Mariana da Silva Formigheri

Documentos relacionados
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ÁGUA E ALIMENTOS 1

LEVANTAMENTO DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS RELATIVOS À OCORRÊNCIAS/ SURTOS DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS (DTA

Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas por Alimentos no Brasil

DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ÁGUA E ALIMENTOS 1

NOTA TÉCNICA CONJUNTA Nº 01/2015

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR. DENISE FIGUEIREDO Medica-Veterinária

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS DOENÇAS BACTERIANAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS NO BRASIL

NOTIFICAÇÃO DE SURTOS DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS (DTAs) NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, NO PERÍODO DE 2007 A 2009

Vírus associados à surtos alimentares (Rotavirus, Norovirus e Hepatite A)

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE SANDUÍCHES NATURAIS COMERCIALIZADOS EM ARAPONGAS PARANÁ SILVA, M.C; TOLEDO, E

DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ÁGUA E ALIMENTOS 1

DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS (DTA)

Vigilância Sanitária de Alimentos. Bactérias causadoras de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs)

Doenças Transmitidas por Alimentos. Prof.: Alessandra Miranda

Surto de Infecção Alimentar por Salmonella enterica sorotipo Enteritidis em festa de casamento, Município de São Paulo Setembro de 2006

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UNIRIO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE ESCOLA DE NUTRIÇÃO PROGRAMA DE DISCIPLINA

AVALIAÇÃO DA TEMPERATURA DOS EQUIPAMENTOS E ALIMENTOS SERVIDOS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE UM HOTEL NA CIDADE DE FORTALEZA

DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ÁGUA E ALIMENTOS 1

Perfil epidemiológico de casos de surtos de doenças transmitidas por alimentos ocorridos no Paraná, Brasil

Prevenção da disseminação de norovírus em Serviços de Saúde

PROJETO DE PESQUISA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Vigilância Sanitária de Alimentos. Bactérias causadoras de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs)- II

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA ESPECIALIZAÇÃO EM PRODUÇÃO, HIGIENE E TECNOLOGIA DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

Boletim semanal de Vigilância da Influenza/RS Semana epidemiológica 37/2016

Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde. Rejane Maria de Souza Alves COVEH/DEVEP/SVS/MS 2006

TÍTULO: ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE ESPONJAS UTILIZADAS NA HIGIENIZAÇÃO DE UTENSÍLIOS DE COZINHA DE RESTAURANTES DO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS-GO

AVALIAÇÃO DO BINÔMIO TEMPO X TEMPERATURA DE PREPAROS ALIMENTARES EM UMA UNIDADE PRODUTORA DE REFEIÇÕES DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA/PB

Universidade Federal do Rio de Janeiro Disciplina: Saúde Coletiva. Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs)

Secretaria de Vigilância em Saúde Coordenação de Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar. Vigilância Epidemiológica do Botulismo

AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE QUEIJO MINAS FRESCAL PRODUZIDOS POR PEQUENOS PRODUTORES RURAIS DO MUNICIPIO DE GUARAPUAVA E REGIÃO

Epidemiologia e microbiologia básica: Clostridium botulinum

Disciplina: Controle de Qualidade Série: 2ª Turmas: L/N/M/O Curso: Técnico em Agroindústria

PESQUISA DE SALMONELLA EM MOLHOS PRODUZIDOS E COMERCIALIZADOS EM UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO NA CIDADE DE MONTES CLAROS MG

QUALIDADE DOS ALIMENTOS E ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL. Alessandra Reis Nutricionista de Qualidade- IBRefeições

O papel da vigilância sanitária na prevenção das doenças transmitidas por alimentos (DTA)

Alterações microbianas em alimentos Wladimir Padilha da Silva

Perfil Epidemiológico das Doenças Transmitidas por Alimentos e Seus Fatores Causais na Região da Zona da Mata Sul de Pernambuco

Clostridiose Alimentar (C. perfringens)

Introdução. Graduando do Curso de Nutrição FACISA/UNIVIÇOSA. 3

Incidência de Salmonella sp, em Queijos Tipo Minas Frescal Comercializados em Feiras Livres do DF

A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃO CORRETA DOS ALIMENTOS EM UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO (UAN) RESUMO

ANÁLISE DOS SURTOS NOTIFICADOS DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS NO ESTADO DE SÃO PAULO ENTRE 1995 E 2008

Doenças de origem alimentar. alimentar

Síntese do Documento. The European Union summary report on trends and sources of zoonoses, zoonotic agents and food-borne outbreaks in 2015

Vigilância Sanitária Estadual Vigilância Sanitária Municipal Laboratório de Saúde Pública

Desafios frente à segurança da água para consumo humano no Rio Grande do Sul

INCIDÊNCIA E FATORES DE RISCO PARA A SÍFILIS CONGÊNITA NO ESTADO DA PARAÍBA

BACTÉRIAS DE IMPORTÂNCIA HIGIÊNICO-SANITÁRIA 1

CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE. SUBÁREA: Nutrição INSTITUIÇÃO(ÕES): UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP

Avaliação dos Conhecimentos Sobre Coleta de Amostras de Funcionários de uma Unidade de Alimentação e Nutrição de Campo Grande-MS

Prevenção de Toxinfeções Alimentares

Influenza A (H1N1). João Pedro Monteiro (Colégio de São Bento) Orientador: André Assis Medicina UFRJ

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS SERVIDAS NO RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO DA UFPEL, CAMPUS CAPÃO DO LEÃO. 1. INTRODUÇÃO

Boas Práticas para a Conservação dos Alimentos. Palestrante: Liza Ghassan Riachi CICLO DE PALESTRAS ALIMENTAÇÃO E SAÚDE

Segurança dos alimentos sob a perspectiva da culinária JAPONESA. Portaria Municipal 1109/2016

