TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 20.114/2002 ACÓRDAO



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Transcrição:

TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 20.114/2002 ACÓRDAO Colisão de jet-ski sem denominação com banhistas que se encontravam na areia da praia provocando lesões graves. Imperícia da condutora que perdeu a direção e subiu na areia. Imprudência dos outros dois representados em entregarem a pessoa não habilitada a condução do jet-ski. Condenação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. No dia 21 de maio de 2002, na praia do Forte Orange, ilha de Itamaracá, PE, ocorreu a colisão de um jet-ski, sem denominação, inscrito sob o nº PE-1204, com a turista Claudia de Carvalho Sanchez, provocando-lhe lesões corporais. Dados característicos da embarcação: Embarcação: sem denominação Classificação: interior esporte e ou recreio com propulsão outras embarcações Porto de inscrição: Recife Ab: embarcação miúda Proprietário: Edmilson de Oliveira Gomes Bandeira: Brasil Comprimento: embarcação miúda Foram ouvidas as seguintes testemunhas: Claudia de Carvalho Sanchez; Ola Magnus Burman; Lars Henrik Nordbrandt; Maurício Eufrásio de Santana; Edmilson de Oliveira Gomes;

Genival José do Nascimento Ana Claudia Claudina dos Santos; Arthur Cleyton Serpa Azevedo; e Cláudio Pedro de Oliveira. No seu depoimento Claudia de Carvalho Sanchez, Pedagoga (fls. 22/24), ao ser perguntada sobre o acidente envolvendo sua pessoa e um jet-ski na praia do Forte Orange, no dia 21 de maio de 2002, respondeu que em todo momento que estava na praia, percebeu a presença de um jet-ski com cor predominante branca, conduzida por um senhor branco, com idade estimada entre 35 e 40 anos, tendo como acompanhante, uma moça morena aparentando vinte e poucos anos; que fazia suas manobras normalmente, numa distância de no máximo 50 metros da areia; que em certo momento a depoente foi até a água com o seu filho de 1 ano, permanecendo cerca de 20 minutos; que em seguida subiu para areia para cavar uma piscina e brincar com seu filho; que se encontrava de costas para o mar quando percebeu o aumento do barulho do motor do jet-ski; virou-se procurando observar o jet-ski, que vinha sendo conduzido naquele momento pela moça; que ao tentar fazer uma curva, seguiu em direção a areia onde a depoente se encontrava com o filho; que imediatamente pegou-o no colo e voltou-se em direção ao jet-ski para ver o sentido em que o mesmo estava seguindo, e sem acreditar no que estava vendo, pois imaginou que o mesmo em contato com a areia fosse parar, começou a andar para trás, mas não deu tempo devido a velocidade em que o jet-ski se encontrava atingiu a sua perna direita, provocando fraturas e machucados na perna esquerda. Em decorrência ainda do choque do jet-ski com a sua perna, o seu filho chocou-se com o seu corpo, machucando a boca e as pernas e com o impacto na areia sofreu alguns arranhões nas pernas. Uma pessoa, que naquele momento não identificou, pegou seu filho e foi observar sua perna, notando que estava muito deformada. O seu marido chegou e imediatamente ficou ao seu lado. Na ocasião houve tumulto 2

generalizado. Um caminhoneiro que estava na praia ajudou a transporta-la colocando embaixo da sua perna uma prancha fina e em seguida ajudou a entrar em um carro Astra e foi com o depoente até um Hospital Público em Itamaracá, para prestar os primeiros socorros. Em seguida foi removida no mesmo carro para o Hospital Esperança. No momento do acidente não havia banhistas na água próximo ao local onde a depoente se encontrava; ao ser perguntado se em algum momento o proprietário do jet-ski ou a pessoa que o alugou, lhe procurou para prestar algum tipo de ajuda, respondeu, não; que na sua opinião a causa determinante do acidente foi a irresponsabilidade do locador do jet-ski que entregou a direção do jet-ski a uma pessoa não habilitada, e a imperícia da condutora; acrescentou a depoente que no momento está inválida, sem previsão de recuperação a curto ou médio prazo; que ficará totalmente prejudicada no aspecto profissional, financeiro e doméstico; que gostaria que a Marinha intensificasse a sua fiscalização na área da praia do Forte Orange e adjacências; que ficou surpresa por conta dos guardas municipais só terem tomado providências após o acidente, quando poderiam intensificar a fiscalização no sentido de garantir a integridade física dos banhistas e das pessoas que estavam na faixa de areia. No seu depoimento Ola Magnus Burman, sueco, metalúrgico (fls. 29/31), disse que o homem que lhe alugou o jet-ski falava um pouco de inglês permitindo o depoente se comunicar com ele e lhe dizer que queria alugar o jet-ski por 30 minutos, que lhe custou R$ 60,00 (sessenta reais); disse que não é habilitado a pilotar jet-ski, porém já pilotou várias vezes; ao ser perguntado se na Suécia é exigida habilitação para pilotar jet-ski, respondeu que não sabia e nem nunca ouviu falar que é preciso ter licença; que o homem que alugou o jet-ski não exigiu nada; e que lhe foi dada instrução para manobrá-lo. O depoente e sua acompanhante utilizavam colete salva vidas e o jet-ski dispunha de cabo de contato para ser conectado ao colete salva vidas; que não percebeu nenhuma falha mecânica no equipamento que possa ter contribuído para o 3

