Fascículo 2 Unidades 3 e 4. CEJA>> CENTRO DE ESTUDOS de JOVENS e ADULTOS CIÊNCIAS HUMANAS. e suas TECNOLOGIAS >> Módulo 1



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CEJA>> CENTRO DE ESTUDOS de JOVENS e ADULTOS Fascículo 2 Unidades 3 e 4 CIÊNCIAS HUMANAS e suas TECNOLOGIAS >> Módulo 1

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Governador Sergio Cabral Vice-Governador Luiz Fernando de Souza Pezão SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA Secretário de Estado Gustavo Reis Ferreira SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO Secretário de Estado Wilson Risolia FUNDAÇÃO CECIERJ Presidente Carlos Eduardo Bielschowsky FUNDAÇÃO DO MATERIAL CEJA (CECIERJ) Coordenação Geral de Design Instrucional Cristine Costa Barreto Elaboração Maurício Cardoso Paulo Mello Revisão de Língua Portuguesa Paulo César Alves Coordenação de Design Instrucional Flávia Busnardo Paulo Miranda Design Instrucional Heitor Soares de Farias Marcelo Franco Lustosa Coordenação de Produção Fábio Rapello Alencar Capa André Guimarães de Souza Projeto Gráfico Andreia Villar Imagem da Capa e da Abertura das Unidades http://www.sxc.hu/photo/1175613 Sanja Gjenero Diagramação Equipe Cederj Ilustração Bianca Giacomelli Clara Gomes Fernado Romeiro Jefferson Caçador Sami Souza Produção Gráfica Verônica Paranhos

Sumário Unidade 3 Formação do Estado brasileiro e identidade nacional 5 Unidade 4 Sociedades indígenas e sociedades africanas 47

Prezado(a) Aluno(a), Seja bem-vindo a uma nova etapa da sua formação. Estamos aqui para auxiliá-lo numa jornada rumo ao aprendizado e conhecimento. Você está recebendo o material didático impresso para acompanhamento de seus estudos, contendo as informações necessárias para seu aprendizado e avaliação, exercício de desenvolvimento e fixação dos conteúdos. Além dele, disponibilizamos também, na sala de disciplina do CEJA Virtual, outros materiais que podem auxiliar na sua aprendizagem. O CEJA Virtual é o Ambiente virtual de aprendizagem (AVA) do CEJA. É um espaço disponibilizado em um site da internet onde é possível encontrar diversos tipos de materiais como vídeos, animações, textos, listas de exercício, exercícios interativos, simuladores, etc. Além disso, também existem algumas ferramentas de comunicação como chats, fóruns. Você também pode postar as suas dúvidas nos fóruns de dúvida. Lembre-se que o fórum não é uma ferramenta síncrona, ou seja, seu professor pode não estar online no momento em que você postar seu questionamento, mas assim que possível irá retornar com uma resposta para você. Para acessar o CEJA Virtual da sua unidade, basta digitar no seu navegador de internet o seguinte endereço: http://cejarj.cecierj.edu.br/ava Utilize o seu número de matrícula da carteirinha do sistema de controle acadêmico para entrar no ambiente. Basta digitá-lo nos campos nome de usuário e senha. Feito isso, clique no botão Acesso. Então, escolha a sala da disciplina que você está estudando. Atenção! Para algumas disciplinas, você precisará verificar o número do fascículo que tem em mãos e acessar a sala correspondente a ele. Bons estudos!

Fascículo 2 História Unidade 3 Formação do Estado brasileiro e identidade nacional Para início de conversa... No início da aula de hoje, vamos retomar um ponto levantado na última aula. Para você, quem é o melhor representante do processo da luta contra a escravidão na história do Brasil: princesa Isabel ou Zumbi dos Palmares? Faça uma força e puxe pela memória. Lembrou-se de algum grande personagem indígena na história do Brasil? Foi difícil, não é mesmo? Afinal, quem decide quais são os grandes personagens e fatos para contar a nossa história? Nesta unidade, daremos continuidade à construção da memória e da identidade nacional. Vamos estudar que a identidade também é resultado da relação entre a sociedade e o Estado. Em outras palavras, vamos analisar que o sentimento de ser brasileiro foi construído por determinadas práticas, estratégias e ações que os grupos sociais no controle do Estado adotaram ao longo da história do nosso país. Ciências Humanas e suas Tecnologias História 5

Na história do Brasil, veremos três períodos de formação do Estado e da luta das elites para manter o poder. O primeiro período é o da colonização, quando o território era governado por Portugal. O segundo período é o que leva à independência do país em relação ao controle português, em 1822. O terceiro diz respeito à formação da República, em 1889. Como veremos, a partir da Independência o Brasil passa a figurar como uma nação livre entre os países do mundo. Uma das preocupações das novas elites dirigentes do país foi criar uma identidade nacional a partir de vários elementos, em especial pela organização de um passado comum e pela composição dos heróis nacionais. Objetivos de aprendizagem Analisar a história da relação entre a colônia (Brasil) e a metrópole (Portugal); Caracterizar as lutas de independência que separaram o Brasil de Portugal; Estabelecer relação entre a formação do Estado republicano e a exclusão de participação popular na política; Analisar o papel do Estado na formação de uma identidade nacional. 6

Seção 1 O Estado e a construção da nação Na unidade 1, vimos que a memória nacional tende a ser uma só, unificada, diferente das memórias coletivas que são múltiplas e diversas. Vamos retomar essa reflexão? Para você, a história oficial de um país é escrita por quem? Leia o poema a seguir. Ele foi escrito, em 1936, por um poeta alemão chamado Bertold Brecht. Leia com calma, procurando compreender todos os versos. Se você considerar necessário, leia mais de uma vez e em voz alta. Perguntas de um operário que lê Quem construiu a Tebas das sete portas? Nos livros só constam os nomes dos reis. Os reis que transportaram as pedras? E a Babilônia tantas vezes destruída Quem a ergueu outras tantas? Em que casas de Lima radiante de ouro Moravam os construtores? Para onde foram os pedreiros O jovem Alexandre conquistou a Índia. Ele sozinho? César bateu os gauleses. Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo? Felipe de Espanha chorou quando sua Armada naufragou. Ninguém mais chorou? Tantos relatos. Tantas perguntas. Ciências Humanas e suas Tecnologias História 7