MONITORAMENTO DA TEMPERATURA DE PREPARAÇÕES FRIAS DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COMERCIAL DA CIDADE DE SANTA MARIA -RS 1 RESUMO

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO SANITÁRIAS E FÍSICAS DE ABATEDOUROS E MERCADOS PÚBLICOS MUNICIPAIS DA PARAÍBA, BRASIL

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS

Influenza A Novo subtipo viral H1N1, MSP

MORTALIDADE DAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS NA 16ª REGIONAL DE SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL ESTUDO COMPARATIVO

ESTUDO DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS SURTOS DE DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR NO RIO GRANDE DO SUL: uma revisão dos registros no Estado1

Plano de Trabalho Docente

PREVINA-SE CONTRA FEBRE TIFÓIDE

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DE MANIPULADORES DE ALIMENTOS EM ESCOLAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE TRÊS PASSOS/RS

Boas Práticas em food trucks: uma parceria que deu certo. Profa. Dra. Lize Stangarlin-Fiori

JUSSARA ELAINE SABADO FIGUEIREDO

TÍTULO: DESENVOLVIMENTO DA POPULAÇÃO DE STAPHYLOCOCCUS EM PATÊ DE PEITO DE PERU SABOR DEFUMADO DURANTE 45 DIAS DE ARMAZENAMENTO

SURTOS DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ÁGUA E ALIMENTOS (DTA)

Informativo Epidemiológico Dengue, Chikungunya e Zika Vírus

CONCEPÇÕES DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL EM RELAÇÃO À CONTAMINAÇÃO DOS ALIMENTOS ATRAVÉS DA ÁGUA

AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DAS POLPAS E SUCOS DE FRUTAS, UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Shigella. Topicos. Prof. Assoc. Mariza Landgraf. Introdução. Características da doença Tratamento Prevenção e Controle 03/04/2017

Boletim Epidemiológico

INCIDÊNCIA DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS (DTA) NO ESTADO DE PERNAMBUCO, UM ACOMPANHAMENTO DOS DADOS EPIDEMIOLÓGICOS NOS ÚLTIMOS ANOS

Análise retrospectiva dos casos de intoxicação humana por alimentos no Brasil no período de 2008 a 2016

SALMONELLA SPP. E LISTERIA MONOCYTOGENES, MICRORGANISMOS PATOGÊNICOS EM ALIMENTOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA.

QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA DE LANCHES COMERCIALIZADOS NO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA UFPEL, RS

PRÁTICAS EDUCATIVAS EM SEGURANÇA ALIMENTAR: UMA EXPERIÊNCIA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA RESUMO

DOENÇAS DE ORIGEM BACTERIANA VEICULADAS POR ALIMENTOS

AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTO DE PARTICIPANTES DO CURSO BOAS PRÁTICAS NO SERVIÇO DE ALIMENTAÇÃO BAGÉ/RS

SURTOS DE SALMONELOSE NOTIFICADOS NO PERÍODO DE JANEIRO DE 2009 A JULHO DE 2014 NO ESTADO DO PARANÁ, BRASIL

OCORRÊNCIA DE Bacillus cereus EM SURTOS DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS NOTIFICADOS E INVESTIGADOS NO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE DE 2003 A 2013

Água. Vigilância, Desafios e Oportunidades. Eng.º Paulo Diegues (DGS) Eng.ª Lúcia Melo (DGS) Dr. Vitor Martins (DGS)

Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

ANÁLISE DE PRESENÇA DE Staphylococcus aureus EM QUEIJOS ARTESANAIS, COMERCIALIZADOS NA CIDADE DE APUCARANA- PR

Investigação de surtos. Romulo Colindres, MD MPH

Infarma, v.20, nº 7/8, 2008

ESPÍRITO SANTO. Saúde divulga 11º boletim da dengue

07/06/2015 Imprimir Higiene e Segurança Alimentar: o que significa? Qual a sua... Interessante Naturlink

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS EM UNIDADES DE NUTRIÇÃO HOSPITALAR: SEGURANÇA ALIMENTAR ALIADA AO PROCESSO DE CONVALESCÊNCIA

INVESTIGAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO- SANITÁRIAS DE COZINHAS DE ESCOLAS PÚBLICAS

Programa Analítico de Disciplina NUT333 Higiene dos Alimentos

CONTROLE DE QUALIDADE E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS EM PRODUÇÃO DE REFEIÇÕES

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE HEPATITE A NOTIFICADOS EM UM ESTADO NORDESTINO

SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA

Doenças transmitidas por pescado no Brasil: Análise preliminar dos dados disponíveis

SEGURANÇA ALIMENTAR NA AVICULTURA

Transcrição:

1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA UFSM CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NORTE DO RS CESNORS CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO DE ORGANIZAÇÃO PÚBLICA EM SAÚDE - EaD Mariana da Silva Formigheri FATORES RELACIONADOS A DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS NO RIO GRANDE DO SUL-BRASIL, ENTRE 2000-2014 Palmeira das Missões, RS 2015

2 Mariana da Silva Formigheri FATORES RELACIONADOS A DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS NO RIO GRANDE DO SUL-BRASIL, ENTRE 2000-2014 Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão de Organização Pública em Saúde EaD, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Gestão de Organização Pública em Saúde. Orientador: Pedro de Souza Quevedo, Dr. Palmeira das Missões, RS 2015

3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA UFSM CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NORTE DO RS CESNORS CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO DE ORGANIZAÇÃO PÚBLICA EM SAÚDE - EaD A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Artigo de Conclusão de Curso FATORES RELACIONADOS A DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS NO RIO GRANDE DO SUL-BRASIL, ENTRE 2000-2014 Elaborado por Mariana da Silva Formigheri como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Gestão de Organização Pública em Saúde COMISSÃO EXAMINADORA Pedro de Souza Quevedo, Dr. (Presidente/Orientador UFSM/CESNORS) Loiva Beatriz Dallepiane, Dr. (Membro da banca UFSM/CESNORS) Monique Prestes, Me. (Membro da banca UFSM/CESNORS) Palmeira das Missões, RS 2015