acidente; e não sabe informar se a sua acompanhante, Ana Claudia, é habilitada a conduzir jet-ski. A distância a contar do início do espelho d água, onde ocorreu o acidente, era entre um metro e um metro e meio da faixa da areia. Na sua opinião, a Ana Claudia, ao tentar fazer a curva, apavorou-se ou assustou-se e soltou o acelerador. O jet-ski para fazer uma curva é necessário acelerar, o que ela não fez, fazendo com que fosse em linha reta em direção a praia. No seu depoimento Lars Henrik Nordbrandt, sueco, securitário (fls. 37/38), disse que, primeiro pilotou o jet-ski, depois passou para o Magnus e em seguida o jet-ski passou a ser pilotado pela Ana Claudia; que estava sentado na praia, quando o jet-ski pilotado por ela, ao tentar fazer uma curva, saiu reto para praia; que o depoente não é habilitado e a pessoa que alugou o jet-ski não exigiu nenhuma documentação ou habilitação. No seu depoimento, Maurício Enfrásio de Santana, guarda municipal da Prefeitura da ilha de Itamaracá (fls. 43/45), ao ser perguntado qual é o seu trabalho na praia do Forte Orange, respondeu: existe uma área da praia delimitada pela Prefeitura, por duas placas, onde o banhista poderá utilizar, sendo a finalidade dos guardas, evitar que embarcações trafeguem próximo da praia e que as mesmas podem apenas encostar na areia o tempo suficiente para o desembarque dos turistas; acrescentou o depoente que se uma embarcação demorar além do tempo para o desembarque, a mesma será notificada; que existe também uma área próxima do Forte Orange, onde é restrita para os associados da Associação dos lancheiros de Itamaracá; que existe uma outra área mais ao sul, em direção a Marina do Sinval, que é utilizada pelos lancheiros bagunçados, ou seja, os que não são autorizados a trafegar no local, sendo que muitos deles não são habilitados. No dia do acidente a praia estava praticamente deserta e o depoente havia subido em direção das barracas afim de tomar um copo d água, quando seu colega Cláudio o alertou para um problema a beira mar. Ao chegar ao local, a cerca 4

de 60 metros, percebeu um jet-ski deitado na areia a cerca de uns 10 metros da água, ao seu lado uma senhora com a perna fraturada e um homem que depois veio saber que era o seu marido, desesperado, com uma criança no colo, com um pequeno arranhão no rosto. No sentido de evitar maior tumulto, o depoente e mais dois colegas seguraram os dois causadores do acidente, um homem e uma mulher. A pessoa que alugou o jet-ski, era um homem moreno com cerca de 1,75 m de altura, forte, de cabelo ruim, crespo, estava fazendo gracinhas querendo levar o jet-ski de todo jeito; que em função daquela atitude avisamos que se continuasse, daríamos voz de prisão; que foi contactado a guarda municipal, a Companhia de Policiamento do Meio Ambiente e Polícia Civil para as providências cabíveis. No seu depoimento Edmilson de Oliveira Gomes, Marinheiro Regional de Convés (fls. 49/50), disse que é proprietário do jet-ski envolvido no acidente há cerca de 2 anos, ao ser perguntado a quem entregou o jet-ski de sua propriedade para ser alugado a turistas na praia do Forte Orange, respondeu, emprestei a Val; que o mesmo devolveu a embarcação sem nenhum problema mecânico. No seu depoimento Genival José do Nascimento, conhecido por Val, Marinheiro Auxiliar de Convés (fls. 53/54), disse que estava na praia com o jet-ski e encontrou um taxista que estava com um gringo e uma garota; que já havia visto essa garota com outros gringos; que o jet-ski estava com pouca gasolina e o depoente passou para o gringo a fim de descolar algum dinheiro, para reabastecer, cerca de R$ 50,00 (cinqüenta reais); ao ser perguntado se ao ceder o jet-ski ao gringo, se informou se o mesmo era habilitado, respondeu: procurei saber, mas ele não tinha habilitação. No seu depoimento Ana Claudia Claudina dos Santos, sem profissão definida, fls. 57/59, disse que a depoente acompanhada de uma colega, mais o Magnus e um amigo, chegaram de táxi ao Forte Orange, que vieram umas 3 pessoas oferecer jet-ski para aluguel, que foi acertado com o Magnus o aluguel explicando para o Magnus como 5

