1. O ponto de partida: O Censo de 1872



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EDUCAÇÃO E COR-DE-PELE NA BAHIA - O ACESSO À EDUCAÇÃO DE NEGROS E MESTIÇOS Profa. Dra. Jaci Maria Ferraz de Menezes Mestrado em Educação e Contemporaneidade. Universidade do Estado da Bahia UNEB. jacimnz@campus1.uneb.br Existe uma literatura já longa sobre o acesso a educação como marcador da desigualdade racial no Brasil. A análise das informações do período pós-abolição, disponíveis nos Censos Demográficos, no entanto nos permite uma aproximação da dimensão da exclusão e da lentidão do processo de inclusão dos negros à cidadania brasileira. Neste texto, pretendemos mostrar como se deu, no Brasil e na Bahia, a incorporação dos diversos contingentes populacionais à escolarização e, mais ainda, à cidadania - tendo em vista a escolha da alfabetização como critério para a qualificação do eleitor desde 1881 até 1986. Destacaremos os dados referentes à população negra e mestiça, nos Censos Demográficos em que foi incluído o quesito cor-de-pele, acompanhando o processo de sua inclusão à sociedade brasileira, após a escravidão, Tomamos como ponto de partida o Censo de 1872, avaliando o grau de analfabetismo segundo a condição civil, procurando verificar o acesso à alfabetização da população negra livre e analisaremos os Censos de 1940 e de 1950 como momentos de chegada do percurso em busca da escolarização, como forma de visualizar uma estratégia de inclusão no pós-abolição. 1. O ponto de partida: O Censo de 1872 O Censo de 1872 é o primeiro a ser realizado nacionalmente, ainda no tempo do Império e da escravidão. Os dados dele advindos mostram uma sociedade em que o analfabetismo era a regra: O Brasil tinha 81,43% da sua população livre analfabeta. Na Bahia, em 1872, 79,44% da população livre era analfabeta. Se deste total retirarmos os menores de 5 anos, temos um grau de analfabetismo da ordem de 75,88%. Portanto, a situação do Brasil era pior. Com índices de analfabetismo menores que o da Bahia estavam S. Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Rio Grande do Sul e Paraná, e o Município Neutro (cidade do Rio de Janeiro, administrada pelo Governo Central). Se à população livre se acrescentasse a população escrava - formando, aí sim, a população total - a situação da Bahia se

2 apresentava melhor do que a de S. Paulo, por exemplo 1, ou mesmo que a média nacional. Respectivamente, Bahia teria 18,06% de alfabetizados, S. Paulo 16,86, e Brasil 15,47. Quanto à situação de homem livre ou escravo, verificamos que a condição de escravo praticamente excluía da condição de alfabetizado: apenas 1403 escravos sabiam ler e escrever, em todo o Brasil, sendo 104 em S. Paulo, 64 na Bahia e 107 no Rio de Janeiro. Na Corte, a presença um grupo maior: 329. Em percentuais, sempre abaixo do 1%. Os dados referentes à condição de alfabetizados ou não, apresentados pelo Censo de 1872, no entanto, não estão cruzados com os dados referentes à cor da pele. Ou seja, apesar de que o Censo estuda cada uma das duas características, não apresenta tabela que permitisse saber quantos brancos alfabetizados, ou quantos negros alfabetizados. Na busca de precisar o número de negros alfabetizados em 1872 - com vistas a tomá-los como ponto de partida para o esforço, porventura existente, de inclusão dos negros à escolarização, nos demos conta de que, no Estado da Bahia, o número total de alfabetizados era maior ou aproximado do total de brancos existentes - o que, de por si denotava a presença de um contingente negro alfabetizado considerável. O caso mais evidente era o de Salvador, em que havia 40.915 alfabetizados para uma população total branca de 38. 374 pessoas. Passamos então a burilar um pouco mais os dados, abatendo do total da população branca e da população negra livre (Outra = pretos e pardos) o contingente de 0 a 5 anos, apresentado no documento que forneceu os dados do Censo 2 ; estes eram, para os brancos, 12, 51% e, para os ÑBrancos, 13,6%. Tomamos como hipótese de trabalho um índice de alfabetização da população branca da ordem de 65% - bastante acima dos totais apresentados pelo Censo para o total da população livre. Assim, obtivemos um saldo numérico de alfabetizados não brancos, o que nos permitiu calcular um percentual de alfabetizados não brancos para o total do Estado, para Salvador, para o Recôncavo e para os municípios com mais de 20.000, entre 20 e 10.000 hab e com menos de 10.000 habitantes. Os resultados deste exercício podem ser vistos na tabela seguinte: 1 Vamos, ao longo desta parte, comparar os resultados dos Censos Demográficos para a Bahia com os de S. Paulo e do Brasil, como forma de conhecer a dimensão exata dos dados de Bahia e do seu crescimento no tempo. S. Paulo, à parte, permite visualizar como ocorrem os fatos educacionais no centro dinâmico da economia do país. 2 IBGE - «Alguns resultados do Censo Demográfico de 1872 para a Província da Bahia», in Características Demográficas do Estado da Bahia: Edição Comemorativa do IV Centenário da Cidade do Salvador, 1949.