No poema, o autor coloca-se na situação de um operário que se questiona sobre vários acontecimentos da história da humanidade, citando personagens e fatos considerados importantes. Mesmo que você não conheça ou não tenha estudado esses fatos, você pode responder a duas perguntas: a. Segundo o poema, quem são os personagens ausentes em todos os acontecimentos históricos? b. Reescreva parte desse poema, pensando na história de seu município. Confronte o que dizem as memórias e histórias oficiais, monumentos e datas comemorativas, com aquilo que propõe Brecht, ou seja, olhar a história a partir do ponto de vista do povo. A reflexão proposta leva-nos a compreender que a memória e a identidade nacional são elaboradas a partir de uma seleção unificada de memórias. Uma seleção que privilegia determinados grupos sociais (com interesses de poder e domínio) e que tende a ocultar propositalmente a memória de outros diversos grupos sociais e étnicos. No caso do Brasil, o grande ator da construção da memória nacional foi o Estado, ou seja, os grupos e classes sociais que o controlavam ao longo da Figura 1: O Brasil foi sempre assim? história. Quando observamos o mapa do Brasil com suas fronteiras delimitadas, o Português como língua oficial, uma só Bandeira Nacional e quando cantamos apenas um único hino, podemos pensar que tudo sempre foi assim e que somos uma unidade homogênea, uma identidade só. Somos brasileiros. 8

Mas quando tentamos entender como o país formou-se historicamente, como se formou um novo povo, a língua que hoje falamos, vemos que as coisas são mais complexas do que parecem. Nosso território é ocupado por povos de diferentes origens, muitos dos quais já estavam aqui antes da chegada dos europeus e que ainda falam outras línguas, e possuem uma cultura própria rica, como é o caso dos povos indígenas. Outros povos africanos foram trazidos à força, em regime de escravidão, e foram vários, com línguas e culturas próprias: bantos, sudaneses, malês, entre outros. Depois foram trazidos e/ou vieram imigrantes de vários países do mundo, como vimos na unidade anterior. Mas, desde logo, aprendemos que o Brasil foi e está sendo construído ao redor de alguns personagens e acontecimentos, em geral, dos que controlavam o poder ou que estavam a serviço dele. No Brasil, poder se confunde com Estado e o Estado com o povo. Assim, para contar a história da sociedade brasileira é preciso analisar a forma como o Estado constituiu-se e transformou-se. E é preciso também desconfiar da história contada a partir do Estado e da vida política, pois trata-se de uma história marcada por interesses de grupos que não representam os interesses do povo brasileiro. Por meio da escola, todos conhecemos uma história do Brasil que valoriza os heróis da pátria, isto é, homens e mulheres que teriam lutado pelo país. Esses símbolos da pátria também estão presentes em museus, nas músicas, nos filmes e nas telenovelas. Muitos desses símbolos tornam-se nomes de ruas, são transformados em esculturas e expostos nas praças de várias cidades. Dessa forma, fomos nos acostumando com certos personagens e acontecimentos: Tiradentes, D. Pedro I, José Bonifácio, Duque de Caxias, o grito do Ipiranga e a proclamação da República. Na realidade, grupos que controlam o Estado também exercem sua influência ao construir os inúmeros símbolos da nacionalidade: a Bandeira e o Hino Nacional, as datas cívicas comemorativas, como o Dia da Independência. Figura 2 Foto da princesa Isabel conhecida como a redentora, responsável por sancionar a lei que extinguiu a escravidão no Brasil. É preciso questionar essas histórias e narrativas, questionar quem eram os sujeitos que estavam à frente dos acontecimentos e como eles tentaram dar um sentido à História. Por outro lado, também é preciso questionar quem são os sujeitos que foram postos deliberadamente de lado, ou que foram omitidos, e até mesmo apagados da memória e dos acontecimentos. Ciências Humanas e suas Tecnologias História 9

Na atividade a seguir, vamos analisar as interpretações sobre um episódio histórico que nos ajuda a refletir sobre os interesses do Estado, sob o comando da monarquia de D. Pedro II, no século XIX. Nesta atividade, vamos ler dois textos que apresentam diferentes interpretações sobre o papel da princesa Isabel no processo histórico das lutas pela abolição da escravidão no Brasil. Isso permitirá que você reflita sobre o problema que levantamos, ou seja, como se escreve a história, quais versões e interpretações passam para a posteridade e quais são esquecidas ou silenciadas. Texto 1 Engajou-se de coração na luta abolicionista, alforriando escravos, escondendo fugitivos no Palácio de Petrópolis e abrindo as portas para amigos negros. Depois de assinar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, passou a ser adorada pelo povo simples, que a considerava a Redentora da escravidão. Era tão querida pelos negros livres que eles formaram a Guarda Negra, grupo de ex-escravos que, a pretexto de proteger a princesa, badernava os comícios republicanos, recorrendo muitas vezes à violência. Fonte: Isabel, a redentora - Uma princesa dividida - Paula Taitelbaum In: http://claudia.abril.com.br/materias/2212/ - Acesso em maio de 2011. Texto 2 (...) A abolição lançou os negros à sua própria sorte e libertou os brancos da culpa da escravidão. Na verdade, o raio de ação da princesa Isabel era muito restrito. Encontrava-se, de um lado, à frente de um império dominado por latifundiários e, de outro, pressionada por amplo movimento social contra a escravidão, que corria o risco de voltar-se contra o império. Cedeu os anéis para não perder os dedos... mas já era tarde demais. Fonte: Lei Áurea libera brancos da 'culpa' pela escravidão - Roberson de Oliveira In: http://vestibular.uol.com.br/ ultnot/resumos/ult2770u18.jhtm. Acesso em maio de 2011 a. Os textos expressam dois pontos de vista sobre o fim da escravidão no Brasil, podemos dizer que entre eles há: ( ) Uma discordância sobre como se deu o processo de abolição da escravidão no Brasil, um exaltando o papel da princesa Isabel e outro relativizando a importância da Lei Áurea e da ação do Império. 10

