Usando indução pode então mostrar-se o seguinte:

Documentos relacionados
Teorema (Teorema fundamental do homomorfismo)

Introdução à Teoria de Grupos Grupos cíclicos Grupos de permutações Isomorfismos

Introdução à Teoria de Grupos Grupos cíclicos Grupos de permutações Isomorfismos Teorema de Lagrange Subgrupos normais e grupos quociente

(Ciência de Computadores) 2005/ Diga quais dos conjuntos seguintes satisfazem o Princípio de Boa Ordenação

Geradores e relações

Gabarito da primeira prova de Álgebra III - 29/04/2010 Prof. - Juliana Coelho

Dado um inteiro positivo n, definimos U(n) como sendo o conjunto dos inteiros positivos menores que n e primos com n. Não é difícil ver que a

Notas sobre os anéis Z m

Troca de chaves Diffie-Hellman Grupos finitos Grupos cíclicos

LISTA CLASSES LATERAIS, TEOREMA DE LAGRANGE 17. Seja G um grupo e sejam H e K subgrupos de G cujas ordens sejam relativamente primas.

e tutor do Programa de Educação Tutorial/SESU Matemática UFMS Campus de Três Lagoas. E MAIL:

Aplicar as propriedades imediatas dos homomorfismos de grupos. Aplicar os teoremas dos homomorfismos na relação de problemas.

Primeira prova de Álgebra III - 07/05/2015 Prof. - Juliana Coelho Entregar dia 09/05/2015 até as 11h00.

Aprendendo Álgebra com o Cubo Mágico p.1/32

1. Num grupo G, sejam a e b dois elementos diferentes da identidade e tais que a 3 = b 2 = e e ba = a 2 b.

Resolução do 1 o exame

Conhecer um pouco mais de perto as propriedades do grupo das permutações de nível.

Anéis quocientes k[x]/i

GRUPOS ALGUNS GRUPOS IMPORTANTES. Professora: Elisandra Bär de Figueiredo

Ordens e raízes primitivas

1 Noções preliminares

Reticulados e Álgebras de Boole

MAT0313 Álgebra III Lista 5

1 Grupos (23/04) Sim(R 2 ) T T

Grupos livres e apresentações, grupos hopfianos e grupos residualmente finitos

MAT5728 Álgebra Lista 1

Definição 1. Um ideal de um anel A é um subgrupo aditivo I de A tal que ax I para todo a A, x I. Se I é um ideal de A escrevemos I A.

f(xnyn) = f(xyn) = f(xy) = f(x)f(y) = f(xn)f(yn).

P-GRUPOS E O TEOREMA DE CAUCHY. Conceituar p-grupos e estabelecer o Teorema de Cauchy

Mais uma aplicação do teorema de isomorfismo. Sejam G um grupo, H um subgrupo de G e N um subgrupo normal de

Aula 20 - Álgebra II. Como os corpos de decomposição de um polinómio, como vimos, são isomorfos

Produto semidireto. Demonstração. (1, 1) é o elemento neutro pois

uma breve introdução a estruturas algébricas de módulos sobre anéis - generalizando o conceito de espaço vetorial

O Teorema de P. Hall

Vamos começar relembrando algumas estruturas algébricas Grupos. Um grupo é um conjunto G munido de uma função

Resolução do 1 o exame

SUMÁRIO. Álgebra I 3 1. Grupos Exercícios Subgrupos Exercícios Homomorfismo de Grupos e Aplicações 35 3.

Aula 12 HOMOMORFISMO DE ANÉIS PRÉ REQUISITOS. As aulas 6, 10 e 11. META. Estabelecer o conceito de Homomorfismo de Anéis.

Conceitos Básicos sobre Representações e Caracteres de Grupos Finitos. Ana Cristina Vieira. Departamento de Matemática - ICEx - UFMG

Os números inteiros. Álgebra (Curso de CC) Ano lectivo 2005/ / 51

Lema. G(K/F ) [K : F ]. Vamos demonstrar usando o Teorema do Elemento Primitivo, a ser provado mais adiante. Assim, K = F (α).

Lema. G(K/F ) [K : F ]. Vamos demonstrar usando o Teorema do Elemento Primitivo, a ser provado mais adiante. Assim, K = F (α).