3 Tabela 1 Percentuais de alfabetização da população livre. * Bahia - 1872 Salvador Recôncavo + 20.000 10/ 20.000 10.000 BAHIA Pop total 129.109 363.623 835.559 255.513 159.435 1.379.616 Escravos 16.468 58.448 96.931 31.253 23.172 167.824 Total Livre 112.641 305.175 738.628 224.260 136.273 1.211.792 Branca 38.374 79.007 197.221 59.208 29.948 324.751 Outra 74.267 226.168 541.407 165.052 106.315 887.041 Alfabetiza. 40.915 66.711 134.237 50.139 22.881 248.172 %A. Total 36,00 20,84 18,25 22,33 16,30 18,0 %A Livre 41,27 24,84 20,65 25,4 19,08 20,48 %Ñbranca 29,7 10,8 4,6 17,44 6,14 8,28 Fonte: Censo Demográfico de 1872 - Alguns Resultados...IBGE, 1949. Cálculos da autora. Obs: Recôncavo e Municípios de mais de 20.000 habitantes não incluem Salvador. * Na hipótese de que 65% da população branca de mais de 5 anos estivesse alfabetizada. Entendemos, é claro, que este percentual hipotético de 65% de alfabetização da população branca não se aplicaria uniformemente a todos os municípios do estado; porisso tratamos de trabalhar com grandes conjuntos de municípios. Portanto, os percentuais seriam variáveis, caso a caso. No entanto, em favor de nosso raciocínio, verificamos que se tomássemos, por absurdo, um percentual de 80% de alfabetização da população branca de 5 anos e mais, ainda assim haveria um saldo de alfabetizados não brancos em diversos municípios, como Salvador, Santo Amaro, Jeremoabo, Lençois, Purificação, Macaúbas, Alagoinhas, Nazaré, Maragogipe, Tapera (Amargosa), Vila Nova da Rainha (Senhor do Bonfim), Camisão, Feira de Santana, Abrantes, Mata de S. João e Itaparica, apenas tomados no universo dos municípios com mais de 20.000 habitantes e dos municípios do Recôncavo (muitos deles coincidem). Nessa 2a. hipótese (80% de alfabetização da população branca com mais de 5 anos), os percentuais cairiam um pouco, variando entre 21,9 em Salvador, 28,25% em Tapera, e 34% em Itaparica, ilha em frente a Salvador, para 0,55% em Feira de Santana. O número de alfabetizados é menor nos municípios que concentram grande população escrava, ou seja, onde ainda a atividade econômica principal é a lavoura açucareira, como em S. Francisco do Conde. O fenômeno se repete se considerarmos os diversos distritos de Salvador, naquela mesma hipótese de um percentual uniforme de 65% de alfabetização da população branca de 5

4 anos e mais. Aqui, nos distritos de Conceição da Praia e de Brotas o percentual de alfabetização dos ñbrancos ultrapassaria o dos brancos alfabetizados (os 65% que estabelecemos). Assim, nos pareceu que este tipo de cálculo não nos permite mais que trabalhar grandes espaços, não possibilitando explicar as diferenças mais fortes nos espaços menores. No entanto, mesmo o excesso de alfabetizados não brancos só serve para confirmar a nossa hipótese principal, que é a de que, quando do censo de 1872, ainda sob a escravidão, existia um contingente considerável de não brancos alfabetizados. Não se estaria, portanto, partindo de um zero, neste esforço de incorporar à chamada civilização letrada a população liberta. Em Salvador, o percentual de alfabetizados entre estes excedia sempre os 20%; e, na Bahia como um todo, estaria entre os 8% da primeira hipótese e os 2,7% da segunda.- em torno dos 5%? 