Otavio Dias de Oliveira FURNAS Geração Musical inicia seleção de JOVENS TALENTOS Primeiras audições em SP, MG e RJ mostram que mesmo enfrentando dificuldades basta uma oportunidade para revelar a musicalidade de nossos artistas eruditos. O Programa FURNAS Geração Musical, de incentivo aos novos talentos da música erudita, já realizou audições de seleção em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Os três mais promissores músicos de cada estado irão se juntar aos representantes de Goiás, Mato Grosso, Espírito Santo, Paraná e Distrito Federal, na grande final, em dezembro, no Rio de Janeiro. Na ocasião, serão conhecidos os três artistas que receberão de FURNAS bolsas de estudo por um ano, além de se apresentarem em um concerto com orquestra. Com um total de 279 inscritos, o FURNAS Geração Musical, promovido pela Coordenação de Responsabilidade Social (CS.P), é dirigido a jovens instrumentistas e cantores de até 25 anos. Os finalistas de cada estado também participam de um intercâmbio, fazendo apresentações em outras capitais. Além disso, o programa também está selecionando músicos para recitais em seus próprios estados. O primeiro recital aconteceu em São Paulo, dia 30 de agosto, no Espaço Promon, que recebeu o violonista André Simão, os flautistas Alfredo Zaine e Guilherme dos Anjos e o cravista Daniel Ivo. 20 REVISTA FURNAS ANO XXX Nº 312 SETEMBRO 2004
AUDIÇÕES As audições em São Paulo (SP) aconteceram nos dias 7 e 8 de agosto, no Teatro da Faculdade Santa Marcelina; em Belo Horizonte (MG), nos dias 14 e 15 de agosto, no Conservatório de Música da Universidade Federal de Minas Gerais; e no Rio de Janeiro (RJ), nos dias 21 e 22 de agosto, no Conservatório Brasileiro de Música. Ainda serão realizadas audições nos dias 4 e 5 de setembro, em Goiânia (GO); 11 de setembro, em Cuiabá (MT); 18 de setembro, em Vitória (ES); 25 e 26 de setembro, em Curitiba (PR); e 9 e 10 de outubro, em Brasília (DF). Em São Paulo foram selecionados André Simão (violão), César Traldi (marimba) e Ronaldo Rolim (piano). Minas Gerais terá como representantes Patrícia Aparecida da Silva (contrabaixo), Franklin Castilho dos Santos (cantor baixo barítono) e Pedro Ernesto Teles Barbosa (piano). Representarão o Rio de Janeiro, André Marques Porto (violão), Thiago Tavares (clarineta) e Daniel Albuquerque (violino). À medida que o projeto se desenvolve, vão surgindo personagens com histórias diferentes, mas com pelo menos uma coisa em comum: a dificuldade com que estudam e se dedicam aos seus instrumentos. Viver como musicista erudito não é tarefa fácil em nenhum país do mundo. Mais difícil ainda é a situação dos músicos no Brasil. Por isso, todos os participantes foram unânimes em reconhecer a importância de um projeto como o FURNAS Geração Musical. É muito importante uma empresa acreditar no músico erudito brasileiro e, mais do que isso, investir nele, opinou Thiago Tavares, 23 anos, clarinetista classificado na etapa do Rio de Janeiro. Thiago toca o instrumento há dez anos e já trocou uma viagem a Disney World por uma clarineta nova, que custa em torno de US$ 4 mil. É tudo muito caro quando se toca um instrumento como a clarineta. Uma caixa de paletas custa R$ 100, só vem com dez e, se você tocar muito, elas estragam rapidamente. Sobre sua participação no programa ele conta que só o fato de ter se preparado para a audição já o fez evoluir como músico. Apresentar-me perante o júri não me deixou nervoso porque o que todo músico quer é se apresentar, e o FURNAS Geração Musical vai dar essa oportunidade aos jovens como eu. Quando eu vi que o prêmio que FURNAS oferece não é apenas dinheiro, como a maioria dos concursos de que participei, mas um investimento na carreira do músico, eu fiquei muito entusiasmado. Geraldo Kosinski O presidente José Pedro Rodrigues de Oliveira (à dir.) e a superintendente Gleyse Peiter (ao seu lado) convidaram expoentes da música para realizar o programa REVISTA FURNAS ANO XXX Nº 312 SETEMBRO 2004 21