Corpos Finitos Parte I

Grupos: Resumo. Definição 1.1 Um grupo é um conjunto G juntamente com uma operação binária. G G G (a, b) a b. (a b) c = a (b c) a e = e a = a

Note-se que pelo Teorema de Euler. a φ(n) 1 (mod n) logo existe k nas condições da definição acima e. Raízes Primitivas. Ordem de um elemento

Universidade Federal de Goiás Câmpus Catalão Aluno: Bruno Castilho Rosa Orientador: Igor Lima Seminário Semanal de Álgebra

2007/2008 Resolução do 1 o exame

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ÁLGEBRA LINERAR Luiz Francisco da Cruz Departamento de Matemática Unesp/Bauru CAPÍTULO 7 ISOMORFISMO

Lista permanente de exercícios - parte de Grupos. As resoluções se encontram nas notas de aula A1, A2, A3.

JOSE GINALDO DE SOUZA FARIAS

MA14 - Aritmética Unidade 20 Resumo. Teoremas de Euler e de Wilson

Propriedades dos inteiros Aritmética modular Aplicações (detecção de erros e sistema RSA)

correspondência entre extensões intermédias de K M e subgrupos de Gal(M, K) chama-se correspondência de Galois.

GABARITO. Prova 2 (points: 112/100; bonus: 0 ; time: 90 ) FMC2, (Turma N12 do Thanos) Regras: Boas provas! Gabarito 08/11/2017

a = bq + r e 0 r < b.

Topologia de Zariski. Jairo Menezes e Souza. 25 de maio de Notas incompletas e não revisadas RASCUNHO

Exemplos (i) A adição + e a multiplicação são operações associativas e comutativas

obs: i) Salvo menção em contrário, anel = anel comutativo com unidade. ii) O conjunto dos naturais inclui o zero.

O espaço das Ordens de um Corpo

Teorema. Existe alguma raiz primitiva módulo n se, e só se, n = 2, n = 4, n = p k ou n = 2p k onde p é primo ímpar.

Notas de Aula de Algebra Avan cada ver ao de 2019

OS TEOREMAS DE JORDAN-HÖLDER E KRULL-SCHMIDT (SEGUNDA VERSÃO)

PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E MESTRADO PICME

, com k 1, p 1, p 2,..., p k números primos e α i, β i 0 inteiros, as factorizações de dois números inteiros a, b maiores do que 1.

(Mini) Apostila de Teoria de Grupos. Dimiter Hadjimichef

3 Sistema de Steiner e Código de Golay

Representações de semigrupos por matrizes sobre um corpo

d(t x, Ty) = d(x, y), x, y X.

GRUPOS Maria L ucia Torres Villela Instituto de Matem atica Universidade Federal Fluminense Revisto em dezembro de 2008

Apresentar o conceito de grupo, as primeiras definições e diversos exemplos. Aplicar as propriedades dos grupos na resolução de problemas.

Notas de Fundamentos de Álgebra. Pedro F. dos Santos, Joana Ventura 2014

1. O que podemos dizer sobre a imagem da função. f : Z Z, f(x) = x 2 + x + 1?

Elementos de Matemática Finita

Definir classes laterais e estabelecer o teorema de Lagrange. Aplicar o teorema de Lagrange na resolução de problemas.

Aula 09 OS TEOREMAS DE SYLOW META. Estabelecer os teoremas de Sylow. OBJETIVOS. Identificar. Aplicar os teoremas de Sylow na resolução de problemas.

Nilpotência e p-nilpotência de Grupos Finitos

1 Resultados básicos sobre grupos de Lie

Grupos em que cada elemento comuta com sua imagem endomórfica

Fundamentos de Teoria de Grupos e Aplicações ao Jogo Resta Um

MAT Resumo II. Andrew Kurauchi Henrique Stagni Igor Montagner. 25 de Setembro de s k gij X,s k = + 1} g ik

Definição. Diremos que um número inteiro d é um divisor de outro inteiro a, se a é múltiplo de d; ou seja, se a = d c, para algum inteiro c.