2. Ainda o ponto de partida. Cálculos a partir de 1940 Tentando aproximar-nos mais daquele ponto de partida para o esforço de alfabetização no pós-abolição, procuramos tomar outra metodologia: tomamos os contingentes de 50 anos e mais e de 60 anos e mais segundo a cor de pele e condição de alfabetização no Censo Demográfico de 1940 - que reintroduziu o quesito de cor da pele. O objetivo era analisar, neste censo, os contingentes mais velhos, portanto uma amostra privilegiada do que era a população em 1890. Segundo nossos dados, na população em 1890, teríamos um índice de alfabetização em torno de 25,3%. Os índices de alfabetização dos brancos, naquele momento, estariam em 42,99%; os pretos, em 11,85% e os pardos, em 20,6%. O somatório de pretos e pardos nos levaria a um percentual de 17,66 % para os não brancos. Tomando-se a população de 60 anos e mais - aqueles que corresponderiam à população com 10 anos e mais em 1890, os índices caem: 22,4 % para o total, 40,33 % para os brancos, 9,16% para os pretos, e 17,66% para os pardos. Os negros (pretos mais pardos), teriam um percentual de 14,6 de alfabetizados. Esta seria a situação, portanto, com as devidas ressalvas - não só relativas à condição de sobreviventes dessa população, como também, decorrente do fato de que não se pode precisar que tenham alcançado a alfabetização aí, em 1890, ou posteriormente, devido a esforços pessoais ou em vista de posteriores oportunidades criadas pelo sistema educacional. Para o total da população brasileira e para o Estado de S. Paulo, o fenômeno se repete. Apesar de que, nos dois, os índices de 1940 já são francamente superiores aos da Bahia,

5 as diferenças de acesso à alfabetização entre os indivíduos das diversas cores é bastante marcada. No Brasil, na população de 50 anos e mais em 1940, a diferença entre os brancos e os pretos é de 28,4 pontos percentuais. No grupo de 60 anos e mais, a diferença entre os dois grupos é maior: 32 pontos percentuais. Nos dois casos, semelhante ao que foi encontrado para a Bahia. Para a população de negros (pretos mais pardos), os percentuais alcançados são 19,43% e 15,85% - uma diferença para os brancos então, de 27,32% e 27,98%, respectivamente. Em S. Paulo, a diferença encontrada para brancos e pretos no grupo I ( 50 anos e mais) é de 26%; no grupo II (60 anos e mais) a diferença vai para 28,71% - embora ambos os grupos alcancem percentuais mais elevados que na Bahia. Para os negros (pretos mais pardos), os resultados em S. Paulo, como aliás nos demais é um pouco mais alto: 24,14 e 18,08%, o que significava uma diferença de 23,59 e 25,94%. Ou seja: embora a situação educacional em S. Paulo tenha sofrido o impacto de dois processos bastante significativos - o primeiro, o embranquecimento da população via imigração, e o segundo, uma política massiva de escolarização - nos contingentes mais idosos, que ainda sofrem o efeito da situação anterior, as desigualdades no acesso à condição de alfabetizado são bastante claras. Assim, vemos que a situação em 1890, segundo esses cálculos, confirma o que vimos com relação a 1872, utilizando a outra metodologia de cálculo: existia um contingente apreciável de negros alfabetizados no momento pós Abolição. É importante frisar, entretanto, as diferenças de acesso dos três grupos de cor: no grupo de 60 anos e mais (com 10 anos e mais em 1890) entre os brancos e os pretos chega a existir uma diferença de acesso de 31 pontos percentuais, o que se repete se considerados os de 50 anos e mais. Em suma o acesso dos negros à escolarização ou mesmo à escrita se dava da seguinte forma: : a) a situação de escravo excluía completamente, inclusive por força de lei, do acesso à escola; b) com relação ao ingênuo, a preocupação principal era com a sua sobrevivência; tinha, até os vinte e um anos, uma contraprestação de serviços a efetuar ao senhor que o criou; embora permitida - a sua educação era eventual, não programada nem politicamente planejada.

