas de sugestões e medidas para enfrentar o problema e melhorar o ecossistema da Ria Formosa. Introdução: A Ria formosa é um sistema lagunar dinâmico e a sua fauna e flora formam um habitat muito rico. Sendo uma das maiores áreas de fixação de azoto é também uma importante zona húmida. O conjunto de factores que determinam a produtividade e vitalidade da Ria estão a ser postos em causa. A contínua descarga de águas residuais urbanas e mistas tratadas e não tratadas, o subdimensionamento das arcaicas ETAR, a proliferação demográfica em conjunto com a sazonalidade turística, o uso de artes ilegais, a conquista com entulhos ou drenagem de sapais, a introdução de espécies exóticas, o descuido com valores arqueológicos, a alteração do uso actual dos terrenos de zonas húmidas e das marinhas, a falta de fiscalização sobre o exercício de actividades que prejudiquem significativamente o ambiente e o equilíbrio natural da ria dentro da área do PNRF e do pré PNRF, a alteração da topografia dos terrenos a urbanização na orla costeira, constituem factores que estão a pôr em causa a sobrevivência e vitalidade deste habitat. A recorrente mortalidade das amêijoas na Ria Formosa tem origem neste conjunto de factores. A mortalidade das amêijoas não pode ser desligada da saúde da Ria. Aliás constituindo as amêijoas o bio-monitor natural por excelência a mortalidade das amêijoas, é um problema em si mesmo, mas reflecte ao mesmo tempo uma problemática mais geral que afecta toda a Ria.
Não queremos ser alarmistas, mas se a situação não for atacada, a Ria Formosa, tal como a conhecemos, local impar de usufruto e lazer, sustento de milhares e milhares de pessoas, sistema cujo equilíbrio ambiental é vital para toda uma região, pode estar em causa. De tudo o que atrás fica dito, e relativamente à mortalidade das amêijoas, avultam duas grandes zonas de problemas, que contribuem decisivamente para a situação actual: - As continuas e sistemáticas descargas para a Ria, de efluentes tratados e não tratados - A existência e proliferação do vírus Perkinssus Para atacar o problema no concreto duas direcções de trabalho poderiam e deveriam ser implementadas: - Parar de deitar para o Ria, o que quer que seja, que não seja tratado (construção de colector/emissário). - Elaborar plano de dragagens. Para além disto e de acordo com a consciência que pensamos ter daquilo que é a saúde da Ria, permitimo-nos avançar algumas propostas, assim como a metodologia para as implementar. Propostas: Medidas imediatas: 1. Parar de lançar efluentes não tratados para dentro do sistema lagunar. 2. Devido à situação de alarme que se vive na Ria, pensamos que a medida mais rápida e mais viável, para tentar contrariar a tendência da degradação será a dragagem planeada e acompanhada, dos canais principais e mesmo de alguns canais secundários.
3. Monitorizar factores físicos, químicos e biológicos dentro da Ria formosa. Acompanhar o dinamismo das correntes e sedimentos, quantificar o azoto e produção primária, ver o estado de condição de várias espécies (i.e. amêijoa), assim como todos os factores normalmente verificados em lugares onde esta Bio monitorização já exista (i.e. Everglades, Jonh Pennenkamp State Park). 4. Construção de Emissário para lançamento de aguas residuais tratadas não recicladas Medidas a médio prazo (5anos): 5. Requalificar as ETAR ao mais alto nível tecnológico para que funcionem com emissões de efluentes abaixo do requerido pela lei nacional e comunitária. As ETAR existentes dentro do perímetro do parque ou do pré-parque devem ser fiscalizadas pela IGA mais assiduamente. Todos os efluentes deverão ser reciclados para rega ou outras tarefas. 6. Fiscalização de todas as actividades dentro do PNRF e Pré-PNRF, incidindo sobre actividades que perturbem a vitalidade e o desenvolvimento natural do mesmo. Propõe-se assim que a fiscalização de entrada e saída de produtos da ria (i.e. inertes, materiais e todas as espécies animais) sejam activamente controladas e positivamente reforçadas. O envolvimento do IPTM é essencial, sendo a autoridade portuária tem dever de possuir e implementar rigor, disciplina e fiscalização. Naturalmente em concordância com o PNRF, INIAP, DGPA e DOCAPESCA. Só assim é exequível o desenvolvimento da sustentabilidade de varias associações de produtores e armadores e centenas de pessoas que exercem a actividade legalmente 7. Delinear uma estratégia a longo prazo para aproveitamento do espaço e dos produtos garantindo-lhes uma marca exemplar de qualidade