Exercício 18. Demonstre a proposição anterior. (Dica: use as definições de continuidade e mensurabilidade)

Matemática Discreta 11/12 Soluções

Elisângela Valéria de Jesus. Módulos e Grupos Abelianos Finitamente Gerados

Cálculo Diferencial e Integral I

ÁLGEBRA I. 1 o período de 2005 (Noturno)

1.1 Conjuntos parcialmente ordenados (c.p.o. s)

Demonstrações. Terminologia Métodos

Categorias, álgebra homológica, categorias derivadas

XIX Semana Olímpica de Matemática. Nível 3. Polinômios Ciclotômicos e Congruência Módulo p. Samuel Feitosa

ALGA I. Representação matricial das aplicações lineares

ficha 5 transformações lineares

Eliana Carla Rodrigues, Jhone Caldeira. Universidade Federal de Goiás, CEP , Brasil

Álgebras de Lie são espaços vetoriais munidos de uma nova operaçao que em geral não é comutativa nem associativa: [x, y] = xy yx.

O teorema fundamental da teoria de Galois

MA14 - Aritmética Unidade 22 Resumo. Aritmética das Classes Residuais

Universidade de Aveiro Departamento de Matemática ANÉIS DE VALUAÇÃO E VALUAÇÕES

3 - Subespaços Vetoriais

1. Não temos um espaço vetorial, pois a seguinte propriedade (a + b) v = a v + b v não vale. De fato:

1 Congruências e aritmética modular

Transcrição:

Proposição Sejam G e H grupos cíclicos finitos. Então G H é cíclico se e só se ord(g) e ord(h) forem primos entre si. Exercício Faça a demonstração da proposição anterior. Usando indução pode então mostrar-se o seguinte: Corolário O produto directo externo G 1 G 2 G n de um número finito de grupos cíclicos finitos é cíclico se e só se ord(g i ) e ord(g j ) são primos entre si, quando i j. Como consequência imediata tem-se: Corolário Seja m = n 1 n 2 n k um inteiro. O grupo Z m é isomorfo a Z n1 Z n2 Z nk se e só se mdc(n i, n j ) = 1, quando i j. Álgebra (Curso de CC) Ano lectivo 2005/2006 173 / 188

O resultado anterior pode ser usado para exprimir o mesmo grupo (a menos de isomorfismo) de várias maneiras diferentes. Também Z 2 Z 2 Z 3 Z 5 Z 2 Z 6 Z 5 Z 2 Z 30. Z 2 Z 2 Z 3 Z 5 Z 2 Z 6 Z 5 Z 2 Z 3 Z 2 Z 5 Z 6 Z 10. Obtemos, em particular, que Z 2 Z 30 Z 6 Z 10. Note-se que este grupo não é cíclico (logo não é isomorfo a Z 60 ). Álgebra (Curso de CC) Ano lectivo 2005/2006 174 / 188

Produtos directos internos Definição Diz-se que um grupo G é o produto directo interno de H e K se H e K forem subgrupos normais de G e se tiver G = HK e H K = {e}. Sejam H = (1 2 3) e K = (1 2) subgrupos do grupo simétrico S 3. Tem-se S 3 = HK e H K = {()}. No entanto, como K não é um subgrupo normal, estes dois subgrupos não satisfazem as condições da definição para podermos afirmar que S 3 é produto directo interno de H e K. Note-se que S 3 = HK H K, pois este último grupo é cíclico, enquanto que S 3 nem sequer é abeliano. Proposição Se G é o produto directo interno de H e K, então G H K. Álgebra (Curso de CC) Ano lectivo 2005/2006 175 / 188

Homomorfismos de grupos Definição (Homomorfismo) Um homomorfismo ϕ de um grupo G num grupo H é uma função ϕ : G H que preserva a operação. Isto é, ϕ(ab) = ϕ(a)ϕ(b), a, b G. Antes de passar aos exemplos convém dar outra definição importante: Definição O núcleo de um homomorfismo ϕ de um grupo G num grupo com identidade e é o conjunto ker ϕ = {x G ϕ(x) = e}. Um isomorfismo é um homomorfismo bijectivo. O núcleo de um isomorfismo é o subgrupo trivial. Álgebra (Curso de CC) Ano lectivo 2005/2006 176 / 188