( ) Uma discordância parcial entre os textos, pois ambos defendem a importância da atuação da princesa Isabel na abolição da escravidão no Brasil, e da lei áurea para o fim da escravidão. ( ) Uma concordância entre os textos, pois ambos defendem que a monarquia, por meio da princesa Isabel teve um papel de destaque no processo que levou a abolição da escravidão. ( ) Uma discordância sobre o papel da monarquia na abolição da escravidão, uma vez que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea apenas para se promover politicamente. ( ) Uma concordância sobre a importância dos abolicionistas que lutaram pela extinção completa da escravidão negra no Brasil e pressionaram a princesa Isabel para a assinatura da Lei Áurea. b. Em sua opinião, por que a princesa Isabel foi transformada em Redentora, isto é, salvadora dos escravos? Ciências Humanas e suas Tecnologias História 11

Seção 2 O Brasil Colônia não era uma nação Entre 1500 e 1822, não havia um Estado brasileiro, aliás, como já dissemos, não existia um país chamado Brasil. Parte desse território que hoje habitamos era uma possessão do Império Português, governado por um rei e dominado pelos interesses das elites portuguesas, especialmente, os comerciantes. A outra parte do território, principalmente as atuais regiões Norte, Centro-Oeste e parcelas da região Sul, pertencia à Espanha. Como os espanhóis não demonstraram grande interesse por essas posses, ao longo dos séculos, vários acordos entre Portugal e Espanha foram transformando o território em possessão portuguesa. Esse território era chamado de colônia, ou seja, uma região que existe para ser colonizada (ocupada, povoada, explorada) por outro país. Figura 3: Tratado de Tordesilhas e Divisão em Capitanias Hereditárias Observe a divisão do território. Em linhas horizontais (capitanias hereditárias) e uma linha vertical, a linha de Tordesilhas que divide as terras de Portugal e da Espanha. 12

Por razões políticas, econômicas e religiosas, os povos indígenas que já habitavam a colônia não eram vistos como nações, mas como um obstáculo a ser superado, do mesmo modo que as densas florestas, com seus perigos desconhecidos, também impediam a colonização. Em todo o continente americano, as nações indígenas foram destruídas pelas guerras, pelas epidemias e pelo extermínio da cultura. Durante o período colonial (entre 1500 e 1822), todos os funcionários que trabalhavam para o Estado eram nomeados pela Coroa portuguesa, isto é, pelo rei e seus ministros. Em geral, os altos cargos eram ocupados por portugueses ricos e de origem nobre, enquanto os cargos menos importantes eram distribuídos entre os membros das elites coloniais, especialmente, os grandes proprietários de terras. As leis que organizavam a vida na colônia brasileira favoreciam os interesses de Portugal. Assim, o comércio era controlado pelos comerciantes portugueses e tudo o que entrava e saía da colônia (açúcar, algodão, couro, ferramentas, armas, tecidos, sal) tinha de passar por navios portugueses. A Espanha também constituiu um sistema colonial importante, graças às posses de porções importantes do continente sul-americano, como Potosí, atual Bolívia, onde descobriram minas de prata. Nas condições do sistema colonial, o sentimento de nacionalidade, isto é, a ideia de participar de uma nação brasileira era quase impensável. Em geral, os colonos sentiam-se integrados à nação portuguesa, enquanto os africanos escravizados sentiam-se ligados às suas nações de origem. Até aproximadamente 1750, essa situação permaneceu estável, especialmente para os homens das elites na colônia e em Portugal. Entretanto, profundas transformações na Europa e nas regiões coloniais alteraram as condições econômicas e o modo de pensar dos grandes proprietários de terras na colônia e de comerciantes europeus. A ampliação das atividades econômicas e expansão do comércio mundial da Monopólio comercial Monopólio comercial: situação em que todo o comércio e exploração de um território são exclusivos de determinado país e que, portanto, torna ilegal o comércio desse território com outros países. Inglaterra, França e Holanda que pressionavam para acabar com o monopólio comercial de Portugal, no Brasil; A perda do poder político e econômico de Portugal e Espanha para as novas potências, como: Inglaterra, França e Holanda; E, por fim, a insatisfação de setores das elites brasileiras que tinham interesses na abertura comercial do Brasil e em uma representação política mais significativa. Ciências Humanas e suas Tecnologias História 13

É fácil imaginar o porquê da insatisfação de setores da elite. Um grande proprietário de terras do Nordeste deveria vender sua produção de açúcar por um preço fixo, estipulado pelos mercadores portugueses. Ele também deveria comprar tudo de que precisava desses mesmos mercadores. Com o fim do monopólio, esses fazendeiros poderiam negociar com comerciantes de vários países, à procura de um preço melhor. O fim do monopólio, portanto, prejudicava os lucros dos comerciantes portugueses, mas favorecia os proprietários de terras no Brasil. Além disso, esses setores das elites também estavam insatisfeitos com o domínio político nas mãos da Coroa portuguesa. O poder das regiões da colônia, o comando das forças armadas, o controle do judiciário e das finanças eram exercidos pelos representantes do rei. Esse longo processo econômico e social foi chamado pelos historiadores de crise do sistema colonial, pois entravam em colapso certas condições históricas que possibilitaram a organização de colônias pelos países europeus. a. A partir da leitura do texto, como você definiria o sistema colonial? b. Explique quais foram as condições sociais e econômicas que conduziram à crise do sistema colonial. Seção 3 As lutas pela independência Na segunda metade do século XVIII, isto é, entre 1750 e 1800, ocorreram diversas rebeliões e revoltas na colônia brasileira contra o poder português. Eram os sinais políticos de que o sistema colonial estava em crise. As rebeliões mais conhecidas foram a Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração Baiana (1798). A Inconfidência Mineira foi a mais famosa das revoltas coloniais. Era um movimento organizado por integrantes da elite mineira e por um membro das 14 camadas médias, Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes. Figura 4: Neste quadro, pintado em 1940, José Wasth Rodrigues retrata Tiradentes em uniforme do Regimento de Dragões das Minas.