6 c) no contingente livre de cor (basicamente os filhos dos libertos), aqueles que foram ultrapassando o limite da sobrevivência passavam pouco a pouco a entrar na escola. d) Mesmo dentro da escassez do acesso à escola, mais de 40% dos brancos estava alfabetizada. e) Na Bahia, os negros (pretos mais pardos), estavam alfabetizados em um percentual aproximado de 8,06% em 1872, e 14,8 % em 1890. Em 1940, o grupo alcançou 20,6 %< ou seja, em 50 anos, cresceu nada mais do que 5 %. Procurando dar uma maior visibilidade ao crescimento do ingresso à condição de alfabetizado entre 1890 e 1940, elaboramos a tabela-resumo abaixo, com os percentuais de alfabetização na população de 10 anos e mais para a Bahia, S. Paulo e Brasil: Tabela 2 Percentual de Alfabetização na população de 10 anos e mais segundo a cor da pele Brasil, S. Paulo e Bahia. Cor Bahia 1890 * Bahia 1940 S. Paulo 1890* S. Paulo 1940 Brasil 1890 * Brasil 1940 Brancos 40,5 42,7 44,0 60,1 43,8 52,6 Pardos 17,8 22,8 23,3 42,2 20,3 29,1 Pretos 9, 3 15,2 15,3 37,2 10,8 20,8 Pret+Par 14,8 20,6 18,1 39,1 15,8 25,7 Total 22,6 26,9 41,2 57,7 33,8 43,0 Fonte: Censo Demográfico de 1950. Cálculos da autora. * - A população de 60 anos e mais em 1940 é tomada como representação da faixa de 10 anos e mais em 1890. Como se pode ver, se mantêm a desigualdade entre os diversos segmentos de cor de pele, seja na Bahia, em S. Paulo como no Brasil como um todo. Apesar de ser o grupo dos pretos aquele que mais cresce em termos percentuais, isto não significa a eliminação das desigualdades: eles não chegam, na maioria dos casos (exceção S. Paulo em 1940), à metade do percentual de alfabetizados dos brancos. Também se pode observar como as diferenças regionais - de políticas educacionais ou de riqueza - influíram para acentuar as desigualdades de acesso à alfabetização. São notáveis as diferenças não só entre S. Paulo e Bahia como também entre a mesma e os resultados nacionais (tomados, como são, como representativos da média da situação dos diversos

7 Estados brasileiros). O maior crescimento do segmento dos pretos em S. Paulo parece mostrar que a existência de uma política de ampliação da oferta de ensino, como a praticada naquele Estado, encontra resposta na procura dos negros por escola. 4. A dimensão da inclusão Qual a dimensão da inclusão dos negros pós-abolição e pós república? Para tentar responder a esta questão, vamos analisar os dados dos Censos Demográficos de 1940 e de 50. O Censo de 1940 trabalha três indicadores de educação cruzados com cor-da-pele: condição de alfabetização na população de 5 anos e mais; pessoas de 5 a 39 anos que estavam recebendo instrução; e pessoas de 10 anos e mais que possuem curso completo ou diploma de estudos. Já o Censo de 1950 trabalha dois indicadores segundo a cor-dapele: condição de alfabetização e pessoas de 10 anos e mais com curso completo ou diploma de estudos. São os seguintes os dados obtidos: 4.1. Alfabetização a - em 1940, 23,73% da população de 5 anos e mais na Bahia era alfabetizada. Em São Paulo este índice já chegava a 52,06%; e no Brasil, 38,2%. b - Na Bahia, naquele ano, os brancos já alcançavam o índice 37,97% - portanto, próximo à média nacional; já os pardos alcançavam apenas 19,86% e os pretos 13,53%. A diferença entre brancos e pretos chegava a 24,44 pontos percentuais. c - A situação era semelhante em São Paulo: os pardos e os pretos detinham menores índices de alfabetização que os negros; brancos 54,22%, pardos 37,49 e pretos 33,54%; a diferença entre brancos e pretos era de 20,68%. d - No Brasil como um todo, 46,87% dos