IDENTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS ENVOLVIDAS NA AFLUÊNCIA DE RESÍDUOS SÓLIDOS AO SISTEMA DRENAGEM URBANA - ESTUDO DE CASO EM BELO HORIZONTE MG.

Documentos relacionados
Drenagem Urbana e Limpeza Pública. Liliane Frosini Armelin

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS - UFPEL CENTRO DE ENGENHARIAS - CENG DISCIPLINA: SISTEMAS URBANOS DE ÁGUA CONSUMO DE ÁGUA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS - UFPEL CENTRO DE ENGENHARIAS - CENG DISCIPLINA: SISTEMAS URBANOS DE ÁGUA CONSUMO DE ÁGUA

Qualidade e Conservação Ambiental TH041

IV-028 ESTUDO COMPARATIVO DO LANÇAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA DRENAGEM URBANA EM DUAS BACIAS HIDROGRÁFICAS

SANEAMENTO NA ÁREA RURAL

Proposta de Diretrizes de Engenharia para o Planejamento da Ocupação de Área dentro da Bacia do Córrego Floresta (zona norte de Belo Horizonte)

MINISTÉRIO DAS CIDADES Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental

DISPOSIÇÃO INADEQUADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA MICROBACIA DO TIJUCO PRETO, MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS/SP.

TIM-1. Proposta de Diretrizes de Engenharia para o Planejamento da Ocupação da Área da Bacia do Córrego Navio

ANÁLISE DO RENDIMENTO DOMICILIAR POR BAIRRO NA CIDADE DE CORUMBÁ-MS RESUMO

INFORMAÇÕES DE SUPORTE. Alvo de Atuação 2. Aumentar a resiliência do território da BIG frente às variações na disponibilidade hídrica.

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária

SANEAMENTO BÁSICO DRENAGEM URBANA. Prof. Silvana Ferreira Bicalho

IBGE divulga a Síntese de Indicadores Sociais Publicação traz dados sobre trabalho, rendimento, condições de moradia, pobreza e educação

Observar a carta topográfica da área sob estudo na Figura 01.

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária PHD 2537 Águas em Ambientes Urbanos POLUIÇÃO DIFUSA

PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO DE. Servidores municipais: Resp. SASB:

Desastres Naturais e Vulnerabilidade: Caso do Município de Petrópolis

Universidade Federal de Pelotas Centro de Engenharias. Disciplina de Drenagem Urbana. Professora: Andréa Souza Castro.

Controle da Poluição POLUIÇÃO DIFUSA. Fontes de poluição das águas

VIII-Castro-Brasil-1 COMPARAÇÃO ENTRE O TEMPO DE RETORNO DA PRECIPITAÇÃO MÁXIMA E O TEMPO DE RETORNO DA VAZÃO GERADA PELO EVENTO

Planos Diretores de Drenagem Urbana

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental GERAÇÃO PER CAPITA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NA REGIÃO DE SANTA MARIA/RS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA. Nº. 016/ 2012 CREA/MG E FUNASA Setembro/2013

AVALIAÇÃO DE PLANOS DE SANEAMENTO EM QUATRO MUNICÍPIOS DE PEQUENO PORTE DA REGIÃO SUDESTE

TIM-1. Proposta de Diretrizes de Engenharia para o Planejamento da Ocupação da Área de Montante da Bacia do Córrego Leitão

HETEROGENEIDADE ESPACIAL COMO INDICADOR DE RISCO PARA DENGUE. Regina Fernandes Flauzino Reinaldo Souza-Santos

ANÁLISE DO TRATAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO NO ESTADO DO TOCANTINS

AGLOMERADOS SUBNORMAIS 2010 DGC/CGEO, DGC/CETE, DPE/COPIS, COC/CNEFE

A PNSB e o Saneamento Rural

Política de Combate a Inundações de Belo Horizonte. Prefeitura de Belo Horizonte

DIREITO AMBIENTAL. Proteção do meio ambiente em normas infraconstitucionais. Diretrizes Nacionais de Saneamento Básico Lei n de 2007 Parte 2