Eles tinham por finalidade iniciar uma rebelião contra o governo da Capitania das Minas (atualmente, o Estado de Minas Gerais) e, a partir daí, contra o poder português. Idealizavam construir uma república, separando o território brasileiro do governo português. Não pensavam, porém, que deveriam abolir a escravidão, nem criar melhores condições de vida para os homens brancos pobres. Os rebeldes não conseguiram iniciar a revolta, pois foram denunciados e presos antes do início do movimento. Seus líderes foram julgados e condenados a penas diferentes. Somente Tiradentes foi condenado à morte por enforcamento. A Conjuração Baiana também se opunha ao governo da Coroa portuguesa e tinha ideais republicanos, mas os chefes da Conjuração acreditavam que a escravidão deveria ser abolida, quando um novo país surgisse. Essa diferença em relação à Inconfidência Mineira era resultado das diferentes camadas sociais, envolvidas no conflito. Entre os líderes da Conjuração Baiana, havia homens das camadas médias e líderes populares, como alfaiates e soldados. Além disso, a participação de negros e mulatos foi intensa e marcou os Figura 5: Bandeira da Conjuração Baiana, cujas cores são ainda hoje as mesmas da bandeira do estado da Bahia. ideais da rebelião. Eles difundiam seus princípios através de panfletos que circulavam pela cidade de Salvador, a maior e mais importante cidade da colônia brasileira na época. O forte controle da metrópole portuguesa impediu a continuação do movimento. Vários suspeitos foram presos e torturados, até que as forças policiais chegaram aos líderes do movimento. Essas rebeliões tinham o objetivo de transformar a colônia brasileira em um país independente, com seu próprio governo e suas leis. Isso significava também a reorganização do poder administrativo e político do Estado. A independência do país necessitava, entre outras coisas, da construção de um Estado capaz de organizar e dar unidade ao território nacional. Para isso, era preciso usar a violência das armas e destruir o poder da Coroa portuguesa que governava a colônia. No entanto, essas rebeliões foram derrotadas pelo poder militar português e a independência só ocorreu em 1822, de um modo bem distinto. Quando D. Pedro, príncipe português, declarou a Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, a vida cotidiana dos homens comuns não sofreu mudanças significativas. Naquela época, não havia meios de comunicação eletrônicos, como a televisão e o rádio, por isso, a notícia sobre os atos do príncipe demorou alguns meses para chegar ao país inteiro. Ciências Humanas e suas Tecnologias História 15

Em diversas províncias, inclusive, houve movimentos armados contrários à independência e a favor do Império português. Isso ocorreu porque diversos setores das elites tinham mais relações com Portugal do que com o Rio de Janeiro, já então, capital do Brasil. Demoraram décadas para que o novo Estado, governado por uma monarquia (um rei) conseguisse pacificar as províncias e garantir a unidade do território do país. Observe atentamente as duas imagens e depois responda às questões. Figura 6: A Proclamação da Independência, François-René Moureaux, óleo sobre tela, 1844. Figura 7: Independência ou Morte, Quadro de Pedro Américo, óleo sobre tela, 1888. Observe as imagens. Veja como estão caracterizados os personagens em cena (suas roupas, suas posturas corporais, se estão no chão ou a cavalo). Nas duas imagens, a figura de D. Pedro I aparece em destaque (ele está no centro da cena). Na sua opinião, que aspectos dos dois quadros contribuem para valorizar este personagem? Justifique a sua resposta. 16

Nas discussões sobre as cenas representativas da Independência do Brasil, o "7 de setembro", são lembrados os artistas que preferiram retratar D. Pedro I e sua comitiva montados a cavalos. Há uma monumentalidade nas cenas, isto é, a transformação do acontecimento em um monumento, um episódio tão importante que mereceria ser lembrado por toda a história. Algumas dessas cenas transformaram-se na representação quase "oficial" e muito conhecida por todos os brasileiros, inspirando até produções cinematográficas de exaltação do acontecimento, como o filme Independência ou Morte, dirigido por Carlos Coimbra e lançado em 1972. Sabe-se, no entanto, que a subida da serra entre Santos e São Paulo exigia o uso de mulas e não de cavalos, uma montaria que foi mudada nas representações com o claro intuito de exaltar os personagens e o ato político que funda a nação. Mas a critica a essas imagens quase sempre cai em uma visão oposta que desmoraliza os personagens, tendo à frente o próprio D. Pedro. É o caso daqueles que destacam o fato de que D. Pedro estaria com problemas intestinais, fraco e cansado. Se de um lado encontramos o sentido exagerado, que transforma o gesto de D. Pedro em ato heroico e resoluto, o oposto deixa uma impressão negativa de quase incapacidade. O que teria sido a proclamação da independência? Um gesto resultante da vontade de D Pedro em liderar a separação do Brasil de Portugal, ficando à frente da monarquia? Ou teria sido um evento menor diante do processo que levou à separação do Brasil de Portugal? Qual seria uma interpretação mais apropriada e sem exageros dos acontecimentos? É isso que veremos a seguir! Seção 4 O Brasil imperial Entre 1822 e 1889, o Brasil foi um império governado por uma monarquia hereditária, isto é, o rei transmitia o poder para seus descendentes. D. Pedro I ficou no poder até 1831, quando retornou a Portugal, deixando em seu lugar, seu filho, também chamado Pedro, que ainda era uma criança e não poderia assumir o governo. Por isso, entre 1831 e 1840, houve um regime político chamado de regência, pois um político escolhido pelas elites ocupou o poder temporariamente. Finalmente, entre 1840 e 1889, o governo esteve nas mãos de D. Pedro II, último monarca brasileiro. Nas condições do Brasil imperial, os grupos que controlavam o Estado não tinham preocupações com a legitimidade do poder político, nem cuidaram de construir um forte sentimento de nacionalidade. A estabilidade política e a unidade do território eram garantidas pela força das armas, pela violência contra pobres, escravos e rebeldes em geral. As elites no poder, especialmente grandes proprietários de terra do nordeste e do sudeste, grandes comerciantes, banqueiros e traficantes de escravos, controlavam o Estado sob o poder político da monarquia. Ciências Humanas e suas Tecnologias História 17