brancos eram alfabetizados - contra 25,5% dos pardos e apenas 18,46% dos pretos. A situação consegue ser mais grave que na Bahia: 28,41 pontos percentuais de diferença entre brancos e pretos. No ano de 1950, de um modo geral, há um crescimento na condição de alfabetizado da população, com relação a 1940; 4,5% no Brasil, 7,3% em São Paulo e 3,7% na Bahia. Em São Paulo, os alfabetizados beiram os 60%, na Bahia, seguem na casa dos 20%. Quanto à questão da cor-da-pele, segue a diferenciação entre brancos e não-brancos, com mais marcada diferença para os pretos. A diferença de escores é de 25,7% na Bahia, 20% em São Paulo e 22% na média nacional. Os brancos alfabetizados na Bahia, já chegam a 40,17% - aproximando-se da média nacional para o conjunto. A diferença entre os negros baianos e os negros paulistas é de 25,39%. Ou seja: crescendo a oferta de escola, ou

8 havendo melhoria das condições de vida, os negros alcançam maiores índices de alfabetização. Não se trata, portanto, de uma questão apenas relacionada à cor. Os contingentes crescem com o tempo e os diferentes espaços, se existe melhor situação para tanto. Entretanto, a diferença entre os grupos de cor se mantém. Com relação ao Censo de 1950, verifica-se a seguinte evolução do problema: Na Bahia, começa a existir um pequeno grupo de pessoas diplomadas com nível superior e médio. A análise por cor-da-pele mostra a grande diferenciação, principalmente entre brancos e pretos. Enquanto 17,60% dos brancos já haviam concluído o ensino médio e 3,43% o ensino superior, entre os pretos 95,9% haviam concluído apenas o ensino primário; 3,6%, o nível médio e 0,47% o ensino superior. Mesmo entre os pardos a situação é grave; embora no nível médio estivessem com quase dois pontos percentuais acima dos pretos, este nível estava 12% abaixo do nível dos brancos. No nível superior completo, tanto os pardos quanto os pretos também estavam abaixo de 1%. Já em São Paulo e no Brasil, a distribuição daqueles que possuem curso completo é pouco diferente da situação na Bahia; também nos dois crescem os percentuais referentes ao nível médio e superior. No entanto, no que diz respeito ao acesso segundo a cor-da-pele, os percentuais alcançados pelos pretos e pardos comportam-se de forma diferente: enquanto que em São Paulo 2,38% dos pretos diplomados detinham o nível médio (contra 3,6 na Bahia), no Brasil estes eram 2,87; no que diz respeito ao nível superior, veja-se que em São Paulo a média é menor que a da Bahia; os brancos baianos têm percentual mais alto que os brancos paulistas e os pretos e pardos também; Isto indicaria, portanto, que, em que pese ter níveis de acesso à educação menores que a média do país e de S. Paulo, a distribuição interna a este grupo, na Bahia, é ligeiramente melhor; no entanto, apesar disto, a diferença entre os percentuais dos brancos e dos negros (pretos ou pardos) é maior. Os resultados dos Censos de 40 e 50 são também analisados por, pelo menos, mais dois estudos. Em 1949, quando do 4 o. Centenário da Cidade de Salvador, o IBGE publicou trabalho analisando os diversos resultados do Censo de 1940 para a Bahia 3 ; o professor Carlos Hasenbalg, 4 por sua vez, analisa comparativamente os dados dos dois censos, estudando os resultados para o conjunto do país e para a região Sudeste. 3 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE. Características Demográficas do Estado da Bahia - Edição Comemorativa do IV Centenário de Salvador. Rio de Janeiro, 1949. 4 Hasenbalg, Carlos - Discriminação e Desigualdades Raciais no Brasil. Rio de Janeiro, Graal, 1979.