Situação e Arcabouço Conceitual da Disposição de RSU

Disposição Final de Resíduos Sólidos Urbanos

CALHA PET CONSTRUÇÃO DE CALHAS DE GARRAFA PET PARA APROVEITAMENTO DA ÁGUA DA CHUVA E REDUÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

BREVE HISTÓRICO SANEAMENTO BÁSICO

O MODELO FPSEEA/OMS NA CONSTRUÇÃO DE INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL

Sustentabilidade econômica da gestão dos Resíduos Sólidos. Carlos Roberto de Oliveira ARES-PCJ

MANUAL DE DRENAGEM E MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS URBANAS DO DISTRITO FEDERAL Eng. Marcos Helano F. Montenegro Eng. Jeferson da Costa

DOENÇAS E DESIGUALDADES SOCIAIS EM AGLOMERADOS SUBNORMAIS NO BAIRRO DA REDENÇÃO, MANAUS-AM

DIAGNÓSTICO DO SANEAMENTO BÁSICO RURAL NO MUNICÍPIO DE PORTO DO MANGUE/RN, SEMIÁRIDO BRASILEIRO

RELAÇÃO ENTRE LEPTOSPIROSE E O MANEJO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E DADOS PLUVIOMÉTRICOS NOS DISTRITOS SANITÁRIOS DA CIDADE DO SALVADOR, BAHIA,

ÁREAS DE RISCO AO USO/OCUPAÇÃO DO SOLO NA SUB-BACIA DO CÓRREGO DO SEMINÁRIO, MUNICÍPIO DE MARIANA MG. COSTA, R. F. 1 PAULO J. R. 2

PESQUISA SOCIOLÓGICA SÃO LUIS MA

INFORMAÇÕES SOCIAIS DA REGIÃO NORDESTE

IBEU Local da Região Metropolitana do Rio de Janeiro

SITUAÇÃO DO SANEAMENTO DOS DOMICILIOS QUE POSSUEM BANHEIROS DAS ÁREAS RURAIS E URBANAS DAS MESORREGIÕES DO ESTADO DO CEARÁ

¹ Universidade Federal de Campina Grande

O 2º do artigo 22 passa a vigorar com a seguinte redação:

Planejamento Territorial e Saneamento Integrado

ANÁLISE DO SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DO MUNICÍPIO DE CAMBUQUIRA

Chuvas Intensas e Cidades

BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS: UMA ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA URBANA DO IGARAPÉ XIDARINI EM TEFÉ-AM.

Política de Recursos Hídricos e Saneamento. Prof. Carlos E. M. Tucci

Recursos Hídricos. A interação do saneamento com as bacias hidrográficas e os impactos nos rios urbanos

ESTATÍSTICAS SOBRE O USO DAS TIC NO BRASIL: A EXPERIÊNCIA DO IBGE

Titulo do Trabalho DELINEAMENTO DO SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DE MACEIÓ-AL USANDO TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO

A INTERFACE ENTRE OS PLANOS MUNICIPAIS DE SANEAMENTO BÁSICO E OS RECURSOS HÍDRICOS

Diagnóstico Socioterritorial

DIAGNÓSTICO DOS TIPOS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO DOMICILIAR NO ESTADO DA PARAÍBA

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA SUB-BACIA HIDROGRAFICA DO CÓRREGO DO CERRADÃO

ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DO ÍNDICE DE TRATAMENTO DE ESGOTO NOS ESTADOS DO NORDESTE NOS ANOS DE 2010 A 2014

V SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) V Realizado dias 20 e 21 de agosto de 2016 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP.

Projetos de engenharia de águas urbanas Drenagem e Manejo de Águas Pluviais

Saneamento básico e uma habitação adequada são condições fundamentais para a cidadania.

7º FORUM DE SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE Penápolis olhando para o futuro. Penápolis - março de 2006

Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF

Sumário. Apresentação dos Autores... Introdução...