A própria ideia de se sentir brasileiro não era nada comum e não incentivava ninguém a valorizar o país ou lutar por ele. Não havia escolas públicas, nem hospitais. As eleições para deputados e outros cargos políticos eram restritas a eleitores alfabetizados e com alguma riqueza. As redes de comunicação, como as estradas, eram péssimas, por isso, o contato entre as províncias (os atuais estados do país) não era comum. O poder local, nas pequenas cidades ou nas áreas rurais, era controlado pelos grandes proprietários de terras que também ocupavam as funções administrativas, como juiz, delegado e prefeito. O Estado não garantia direitos, não interferia na vida cotidiana, não organizava nem regulamentava as atividades econômicas, e também não se sentia responsável pelo desenvolvimento social do país. Então, para que servia esse Estado? Basicamente para duas finalidades. A primeira, impedir que o território brasileiro se fragmentasse em diversas nações independentes. E para isso, houve inúmeros confrontos em diversas províncias: a Confederação do Equador (1824-1825), no Nordeste; a Cabanagem (1833-1836), no Pará; a Sabinada (1837-1838), na Bahia; a Balaiada (1838-1841), no Maranhão; a Revolução Farroupilha (1835-1845), no Rio Grande do Sul; a Revolução Praieira (1848-1850), em Pernambuco. Os princípios e ideais de cada uma dessas rebeliões variavam de acordo com as classes sociais envolvidas, mas os temas da separação da província e do fim da escravidão estavam sempre presentes. A segunda finalidade do Estado imperial era garantir a permanência do sistema escravista e, portanto, a continuidade do regime de trabalho escravo. A estabilidade era obtida por várias estratégias: as leis que regulamentavam o tráfico e o uso de escravos, o sistema judiciário que punia os rebeldes, o controle policial que auxiliava os proprietários a manter os escravos no trabalho. Portanto, o Estado brasileiro estava centralizado nas mãos do imperador e da elite que o apoiava, impedindo a participação política da população. A sociedade escravista marcava com rigor as diferenças entre negros e brancos, escravos e livres, pobres e ricos. 18

Havia muito pouco espaço para construir uma identidade nacional que uniria a todos os brasileiros em torno da pátria. Uma pessoa comum, vivendo naqueles tempos, não se importava muito com o assunto e praticamente não experimentava este sentimento de brasilidade, isto é, de se sentir brasileiro. A formação de uma identidade nacional no Brasil foi se constituindo à medida em que a sociedade se tornou mais complexa, com a urbanização (o crescimento das cidades) e o fim da escravidão, em 1888. O Estado teve papel importante nessa construção da identidade, especialmente, a partir da Proclamação da República, em 1889. Portanto, na história do Brasil, o Estado republicano garantiu a unidade do território e criou as condições para que surgisse um sentimento de nacionalidade que só se consolidou muito tempo depois, já no século XX. Com base no texto, responda: a. Quais eram as finalidades do estado no segundo período da monarquia? b. Com o fim da monarquia, como ficou a questão da identidade nacional, antes ligada á monarquia? Seção 5 A República e o Estado Nacional Vimos até agora que no caso do Brasil, o Estado formou-se antes mesmo que uma identidade nacional estivesse fortalecida. Agora, vamos analisar de que modo o Estado começou a construir essa identidade a partir do fim do século XIX, para fortalecer a unidade do território e a permanência de certos grupos no poder. Por volta da década de 1870, as forças políticas que apoiavam o império brasileiro e o governo de D. Pedro II começaram a enfraquecer. Com o tempo, o imperador foi perdendo o apoio dos principais setores sociais que sustentavam a estrutura política do seu governo. Estes setores eram a Igreja Católica, o Exército e as elites de cafeicultores do Sudeste, especialmente, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Ciências Humanas e suas Tecnologias História 19

Quando o Marechal Deodoro da Fonseca, em 1889, proclamou a República, depois de liderar um rápido golpe de Estado (para destituir o imperador), não houve quem lutasse pela continuação da monarquia. Figura 8: O quadro retrata D. Pedro II, em 1873, em toda sua pompa. Observe os símbolos da monarquia. A ilustração feita por Angelo Agostini, em 1887, para a Revista Ilustrada revela outra visão do imperador. O novo governo alterava bastante o sistema político. Em vez de um imperador vitalício (para toda a vida) e hereditário (de pai para filho), o país seria governado por um presidente eleito e que ocuparia temporariamente o cargo. Para que essas e outras mudanças fossem garantidas, foi preciso eleger deputados e senadores, escrever uma nova Constituição e estabelecer uma reforma na administração do Estado. Naqueles tempos, a sociedade brasileira também passava por transformações importantes. O fim da escravidão, em 1888, foi a mais importante destas transformações e levou à expansão do trabalho assalariado. Os grandes fazendeiros e o Estado organizaram-se para estimular a imigração europeia, pois diziam que era preciso trazer trabalhadores preparados para substituírem os ex-escravos. Milhões de imigrantes atravessaram o Oceano Atlântico à procura de terra e trabalho, mas não imaginavam as condições de vida que deveriam enfrentar. Em um país como o Brasil, tradicionalmente acostumado a tratar com violência e explorar o trabalhador escravo, a relação com o trabalhador imigrante teria características semelhantes. Uma parcela importante dos imigrantes acabou se estabelecendo nas cidades e vilas, ampliando as atividades de comércio e oferecendo-se para o trabalho nas oficinas e pequenas fábricas. 20