acelerava e mexia no jet-ski. A depoente nunca havia andado de jet-ski. O Magnus perguntou se ela queria andar de jet-ski, tendo respondido que nem sabia mexer naquilo. Então o Magnus falou que me ajudaria a pilotar. A depoente ficou na frente e ele na garupa; que após dar umas três voltas, perdeu a direção e foi direto para a areia, onde estava uma criança e sua mãe. Para evitar atingir a criança o Magnus conseguiu virar a direção, atingindo a perna da mãe da criança e caíram longe do jet-ski, embolando na areia. O marido da turista veio correndo e deu vários socos na cabeça do Magnus, que a depoente falou para não bater no Magnus, pois a responsável era ela; que a distância a partir do espelho d água que a depoente estava passeando com o jet-ski era de uns 15 metros. A maré estava enchendo e não havia outros jet-ski ou lanchas navegando na área. Disse que estava realizando o passeio e que na sua opinião a causa do acidente foi que o jet-ski estava muito próximo da areia e quando foi fazer a curva não teve jeito, indo direto para a areia, pois a depoente não sabia manobrar. Ao lhe ser perguntado porque, mesmo não sabendo pilotar, aceitou em conduzir o jet-ski, respondeu: por que a pessoa que alugou e ajudou a colocar os coletes, disse que era fácil de manobrar, era apenas se equilibrar e controlar o acelerador; que para alugar jet-ski na praia do Forte Orange, não é preciso ter habilitação, é preciso apenas pagar o aluguel. No seu depoimento Arthur Cleyton Serpa de Azevedo, guarda municipal (fls. 62/63), disse que os responsáveis pelos jet-ski na praia do Forte Orange, oferecem aos turistas, acertam o preço do aluguel, dão uma rápida instrução e o jet-ski é entregue aos turistas; que os jet-ski trafegam em frente a praia do jeito que eles querem, a qualquer distância; que os guardas municipais não tem condição de impedir o tráfego de embarcações próximo da praia e que existem muitas lanchas e jangadas com numeração raspadas. Para dificultar sua identificação e possível autuação. Seria muito bom que houvesse uma melhor fiscalização por parte da Marinha nas embarcações que trafegam no local. 6

Verificou-se no exame de corpo de delito nº 7088/02, emitido pelo Instituto de Medicina Legal Antonio Persivo Cunha, atinente a pessoa de Claudia de Carvalho Sanchez, a presença de tala gessada em membro inferior direito. Escoriações em face interna do terço inferior da perna esquerda. O prontuário de nº 01.130.003 do Hospital Esperança, esclarece que houve fraturas completas de tíbia e perôneo a nível de platô e diáfise, respectivamente; lesões comprovadas radiologicamente, fls. 71. Verificou-se no ofício nº 077/2002-SC da 13ª Delegacia de Polícia Metropolitana, ilha de Itamaracá, datado de 23 de maio de 2002, que a Srª Ana Claudia Claudina dos Santos foi indiciada nos termos do art. 129, parágrafo 6º e 7º do CPB, e o Sr. Genival José do Nascimento, nos termos do art. 29, do CPB, fls. 3. Foi procedida perícia, conforme o laudo de exame pericial, fls. 85/86, onde os peritos afirmaram que o motor do jet-ski nº de inscrição PE-1204, não apresentava problemas em seu funcionamento, assim como o seu sistema de governo; verificou-se apenas uma pequena folga na manete de aceleração, porém não comprometia o sistema de aceleração; verificou-se ainda que ao se acionar a manete, o motor acelerava e desacelerava normalmente. Que, de acordo com a tábua de marés do dia 21 de maio de 2002, no momento do acidente a maré estava de enchente e que na ocasião o tempo estava chuvoso e a visibilidade era boa. Que o fator operacional contribuiu para o acidente, tendo em vista que a condutora da embarcação não era habilitada e não tinha nenhuma experiência na condução de jet-ski. Concluindo os peritos que a causa determinante do acidente foi a imperícia da condutora do jet-ski, ao realizar uma manobra em área delimitada para banhistas, perdendo o controle da embarcação, atingindo a Srª Claudia de Carvalho Sanchez, que se encontrava na faixa de areia da praia do Forte Orange, cerca de um metro e meio distante do início do espelho d água. De tudo quanto contêm os presentes autos, conclui-se: 1) Fatores que contribuíram para o acidente: 7

