PERFIL DE RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA DE Escherichia coli ISOLADA DA CARNE DE FRANGO COMERCIALIZADA EM MERCADOS PÚBLICOS MARANHENSES GILCIMARA DA SILVA TAVARES 1, REJEANA MÁRCIA SANTOS LIMA 2, DANIELA AGUIAR PENHA BRITO 3. 1 Discente, do Curso de Tecnologia de alimentos/ifma Maracanã 2 Professora Orientadora /IFMA Maracanã 3 Professora Co-orientadora /IFMA Maracanã RESUMO: A emergência de patógenos possuidores de genes de resistência a antibióticos tem sido uma das principais preocupações em saúde pública, tornando-se sério problema clínico. O objetivo do presente estudo foi avaliar o perfil de resistência antimicrobiana de E. Coli isolada da carne de frango comercializada em mercados públicos maranhenses. O teste de resistência antimicrobiana foi realizado com 25 amostras isoladas de carcaças de frangos de 18 mercados públicos maranhense. Observou-se alta resistência frente a maioria das drogas testadas: Cefazolina (%), Estreptomicina (%), Sulfonamidas (%), Neomicina (%), tetraciclina (88%), ampicilina (84%), Gentamicina (96%) e Nitrofurantoína (92%). Monitorar a resistência de bactérias isoladas de animais a diferentes grupos de antibióticos é determinante para eleição e êxito do tratamento. Palavras-chave: Escherichia coli, Antimicrobianos, Frango. INTRODUÇÃO A emergência de patógenos possuidores de genes de resistência a antibióticos tem sido uma das principais preocupações em saúde pública, tornando-se um sério problema do ponto de vista clínico (WHO, 2012). A possível resistência de bactérias resistentes a antimicrobianos em animais para seres humanos, através do consumo de alimentos, é um assunto de relevância internacional que tem mobilizado várias instituições da área da saúde tais como Organização Mundial da Saúde (WHO) e Organização Internacional de Saúde Animal (OIE). Uma das principais preocupações é a disseminação dos fenótipos multirrestentes (MRs) de patógenos, dificultando as opções de tratamento de infecções (OIE, 2010; WHO, 2007). Sabe-se que o principal fator que tem contribuído para resistência dos microorganismos é o uso indiscriminado de drogas antimicrobianas tanto em medicina veterinária como na medicina humana (MOTA et al, 2005). Na produção intensiva de animais, os antimicrobianos são usados tanto no tratamento de doenças como na prevenção de patógenos intestinais, conhecidos como antibióticos promotores de crescimento - APC (LINZMEIER et al, 2009). Na avicultura industrial, por exemplo, o uso de antibióticos como promotores de crescimento é uma das medidas de controle de patógenos intestinais, amplamente adotada (REVOLLEDO, 2008). No entanto, a possível transferência de bactérias resistentes a antimicrobianos dos animais para o homem, através dos alimentos, levou ao banimento de antibiótico na ração de animais na União Européia (WHO, 2012; McCARTEY, 2008), enquanto, no Brasil, os antimicrobianos como aditivos continuam sendo permanentemente utilizados na produção das aves. De acordo com Mendonça (2011), a contaminação da carcaça de animais por bactérias intestinais, durante o abate, pode levar a patógenos resistentes a antimicrobianos do trato intestinal de animais e serem veiculados para os seres humanos através dos alimentos.
Escherichia coli é uma bactéria residente comum do trato intestinal das aves, em que algumas linhagens provocam diferentes processos infecciosos, os quais são coletivamente denominados colibacilose aviária (FERREIRA et al., 2000). Devido a elevada prevalência, a terapêutica com antibióticos tem sido abusivamente adotada para controle dessas bactérias, e consequentemente tem sido registrado a resistência a vários princípios antimicrobianos (BARROS et al, 2012; GONÇALVES et al., 2012; MELO, 2012; GAMA et al., 2004). Embora a maioria das linhagens de E. coli não cause problemas para seres humanos, há uma preocupação da transferência de resistência antimicrobiana desta espécie bacteriana para outros membros da família Enterobacteriaceae, comensais ou patogênicos, dificultando o tratamento das enfermidades no homem e nos animais. Assim, a avaliação do perfil de resistência antimicrobiana da Escherichia