Por outro lado, os ex-escravos - agora homens e mulheres livres - não seriam, na sua maioria, incorporados ao mercado de trabalho. Nas fazendas, as condições eram péssimas, pois permaneciam as tradições escravistas, como os castigos físicos ou simplesmente a recusa dos fazendeiros em remunerar os trabalhadores. Nas cidades, os empregos com salários mais altos e melhores condições de trabalho eram, em geral, ocupados pelos imigrantes ou pelos brancos nascidos no Brasil. Os preconceitos e o racismo, que foram tão importantes para manter o sistema escravista, permaneceriam como traços marcantes da sociedade brasileira, mesmo depois de decretado o fim da escravidão. O crescimento de diversas cidades, provocado pela vinda de imigrantes e de ex-escravos, foi acompanhado também de desenvolvimento econômico. Entre o fim do século XIX e as primeiras décadas do século XX (entre 1890 e 1930) a urbanização e a industrialização foram fenômenos intensos e importantes. Com mais indústrias e serviços, havia mais dinheiro circulando e ampliavamse as possibilidades de trabalho. Não era apenas a classe operária que crescia, mas também as camadas médias urbanas. Surgiam associações, clubes, sindicatos e partidos políticos que lutavam por novos Figura 9: Quadro Operários, de Tarsila do Amaral, pintado em 1933, após uma viagem que a pintora fez à antiga União Soviética (URSS). direitos e criticavam o modo como a política era controlada por uma elite restrita de fazendeiros e banqueiros. Inúmeras vezes, o Estado republicano utilizou a violência para controlar manifestações, impedir o surgimento de grupos de oposição e inibir a participação popular na vida política. No campo e na cidade, tais formas de violência provocaram a morte, prisão ou expulsão de milhares de pessoas do país. Na Bahia, o arraial de Canudos foi destruído pelas tropas do Exército, em 1897, quando cerca de 30 mil pessoas foram mortas. Na região do Contestado, entre Paraná e Santa Catarina, um conflito entre tropas militares e a população local deixou quase dez mil mortos, entre 1912 e 1916. As greves urbanas eram tratadas com intensa violência. A repressão atingia principalmente os líderes operários. Em 1907, foi aprovada a Lei Adolfo Gordo (de autoria do senador de mesmo nome) que autorizava o Estado a expulsar estrangeiros envolvidos com o movimento operário. Ciências Humanas e suas Tecnologias História 21

O Estado impedia que os anseios populares e as necessidades de mudança propostas pelas camadas médias fossem concretizados. Assim, as desigualdades econômicas permaneciam inalteradas. Havia também um forte controle da participação política, restrita à população que possuía riquezas e era alfabetizada. De acordo com os parágrafos anteriores, explique por que o Estado republicano precisou adotar estratégias mais complexas para construir a identidade nacional. Mesmo nessas condições, o Estado planejou certas estratégias para desenvolver e conduzir um sentimento de nacionalidade. A escola e, particularmente, o ensino de História foram importantes para consolidar essas estratégias. Você sabia que até a década de 1930 não existia uma estrutura nacional de educação? Não havia a responsabilidade legal do Estado em alfabetizar as crianças, muito menos os adultos. Mas nas escolas públicas e privadas, nos diversos estados do país, foram se organizando os temas fundamentais para valorizar a Pátria e o trabalho. Certamente, se vivêssemos nas primeiras décadas do século XX, estaríamos estudando capítulos de História Pátria. Nessa história, o passado brasileiro forma uma unidade que evolui necessariamente para a formação do Estado nacional. Contam-se apenas os episódios históricos que marcam as lutas pela construção de nossa identidade, de nossa independência política. Isto era feito de tal forma que a narrativa histórica de nosso passado buscava revelar, em todos os momentos e episódios, aqueles que foram precursores de uma ideia de nação, de independência, mesmo que essas noções não existissem à época dos acontecimentos. A História era colocada a serviço da construção de uma memória nacional sem contradições, isto é, sem que houvesse outros interesses, projetos e ideais de nação. Nessa História, Tiradentes e D. Pedro I se igualavam como defensores de um ideal comum. Zumbi e a Princesa Izabel surgiam com personagens do mesmo enredo que libertariam os escravos e colocariam fim ao regime de escravidão no Brasil. 22

Seção 6 O Estado Nacional e nossa identidade nacional Uma visão harmônica da história brasileira também foi objeto de interesse dos governos do período da Ditadura Militar no Brasil, entre 1964 e 1984. Além Civismo Civismo refere-se aos valores e práticas que valorizam o bem comum de uma determinada sociedade, que são difundidos e praticados pelos cidadãos e defendidos pelo Estado. de uma história feita por heróis e que indicava uma harmonia natural na construção de nossa identidade, o regime militar preocupou-se em difundir princípios de ordem moral e cívica através das escolas e também de manifestações públicas, como os desfiles cívico-militares. O problema é que o civismo estava a serviço do regime, sem visar à formação de cidadãos conscientes de deveres e direitos, e que se comprometessem com a luta democrática pela transformação das condições que faziam - e ainda fazem - do Brasil, uma sociedade desigual, injusta e violenta. Com a redemocratização do país nos anos 80, muitas dessas manifestações constituíram-se em formas de protesto dos cidadãos contra as arbitrariedades e injustiças da sociedade. Uma das maneiras de forjar uma identidade nacional, ou seja, de construir uma unidade de nossa alma nacional deu-se através do futebol. Nas primeiras copas do mundo, a ideia de que um time pudesse encarnar a identidade de um povo ainda não estava plenamente consolidada. Mas, aos poucos, o futebol como um esporte que atraía as massas, passou a interessar alguns agentes que passaram a associar algumas características desejáveis da identidade nacional ao estilo de jogo, apresentado pelos times. Isto se naturalizou de tal maneira que jogar de forma fria e mecânica passou a identificar o jeito alemão de jogar, por exemplo; jogar com raça e catimba, caracteriza o futebol dos brasileiros e também dos argentinos. Mas será que podemos identificar um povo pelo modo como joga sua seleção nacional de futebol? Leia os textos a seguir: Texto 1 O que se pede dos brasileiros hoje, nessas circunstâncias, é amor ao Brasil. Jogar a partida de ponta a ponta com a alma voltada para cima, inspirada nos altos interesses da 7 Pátria. O esporte, muitas vezes, tem se transformado em autênticos testes de patriotismo. Vestindo a camisa de seu país, o atleta pode demonstrar sua capacidade em defendê-lo. E isto ocorre, certamente, quando se trata de lutas no campeonato internacional. A vibração deve ser maior. A vitória transcende ao simples prazer de vencer. Por trás do triunfo, está um mundo que é a pátria. ( Brasil!. A Gazeta Esportiva, 13/07/1950, p.2) Ciências Humanas e suas Tecnologias História 23