a) fator humano: não determinado; b) fator material: não contribuiu; e c) fator operacional: contribuiu, conforme o dito no laudo de exame pericial, fls. 86. 2) Que, são possíveis responsáveis pelo acidente: Direto: Ana Claudia Claudina dos Santos, por imperícia e imprudência, ao conduzir a embarcação em área não permitida, delimitada para banhistas, sem habilitação e nenhuma experiência na condução de jet-ski. Indireto: Genival José do Nascimento, por imprudência e negligência, ao alugar o jet-ski com finalidade comercial, para pessoa não habilitada, expondo a risco a incolumidade/segurança do condutor e outrem; Indireto: Ola Magnus Burman, por imprudência, ao incentivar a sua acompanhante a pilotar o jet-ski, mesmo tendo sido alertado pela mesma que não sabia manobrar a embarcação; e Indireto: Edmilson de Oliveira Gomes, por negligência, em não ter se certificado que sua embarcação seria alugada ou emprestada a pessoa não habilitada. A Procuradoria Especial da Marinha, por seu representante legal infrafirmado, vem oferecer a presente representação em face de Ana Cláudia Claudina dos Santos, brasileira, solteira, sem profissão definida, Genival José do Nascimento, brasileiro, marinheiro auxiliar de convés, inscrição CIR nº 221-001.157-4, e Ola Magnus Burman, sueco, solteiro, passaporte nº 43-303612, expedido na cidade de Lulea, Suécia, residindo em Balingevagem, nº 301, Lulea, Suécia, CEP: 97.594, a ser citado por edital, com fulcro no art. 14, letra a (colisão), da Lei nº 2.180/54, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: Constam dos autos que, no dia 21 de maio de 2002, por volta das 15h, ocorreu a colisão do jet-ski sem denominação, de propriedade do Sr. Edmilson de Oliveira 8

Gomes, contra a banhista Claudia de Carvalho Sanches, causando-lhe as lesões referidas no documento de fls. 74, evento ocorrido na praia do Forte Orange, na ilha de Itamaracá-PE. Registre-se, por oportuno, que, no dia do acidente, o jet-ski fora emprestado pelo seu proprietário ao segundo representado, ao que tudo indica, para uso pessoal do mesmo. Contudo, o segundo representado, Genival José do Nascimento, decidiu, espontaneamente, alugar o referido jet-ski para alguns turistas suecos, que, sabidamente, não eram habilitados para conduzir a moto-aquática. Depois de terem dado algumas voltas, sem qualquer acidente, a representada Ana Claudia Claudina dos Santos, também inabilitada, assumiu a direção do jet-ski, tendo sido incentivada a faze-lo pelo 2º e 3º representados (Genival e Ola). A tragédia aconteceu logo em seguida, quando inacreditavelmente, a condutora, após perder o controle do jet-ski, veio a chocar-se com uma banhista que se encontrava na areia da praia, divertindo-se, inocentemente, com seu bebê de apenas 1 ano. O laudo pericial de fls. 85/86 conclui, com perfeição, que a causa determinante do acidente foi imperícia da condutora Ana Claudia Claudina dos Santos, ao realizar uma manobra em área delimitada para banhistas, perdendo o controle da embarcação, atingindo a Srª Claudia de Carvalho Sanchez, que se encontrava na faixa de areia da praia do Forte Orange, cerca de um metro e meio distante do espelho d água. Resta-nos apreciar a responsabilidade dos representados no evento em exame. Primeiramente, no tocante à 1ª representada, percebe-se que a mesma atuou com imperícia na condução do jet-ski, não conseguindo pilotá-lo corretamente. Além disso, foi imprudente ao conduzir a motoaquática em uma área delimitada para 9