Otavio Dias de Oliveira POTENCIAL André Marques Porto, 20 anos, ficou surpreso ao ser selecionado para a etapa final. O meu instrumento, violão, não é privilegiado em recitais e audições. Acho muito legal a proposta do programa. Para começar, não se paga nada na inscrição, basta se preparar e, na hora da audição, sentar e tocar da melhor forma possível. Para os músicos jovens como eu que não têm dinheiro é ótimo! Para quem está começando na música e ainda não tem currículo, participar do FURNAS Geração Musical é uma boa vitrine. André revela que ao final da audição ficou um pouco desanimado, mas ao mesmo tempo feliz por ter apresentado duas peças novas de seu repertório. A audição aconteceu num momento bom para mim porque venho tocando muito este ano, estou embalado e por isso fiquei tranqüilo. Mesmo assim, não imaginava que seria selecionado. Outro que vive superando desafios é André Simão, violonista de 24 anos, 15 dedicados ao instrumento. Inscrevi-me porque vi duas oportunidades únicas no projeto. A primeira foi me apresentar para um público maior, já que a gente não tem muitas oportunidades. E a segunda, conquistar uma bolsa porque todos precisamos de um bom professor para prosseguir os estudos e isso custa caro. Eu estou sem professor já há algum tempo por falta de dinheiro, diz André. A primeira meta foi cumprida. Ele se classificou para a final e já se apresentou no primeiro recital de São Paulo. No ano que vem, se apresentará em Vitória. Ele ainda alimenta um sonho. Já estou muito feliz com a primeira conquista. Obter uma bolsa é muito difícil. Vou me dedicar, mas caso não ganhe, já estou muito satisfeito, conta André, garantindo que seriedade, dedicação e potencial para chegar lá, ele tem. SUPERVISÃO A mineira Marília Salgado, supervisorageral do Programa FURNAS Geração Musical, é filha da cantora lírica Lia Salgado e do médico Clóvis Salgado, ministro da Educação do governo Juscelino Kubitschek. Criada em um ambiente estimulante para as artes e a cultura, Marília estudou violino, mas nunca levou a carreira de musicista a sério, preferindo se envolver com projetos de incentivo a formação de novos músicos eruditos e cantores líricos. Minha vida é dedicada à formação musical. Tenho um irmão cantor, um filho pianista e minha mãe foi solista do Theatro Municipal, de 1949 a 1973, tendo sido também a maior divulgadora da canção brasileira no exterior em sua época. O júri das audições seletivas Yara Borges Kaznok Clóvis Gontijo Maurício Dottori A musicista paranaense toca piano e cravo, mas desde o início da carreira enveredou pelo caminho teórico da música, especializando-se principalmente na formação de novos instrumentistas e cantores. Professora de harmonia e análise na Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), Yara fêz mestrado e doutorado em Psicologia da Música. É assessora da secretaria estadual de Educação de São Paulo, da Faculdade Santa Marcelina e da Editora Vitale. Publicou um livro sobre o compositor Richard Wagner e o filósofo Friedrich Nietzsche e outro sobre percepção musical intitulado O audível e o visível. Pianista nascido em Belo Horizonte, Clóvis é bacharel em piano pela faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, e mestre em música, piano e performance pela Texas Christian University, em Fort Worth, nos Estados Unidos. Voltou ao Brasil em 2002, ao terminar o mestrado e já se prepara para o doutorado sobre Estética Musical com estudos preliminares em sua cidade. Enquanto isso, Clóvis dá recitais, tendo realizado apresentações em Belo Horizonte e São Paulo com repertório voltado para a obra do compositor paulista Almeida Prado, seu atual foco de pesquisa. Compositor e professor atuante, Maurício toca clarinete e é maestro, sendo o atual regente da Nova Camerata conjunto de música contemporânea formado em Curitiba. É professor da Universidade Federal do Paraná, onde ensina composição, contraponto e música eletroacústica. Embora entusiasta das novas formas de fazer e divulgar a música, especialmente com o uso do computador, Maurício não abandonou a composição tradicional, sendo autor de peças para piano, percussão e flauta transversa. Em 2003, ganhou o Concurso Nacional Cláudio Santoro para Orquestra de Cordas, em Brasília, com a composição Néon. Geraldo Kosinski 22 REVISTA FURNAS ANO XXX Nº 312 SETEMBRO 2004
Entrevista com o presidente José Pedro Rodrigues de Oliveira Cultura para transformar a sociedade Antônio Batalha Idealizador e maior entusiasta do Programa FURNAS Geração Musical, o presidente José Pedro Rodrigues de Oliveira assistiu às audições de seleção em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Ele elogiou o nível dos jovens músicos e lamentou que dos 279 inscritos apenas três representantes de cada estado possam ser selecionados. Na visão do presidente, uma Empresa como FURNAS tem obrigação de incentivar as diversas manifestações culturais do país, como forma de induzir mudanças qualitativas na sociedade, a partir da compatibilização dos desenvolvimentos econômico e cultural. Sem Cultura, o homem não muda, afirmou José Pedro de Oliveira, antecipando que a Empresa vai ampliar as oportunidades para que novos talentos, não só na música, tenham o reconhecimento público e possam crescer artística e profissionalmente. O PROGRAMA FURNAS GERAÇÃO MU- SICAL É O PRINCIPAL PROJETO DE APOIO DA EMPRESA À CULTURA? Não apenas o Geração Musical. Inauguramos o Espaço FURNAS Cultural com uma galeria de arte onde já ocorreram muitas exposições e outras vão acontecer, ainda este ano. Assim, agimos no universo cultural das artes plásticas, e agora da música. No próximo ano, pretendemos atuar também no campo da literatura, em parceria com a Academia Brasileira de Letras. O QUE MOVE UMA EMPRESA COMO FURNAS A APOIAR A CULTURA? Tudo decorre da expansão do que entendemos como Responsabilidade Social, da ampliação deste conceito. Através de projetos como o Geração Musical, propomos a renovação do espírito cultural brasileiro. Não é para vermos a marca de FURNAS nem viabilizarmos nossa verba da Lei Rouanet. É para mudarmos a sociedade em que vivemos, desgastada pela violência, a falta de ética e a centralização sobre o ganho. EXPLIQUE MELHOR ESSA RELAÇÃO CULTURA/MUDANÇA? Sem Cultura, o homem não muda. Criando oportunidades na área cultural, ao mesmo tempo que oferecemos novos horizontes aos novos talentos, criamos nos participantes, organizadores, espectadores, em FURNAS, na sociedade, insights, momentos de reflexão que só a arte propicia. Investir em cultura é tornar possível uma mudança. COMO O SENHOR ENTENDE O RELA- CIONAMENTO ENTRE O PÚBLICO E O ARTISTA? Não é o artista no palco ou na galeria e o público separado. É uma integração que viabiliza novas leituras do mundo que nos cerca, uma