Texto 2 7 Que há responsáveis pelo nosso fracasso, isto é indiscutível. E entre os inúmeros pontos falhos devemos nos reportar ao aspecto psicológico. Transformamos a batalha de Maracanã num lance decisivo de nacionalismo, distraídos de que muitos de nossos jogadores, por razões naturais e aceitáveis, não estavam em condições absolutas de arcar com tamanha responsabilidade. No esporte é um mal confundir-se gols com patriotismo. ( Crítica construtiva. A Gazeta Esportiva, 20/06/1950, p.2) Os textos que você acaba de ler foram publicados pelo jornal A Gazeta Esportiva durante a Copa do Mundo de 1950, disputada no Brasil. O texto 1 foi publicado no dia do jogo do Brasil contra a Espanha, que terminou com uma goleada brasileira de 6x1. O texto 2 foi publicado após a derrota do Brasil para o Uruguai, por 2x1 na partida decisiva do mundial. Analisando os textos, podemos concluir que durante a Copa do Mundo de 1950, parte da imprensa esportiva via o futebol como: a. ( ) mera competição esportiva que não se confundia com questões políticas ou nacionais e que deveria ser tratada como tal. b. ( ) forma de alienação da população em relação aos problemas reais que sofria o povo brasileiro, fazendo do futebol o ópio do povo. c. ( ) instrumento de manobra do clubes esportivos que aproveitaram a situação para promover seus jogadores e aumentar seu próprio prestígio. d. ( ) forma de identificar o povo brasileiro a um sentimento nacionalista e patriótico independente dos resultados das partidas. e. ( ) maneira de identificar o povo brasileiro dando expressão ao sentimento nacional e de amor à pátria, mas que é questionado depois da derrota. 24

Como vimos, o processo de construção da nossa identidade foi marcado por inúmeros conflitos entre os diversos grupos sociais. A luta para estabelecer uma identidade nacional foi e continua sendo uma tarefa difícil para as elites que procuram sempre ocultar as tensões e diferenças entre as classes sociais. Em vários momentos da história republicana, a sociedade manifestou seu descontentamento e sua rebeldia contra o poder do Estado. O controle desse Estado pelas elites e sua legitimidade perante a sociedade dependeu e ainda hoje, depende de duas forças que quase sempre andam juntas: a coerção e a persuasão. A coerção caracteriza-se pelo uso da violência e do controle direto sobre a vida do indivíduo. Por exemplo, ao infringir uma lei, há mecanismos de punição que todos conhecem (multas, prisão, perda de uma propriedade, suspensão de algum direito). A persuasão é a força do convencimento. Graças a ela, a sociedade aceita e considera necessárias as formas de controle do Estado. A força de persuasão está presente nas ideias difundidas pelos meios de comunicação, pelos intelectuais, pela escola e pelos representantes do Estado (funcionários ou indivíduos que participam do governo). O Estado também exerce sua influência ao construir os inúmeros símbolos da nacionalidade: a bandeira, o hino, as datas cívicas comemorativas, como o Dia da Independência. do texto. Para concluir esta aula, faça a atividade seguinte, que envolve uma síntese do que vimos nas diferentes seções Ciências Humanas e suas Tecnologias História 25

Selecione um material de publicidade que envolva o tema do Brasil em qualquer meio de comunicação (TV, rádio, jornais, Internet). Pode ser a publicidade de um produto 8 (carro, refrigerante, combustível etc.) ou uma propaganda do governo. Faça uma análise dela e, a partir da leitura desta unidade, identifique dois aspectos importantes da publicidade selecionada: a. Quais são as imagens utilizadas para falar do Brasil? b. Escreva sobre a ideia transmitida pela publicidade? Observe que a ideia não está presente apenas nas palavras, mas em todos os elementos da publicidade (as imagens, as palavras, os sons, se houver). Resumo Nesta aula, você viu que a identidade também é resultado da relação entre a sociedade e o Estado. Ao longo da história do nosso país, o sentimento de ser brasileiro foi construído por determinadas práticas, estratégias e ações que os grupos sociais no controle do Estado adotaram. A memória e a identidade nacional são elaboradas a partir de uma seleção unificada de memórias que privilegia determinados grupos sociais (com interesses de poder e domínio) e que tende a ocultar propositalmente a memória de outros grupos sociais e étnicos. Um exemplo dessa prática está na construção da identidade nacional brasileira. Nosso território é ocupado por povos de diferentes origens, muitos dos quais já estavam aqui antes da chegada dos europeus. Há ainda os povos africanos que foram trazidos à força, em regime de escravidão. No entanto, sempre ensinaram nas escolas que o Brasil foi construído pelos personagens que controlavam o poder ou que estavam a serviço dele. Valorizamos símbolos da pátria que estão presentes em museus, nas músicas, nos filmes que foram até transformados em esculturas e expostos nas praças de várias cidades, mas não valorizamos os grupos que foram propositalmente levados ao esquecimento. 26

Veja ainda Se quiser saber mais sobre o assunto desta aula, aproveite as seguintes dicas. O filme "Barbosa", de 1988, direção de Jorge Furtado é um filme curto (12 minutos) sobre um personagem que se sente obcecado pela derrota da seleção brasileira, na copa de 1950, contra o Uruguai. Ele fabrica uma máquina do tempo e volta ao dia do jogo para impedir a vitória da seleção uruguaia e mudar os rumos da história. Filme disponível no endereço eletrônico: http://www.portacurtas.com.br/buscaficha.asp?diret=460 Há também dois livros de Lima Barreto (1881 1922): Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909) narra a história de um personagem mulato que sofre os preconceitos raciais que permaneceram mesmo com o fim da escravidão. No outro livro, Triste fim de Policarpo Quaresma (1915), o autor analisa a história dos primeiros anos da República na perspectiva de um personagem profundamente nacionalista. Na Internet, visite o site da Biblioteca Nacional (http://www.revistadehistoria.com.br/). Eles mantêm uma revista mensal com textos bem escritos e que abordam diversos temas da história do Brasil e do mundo. livros FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo, Edusp, 1999. CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas. O imaginário da República no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1990. Imagens Acervo pessoal Andreia Villar http://commons.wikimedia.org/wiki/file:bev%c3%b6lkerungsdichte_brasiliens.png http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro:princesa_imperial_dona_isabel_de_bragan%c3%a7a.jpg http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001601.pdf http://www.brasildemocraciadireta.hpg.com.br/contato.html Ciências Humanas e suas Tecnologias História 27