8. Exigir que todas as actividades dentro do parque ou pré-parque obtenham certificado ambiental. Medidas de Longo Prazo: (10 anos): 9. Facultar todas as informações necessárias para conceber projectos que possam candidatar-se a programas e medidas inovadoras. Garantido assim emprego, melhoria de qualidade de vida e desenvolvimento regional sustentável. 10. Elaborar linhas de acção de educação/cooperação entre académicos, institutos de investigação públicos e privados, organizações de produtores, associações e escolas. Realçando visitas ecológicas localizadas criando assim uma afinidade entre os jovens e a riqueza que é a ria. Métodos para executar propostas: Estas propostas provavelmente já foram consideradas em anteriores documentos e pontualmente algumas já terão sido executadas. A diferença é que nós propomos a elaboração de um plano em que toda a gente possa participar mas olhando sempre para o equilíbrio vital necessário para manter a sustentabilidade duma área onde varias espécies co-habitam. A biodiversidade deverá ser salvaguardada em detrimento de outros pontos. 1. Uma coordenação entre as Águas do Algarve e os vários municípios que banham a PNRF poderá solucionar a construção de vários colectores/emissários e direccionar estes esgotos para as ETAR 2. Pensamos que o INIAP deverá ser o principal coordenador com a colaboração da Universidade do Algarve. Propõe-se desde já execução de um plano de dragagens.
3. Bio monitorização: os principais envolvidos deverão ser os próprios profissionais da Ria com a coordenação do INIAP e Universidade do Algarve (Grupo Algae). 4. O Emissário é da responsabilidade da AMAL, ou em particular de um grupo que aglomere os cinco municípios banhados pela PNRF. Esta grande obra deverá ser efectuada o mais rápido possível, obviamente um acompanhamento técnico especializado deve ser implementado 5. A requalificação das ETAR é da responsabilidade das Águas do Algarve, envolvendo uma comissão de coordenação/fiscalização. 6. A fiscalização deve ser efectuada pelas autoridades: Capitanias dos portos, GNR CEPNA, PNRF Vigilantes e DOCAPESCA. 7. Aqui um instituto, gabinete ou agência de gestão do PNRF, deve ser criado. A função deste será informar, gerir, coordenar, prestigiar, requalificar e certificar todos os produtos provenientes PNRF. O lançamento de denominação de origem e a procura de novos mercados será também o objecto deste instituto. 8. O licenciamento de obras ou pedidos de actividade na área do pré-parque ou Parque requer um certificado de qualidade ambiental, este será requisitado pelas empresas que queiram laborar nesta referida área ao referido instituto. 9. A mesma instituição referida deverá desenvolver e informar a população e empresários que queiram usufruir das condições que a PNRF proporciona. O desenvolvimento de actividades inovadoras relacionadas com o PNRF deverá ser positivamente reforçada. Desde apoios e incentivos a novos empregos, tal como turismo de pesca, pesca, moliscicultura, desenvolvimento de novos métodos de cultura de moluscos e outros.
10. Introdução de uma disciplina no 1º e 2º ciclo de ensino dos concelhos que são abrangidos pela PNRF. Esta disciplina deverá ter duas componentes: históricosocial e ambiental. Conclusão: Estas propostas/sugestões não têm naturalmente a pretensão de encerrar o debate. Pelo contrário, elas visam contribuir para o debate que é necessário e que é indispensável que seja permanente. Algumas delas são imediatamente exequíveis. Outras são mais demoradas. Umas são fáceis de pôr em prática, outras são mais complexas. Algumas dependem de uma só Entidade, outras envolvem diversos Organismos. Umas são medidas pontuais, outras são medidas de fundo. Só considerando tudo, só pesando todas as envolvências, só agregando contribuições Ouvindo aqui e ali, escutando técnicos e práticos, juntando vontades e capacidades, será possível ultrapassar a actual situação que é difícil e que é preocupante, mas que está nas mãos de todos aqueles que prezam a Ria Formosa, trabalhar para que a Ria continue a ser Formosa. O problema da mortalidade das amêijoas tem solução! Assim se juntem as vontades, as capacidades e os meios técnicos, humanos e financeiros.