4 RESUMO Artigo Científico Pós Graduação Especialização em Gestão de Organização Pública em Saúde Universidade Federal de Santa Maria FATORES RELACIONADOS A DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS NO RIO GRANDE DO SUL-BRASIL, ENTRE 2000-2014 Mariana da Silva Formigheri 1, Pedro de Souza Quevedo 2, Denise Maria da Silva Figueiredo 3 1 Farmacêutica, acadêmica da Pós-Graduação em Gestão de Organização Pública em Saúde, marianaformigheri@yahoo.com.br 2 Médico Veterinário, professor da Pós-Graduação em Gestão de Organização Pública em Saúde, pedrosquevedo@hotmail.com 3 Médica Veterinária, Divisão Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde/RS, Denise-figueiredo@saude.rs.gov.br As Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) constituem um problema de Saúde Pública crescente em todo o mundo, sendo responsáveis por altos custos econômicos e sociais. Este estudo caracteriza-se como descritivo do tipo transversal que analisa a ocorrência dos surtos de DTA quanto ao número de surtos/ano, pessoas acometidas em cada evento, surtos/ano por coordenadorias regionais de saúde, agentes etiológicos, alimentos envolvidos, locais de ocorrência, fatores causais do consumo e locais de preparo dos alimentos ocorridos no Rio Grande do Sul, no período de 2000 a 2014. Os dados epidemiológicos dos surtos de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar notificados no Rio Grande do Sul foram obtidos através de bases de dados do Programa Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, Divisão de Vigilância Epidemiológica, Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Secretaria Estadual de Saúde. Os resultados encontrados neste trabalho demonstram que há necessidade de maior cobertura dos programas de orientação e educação para a sociedade quanto aos cuidados imprescindíveis na conservação, manipulação e consumo dos alimentos, e também quanto às boas práticas de higiene e riscos provindos dos alimentos contaminados. Descritores: Bactérias; contaminação; ingestão de alimentos.

5 ABSTRACT Scientific Article Graduate Specialization in Management of Public Health Organization Universidade Federal de Santa Maria FACTORS RELATED TO FOOD BORNE DISEASES IN RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL, BETWEEN 2000-2014 Mariana da Silva Formigheri 1, Pedro de Souza Quevedo 2, Denise Maria da Silva Figueiredo 3 1 Pharmaceutical, academic of Graduate Specialization in Management of Public Health Organization, marianaformigheri@yahoo.com.br 2 Veterinarian, adviser of Graduate Specialization in Management of Public Health Organization, pedrosquevedo@hotmail.com 3 Veterinarian, Epidemiological Division of the State Center for Health Surveillance/RS, Denise-figueiredo@saude.rs.gov.br The Foodborne Diseases (FBD) are a growing public health problem worldwide, being responsible for high economic and social costs. This study is characterized as descriptive crosssectional analyzing the occurrence of FBD outbreaks in the number of outbreaks / year, people affected in each event, outbreaks / year for regional health coordinators, etiologic agents, foods involved, occurrence of local, causal factors of consumption and places of food preparation occurred in Rio Grande do Sul, from 2000 to 2014. Epidemiological data from waterborne diseases outbreaks and Food reported in Rio Grande do Sul were obtained from databases Program Hydro Transmitted Diseases and Food, Division of Epidemiological Surveillance, State Center for Health Surveillance, State Health Department. The results of this study demonstrate that there is need for greater coverage of guidance and education programs for society as care essential in conservation, handling and consumption of food, as well as to good hygiene practices and stemmed risks of contaminated food. Keywords: Bacteria; contamination; food intake.

6 FATORES RELACIONADOS A DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS NO RIO GRANDE DO SUL-BRASIL, ENTRE 2000-2014 FACTORS RELATED TO FOOD BORNE DISEASES IN RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL, BETWEEN 2000-2014 Mariana da Silva Formigheri 1, Pedro de Souza Quevedo 2, Denise Maria da Silva Figueiredo 3 1 Farmacêutica, acadêmica da Pós-Graduação em Gestão de Organização Pública em Saúde, marianaformigheri@yahoo.com.br 2 Médico Veterinário, professor da Pós-Graduação em Gestão de Organização Pública em Saúde, pedrosquevedo@hotmail.com 3 Médica Veterinária, Divisão Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde/RS, Denise-figueiredo@saude.rs.gov.br RESUMO As Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) constituem um problema de Saúde Pública crescente em todo o mundo, sendo responsáveis por altos custos econômicos e sociais. Este estudo caracteriza-se como descritivo do tipo transversal que analisa a ocorrência dos surtos de DTA quanto ao número de surtos/ano, pessoas acometidas em cada evento, surtos/ano por coordenadorias regionais de saúde, agentes etiológicos, alimentos envolvidos, locais de ocorrência, fatores causais do consumo e locais de preparo dos alimentos ocorridos no Rio Grande do Sul, no período de 2000 a 2014. Os dados epidemiológicos dos surtos de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar notificados no Rio Grande do Sul foram obtidos através de bases de dados do Programa Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, Divisão de Vigilância Epidemiológica, Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Secretaria Estadual de Saúde. Os resultados encontrados neste trabalho demonstram que há necessidade de maior cobertura dos programas de orientação e educação para a sociedade quanto aos cuidados imprescindíveis na conservação, manipulação e consumo dos alimentos, e também quanto às boas práticas de higiene e riscos provindos dos alimentos contaminados. Descritores: Bactérias; contaminação; ingestão de alimentos. ABSTRACT The Foodborne Diseases (FBD) are a growing public health problem worldwide, being responsible for high economic and social costs. This study is characterized as descriptive crosssectional analyzing the occurrence of FBD outbreaks in the number of outbreaks / year, people affected in each event, outbreaks / year for regional health coordinators, etiologic agents, foods involved, occurrence of local, causal factors of consumption and places of food preparation occurred in Rio Grande do Sul, from 2000 to 2014. Epidemiological data from waterborne diseases outbreaks and Food reported in Rio Grande do Sul were obtained from databases Program Hydro Transmitted Diseases and Food, Division of Epidemiological Surveillance, State Center for Health Surveillance, State Health Department. The results of this study demonstrate that there is need for greater coverage of guidance and education programs for society as care essential in conservation, handling and consumption of food, as well as to good hygiene practices and stemmed risks of contaminated food. Keywords: Bacteria; contamination; food intake.