http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro:flag_revolt_of_the_tailors.svg Acervo do Museu Imperial/IPHAN/(Petrópolis, RJ) http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro:independ%c3%aancia_ou_morte.jpg http://commons.wikimedia.org/wiki/file:fala_do_trono.jpg?uselang=pt-br http://commons.wikimedia.org/wiki/file:pedro_ii_angelo_agostini.jpg?uselang=de http://www.flickr.com/photos/certo/4245641169/ http://www.sxc.hu/photo/517386 http://www.sxc.hu/985516_96035528 28

Atividade 1 a. Segundo o poema, os trabalhadores (pedreiros, escravos, cozinheiros etc.) são os principais personagens ausentes das narrativas oficiais dos acontecimentos históricos. b. O desafio proposto é reescrever parte desse poema pensando na história de seu município, ou seja, olhar a história a partir do ponto de vista do povo trabalhador. Atividade 2 a. alternativa A b. A tentativa de transformar a Princesa Isabel em Redentora, isto é, salvadora dos escravos, e como principal agente do processo que culminou na Lei Áurea, foi uma estratégia utilizada por setores da monarquia para angariar apoio popular e tentar garantir sua continuidade como regime político do país. Atividade 3 a. O conjunto de relações entre uma metrópole europeia e sua colônia forma o chamado Sistema Colonial. Economicamente, as colônias atuavam como fornecedoras de produtos agrícolas e minerais, e consumidoras dos produtos da metrópole, que monopolizava todo o comércio. Politicamente, elas eram fonte de poder das realezas europeias que controlavam toda a administração de seu território. b. O sistema colonial era constituído por uma relação desigual entre a colônia e a metrópole, pois a colônia produzia riquezas que eram facilmente transferidas para a metrópole. Isso ocorria porque o comércio era monopólio da metrópole, isto é, ela definia os preços e os produtos a serem comercializados. Com o crescimento das elites coloniais, essas regras eram claramente contrárias aos interesses dessas elites. Além disso, essas elites exigiam maior poder político para tomarem decisões que eram tomadas apenas pela metrópole e seus representantes. Ciências Humanas e suas Tecnologias História 29

Atividade 4 a. A imagem da Figura 6, uma tela intitulada A Proclamação da Independência do pintor René Moureaux, feita em 1844, destaca a figura de D. Pedro que, a cavalo, aparece rodeado por pessoas do povo (mulheres, crianças, jovens), e, ao fundo, aparecem outros cavaleiros, saudando as pessoas com seus chapéus. A imagem da Figura 7, o quadro independência ou morte de Pedro Américo, de 1888, retrata a cena do chamado grito do Ipiranga, com destaque para D. Pedro que, a cavalo e de espada erguida, aparece cercado por sua guarda e comitiva, o único elemento popular que assiste à cena é um guia de carro de bois, carregado de toras de madeira. b. Nas duas imagens, a figura de D. Pedro aparece em destaque, ocupando o centro da cena. Na Figura 6, ele aparece cercado por pessoas comuns como um líder popular, que festeja a independência junto à população. Na Figura 7, ele representa um líder que ocupa o centro de um acontecimento especial, que se confirma com um gesto solene de bravura ao erguer a espada. Atividade 5 Com base no texto, responda: a. Basicamente para duas finalidades. A primeira era garantir a unidade do território e impedir que o país se fragmentasse em diversas nações independentes. A segunda finalidade do Estado imperial era garantir a permanência do sistema escravista e, portanto, a continuidade do regime de trabalho escravo. b. A partir da Proclamação da República, em 1889, a questão da identidade nacional, antes ligada à Monarquia, passou a interessar bastante aos republicanos. O novo regime teve papel importante nessa construção da identidade, especialmente criando as condições para que surgisse um sentimento de nacionalidade. Por isso, os republicanos investiram em novos símbolos da nova ordem, como o Hino e a Bandeira Nacional, e constituíram uma nova galeria de heróis nacionais. 30

Atividade 6 A mudança do sistema político, a extinção da escravidão e a organização de um mercado de trabalho livre, a chegada de imigrantes, o desenvolvimento das cidades, com a urbanização e industrialização, e a atuação de novos grupos sociais formavam um novo contexto, exigindo que o Estado republicano adotasse estratégias mais complexas para construir a identidade nacional. Atividade 7 Alternativa E Atividade 8 Escolha uma publicidade que trate diretamente do assunto, como ocorre na época da Copa do Mundo ou nas campanhas governamentais. Ciências Humanas e suas Tecnologias História 31

O que perguntam por aí? Questão ENEM 2010 Quem construiu a Tebas de sete portas? Nos livros só constam os nomes dos reis. Arrastaram eles os blocos de pedra? E a Babilônia tantas vezes destruída. Quem a ergueu outras tantas? Em que casas da Lima dourada moravam os construtores? Para onde foram os pedreiros na noite em que a Muralha da China ficou pronta? A Grande Roma está cheia de arcos do triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os césares? BREChT, B. Perguntas de um trabalhador que lê. Disponivel em: http://recantodasletras.uol.com.br. Acesso em: 28 abril 2010. Partindo das reflexões de um trabalhador que lê um livro de história, o autor censura a memória construída sobre determinados monumentos e acontecimentos históricos. Acrítica refere-se ao fato de que: a. Os agentes históricos de uma determinada sociedade deveriam ser aqueles que realizaram feitos heroicos ou grandiosos e, por isso, ficaram na memória. b. A história deveria se preocupar em memorizar os nomes de reis ou dos governantes das civilizações que se desenvolveram ao longo do tempo. c. Os grandes monumentos históricos foram construídos por trabalhadores, mas sua memória está vinculada aos governantes das sociedades que os construíram. Ciências Humanas e suas Tecnologias História 33