9 A leitura dos dados feita pelo IBGE, para a população de 5 anos mais segundo a cor da pele e gênero, confirma as informações que apresentamos acima e agrega um dado: a exclusão da escolarização recai mais fortemente sobre as mulheres negras. Os percentuais alcançados na Bahia são sempre menores do que as médias nacionais. As mulheres pretas, na Bahia, tinham o menor percentual de alfabetização: 10,83 %. Também no Brasil as mulheres pretas são as que alcançam menores índices: 15,29%.O mesmo estudo apresenta também dados comparados dos percentuais de alfabetização para Salvador, a cidade de S. Paulo e para o Distrito Federal (naquele momento, a cidade do Rio de Janeiro), que demonstram que em Salvador eram mais agudas as desigualdades de acesso à alfabetização. Embora no que se refere ao total da população os percentuais da capital baiana estavam abaixo dos das outras duas capitais, aqui os brancos tinham uma quota de 91, 24% de alfabetização. Neste estudo também aparecem os efeitos das políticas regionais/ estaduais de expansão da escolarização. Também na cidade de Salvador as mulheres negras detinham os menores índices de alfabetização - 44, 9%. Já o estudo elaborado pelo professor Hasenbalg vai além da simples descrição dos dados encontrados, procurando uma explicação para os mesmos. Ele estuda a desigualdade de acesso à educação, ao mercado de trabalho e a renda de acordo com a cor da pele e, comprovando o menor acesso à educação e permanência na escola pelos não brancos, procura discutir os papéis desempenhados pelo sistema educacional no Brasil. Inicialmente, lembra que um amplo espectro ideológico que ia dos liberais aos populistas defendeu a necessidade de uma educação primária, elementar, na passagem do século passado para este. Entretanto, longe de se tornar um direito, a freqüência à escola pelo menos primária, não seria nada mais do que o que chama de uma virtualidade do futuro. O sistema educacional brasileiro, afirma, durante um longo tempo, permaneceu aristocraticamente distante do mundo prático, tendo como função principal a produção de símbolos de status, atrofiando-se uma das suas duas funções básicas: o desenvolvimento de cidadãos politicamente competentes, socializados nos valores do sistema. A outra função, a formação de agentes qualificados para ocupar lugares no mercado de trabalho, somente em décadas recentes teria passado a ter importância, face à industrialização e urbanização do país. Entretanto, lembra, a limitada participação da população de cor no processo educacional formal é marcada por contradições... A cor da pele opera como um elemento que afeta negativamente o desempenho escolar e o tempo de permanência na escola. Assim, apesar

10 de a educação tenha sido um canal de ascensão social para a população de cor, o retorno de anos adicionais de escolaridade tenderia a ser proporcionalmente menor para os não brancos que para os brancos. Demonstra em seu estudo o maior acesso dos brancos do Sudeste aos níveis mais elevados de escolarização, defendendo a tese da existência de uma discriminação regional, espacial, resultante da maior presença de negros nas regiões que não o Sudeste do país. Defende, também, a idéia de que os não brancos estão expostos a um ciclo de desvantagens cumulativas, em que o baixo nível de escolarização implicaria em alcançar lugares no mercado de trabalho menos valorizadas e, em conseqüência, menor renda, o que por sua vez redundaria em menores chances de ingressar e permanecer por mais tempo no sistema educacional. 5. Educação e Cor-de-Pele nos anos mais recentes. Considerações finais A dimensão da cor-de-pele como característica demográfica foi reintroduzida no Censo Demográfico de 1980. A divulgação dos resultados obtidos trouxe de volta ao debate as desigualdades sociais e sua relação com raças e etnias, no Brasil, considerados os diversos indicadores elaborados a partir do Censo, inclusive, o que nos interessa em particular, o menor acesso à escolarização dos negros e mestiços. A presença destes dados permitiu aos estudiosos da educação verificar a permanência daquele traço que vínhamos acompanhando na sociedade brasileira desde o Império: o desigual acesso à educação em sua relação com a condição de negro ou branco. Apesar de todo o crescimento e, até, da sofisticação do sistema educacional brasileiro, foi possível constatar as dificuldades de inclusão dos negros e mestiços, à sociedade brasileira. Quase 100 anos depois da Abolição da escravidão, e tendo acompanhado a cada censo não só a expansão da escolarização e alfabetização como a inclusão diferenciada dos diversos contingentes de cor a elas, impossível atribuir a desigualdade apenas a fatores eventuais. A reiteração do problema leva, por outro lado, a perguntar do seu significado. Seria este um fenômeno eventual, explicado hipoteticamente por um crescimento desmedido da população não-branca no Brasil? Ou por um racismo deliberado contra os negros, que, em anos recentes, os afastasse da escola? Segundo os dados encontrados, as dificuldades de alfabetizar-se e de escolarizar-se seriam, por este raciocínio, não dificuldades passageiras, mas dados estruturais, decorrentes: das dificuldades de expansão do sistema escolar, maiores ou menores segundo o esforço de cada Estado brasileiro ( já que os sistemas são estaduais); das dificuldades / facilidades que cada grupo de cor encontra, em cada Estado e em cada período de tempo, para ter acesso a este sistema escolar - público ou privado.