ANÁLISE COMPARATIVA DO CONSUMO DE ÁGUA DE DOIS BAIRROS DA CIDADE DE SÃO CARLOS (SP)

DIAGNÓSTICO DA DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NO ESTADO DA PARAÍBA

SANEAMENTO BÁSICO PESQUISA NACIONAL DE GESTÃO MUNICIPAL DO SANEAMENTO BÁSICO GMSB BLOCO 02 IDENTIFICAÇÃO DA PREFEITURA

CRITÉRIOS DE SELEÇÃO PARA A TIPOLOGIA DE POSEUR ATRAVÉS DE PROCESSO DE CONSULTA ESCRITA INTERVENÇÃO RELATIVA À GESTÃO EFICIENTE DO CICLO

III-008 COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA E VALOR ECONÔMICO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EXCLUSIVAMENTE DOMICILIARES DE BAIRROS DE CLASSE MÉDIA ALTA EM JOÃO PESSOA

ELABORAÇÃO DE INDICADORES SOCIAIS

Empoderando vidas. Fortalecendo nações.

INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO PARA AS MICRORREGIÕES DO RIO GRANDE DO SUL 1

A definição de áreas rurais no Brasil SUBSÍDIOS AO PLANO NACIONAL DE SANEAMENTO RURAL

Destino Final RSU. ão: Crescimento das cidades geração de RS; Desafio Limpeza urbana: Coletar e transportar RSU; Destinação adequada aos resíduos

Resumo da Apresentação

PEGADA ECOLÓGICA A PEGADA DE ALGUNS PAISES. Estados Unidos: 9,7 hectares / pessoa. Brasil: 2,2 hectares / pessoa. Etiópia: 0,47 hectares / pessoa

Diagnóstico. Cidade de Deus (CDD)

ABASTECIMENTO DE ÁGUA NO MUNICIPIO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA PARÁ

MÉTODO DE AMOSTRAGEM E CARACTERIZAÇÃO DESCENTRALIZADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS COM GEORREFERENCIAMENTO

Gestão de Inundações urbanas. Dr. Carlos E M Tucci Rhama Consultoria e IPH - UFRGS

AS DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS URBANAS NA REGIÃO METROPOLITANA DE CHAPECÓ: UMA ANÁLISE DAS PEQUENAS CIDADES DÉBORA WEBER DE SOUZA

Estudo sobre o método dos dias sem chuva para o dimensionamento de reservatórios

Sistema de esgotamento sanitário de Maceió-AL: abrangência do serviço em relação à sua quantidade populacional.

Censo Demográfico de Primeiros resultados. População e Domicílios recenseados

Estabelece orientações relativas à Política de Saneamento Básico e ao conteúdo mínimo dos Planos de Saneamento Básico.

CICLO DE DEBATES SOBRE REGULAÇÃO DO SANEAMENTO ARES PCJ

CARGAS DIFUSAS URBANAS DE POLUIÇÃO

AUT Infraestrutura Urbana e Meio Ambiente

ANÁLISE ESPACIAL dos RESÍDUOS URBANOS em São José dos Campos/SP

INFLUÊNCIA DA CARÊNCIA SOCIAL NA MORTALIDADE DE IDOSOS SEGUNDO RAÇA/COR

PLANEJAMENTOS MUNICIPAIS DE SANEAMENTO BÁSICO: UMA METODOLOGIA DE APOIO À GESTÃO PÚBLICA LOCAL E UM ESTUDO DE CASO

Transcrição:

IDENTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS ENVOLVIDAS NA AFLUÊNCIA DE RESÍDUOS SÓLIDOS AO SISTEMA DRENAGEM URBANA - ESTUDO DE CASO EM BELO HORIZONTE MG. ASTRID CAROLINA BUSTOS VALENCIA 1 ; MÁRCIO BENEDITO BAPTISTA 2 E RAPHAEL TOBIAS DE VASCONCELOS BARROS 3. 1 Administradora Ambiental e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Escola de Engenharia/UFMG Bloco I CEP: 312709011 Belo Horizonte (MG), Brasil E-mail: cbv.smarh@yahoo.com, Tel: +55 31 9330 8246. 2 Doutor em Recursos Hídricos e Professor Titular do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Escola de Engenharia/ UFMG Bloco I CEP: 312709011 Belo Horizonte (MG), Brasil E-mail: marcio.baptista@ehr.ufmg.br, Tel: +55 31 3409 1871. 3 Doutor em Engenharia Sanitária e professor Associado do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola de Engenharia/ UFMG Bloco I CEP: 312709011 Belo Horizonte (MG), Brasil E-mail: raphael@desa.ufmg.br, Tel: +55 31 3409 1926. Resumo A disposição dos resíduos sólidos nas cidades brasileiras constitui-se uma questão importante, com importantes reflexos nas condições sanitárias. Observam-se, frequentemente, inadequações operacionais de importância variável, com impactos nos sistemas de drenagem urbana, com a redução da capacidade de vazão de estruturas de condução e a perda de volume de armazenamento em dispositivos de retenção e detenção, afetando, assim, o desempenho global dos sistemas. Neste contexto, o presente trabalho visa a apresentar os estudos desenvolvidos para identificação das variáveis intervenientes na dinâmica da produção, disposição e transporte de resíduos sólidos em bacias hidrográficas urbanizadas. As variáveis assim identificadas integrarão um modelo de produção de resíduos sólidos de forma a possibilitar a quantificação dos impactos nos sistemas de drenagem urbana, subsidiando a definição de medidas de controle. O modelo proposto fundar-se-á no tratamento estatístico dos dados obtidos em bacias urbanizadas em Belo Horizonte. Palavras-chave. Resíduos Sólidos, Bacias Urbanizadas, Drenagem Urbana.

INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA Os aglomerados urbanos são grandes geradores de resíduos sólidos, sendo que estes apresentam reflexos importantes nas condições sanitárias e funcionais das cidades, implicando na necessidade de esforços e de recursos financeiros significativos para sua adequada disposição. A qualidade do manejo e disposição dos resíduos sólidos urbanos (RSU) é bastante desigual nas cidades brasileiras, observando-se, frequentemente, inadequações operacionais, como reflexo de fatores educacionais, da cobertura do serviço de limpeza urbana, de condicionantes político-administrativos, de aspectos socioeconômicos, demográficos, geográficos e de ocupação do solo. As inadequações da disposição dos RSU apresentam impactos importantes nas condições sanitárias e no funcionamento geral das cidades. Particularmente no tocante aos sistemas de drenagem urbana, condições operacionais da disposição inadequadas ou deficientes refletem-se na frequente deposição de RSU nas estruturas de condução, notadamente em emboques de canais e galerias, com a redução da sua capacidade de vazão (Foto 1a). Em reservatórios de retenção e detenção constata-se a deposição do material (Foto 1b) e o conseqüente comprometimento dos volumes de armazenamento, afetando, assim, o desempenho global dos sistemas. Figura 1. (A) Deposição de RSU em estruturas de drenagem. (B) Gaiola de proteção parcialmente obstruída por resíduos sólidos, na entrada da galeria de descarga de fundo na bacia de detenção do córrego Engenho Nogueira - Belo Horizonte (MG). Além dos aspectos de desempenho operacional dos sistemas de drenagem urbana, a gestão dos RSU afeta de forma importante a manutenção da infraestrutura, implicando em custos de manutenção, complexas operações de desobstrução e dragagem. Neste sentido, a compreensão da dinâmica da produção, disposição e transporte de resíduos sólidos dentro de uma bacia hidrográfica urbana, pode constituir um fator importante na tomada de decisões no que diz respeito à gestão dos recursos aplicados diretamente nos serviços de limpeza urbana, à definição de estratégias a adotar e definição de metas de varrição, rota e frequência de coleta, como no estabelecimento de ações que