7 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Surtos de DTHA, número de doentes e óbitos no Rio Grande do Sul entre 2000-2014.... 12 Figura 2 Surtos notificados, investigados e confirmados de DTA, no Rio Grande do Sul entre 2000-2014.... 13 Figura 3 Coordenadorias Regionais de Saúde do Rio Grande do Sul.... 14 Figura 4 Surtos notificados de DTA segundo as Coordenadorias Regionais de Saúde/RS, 2000-2014.... 15 Figura 5 Surtos de DTA de acordo com o tipo de alimento envolvido no RS entre 2000-2014.... 17 Figura 6 Fatores causais do preparo em DTA/RS entre 2000-2014.... 18 Figura 7 Local de preparo dos alimentos envolvidos nas DTA/RS, 2000-2014.... 18

8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 9 2 METODOLOGIA... 11 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 12 4 CONCLUSÃO... 20 REFERÊNCIAS... 21

9 1 INTRODUÇÃO A alimentação é necessidade básica para qualquer sociedade, pois interfere diretamente na qualidade de vida do indivíduo, tendo forte relação com a manutenção, prevenção e recuperação da saúde, e desta forma precisa ser segura para que não cause danos ao consumidor. As Doenças Transmitidas por Alimentos constituem um problema de Saúde Pública crescente em todo o mundo, sendo que segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), define-se como surto de Doença Transmitida por Alimento (DTA) o episódio no qual duas ou mais pessoas apresentam doença semelhante após ingerirem alimentos ou água, da mesma origem e a evidência epidemiológica ou análise laboratorial apontá-los como veículos da doença (SVS, 2005). Vários são os fatores que contribuem para a ocorrência dessas doenças, entre os quais destacam-se, o crescente aumento das populações, a existência de grupos populacionais vulneráveis, o processo de urbanização desordenado e a necessidade de produção de alimentos em grande escala (BRASIL, 2010). Segundo Brasil (2010), são necessárias algumas orientações que precisam ser passadas ao notificante no momento do conhecimento do surto, para evitar que os alimentos suspeitos continuem a ser consumidos ou vendidos, bem como guardar, sob refrigeração, todas as sobras de alimentos na forma em que se encontram acondicionados até a chegada da equipe para a investigação, preservar as embalagens quando a suspeita estiver relacionada a produtos industrializados, e também orientar os doentes a procurar o serviço de saúde. É de suma importância que a notificação seja imediata, relatando o caso ao setor municipal de saúde responsável pela vigilância epidemiológica. A partir disso, verifica-se a consistência das informações no momento da notificação com o próprio notificante, ou a seguir com outras fontes referenciadas. Se as informações coletadas caracterizarem a suspeita de um surto de DTA, inicia-se então, o planejamento das ações, sendo que as informações coletadas precisam ser registradas no Formulário para Notificação de Surto de Doença Transmitida por Alimento (BRASIL, 2010). É de grande relevância a brevidade com que a equipe designada chegará ao local onde foi preparada e/ou consumida a refeição suspeita, pois a agilidade dessa ação é muito importante para propiciar a coleta de amostras de material humano, antes que os doentes recebam medicação e os alimentos suspeitos sejam desprezados (GOTTARDI, 2003). Após a coleta realizada, inicia-se a entrevista para o preenchimento do Formulário para Registro Individual de Informações dos Comensais de Surto de DTA, pois é através deste que

10 se chegará a definição do surto de DTA e para que após seja realizada a análise dos dados para descrever o surto (GOTTARDI, 2003). E desta forma, após concluída a investigação, é preenchido o Relatório Final de Investigação Epidemiológica de DTA, que deve ser encaminhado à Secretaria Estadual da Saúde, que por sua vez encaminha ao Ministério da Saúde (BRASIL, 2010, GOTTARDI, 2003). Porém, sabe-se que as DTA nem sempre são oficialmente notificadas, pois muitos sintomas das enfermidades transmitidas por alimentos são geralmente parecidos com gripes ou discretas diarréias e vômitos, o que de fato, acaba dificultando o seu conhecimento e tratamento, além disso cabe também salientar que existem casos que, mesmo quando o caso de DTA é notificado à autoridade competente, nem sempre os procedimentos corretos são adotados (PRADO et al., 2014) O objetivo do presente trabalho foi analisar a ocorrência de surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) no Rio Grande do Sul, no período de 2000 a 2014.

11 2 METODOLOGIA Trata-se de estudo descritivo do tipo transversal que analisa a ocorrência dos surtos de DTA ocorridos no Rio Grande do Sul, no período de 2000 a 2014, considerando como indicadores, o número de surtos/ano e o de pessoas acometidas em cada evento, surtos/ano por coordenadorias regionais de saúde, agentes etiológicos, os alimentos envolvidos, os locais de ocorrência, fatores causais do consumo e locais de preparo dos alimentos. Os dados epidemiológicos dos surtos de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA) notificados no Rio Grande do Sul foram obtidos através de bases de dados do Programa Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (VE-DTHA) /Divisão de Vigilância Epidemiológica (DVE) /Centro Estadual de Vigilância em Saúde-CEVS/ Secretaria Estadual de Saúde (SES), e após organizados em planilhas eletrônicas pelo programa Excel.