coli torna-se interessante por se tratar de um indicador do uso indiscriminado de antimicrobianos (BARROS et al., 2012). O objetivo do presente estudo foi avaliar o perfil de resistência antimicrobiana de E. Coli isolada da carne de frango comercializada em mercados públicos maranhenses. MATERIAL E MÉTODOS O teste de resistência antimicrobiana foi realizado em 25 amostras isoladas de carcaças de frangos de 18 mercados públicos localizados nos municípios de São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar, Itapecuru-Mirim, Vargem Grande e Nina Rodrigues, Estado do Maranhão. As cepas foram isoladas utilizando os métodos analíticos microbiológicos preconizados pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) (BRASIL, 2003a; BRASIL, 1995). Os perfis de resistência antimicrobiana dos isolados de Escherichia coli foram determinados pelo método de Difusão em Disco, utilizando protocolo recomendado pelo NATIONAL COMITTEE FOR CLINICAL LABORATORY STANDARDS NCCLS (2002) utilizou-se 15 princípios antimicrobianos, sendo; amoxicilina (20 ug), ampicilina (10 ug), cefazolina (30 ug), imipenen (10 μg), gentamicina(10μg), estreptomicina(μg), ácido nalidíxico(10μg), norfloxacin (10μg), sulfonamidas (250 ou 300μg), trimetropim (5 μg), tetraciclina(30μg), clororfenicol (30μg), Nitrofurantoína (300 μg), Sulfametoxazol(23,75 μg), Neomicina(30μg). As amostras de Escherichia coli foram inoculadas em caldo BHI, e incubadas a temperatura de 37 C por um período de 24 horas, após esse tempo as mesmas apresentaram uma turvação compatível com o grau 0,5 da escala Mac Farland. A partir de cada uma das amostras, realizou-se a semeadura em placas de ágar Müller-Hinton, utilizando-se um suabe de algodão estéril. Após 5 minutos, usando uma pinça flambada, adicionou-se os multidiscos de antibióticos, as mesmas foram incubadas em uma estufa bacteriológica á temperatura de 37 C por 24 horas. Decorrido este tempo, procedeu-se a medição dos halos de inibição formados em torno dos respectivos princípios ativos. Os padrões de sensibilidade, sensibilidade intermediária e resistência antimicrobiana seguiram NCCLS (2002). RESULTADOS E DISCUSSÃO A tabela 1 e Gráfico 1 apresentam os resultados dos testes de resistência antimicrobiana de E. coli frente aos 15 antibióticos testados. Verificou-se que as cepas apresentaram resistência a todos os princípios antimicrobianos utilizados na pesquisa.
Tabela 1. Perfil de resistência de isolados de Escherichia coli frente a 15 antimicrobianos de utilizados na medicina veterinária e humana. Antimicrobianos N % Amoxicilina (10µg) 19 76 Ampicilina (10µg) 21 84 Cefazolina (30µg) 25 Imipenem (10µg) 11 44 Gentamicina (10µg) 24 96 Estreptomicina (300µg) 25 Ácido Nalidíxico (µgmcg) 17 68 Norfloxacina (10µg) 10 40 Sulfametoxazol(23,75 μg) 20 80 Sulfonamidas (300µg) 25 Trimetoprim (5µg) 19 76 Tetraciclina (30µg) 22 88 Cloranfenicol (30µg) 09 36 Neomicina (30µg) 25 Nitrofurantoína (300µg) 23 92 PERFIL DE RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA 120 80 76 84 96 68 80 76 88 92 60 40 44 40 36 20 0 Gráfico 1. Perfil de resistência de isolados de Escherichia coli frente a 15 antimicrobianos de utilizados na medicina veterinária e humana. Observou-se que o cloranfenicol foi o antibiótico que apresentou menor percentual de resistência, corroborando o já observado por outros autores (ALCANTARA, 2011; GONÇALVES et al.,2012). De acordo com a Instrução Normativa n 9 do Ministério da Agricultura, desde de 2003,, é proibido a fabricação, a manipulação, o fracionamento, a comercialização, a importação e o uso do princípio cloranfenicol e os produtos que contenham este princípio ativo para uso veterinário e emprego na alimentação dos animais (BRASIL, 2003). Portanto, os baixos resultados encontrados de resistência de Escherichia coli de originadas da carne de frango pode estar relacionadas a proibição do uso desse antibiótico na avicultura. Apesar do baixo índice, os resultados apontam que ainda existem cepas de Escherichia coli circulantes em alimentos de origem avícola resistentes ao cloranfenicol, necessitando de maior atenção ao uso ilegal na cadeia de produção animal.