permitam efetivamente avaliar e gerenciar os fatores envolvidos e promover a redução de custos de manutenção das infraestruturas de drenagem, das despesas da saúde pública e com o saneamento em geral. Assim, o presente trabalho teve como objetivo a identificação das variáveis intervenientes na questão de resíduos sólidos em bacias hidrográficas urbanizadas, com base essencialmente na literatura, fundamentando um modelo de produção de resíduos sólidos afluentes aos sistemas de drenagem urbana. Espera-se que modelo assim definido, embasado em dados referentes à cidade de Belo Horizonte, possibilite a quantificação dos impactos, subsidiando a definição de medidas de controle do problema. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA Para determinação das variáveis suscetíveis a influenciar o afluxo dos resíduos sólidos ao sistema de drenagem foi realizada uma pesquisa documental para identificar as variáveis utilizadas por pesquisadores em estudos relativos à geração de resíduos sólidos, de forma geral, focando-se, em seguida, na relação dos RSU com o sistema de drenagem urbano e, finalmente, estudos específicos para o caso da cidade de Belo Horizonte. A partir da pesquisa foram, então, identificadas as variáveis utilizadas em cada um dos estudos, assim como aquelas que, de acordo com os pesquisadores, não foram avaliadas, mas que apresentaram alguma influência nos trabalhos. A análise das variáveis assim identificadas à luz das condições específicas da cidade permitiu a definição das variáveis a serem efetivamente exploradas estatisticamente para a estruturação do modelo. GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM ÁREAS URBANAS A dinâmica da geração de resíduos sólidos em áreas urbanas assume importância crucial no planejamento de sistemas de gestão e gerenciamento, na busca de maior cobertura do serviço, com qualidade, minimizando impactos ambientais e evitando o risco à saúde da população. A propósito deste tema foram analisados os trabalhos de Dangi et al. (2011) e de Li et al. (2011), que mediante modelagem de resíduos sólidos estimaram a geração de resíduos sólidos para a cidade de Katmandu (Nepal) e em Beijing (China), com o objetivo de levantar informações para o estabelecimento e melhorias dos sistemas de limpeza urbana para as cidades. No primeiro estudo os autores estimaram a produção de resíduos sólidos na cidade usando como variáveis a estratificação socioeconômica dos domicílios, estabelecimentos públicos como escolas, hotéis e restaurantes, com categoria de serviço diferenciada e ruas da cidade de baixa, média e alta acessibilidade. No estudo também se realizaram amostragens em campo para cada um dos setores mencionados e os autores realizaram a análise estatística dos dados de geração de resíduos sólidos coletados (Dangi et al., 2011). Já para o estudo feito por Li et al. (2011), foram utilizados dados governamentais fornecidos pelo escritório de estatística de Beijing, correspondentes a tipificação dos bens consumidos e o tempo de consumo na cidade. Nas conclusões das pesquisas, os autores Dangi et al. (2011) e Li et al. (2011) definiram a renda como o fator que mais contribui na geração de resíduos sólidos, sendo que o segundo