NÚMERO DE SURTOS NÚMERO DE DOENTES 12 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com Hobbs e Roberts (1999) a epidemiologia é definida como o estudo das doenças que acometem uma população, a frequência com que ocorre, bem como sua distribuição, suas causas e controle. No período compreendido entre os anos 2000 e 2014, no Rio Grande do Sul, foram notificados 2.640 surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos (Figura 1). Estes surtos tiveram a manifestação clínica de seus efeitos observados em 30.020 doentes e causaram a morte de 6 pessoas. Observa-que no ano 2001, ocorreu o maior número de notificações (n=247 surtos), seguido dos anos 2002 e 2000 (n=235 e 218 surtos). Figura 1 Surtos de DTHA, número de doentes e óbitos no Rio Grande do Sul entre 2000-2014. 300 4.000 250 3.339 3.038 2.985 3.500 3.000 200 150 2.325 1.982 1.992 2.294 2.102 1.938 2.500 2.000 100 50 0 1.734 1.474 1.290 1.327 1.456 1.500 744 1.000 500 218 247 235 195 194 211 200 192 186 130 111 106 146 121 128 1 1 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 1 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 ANO Nº Surtos Nº Doentes Nº Óbitos Total = 2.640 surtos, 30.020 doentes e 6 óbitos. Fonte: (AUTOR, ATRAVÉS DE DADOS FORNECIDOS POR DVE/CEVS/SES-RS). Em 2000, apesar de não ter sido o ano com maior número de surtos, foi o ano com maior número de casos de pessoas doentes por DTA (3.339 pessoas doentes), seguido de 2001, com 3.038 pessoas doentes. Em 2008, apesar de um número elevado de surtos (186 surtos), teve-se um decréscimo no número de doentes (744 doentes), quando comparado aos demais anos.

NÚMERO DE SURTOS 13 Em comparação aos números indicados em todo o país, em 2005 houve o maior número de surtos de DTA (n=913 surtos), e no Rio Grande do Sul, neste ano, foram notificados 211 surtos, representando 23% deste valor notificado no país. De acordo com Barbosa (2009), no Brasil os dados sobre os casos de DTA ainda são incipientes, e as notificações realizadas ainda são muito baixas. Sendo que, dentre as 27 unidades federadas, o Rio Grande do Sul é um dos que mais contribuí notificando os surtos, isso porque o número de surtos notificados está relacionado com o nível de implantação do sistema de VE-DTA nas Secretarias Municipais de Saúde (SMS). Os surtos notificados, investigados e confirmados de DTA, no Rio Grande do Sul entre 2000-2014, do total de 2.620 notificações de surtos, foram investigados 1672 (63,81%), e destes, 854 foram confirmados (51,07%). Sendo que em 2001 foi o ano com maior número de surtos notificados (247), investigados (185) e confirmados (98) (Figura 2). Figura 2 Surtos notificados, investigados e confirmados de DTA, no Rio Grande do Sul entre 2000-2014. 300 250 200 150 100 50 0 247 235 218 211 195 194 200 185 184 192 186 154 158 146 131 143 133 137 130 111 121 128 98 97 106 106 84 89 64 69 71 66 66 53 64 43 40 49 44 55 42 23 19 30 29 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 ANO NOTIFICADOS INVESTIGADOS CONFIRMADOS Total = 2620 surtos notificados, 1672 surtos investigados, 854 surtos confirmados. Fonte: (AUTOR, ATRAVÉS DE DADOS FORNECIDOS POR DVE/CEVS/SES-RS). De acordo com Figueiredo et al. (2013), de 2009 a 2012 observa-se um pequeno decréscimo no número de notificações, no qual segundo esta fonte, houve o afastamento da gerente do programa neste período, por motivo de doença. Porém, sabe-se que as reduções das investigações podem ser decorrentes da insuficiência de profissionais, seja a nível das coordenadorias regionais de saúde, seja nas vigilâncias municipais, que realizam as atividades. Cada região do estado tem um órgão de representação da Secretaria Estadual da Saúde, denominada Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) (Figura 3).

14 No Rio Grande do Sul fazem parte 19 Coordenadorias, a 1ª CRS (Porto Alegre), 2ª CRS (Porto Alegre), 3ª CRS (Pelotas), 4ª CRS (Santa Maria), 5ª CRS (Caxias do Sul), 6ª CRS (Passo Fundo), 7ª CRS (Bagé), 8ª CRS (Cachoeira do Sul), 9ª CRS (Cruz Alta), 10ª CRS (Alegrete), 11ª CRS (Erechim), 12ª CRS (Santo Ângelo), 13ª CRS (Santa Cruz do Sul), 14ª CRS (Santa Rosa), 15ª CRS (Palmeira das Missões), 16ª CRS (Lajeado), 17ª CRS (Ijuí), 18ª CRS (Osório), e a 19ª CRS (Frederico Westphalen). Figura 3 Coordenadorias Regionais de Saúde do Rio Grande do Sul. Fonte: (SECRETARIA ESTADUAL DA SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL). A CRS possui uma estrutura organizacional, para implementar as políticas estaduais de saúde em âmbito regional, realizar assessoramento na organização dos serviços nas regiões, repassar orientações, planejamento, acompanhamento, avaliação e monitoramento das atividades e ações de saúde, dentre outras atribuições. Observa-se na Figura 4, que a 1ª e 5ª CRS foram as Coordenadorias que mais notificaram, pois segundo Figueiredo et al. (2013), na 1ª CRS o volume maior de notificações é efetuado pelo município de Porto Alegre, e na 5ª CRS o número alto de notificações deve-se principalmente a nutricionista responsável pelo programa, que desempenha uma ótima assessoria. De acordo Carmo et al. (2005), o número de surtos notificados está diretamente relacionado com o nível de implantação do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas por Alimentos (VE-DTA) nos municípios.