banhistas e, além disso, ao se aventurar a pilotar o jet-ski quando não possuía nem habilitação, nem experiência na condução do jet-ski. No tocante ao 2º representado, observa-se que o mesmo foi imprudente ao alugar o jet-ski a pessoas não habilitadas e a inclusive incentivar a primeira representada a pilotar quando a mesma não possuía nenhuma experiência nisso. Finalmente, quando ao 3º representado, Ola Magnus Burman, percebe-se que o mesmo teve participação decisiva para a eclosão do presente acidente, uma vez que induziu a primeira representada a pilotar o jet-ski, fazendo-a crer que isto seria fácil. Imperioso registrar que deixa-se de incluir na presente representação o proprietário do jet-ski, Edmilson de Oliveira Gomes, considerando que inexistem provas nos autos apontando que o mesmo tenha autorizado o seu amigo Genival José do Nascimento a alugar o jet-ski. Ante o exposto, requer seja recebida a presente representação e citados os representados para que estes, querendo, venham a contestá-la, e, ao final, a condenação dos mesmos nas penas e custas processuais estabelecidas na Lei nº 2.180/54, com as alterações decorrentes da Lei nº 8.969/94. Finalmente, protesta por todas as provas em direito admitidas, porventura ainda necessárias. Recebida a representação, os representados revéis foram defendidos pela Defensoria Pública da União. O representado Genival José do Nascimento alega em sua defesa (fls. 131) o que se segue: Que, na realidade, ele não foi o responsável pelo aluguel do jet-ski envolvido no acidente com a banhista na praia do Forte Orange em 21 de maio de 2002. 10

Que o funcionário do proprietário, Sr. Nivaldo é quem aluga constantemente o jet-ski a qualquer pessoa com ou sem habilitação e foi ele quem alugou o jet-ski envolvido no acidente. Assim sendo, o representado não pode ser condenado por um ato que não praticou. A Defensoria Pública da União, que esta subscreve vem, em conformidade com o despacho de fls. 143, apresentar a defesa de Ana Cláudia Claudina dos Santos e Ola Magnus Burman, pelas razões que passa a expor: Fatos: Representação de Procuradoria Especial da Marinha em face de Ana Cláudia Claudina dos Santos e Ola Magnus Burman, em virtude do acidente de navegação de acordo com o artigo 14, letra a, da Lei Orgânica do Tribunal Marítimo 2.180/54. No dia 21 de maio de 2002, Ana Cláudia Claudina dos Santos, pilotava um jet-ski sem denominação, tendo como passageiro Ola Magnus Burman, onde perdeu o controle da direção e veio a colidir com a banhista Cláudia de Carvalho Sanches. A vítima sofreu fraturas na perna esquerda, resultando na incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias. No tocante à Ana Cláudia, a D. Procuradoria a acusa de imperícia na condução do jet-ski, e de imprudência ao conduzir o mesmo em área delimitada para banhistas, além dos fatos de não possuir habilitação, nem experiência para conduzir o jet-ski. A representada, em seu depoimento, alega a falta de experiência e diz que um dos fatores decisivos para aceitar pilotar, foi o fato do responsável pelo aluguel do referido jet-ski Sr. Genival José do Nascimento ter incentivado a acusada: Porque a pessoa que me alugou, me ajudando a botar os coletes, disse que era fácil de manobrar, era apenas se equilibrar e controlar o acelerador. (fls. 58). 11

O representado Ola Magnus Burman, estrangeiro, desconhecia o fato da obrigatoriedade de habilitação para se conduzir um jet-ski. Vale ressaltar que em nenhum momento essa documentação foi pedida aos 2 representados, antes de efetivar o aluguel. Por sua vez, Genival José do Nascimento abordou os 2 representados oferecendo o aluguel do jet-ski agindo de forma a dar a entender que não era necessário habilitação e apesar de ter sido informado da inexperiência de Ana Cláudia, insistiu que era fácil conduzir o jet-ski. Na verdade o Genivaldo sequer tinha autorização do dono do jet-ski para alugar o mesmo, e deixou bem claro em seu depoimento que apenas estava visando o dinheiro que iria ganhar com o aluguel, eu passei o jet-ski para o gringo para descolar algum dinheiro (fls. 53), não se importando com as normas ou a segurança dos arrendatários. A vítima Cláudia de Carvalho Sanches atribui a culpa do acidente à irresponsabilidade do locador do jet-ski, que entregou este a uma pessoa não habilitada. Não há dúvidas que se existiu culpa neste acidente, esta se restringe ao Sr. Genivaldo, pois sendo ele o responsável pelo jet-ski, e morador da região, presume-se que conhecia as normas legais. Podendo ser dito que ele induziu a Srª Ana Cláudia ao erro de acreditar que não havia problema em pilotar o jet-ski. Ola Magnus Burman, apenas tinha a intenção de se divertir junto a sua amiga, jamais podendo prever o que ocorreu. Cabe aqui salientar que cabia ao Sr. Genivaldo, alertá-los, primeiro da proibição de se conduzir jet-ski sem habilitação, e segundo do risco de se conduzir um jet-ski sem nenhuma experiência (vale lembrar o que ele fez foi incentivar). No que diz respeito a acusação de se conduzir em uma área delimitada para banhistas, deve-se ressaltar que, apesar da presença de guardas municipais responsáveis 12