fator corresponde à densidade populacional, incluindo população flutuante em áreas centrais e de alto fluxo de transeuntes. Dangi et al. (2011) acrescentam ainda que os resíduos da construção civil representam grave problema por coleta e disposição inadequadas, sendo ainda frequentemente subestimados, requerendo atenção similar à disposição inadequada de resíduos nas ruas por parte dos transeuntes. Outros estudos pesquisados correspondem aos realizados por Pinto et al. (2012), Silva et al. (2012) e Dias et al. (2012) que buscam a identificação dos fatores que influem na geração de resíduos sólidos na cidade de Belo Horizonte. No primeiro estudo, Pinto et al. (2012) focam os fatores sociais, econômicos e demográficos associados à geração de resíduos sólidos na cidade; para isso, utilizou informações extraídas do Censo Demográfico referentes a renda, anos de estudo, sexo, raça e idade do responsável do lar. Na análise também foi utilizado o Índice de Qualidade de Vida Urbana da cidade (IQVU) 1, calculado pelas Secretaria de Planejamento da Prefeitura do município de Belo Horizonte para estimar a desigualdade no fornecimento de serviços, infraestrutura e qualidade de vida dos cidadãos, assim como dados sobre a geração de resíduos sólidos, fornecidos pelas entidades da limpeza urbana da cidade. Finalmente utilizando métodos estatísticos os autores correlacionaram a geração de resíduos sólidos com cada uma das possíveis variáveis independentes e ajustaram o modelo, concluindo que as variáveis que mais impactaram na geração de resíduos sólidos no município corresponderam ao IQVU e o número de moradores na Área de Ponderação (AP) 2 estabelecida pelo censo demográfico. A relação IQVU e geração de RSU é direta e crescente. Do mesmo modo, Silva et al. (2012) em estudo feito sobre a geração de resíduos sólidos domiciliares no município de Belo Horizonte, usando como variáveis de análise informações socioeconômicas e demográficas do município, especificamente relacionadas a renda, educação, estrutura etária e domiciliar e a informação estatística geração de resíduos sólidos da cidade, concluíram que áreas que apresentam população de maior renda apresentam, maiores taxas de geração RSU per capita, devido ao seu potencial de consumo. Os autores mencionam ainda que as zonas da cidade com alto níveis socioeconômicos apresentam menor densidade demográfica. Assim, os autores concluíram, que nem sempre existe relação direta entre o aumento da população e o aumento da produção de RSU, sendo que nas periferias, com população de baixa renda e maior número de habitantes por residência, a geração per capita é menor. Dias et al. (2012) em estudo feito para o estabelecimento de um modelo de geração de resíduos sólidos domiciliares em centros urbanos, incluindo Belo Horizonte, concluíram que o aumento da produção de resíduos sólidos na cidade, no período de estudo compreendido 1 O IQVU é um índice calculado pela Secretaria de Planejamento da Prefeitura de Belo Horizonte que utilizando as informações dos órgãos municipais e dos prestadores de serviços públicos, calcula as desigualdades sociais na cidade no que tange à bens e serviços no espaço intraurbano. O IQVU tem 38 Indicadores agrupados em componentes que correspondem as dimensões mais importantes da qualidade de vida urbana (Abastecimento, Cultura, Educação, Esportes, Habitação, Infra-estrutura, Meio Ambiente, Saúde, Serviços Urbanos e Segurança Urbana), que para efeitos de calculo recebem um peso específico de acordo com a sua importância relativa. (http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/contents.do?evento=conteudo&idconteudo=31787&chplc=31787&viewbusca=s%3e/) acedido a 05 de Agosto de 2015. 2 A Área de Ponderação é a menor área geográfica para a qual podemos calcular estimativas baseadas nas informações do questionário da amostra. É o nível geográfico definido para a aplicação dos procedimentos estatísticos que permitem usar os dados da amostra como válidos para a população. Uma Área de Ponderação é sempre um conjunto de Setores Censitários e cada Setor pertencerá sempre a uma única Área de Ponderação. (http://gestaocompartilhada.pbh.gov.br/estrutura-territorial/setores-censitarios-e-areas-de-ponderacao) acedido a 08 de Agosto de 2015.