15 Figura 4 Surtos notificados de DTA segundo as Coordenadorias Regionais de Saúde/RS, 2000-2014. 600 500 400 569 495 300 200 100 0 230 172 134 148 137 86 60 61 63 83 91 109 51 59 14 20 34 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª 11ª 12ª 13ª 14ª 15ª 16ª 17ª 18ª 19ª Fonte: (AUTOR, ATRAVÉS DE DADOS FORNECIDOS POR DVE/CEVS/SES-RS). De acordo com a distribuição anual, a partir da ocorrência de agentes etiológicos identificados em DTA, conforme Tabela 1, nota-se 865 agentes identificados, sendo cinco agentes de maior ocorrência, Salmonella sp (436), S. aureus (140), Bacillus cereus (97), Escherichia coli (55) e Clostridium perfringens (109). Houve grande variação entre os agentes identificados nesse intervalo de tempo, sem que houvesse crescimento ou decréscimo de algum deles. Tabela 1 Ocorrência de agentes etiológicos em DTA/RS, entre 2000 a 2014. AGENTE ETIOLÓGICO ANO DE OCORRÊNCIA 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL Salmonella sp 74 100 116 77 78 70 56 84 53 33 22 15 9 11 5 436 Staphylococcus aureus 8 19 29 23 22 17 8 20 13 11 4 7 24 4 10 140 Bacillus cereus 0 17 8 7 10 13 16 8 16 7 4 11 8 2 2 97 Escherichia Coli 3 2 16 10 11 12 16 4 2 5 1 0 2 2 0 55 Clostridium perfringens 1 3 6 3 11 10 17 10 12 4 5 9 17 8 6 109 Clostridium botulinum 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Shigella sp 7 6 4 4 1 2 0 0 1 1 0 1 0 0 0 6 Agrotóxico 0 1 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 1 0 1 4 Nitrito 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 2 Listeria monocytogenes 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 2 Rotavírus 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 3 Norovírus 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Curcubitacina 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Substâncias químicas 1 0 0 1 0 1 1 0 0 0 0 1 1 0 0 4 Vírus 0 0 0 0 0 1 2 0 0 0 1 0 0 0 0 4 Ignorado 57 46 23 22 17 30 34 22 37 18 8 11 36 0 4 217 Total agentes identificados 94 148 179 125 78 128 121 127 97 62 38 44 63 27 25 865 TOTAL GERAL 151 194 202 147 95 158 155 149 134 80 46 55 99 27 29 1082 Fonte: (AUTOR, ATRAVÉS DE DADOS FORNECIDOS POR DVE/CEVS/SES-RS).

16 Um dos microrganismos com maior envolvimento nos casos e surtos de doenças de origem alimentar em diversos países, é Salmonella sp, inclusive no Brasil (FRANCO; LANDGRAF, 2005). Salmonella sp, é uma bactéria da família Enterobateriaceae, bacilos Gram-negativos, anaeróbios facultativos, que se localizam primordialmente no trato gastrointestinal das aves em geral, dos mamíferos domésticos e silvestres. Sua transmissão ocorre através de um ciclo de infecção entre o homem e os animais, pelas fezes, água e alimentos, particularmente os de origem animal (GERMANO; GERMANO, 2001). A temperatura ótima de crescimento da Salmonella é de aproximadamente 38 ºC, sendo a temperatura mínima de crescimento de 5 ºC. São consideradas termossensíveis, podendo ser destruídas à 60ºC, por 15 a 20 minutos (FAUSTINO, 2002). No Rio Grande do Sul, a Salmonella sp foi responsável por 50,4% dos surtos investigados entre 2000 a 2014, o que pode ser explicado pela ingestão de um alimento bastante consumido pelos gaúchos, a maionese caseira manipulada com ovos crus (SANTOS et al. 2002, NADVORNY et al. 2004, AMSON; HARACEMIV; MASSON, 2006, MALHEIROS et al. 2007). Os sintomas da doença surgem de 6 a 36 horas ou mais, após a ingestão do alimento contaminado, sendo que a manifestação clinica aguda é expressa por cólicas abdominais, náuseas, vômitos, diarreias, calafrios, febre e cefaleia (HOBBS; ROBERTS, 1999, GERMANO; GERMANO, 2001). A salmonelose por Salmonella enteritides é particularmente importante, por ser veiculada pelo consumo de ovos crus ou mal cozidos, sendo um dos sorotipos mais comumente associados a DTA ao redor do planeta (MADALOSSO et al., 2008). Porém, ainda é bastante elevado o número de agentes etiológicos ignorados (287 agentes) no RS neste período analisado, sendo que este dado pode ser explicado por muitas vezes ocorrer a inexistência de amostras dos alimentos envolvidos ou do alimento ter sido coletado de forma inadequada (NASCIMENTO, 2013). Observa-se que os surtos de DTA de acordo com o tipo de alimento com maior envolvimento no RS, conforme mostra a Figura 5, foram a maionese e produtos à base de ovos (571 surtos), seguido de alimentos preparados (491 surtos) e produtos cárneos (315 surtos).