renovação espiritual conduzida pelos impactos das mensagens culturais. COMO FOI A EXPERIÊNCIA DE ASSIS- TIR AS TRÊS AUDIÊNCIAS DE SELE- ÇÃO DO GERAÇÃO MUSICAL? Temos visto uma explosão cultural nessas ações de FURNAS. Os jovens músicos que se apresentam mostram-nos a imagem de um país de grande musicalidade, mas carente de oportunidades, e FURNAS vai criar oportunidades. Tem sido extremamente emocionante ver o potencial desses jovens lutando pela oportunidade dada por FURNAS. QUAL DEVE SER O PAPEL DE UMA EMPRESA COMO FURNAS NA AFIR- MAÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL DO PAÍS? Não é possível uma Empresa como FURNAS mostrar seus números e suas realizações, sem buscar mudanças efetivas ao lado da sociedade. FURNAS é muito importante porque calça o crescimento do país mas, sem Cultura, este crescimento não é adequado, completo. A grandeza econômica deve ser acompanhada do desenvolvimento cultural. REVISTA FURNAS ANO XXX Nº 312 SETEMBRO 2004 23
Marília foi diretora cultural do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais por dez anos, tendo criado o projeto Jovem Músico, com apresentações de novos músicos eruditos. Profunda conhecedora dos problemas que a música erudita enfrenta no país, Marília elogia a proposta da Empresa. É importante ressaltar que foi o Dr. José Pedro Rodrigues de Oliveira quem teve a iniciativa de lançar o FURNAS Geração Musical, demonstrando que a Empresa está afinada com o novo conceito de marketing cultural centrado no apoio às diversas manifestações de nossa cultura. A superintendente da Coordenação de Responsabilidade Social, Gleyse Peiter, explicou que antes das audições, cada participante recebe orientação técnica sobre sua apresentação, de acordo com a análise dos jurados, com o intuito de contribuir para a melhoria do desempenho musical dos jovens. É importante ressaltar que o objetivo principal do programa é apoiar ao jovem músico erudito e contribuir para o seu aperfeiçoamento, acrescentou. A Coordenação-Geral de Produção está a cargo do também coordenador do Espaço FURNAS Cultural, Sergio Coelho, da CS.P. De cima para baixo, Andre Simão, finalista de São Paulo, Thiago Tavares, do Rio de Janeiro e Pedro Ernesto, de Minas Gerais Geraldo Kosinski Gleice Bueno Otavio Dias Os próximos recitais já agendados São Paulo - 21 horas Espaço Promon, Avenida Juscelino Kubitschek, 1830, Itaim-Bibi 27/09 Marcos Flávio (violão), Jesreel da Silva (trompete) e Ronaldo Rolim (piano). 27/10 Leandro Latu (violão), Allan Grando (piano), Fernanda Vieira (marimba) e César Traldi (marimba). Belo Horizonte - 20 horas Sala Magnani da Fundação de Educação Artística, Rua Gonçalves Dias, 320, Funcionários 11/09 Maria Lucia Gurgel (canto), Theofilo Sabbioni (canto), Olga Maria Galeano (violino) e Pedro Ernesto (piano) 1/10 Celso Faria (violão), Matheus Oliveira (percussão) Luísa Cerqueira (piano) e Patrícia Silva (contrabaixo). 10/11 Leandro Lessa (clarineta), Lucília Cerqueira (piano), Túllio Costa (piano), Adão Altamir (piano), e Franklin Castilho (canto). Rio de Janeiro - 19 horas Auditório do Espaço FURNAS Cultural, Rua Real Grandeza, 219, bloco B, Botafogo 15/09 Rejane Santos (canto), Emanuelle de Freitas (trompete), Myriam Aubin (piano) e André Marques Porto (violão). 6/10 Marco Antonio Moreira Lima (violão), Fabíola Almeida (canto), Marcelo Thys (piano), Paulo Francisco Paes (piano) e Thiago Tavares (clarineta). 27/10 Cristina Caldas (canto), Marcos Botelho (trombone), Luciano Magalhães (piano) e Daniel Albuquerque (violino). Alecrim 24 REVISTA FURNAS ANO XXX Nº 312 SETEMBRO 2004