entre os anos de 2006 a 2010, pode ter sido influenciado pelo aumento da cobertura do serviço de limpeza urbana e, por conseguinte, nos registros das quantidades geradas. No estabelecimento do modelo os autores utilizaram variáveis socioeconômicas extraídas das pesquisas socioeconômicas conjunturais mensais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sendo estas relacionadas a renda, classificação, tamanho e distribuição econômica da população. Os dados correspondentes a massas de resíduos de coleta domiciliar de edificações residenciais, comerciais, públicas e de prestação de serviços, foram utilizados na modelagem, não sendo objeto de estudo os resíduos sólidos lançados na via pública, de varrição, especiais ou de saúde. Finalmente, os autores observaram sazonalidade na produção de resíduos sólidos, associada tanto a influencias climáticas como de renda, relacionada possivelmente ao recebimento do décimo terceiro salário ao final do ano. RESÍDUOS SÓLIDOS E DRENAGEM URBANA Mudanças no uso de solo e o aumento da densidade demográfica nas bacias hidrográficas apresentam consequências no tipo de resíduos que chegam ate os sistemas de drenagem, sejam estes de origem natural, como solo, vegetação a matéria orgânica, e de origem antrópica, associados a materiais que sofreram processo de transformação ou produtos de origem industrial. Alguma pesquisa tem procurado identificar o impacto associado aos resíduos sólidos na drenagem. Marais e Armitage (2004) fizeram um estudo em nove bacias na Cidade do Cabo, na África do Sul, onde estabeleceram como variáveis de seleção das áreas de estudo o uso de solo diferenciado, presença de diferentes perfis socioeconômicos para o qual utilizaram a informação da renda da população, situação de emprego, tipo de domicilio e propriedade, também dados demográficos correspondentes à densidade populacional, assim como a variável de acesso a serviços fundamentais (abastecimento de água, instalações sanitárias e coleta de resíduos). No Brasil também pesquisas relacionadas à presença de resíduos sólidos no sistema de drenagem em bacias com usos de solos diferenciados tem sido realizadas. Neste grupo encontramos os estudos de Barros et al. (2014), Brites e Gastaldini (2007), Gava e Finotti (2012), Neves e Tucci (2011) que apresentaram, entre seus objetivos desde a identificação do tipo de resíduos que atinge a drenagem até a análise e a quantificação dos resíduos sólidos. A variável uso e ocupação do solo esteve sempre presente nos estudos, seguida da análise do serviço limpeza urbana (coleta, varrição de ruas e disposição de resíduos, entre outros), e os eventos de precipitação. A área da bacia e a influência da sazonalidade foram também foram apontadas. Pesquisa realizada por Salles et al. (2012), mencionando o fato da presença dos resíduos sólidos em sistemas de drenagem natural, apresenta uma estrutura destinada a retenção de resíduos sólidos instalada em um curso de água no Brasil. A estrutura foi testada em eventos quando foi possível verificar as quantidades e características físicas dos materiais que chegam até a rede de drenagem similares aos estudos anteriormente mencionados. No Quadro 1 é possível observar as variáveis analisadas pelos diversos autores, que apresentaram maior nível de relevância no tema estudado devido a seu aporte na geração de resíduos sólidos e na presença destes na drenagem urbana.

Quadro 1. Variáveis que contribuem a geração de resíduos sólidos municipais e no sistema de drenagem urbana.

RESULTADOS E PERSPECTIVAS Na analise das variáveis utilizadas nas pesquisas dos modelos de geração de resíduos sólidos e da presença destes últimos na drenagem urbana, foi possível determinar as variáveis que, de acordo com diversos autores, intervém na ocorrência do problema. Dentre as variáveis identificadas nos textos, encontram-se em primeiro lugar aquelas relacionadas com as características físicas próprias da bacia e relacionada ao uso e ocupação do solo. Em seguida aparecem fatores ligados às características socioeconômicas da população, especificamente a renda, que impacta diretamente o poder de consumo da população. A densidade demográfica foi a terceira variável que os autores identificaram, de forma positiva ou negativa, com influência na geração de resíduos sólidos, reafirmando-se a necessidade de aprofundamento no estudo desta variável. Referente às outras variáveis não classificadas em um nível significativo de relevância, foram incluídas às variáveis correspondentes as características geográficas e tipo de habitação e propriedade, devido a que se pretende conhecer sua relação com variáveis de uso e ocupação de solo e com a renda. No antepenúltimo grupo de pesquisa definido como nível de serviço, foram selecionadas as variáveis correspondentes à drenagem pluvial e limpeza urbana, sendo esta última mencionada no terceiro nível de relevância. No que diz respeito à drenagem pluvial, esta foi selecionada como variável interveniente apesar de não aparecer nos primeiros lugares de relevância nas pesquisas do levantamento bibliográfico em geral, mas é citada com nível médio relevância nas pesquisas sobre resíduos sólidos na drenagem urbana. Assim, no Quadro 2 é apresentada uma síntese das variáveis selecionadas e seu nível de relevância. Quadro 2. Variáveis selecionadas para o estabelecimento do modelo para estimar afluência os resíduos sólidos ao sistema de drenagem urbana.