NÚMERO DE SURTOS 17 Figura 5 Surtos de DTA de acordo com o tipo de alimento envolvido no RS entre 2000-2014. 600 500 491 571 400 300 315 287 200 100 0 84 0 146 8 2 8 71 47 29 TIPO DE ALIMENTO Fonte: (AUTOR, ATRAVÉS DE DADOS FORNECIDOS POR DVE/CEVS/SES-RS). No Brasil, no mesmo período analisado, os casos de surtos por alimentos não identificados somaram 4308, seguido de 1570 alimentos mistos e após consumo de ovos e produtos a base de ovos com 816 casos (SVS, 2014). O baixo percentual da identificação do alimento ou agente causal pode ser explicado por vários motivos, pela demora em notificar um surto após sua ocorrência, pela dificuldade em entrar em contato com os comensais envolvidos, dificuldade em encontrar sobras do alimento envolvido e falta de informações precisas sobre o surto (NASCIMENTO, 2013). O fato de ocorrerem notificação tardias também dificulta o trabalho da Vigilância Sanitária, levando em consideração que, com o passar dos dias fica mais difícil encontrar os alimentos suspeitos, e desta forma impede a determinação do agente etiológico. De acordo com a distribuição dos fatores causais do preparo em DTA/RS nos últimos 15 anos, conforme mostra a Figura 6, constatou-se que o fator predominante foi a matéria-prima sem inspeção, com 28% (705/2536) das ocorrências, seguido da manutenção dos alimentos em temperatura ambiente por um período superior a duas horas com 18,6% (472/2536).

NÚMERO DE SURTOS 18 Figura 6 Fatores causais do preparo em DTA/RS entre 2000-2014. 750 700 650 600 550 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 705 472 261 226188174167 72 65 55 42 43 37 27 2 0 MATÉRIA-PRIMA SEM INSPEÇÃO MANUTENÇÃO TEMPERATURA AMBIENTE NÃO IDENTIFICADOS MANIPULAÇÃO INCORRETA MANUTENÇÃO REFRIGERAÇÃO INADEQUADA HIGIENE DEFICIENTE EQUIP. UTENSILIOS CONTAMINAÇÃO CRUZADA INGESTÃO ÁGUA CONTAMINADA IGNORADOS MANIPULADOR INFECTADO COCÇÃO INADEQUADA MANUTENÇÃO CALOR INADEQUADO OUTROS REAQUECIMENTO INADEQUADO UTILIZAÇÃO UTENSILIOS TÓXICOS CONTAMINAÇÃO SUBST. QUIMICAS TÓXICAS Fonte: (AUTOR, ATRAVÉS DE DADOS FORNECIDOS POR DVE/CEVS/SES-RS). A matéria-prima sem inspeção, ainda é considerada um dos grandes problemas em nosso país, pois como não passa por rígido controle de qualidade no processo produtivo, acaba refletindo diretamente na segurança do alimento que é designado à população. Nota-se que os locais de maior prevalência no preparo dos alimentos envolvidos nas DTA/RS, foram as residências (46,3%) e os comércios (21,7%) (Figura 7). Figura 7 Local de preparo dos alimentos envolvidos nas DTA/RS, 2000-2014. 115 63 86 5 90 155 378 41 RESIDÊNCIA COMERCIO ESCOLA, CRECHE E ASILO 804 CLUBES E ASSOCIAÇÕES SALÃO COMUNITÁRIO IGREJA, ESPORTE INDUSTRIA HOSPITAL COZINHA INDUSTRIAL OUTROS Fonte: (AUTOR, ATRAVÉS DE DADOS FORNECIDOS POR DVE/CEVS/SES-RS).

19 O comércio engloba restaurantes, lancherias, padarias, churrascarias, locais estes que uma grande parcela da população realiza suas refeições e ficam susceptíveis a contaminação, principalmente a população com idade entre 20 a 49 anos, que realiza suas refeições nestes locais devido ao estilo de vida (NASCIMENTO, 2013). No Brasil, no mesmo período avaliado, também o local de maior prevalência no preparo dos alimentos notificados com DTA, foram as residências (3773), seguido de restaurante e padarias (1492) (SVS, 2014). Esses dados reportados, tanto no estado do Rio Grande do Sul, como também no Brasil, mostram que os surtos ocorrem principalmente dentro das próprias residências dos indivíduos envolvidos no surto, bem como no comércio, e podem ser explicados pela falta de boas práticas de preparo, ou mesmo pela forma de conservação dos alimentos inadequada (PARANÁ, 2011, LOPES, 2007). A Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 216/04, estabelece os procedimentos de Boas Práticas para serviços de alimentação a fim de garantir as condições higiênico-sanitárias do alimento preparado. Porém, estes dados quanto ao local de preparo dos alimentos envolvidos nas DTA, no qual grande parte dos manipuladores desconhece os requisitos necessários para uma correta manipulação de alimentos, incluindo o armazenamento (locais, temperatura, tempo de armazenamento), e os malefícios que estas doenças causam, demonstram a ausência de programas de educação em segurança alimentar dirigidos à população (AMSON; HARACEMIV; MASSON, 2006) Assim, planos de orientação e educação em segurança alimentar destinados a população deveriam ser elaborados e implantados, pelas Secretarias de Saúde, para que ocorra uma conscientização pública, contribuindo para a redução das doenças transmitidas por alimentos e consequentemente redução dos custos gastos com saúde pública.

20 4 CONCLUSÃO Os resultados expostos neste trabalho são relevantes, pois permitem a visualização de possíveis causas de surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos no Rio Grande do Sul. E desta forma, demonstram que deve-se ter uma maior preocupação e cuidado quanto as DTA, pois a ausência de notificação, a carência de investigação dos surtos e a falta de informações aos consumidores são fatores que potencializam o aumento da incidência dos surtos ou ocorrência destas doenças. Assim, planos de orientação e educação em segurança alimentar destinados a população, deveriam ser elaborados e implementados corretamente com a finalidade de redução destas doenças, minimizando problemas de gestão em saúde.