Seja R o grupo dos números reais não nulos com a multiplicação usual. A função ϕ : R R definida por ϕ(x) = x é um homomorfismo e tem-se ker ϕ = { 1, 1}. A função ϕ : Z Z n definida por ϕ(m) = m (mod n) (isto é, ϕ(m) é o resto da divisão de m por n) é um homomorfismo cujo núcleo é o conjunto dos múltiplos de n (ou seja, é o subgrupo cíclico n ). A função ϕ : R R definida por ϕ(x) = x 2 não um homomorfismo do grupo aditivo R nele próprio. De facto, ϕ(x + y) = x 2 + 2xy + y 2, enquanto que ϕ(x) + ϕ(y) = x 2 + y 2 (o que implica que, por exemplo, ϕ(1 + 1) = 4 2 = ϕ(1) + ϕ(1)). Seguidamente vamos ver algumas propriedades dos homomorfismos. Várias delas têm demonstrações iguais às já vistas aquando do estudo dos isomorfismos. Álgebra (Curso de CC) Ano lectivo 2005/2006 177 / 188

Proposição Seja ϕ : G H um homomorfismo de grupos e seja g G. Então: 1. ϕ transforma a identidade de G na identidade de H; 2. ϕ(g n ) = (ϕ(g)) n, para qualquer inteiro n; 3. se g tiver ordem finita, então ord(ϕ(g)) ord(g); 4. ker ϕ é um subgrupo de G; 5. se ϕ(g) = g, então ϕ 1 (g ) = {x G ϕ(x) = g } = g ker ϕ. Demonstração. A fazer no quadro... Nota Como consequência de 5 da proposição anterior temos: se ord(ker ϕ) = n, então, para qualquer elemento g ϕ(g) tem-se ϕ 1 (g ) = n. Álgebra (Curso de CC) Ano lectivo 2005/2006 178 / 188

Proposição Seja ϕ : G G um homomorfismo de grupos e seja H G. Então: 1. ϕ(h) é um subgrupo de G; 2. se H é cíclico, então ϕ(h) é cíclico; 3. se H é abeliano, então ϕ(h) é abeliano; 4. se H é normal em G, então ϕ(h) é normal em ϕ(g); 5. se ord(h) = n, então ord(ϕ(h)) n; 6. se K é um subgrupo de G, então ϕ 1 (K) é um subgrupo de G; 7. se K é um subgrupo normal de G, então ϕ 1 (K) é um subgrupo normal de G; 8. se ϕ é sobrejectivo e ker ϕ = {e}, então ϕ é um isomorfismo. Demonstração. A fazer no quadro... Álgebra (Curso de CC) Ano lectivo 2005/2006 179 / 188

Como caso particular importante temos o seguinte: Corolário (O núcleo é normal) Seja ϕ um homomorfismo do grupo G no grupo H. Então ker ϕ é um subgrupo normal de G. O exemplo seguinte serve para ilustrar algumas das propriedades que acabamos de demonstrar. Seja ϕ : Z 12 Z 12 definido por ϕ(x) = 3x. Como em Z 12 se tem 3(a + b) = 3a + 3b, ϕ é um homomorfismo. É imediato verificar que ker ϕ = {0, 4, 8}. Temos então ϕ 1 (6) = 2 + ker ϕ = {2, 6, 10}. 2 é cíclico e a sua imagem, ϕ( 2 ) = {0, 6} = 6, também é um subgrupo cíclico. Álgebra (Curso de CC) Ano lectivo 2005/2006 180 / 188

Vamos determinar todos os homomorfismos de Z 12 em Z 30. Seja ϕ : Z 12 Z 30 um homomorfismo. ϕ fica completamente determinado pela imagem de 1 (por 1 ser gerador de Z 12 ; note-se que ϕ(x) = xϕ(1)). Suponhamos que ϕ(1) = a. Sabemos que ord(a) ord(1), logo, usando também o teorema de Lagrange, temos que ord(a) divide 12 e 30. Assim, ord(a) {1, 2, 3, 6}. Logo a {0, 15, 10, 20, 5, 25}. Pode agora ser verificado que cada uma destas seis possibilidades dá de facto um homomorfismo. Álgebra (Curso de CC) Ano lectivo 2005/2006 181 / 188