11 Dentro deste raciocínio, é notável ver como os brancos na Bahia, dentro de um ensino superior diminuto, garantem a sua maior presença. Assim, seja em S. Paulo, no Brasil ou na Bahia, os negros têm menor acesso à alfabetização. O fenômeno ocorre tanto em cada ano estudado como em cada espaço. Ou seja, a inclusão cresce, mas os negros estão sempre em patamar inferior. Mesmo quando a oferta é grande, a diferença aparece - não decorre, portanto, apenas da maior ou menor oferta ou expansão da escola. Tomando-se 1940 como "ponto de chegada" do período pós-abolição, vimos que, após 50 anos de abolição da escravatura - na qual a diferença entre pretos e brancos era institucional e a exclusão dos escravos da escolarização era prevista em lei - o percentual dos descendentes dos escravos que tinha acesso à cultura letrada era diminuta. Neste sentido é que se faz a afirmação de que não é apenas econômica a "estagnação" da Bahia - em especial entre 1920 e 1950. Existe também uma cristalização de determinadas situações no interior da sua sociedade, em que a posição dos diversos grupos de cor pareceriam demonstrar a permanência de uma estratificação social que, durante a escravidão, tinha forma institucional. Também nesta direção é que falamos em uma inclusão gradual e, de certa maneira, controlada e até intencional, dos diversos grupos na cidadania ativa, utilizando o acesso à leitura e escrita como filtro dos capazes. A existência de diferenças de acesso entre os grupos nos Estados diversos demonstra que a política de expansão como um todo foi conduzida, em cada Estado, a partir de esforços próprios, condicionados por sua situação econômica. As características do federalismo brasileiro e a existência de grandes diferenciações internas no Brasil mostra a falta ou, pelo menos, o fracasso de uma grande política nacional homogeneizadora, de acesso à educação e, portanto, de formação do cidadão. Ou seja, de uma política de inclusão na nacionalidade, que não se resumisse, é claro, à incorporação dos imigrantes à brasilidade. O que pensamos ter ficado claro, também, é que nessa situação, os que ficam fora são os pobres, e os pretos e pardos: aqueles cuja inexistência de uma política nacional de inclusão -na direção da igualdade- após a Abolição, tiveram que chegar aos diversos espaços e serviços -inclusive à educação- com seu próprio esforço: no que, segundo se vai ver no capítulo seguinte tinha sido colocado como encargos próprios da liberdade. Em suma, embora jamais se assumisse explicitamente estar deixando à margem os negros, na prática os medos da transição para a liberdade e os conceitos relativos a nacionalidade e civilização influíram na criação de medidas de controle ao acesso a cidadania, resultando, na prática, no estabelecimento de cidadãos de 2a. classe - não casualmente

12 aqueles, que na sua situação anterior de escravos, estavam formalmente excluídos do sistema educacional. Como tal, assumia-se a idéia de que a democracia, para ser mais democrática, devia evitar o controle da situação pela maioria simples, devendo ser desdemocratizada. A exclusão foi, pelo menos, um risco assumido. Portanto, a forma de inclusão determinou a exclusão. Já não mais a exclusão absoluta, mas um deixar à margem. Ao estabelecimento de um critério "cultural" para ingressar na cidadania - que devia ser obtido no mercado, somaram-se as dificuldades da luta pela sobrevivência e aos percalços para se re-construir como grupo na sociedade mais ampla (formar família, criar filhos). O ex-escravo enfrentou no pós-abolição a marginalização econômica, o preconceito, na forma da sua substituição pelo branco até como trabalhador; a perseguição decorrente do medo, que gerou um duplo controle de sua integração: o controle policial até de seu direito de ir e vir e do seu direito ao não-trabalho, via permanência do crime de vadiagem, hoje contravenção penal; e o filtro da "ação civilizatória da educação" - sem ela, não se podia tornar ente político completo. O preço do voto e, portanto, da cidadania completa, era para ele muito alto, para que o conseguisse assumir sem colocar o Estado a seu favor. REFERÊNCIAS Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE - «Alguns resultados do Censo Demográfico de 1872 para a Província da Bahia», in Características Demográficas do Estado da Bahia: Edição Comemorativa do IV Centenário da Cidade do Salvador, 1949. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE. Características Demográficas do Estado da Bahia - Edição Comemorativa do IV Centenário de Salvador. Rio de Janeiro, 1949. Hasenbalg, Carlos - Discriminação e Desigualdades Raciais no Brasil. Rio de Janeiro, Graal, 1979.