21 REFERÊNCIAS AMSON, G. V., HARACEMIV, S. M. C. & MASSON, M. L. Levantamento de dados epidemiológicos relativos a ocorrências/ surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTAs) no Estado do Paraná - Brasil, no período de 1978 a 2000. Ciência e Agrotecnologia, v. 30, n. 6, p. 1139-1145, 2006. BARBOSA, T.C.R. Surtos de algumas doenças transmitidas por alimentos no Brasil. 2009. 28 f. Monografia (Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas) - Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual integrado de vigilância, prevenção e controle de doenças transmitidas por alimentos. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010, 158 p. CÂMARA, S. A.V. Surtos de toxinfecções alimentares no estado de Mato Grosso do Sul, no período de 1998-2001. 2002. 79 f. Monografia (especialização em gestão em saúde) - Escola de Saúde Pública "Dr. Jorge David Nasser", Campo Grande, 2002. CARMO, G. M. I., OLIVEIRA, A. A., DIMECH, C. P., SANTOS, D. A., ALMEIDA, M. G., BERTO, L. H., ALVES, R. M. S. & CARMO, E. H. 2005. Vigilância epidemiológica das doenças transmitidas por alimentos no Brasil, 1999-2004. Boletim Eletrônico Epidemiológico, n. 6, p. 1-7. FAUSTINO, J.S., PASSOS, E. C., MELLO, A. R. P., ARAÚJO, A. L. M., SOUZA, C. V., FORSYTHE, S.J. Microbiologia da Segurança Alimentar. Artmed. 2002. Porto Alegre. 424p. FIGUEIREDO, D., TIM, L. N., CECCONI, M. C. P., BOTH, J. M. C., SOEIRO, M. L. T. RAMOS, R C., HAAS, S., LONGARAY, S. M. Programa de Vigilância Epidemiológica das Doenças de Transmissão Hídricas e Alimentares VE-DTHA. Bol. Epidemiológico, v. 15, n. 3, setembro 2013. FRANCO, B. D. G. M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos alimentos. São Paulo: Editora Atheneu, 2005, p. 34-60. GERMANO, P.M.L.; GERMANO, M.I.S. Higiene e Vigilância Sanitária de Alimentos. São Paulo: Varela. 2ª edição, 2001. 655p. GOTTARDI, C.P.T. Surtos de toxinfecção alimentar notificados e investigados no município de Porto Alegre no período de 1995 a 2002. Porto Alegre, 2003. 46p. HOBBS, B. C., ROBERTS, D. Toxinfecções e controle higiênico sanitário de alimentos. São Paulo: Varela, 1999. 376 p. JORGE, L. I. F., ZAMARIOLI, L. A. Análises microbiológicas de alimentos processados na Baixada Santista, envolvidos em doenças transmitidas por alimentos, no período de 2000 2006. Rev. Inst. Adolfo Lutz, v. 66, n.1, p. 26-30, 2007.

22 LOPES, R. L. T. Fontes de contaminação de alimentos. Belo Horizonte: CETEC, 2007. MADALOSSO, G., et al. BEPA - Boletim Epidemiológico Paulista, v. 5, n. 55, Julho 2008. Disponível em: http://www.cve.saude.sp.gov.br/agencia/bepa55_salmonella.htm MALHEIROS, P. S., DE PAULA, C. M. D. & TONDO, E. C. 2007. Cinética de crescimento de Salmonella enteritidis envolvida em surtos alimentares no RS: uma comparação com linhagens de outros sorovares. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 27, n. 4, p. 751-755, 2007. NADVORNY, A., FIGUEIREDO, D. M. S. & SCHMIDT, V. 2004. Ocorrência de Salmonella sp. em surtos de doenças transmitidas por alimentos no Rio Grande do Sul em 2000. Acta Scientiae Veterinariae, v. 32, n. 1, p. 47-51, 2004. NASCIMENTO, C.B. Surtos de toxinfecção alimentar notificados e investigados no município de Porto Alegre no período de 2003 a 2011. Porto Alegre: UFRGS, 2013. Monografia (Grau de Especialista em Produção, Higiene e Tecnologia de produtos de origem animal) Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2013. PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Surto alimentar. Disponível em:. Acesso em: 27 dez. 2011. PRADO, D.M.A., ALMEIDA, F.E.S., DIAS, F.R., MURTA, H.A.L., SIÚVES, H., TORTA, J.R., PINTO, M.M.F., SOUZA, Y.M.S. Padronização da notificação de doenças transmitidas por alimentos para vigilância sanitária: fluxograma descritivo. 61 f. 2014 Projeto Aplicativo apresentado ao Instituto Sírio Libanês de Ensino e Pesquisa para certificado como especialistas em Gestão da Vigilância Sanitária, Belo Horizonte, 2014. SANTOS, L. R., NASCIMENTO, V. P., FLORES, M. L., ROSEK, H., D ANDREA, A., ALBUQUERQUE, M. C., RAMPANELLI, Y., MACHADO, N. P., RIOS, S. & FERNANDES, S. A. 2002. Salmonella Enteritidis isoladas de amostras clínicas de humanos e de alimentos envolvidos em episódios de toxinfecções alimentares, ocorridas entre 1995 e 1996, no Estado do Rio Grande do Sul. Higiene Alimentar, v. 16, n.102/103, p. 93-99. SVS, Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas por Alimentos, ANO 5, n. 06, 2005, http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/ano05_n06_ve_dta_brasil.pdf, acessado em 22/09/2015. SVS, Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas por Alimentos, 2014, http://www.anrbrasil.org.br/new/pdfs/2014/3_painel_1_apresentacaorejanealvesvigilanc iaepidemiologica-ve-dta-agosto_2014_pdf.pdf, acessado em 22/09/2015.