CONCLUSÕES Ressalta-se a importância de se conhecer e quantificar o fenômeno da afluência e deposição de resíduos sólidos no sistema de drenagem urbana, fase aos impactos significativos que provoca. A identificação das variáveis correspondentes a cada situação especifica e sua ponderação é fundamental no equacionamento das possíveis alternativas a ser sujeito de estudo e postas em pratica. Constata-se a atualidade e a oportunidade deste tipo de estudos para melhorar das condições dos sistemas de saneamento (em particular a gestão de resíduos sólidos e a drenagem urbana), colaborando para o bom funcionamento das cidades. Finalmente a partir da analise feita as variáveis serão objeto de estudos estatísticos com dados obtidos em bacias urbanizadas em Belo Horizonte de forma a avaliar sua real pertinência para integrar um modelo para estimação dos RSU afluentes aos sistemas de drenagem. Em seguida, buscar-se-á o confronto do modelo proposto com dados de outras áreas urbanas de modo a avaliar sua capacidade de generalização. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão de bolsas que permitiram o desenvolvimento deste trabalho. Agradecem ainda à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) pelo apoio à pesquisa. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguiar, J. E.; Baptista, M. B. (2011). Erosões nas estruturas de concreto das galerias de águas pluviais urbana. Revista IBRACON de Estruturas e Materiais, 4 (1), 70-90. Brites, A. P. Z; Gastaldini, M. C. C. (2007). Avaliação da carga poluente no sistema de drenagem de duas bacias hidrográficas urbanas. Revista Brasileira De Recursos Hídricos. 12 (4), 211-221. Barros, T. R. DE; Mancini, S. D.; Ferraz, J. L. (2014). Composition and quantification of the anthropogenic and natural fractions of wastes collected from the stormwater drainage system for discussions about the waste management and people behavior. Environment, Development and Sustainability 16 (2), 415-429. Dangi, M. B ; Pretz, C.R ; Urynowicz, M.A ; Gerow, K.G ; Reddy, J.M.(2011). Municipal solid waste generation in Kathmandu, Nepal. Journal of Environmental Management 92 (1) 240-249.

Dias, D. M.; Martinez, C. B.; Barros, R. T. V.; Libânio, M. (2012). Modelo para estimativa da geração de resíduos sólidos domiciliares em centros urbanos a partir de variáveis socioeconômicas conjunturais. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental 17 (3), 325-332. Gava, T.; Finotti, A. R. (2012). Solid Wasted in Drainage Network of Rio do Meio Wastershed, Florianópolis/Sc. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade 1 (2), 79-101. Li, Z. S; Fu, H.Z.; Qu, X.Y. (2011). Estimating municipal solid waste generation by different activities and various resident groups: A case study of Beijing. Science of the Total Environment 409 (20), 4406 4414. Neves, M. G. F. P; Tucci, C. E. M. (2011). Composição de resíduos de varrição e resíduos carreados pela rede de drenagem, em uma bacia hidrográfica urbana. Engenharia Sanitária e Ambiental 16 (4), 331 336. Marais, M.; Armitage, N. (2004). The measurement and reduction of urban litter entering stormwater drainage systems: Paper 1 - Quantifying the problem using the City of Cape Town as a case study. Water SA 30 (4), 483 492. Pinto, M.R.; Pereira, D. R.; Freitas, R.C. (2012). Fatores sociais, econômicos e demográficos associados à geração de lixo domiciliar na cidade de belo horizonte. REUNA 17 (2), 27-44. Prefeitura de Belo Horizonte. Índice de Qualidade de Vida Urbana IQVU. http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/contents.do?evento=conteudo&idconteudo=31787&chpl c=31787&viewbusca=s%3e/ (acedido a 05 de Agosto de 2015). Prefeitura de Belo Horizonte. Gestão compartilhada de http://gestaocompartilhada.pbh.gov.br/estrutura-territorial/setores-censitarios-e-areas-deponderacao (acedido a 08 de Agosto de 2015). Salles, A., Wolf, D. B., E Silveira, G. L. (2012). Solid wastes drained in a urban river subbasin. Urban Water Journal 9 (1), 21 28. Silva, H.; Barbieri, A. F.; Monte-Mór, R. L. (2012). Demografia do consumo urbano: um estudo sobre a geração de resíduos sólidos domiciliares no município de Belo Horizonte. Revista Brasileira de Estudos de População 29 (2), 421 449.