por esta fiscalização no local, em nenhum momento foi informado aos acusados a que distância deveriam permanecer da praia. Não podendo deixar de ser citada a responsabilidade da autoridade municipal, pois diversas pessoas afirmam ser de conhecimento público o fato de não haver nenhum critério para o aluguel dos jet-ski na praia do Forte Orange, Itamaracá-PE. Cabe, ainda, salientar que o evento foi uma fatalidade, haja vista que o dia era chuvoso e a praia estava quase vazia, entretanto, o jet-ski foi ao encontro da vítima. Assim sendo, a defesa espera que seja declarada a inocência dos representados, pois que o acidente ocorreu em virtude da negligência da Autoridade Municipal e da imprudência de Genival José do Nascimento. Por isso, esta Defensoria requer providências no sentido de chamar a responsabilidade da Autoridade Municipal no cumprimento das normas emitidas pela Autoridade Marítima. Nenhum prova foi produzida. Em alegações finais, as defesas se manifestaram reportando-se as alegações iniciais. Decisão. Extrai-se dos autos que no dia 21 de maio de 2002, Ana Claudia Claudina dos Santos acompanhada de uma colega mais Ola Magnus Burman e um amigo chegaram de táxi na praia do Forte Orange. Genival José do Nascimento estava na praia com um jet-ski e para descolar algum dinheiro alugou o jet-ski para Ola Magnus mesmo sabendo que ele não tinha habilitação. Magnus após dar algumas voltas conduzindo o jet perguntou a Ana se ela queria andar de jet-ski no caso dirigindo. Ela respondeu que não sabia mexer naquilo, mas Magnus falou que a ajudaria a pilotar e insistiu para que ela pilotasse o jet-ski. 13

Ana ficou na frente e ele na garupa. Após dar umas três voltas, ao fazer a curva, perdeu o controle e o jet-ski sem direção foi direto para a areia atingindo Claudia Sanches e seu filho. Ana por sua imperícia e Genival e Magnus pela imprudência em entregar o jet-ski a pessoa não habilitada dever ser responsabilizados. A ocorrência foi registrada na 13ª Delegacia de Policia Metropolitana Ilha de Itamaracá, PE e a acusada Ana Claudia Claudina dos Santos foi indiciada nos termos do art.129 6º e 7º do CPB e Genival José do Nascimento nos termos do art. 29 do CPB para a qual deverá ser encaminhada cópia do Acórdão. Assim, A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: colisão de jet-ski com banhista e sua filha, que se encontravam na areia da praia, provocando lesões graves, deixando a vítima invalida e sem previsão de recuperação; b) quanto à causa determinante: imperícia de condutora de jet-ski que perdeu a direção e subiu na areia. Imprudência dos outros dois representados em entregar à pessoa não habilitada a condução de jet-ski; c) decisão: julgar culpados os representados ANA CLÁUDIA CLAUDINA DOS SANTOS, GENIVAL JOSÉ DO NASCIMENTO (MAC) e OLA MAGNUS BURMAN, incursos no art. 14, letra a, (colisão), da Lei no 2.180/54, aplicando a cada um, a pena de multa de R$ 900,00 (novecentos reais) e custas proporcionais. Honorários de Defensores Públicos da União no mínimo legal. Encaminhar cópia do acórdão à 13ª Delegacia de Polícia Metropolitana, Ilha de Itamaracá, PE. P.C.R. Rio de Janeiro, RJ, em 10 de maio de 2005. JOSÉ DO NASCIMENTO GONÇALVES Juiz-Relator 14

WALDEMAR NICOLAU CANELLAS JÚNIOR Almirante-de-Esquadra (RM1) Juiz-Presidente 15