O presente estudo demonstra que todas as cepas foram resistentes a Cefazolina (%), Estreptomicina (%), Sulfonamidas (%), Neomicina (%), assim apresentando resultados semelhantes a outros estudos (CARDOSO et al., 2014; GONÇALVES & ANDREATTI FILHO, 2010). Os antimicrobianos gentamicina (96%), nitrofurantoína (92%), ampicilina (84%), tetraciclina (88%) e ampicilina (84%) também apresentaram alta taxa de resistência, semelhantemente ao encontrado por Gonçalves et al. (2012) Os resultados de elevada resistência antimicrobiana encontrada nesse estudo podem estar relacionados ao uso de antibióticos da classe dos sulfonamidas, tetraciclinas, estreptomicina, gentamicina e neomicina no tratamento exclusivo de infecções na produção animal, sendo proibido o uso como promotores de crescimento (BRASIL, 2009). O uso desses antibióticos na produção de frangos de corte pode estar possibilitando o aparecimento de cepas de Escherichia coli resistentes na carne de aves. As altas taxas de resistência às cefalosporinas (cefazolina %) e às quinolonas (ácido nalidíxico - 68%) são preocupantes, visto que, na clínica médica humana, as últimas gerações dessas classes de antimicrobianos são utilizadas para tratamento de infecções extra-intestinais por Escherichia coli (SILVA et al., 2011). Na medicina veterinária, o ácido nalidíxico e a enrofloxacina são amplamente utilizadas para controlar a presença de agentes bacterianos na produção animal, especialmente Escherichia coli em infecções de aves. Portanto, a elevada resistência às cefalosporinas e às quinolonas pode dificultar o tratamento de Escherichia coli patogênica em animais e em seres humanos. Reforça-se que a aquisição e disseminação de resistência aos antimicrobianos de bactérias isoladas de alimentos de origem animal pode ter impacto em saúde pública, uma vez que os produtos derivados podem constituir uma fonte potencial para a mobilização de genes de resistência e/ou disseminação de bactérias multirresistentes, demandando estratégias adequadas a fim de fornecer produtos com segurança e qualidade (SILVA, 2011) CONCLUSÃO Conclui-se que isolados de Escherichia coli de carne de frango comercializada em mercados públicos maranhenses apresentaram elevada resistência à antibióticos usados na medicina veterinária e humana, especialmente as classes cefalosporinas, sulfonaminas e aminoglicosídeos. Os resultados encontrados representam risco de disseminação de bactérias multirresistentes a antibióticos para os consumidores de carne de frango. REFERÊNCIAS SILVA 2011. MONITORAMENTO DOS MECANISMOS DE RESISTÊNCIAEM Salmonella spp. E Escherichia coli ISOLADAS DE ANIMAISDE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA E ALIMENTOS DERIVADOS. Disponível em: htpps//www.ifrn.edu.br. Maio 2015. LINZMEIER, L. G.; BAZAN, C. T.; ENDO, R. M.; LINO, R. S.; MENINO, B. B.; PUGLIESE, P.; SHAFRANSKI, E.; SILVA, L. C.; PEREIRA, D. M. Uso de antibióticos em aves de produção. Revista científica eletrônica de medicina veterinária. Ano VII Número 12 Janeiro de 2009. MOTA, R.A.; SILVA, K.P.C.; FREITAS, M.F.L.; PORTO, W.J.N.; SILVA, L.B.G. Utilização indiscriminada de antimicrobianos e sua contribuição a multirresitência bacteriana. Braz J vet Res anim Sci, São Paulo, v. 42, n. 6, p. 465-470, 2005.
McCARTNEY, E. O banimento dos antibióticos, promotores de crescimento na UE implicações globais para nutrição animal. 2008, Chapecó. Anais... Chapecó: XI Simpósio Brasil Sul de Avicultura, Embrapa suínos e aves, 2008, p.95-109. MENDONÇA, E.P. Disseminação de Salmonella sp na cadeia produtiva de frango de corte. 2011. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Medicina Veterinária, Uberlândia, 2011. MELO, D.B. Padrão clonal e perfil de suscetibilidade aos antimicrobianos de cepas de Escherichia coli isoladas de alimentos e de espécimes clínicas. Dissertação (Mestrado em Ciências dos Alimentos), Salvador, Universidade Federal da Bahia, 2010. 80p. GONÇALVES, G.A.M.; ANDREATTI FILHO, R.L. Susceptibilidade antimicrobiana de amostras de Escherichia coli isoladas de frango industrial (Gallus Gallus Domesticus Linnaeus, 1758) com colibacilose. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.77, n.4, p.715-718, 2010. CARDOSO et al., Resistência antimicrobiana de escherichia coli isolada de aves comerciais nos estados de são paulo e de goiás, brasil. Revista eletrônica nutritime Artigo 251 Volume 11 - Número 03 p. 3465-3471. REVOLLEDO, L. Alternativas para o controle de Salmonella. 2008, Chapecó Anais... Chapecó: XI Simpósio Brasil Sul de Avicultura, Embrapa suínos e aves, 2008, p.95-109. NCCLS. NATIONAL COMMITTEE FOR CLINICAL LABORATORY STANDARDS. Performance standards of antimicrobial susceptibility tests. NCCLS M-S12, V.22, n.1, Wayne, 2002. GONÇALVES, P.M.R.; PEREIRA, V.L.A.; SILVA, R.C.F.; OLIVEIRA, L.A.T.; NASCIMENTO, E.R. Perfil de resistência antimicrobiana de isolados de escherichia coli positiva para gene iss em frangos de corte na idade de abate. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, v.8., n.15, p.1288-1294, 2012. GAMA N.M.S.Q., GUASTALLI E.A.L.; PAULILLO A.C. Isolamento de Escherichia coli de amostras de água de dessendentação de galinhas poedeiras. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.71, Supl.1, p.522-524, 2004. WHO. WORLD HEALTH ORGANIZATION. The evolving threat of antimicrobial resistance Options for action. 2012. 119p. Disponível em: http://whqlibdoc.who.int/publications/2012/9789241503181_eng.pdf. Acesso em 22 de março de 2015. AGRADECIMENTOS: Às minhas professoras, orientadora e co-orientadora pelo apoio e ao IFMA campus Maracanã pela realização da pesquisa e a FAPEMA pelo apoio financeiro.